Blue Angel escrita por Mirytie
Notas iniciais do capítulo
Enjoy ^-^
Zuni. Com cabelos azuis longos e macios, ela eraa princesa do reino Werxez que se encontrava em guerra com o reino de Takire desde que ela se lembrava. Aliás, quando ela era pequena, ia frequentemente à varanda do seu quarto, ver os guerreiros de ambos os reinos que lutavam ao longe. A sua mãe dizia-lhe frequentemente para não o fazer, uma vez que uma criança tão pequena não devia ver tal violência.
Desse tempo, não tinha quaiquer lembranças do seu pai. Talvez ressentisse que ela tivesse nascido rapariga. Infelizmente, a sua mãe tinha morrido antes de poder dar “um herdeiro” ao reino, deixando Zuni como única descendente real.
A partir daí, lembrava-se de o seu pai ir ter com ela frequentemente, dizer-lhe para olhar pela janela e ver a devastação que a guerra estava a causar já que, uma vez que não tinha um filho, ela teria de controlar o reino quando ele já não o pudesse fazer.
Com um pouco de pena do pai, Zuni levantava-se e olhava pela janela todos os dias, apesar de querer chorar, agora que já percebia melhor o que se passava.
Começou a estudar estratégias de combate para conseguir dar ordens ao exército quando a hora chegasse. Até começou a ter aulas de combate e auto-defesa.
Desistiu de tudo isso quando o pai adoeceu e lhe disse friamente que tinha adoptado um rapaz para ser líder do reino quando ele morressa. E quando isso acontecesse, ela devia casar-se com ele e tornar-se sua rainha.
Com 16 anos, Zuni podia gritar e chorar o quanto quisesse, mas não adiantaria de nada.
No dia seguinte, conheceu o futuro rei e marido. Era mais velho do que ela por um ano. Era orfão. Os seus pais tinham morrido na guerra. Eles tinham ensinado ao filho tudo o que Zuni tinha andado a aprender durante anos, até morrerem um ano antes.
Com uma história tão trágica, Zuni pensou que ele seria húmilde e simpático. No entanto, as primeiras palavras que lhe foram dirigidas foram “pirralha mimada”. Pelos vistos, ele odiara a familia real desde que os seus morreram na guerra, o que fazia Zuni perguntar-se porque é que o pai o tinha escolhido logo a ele.
O nome dele era Senne. Tinha cabelos pretos emaranhados e estragados, graças aos anos de negligência e olhos negros como as nuvens que pairavam sob o terreno de batalha.
Claro que, como o pai estava presente quando se conheceram, dissera a Senne para ser mais simpático com ela. Ele limitou-se a virar a cabeça.
Depois de o conhecer, Zuni estava ainda mais determinada a acabar com os planos que o pai tinha feito para os dois. Por isso, em vez de gritar, decidiu usar a razão.
- Ele odeia a família real. – começou ela, depois de entrar no quarto do pai – Como é que sabe que ele não vai...
- Eu escolhio por essa razão. – disse o seu pai, interrompendo a filha – Ele não te vai dar tratamento especial por seres a princesa.
- É estranho! – continuou Zuni – Adotou-o e, por isso, ele é seu filho. Não acha que vai ser estranho que eu me case com o meu irmão?
- Não. – respondeu o pai simplesmente – Normalmente, casares-te-ias com o principe do reino vizinho. No entanto, como estamos em guerra, vais casar-te com o Senne.
- Mas...
- Chega, Zuni! – exclamou o pai – As decisões já estão tomadas!
- A mãe nunca faria isto. – murmurou Zuni, antes de sair.
...
No ano seguinte, pouco depois de Senne fazer 18 anos e ela fazer 17, o pai tinha morrido, deixando bem especificado que Zuni e Senne dever-se-iam casar quando a filha fizesse 18 anos.
Um ano.
Zuni sabia o que é que o pai estava a pensar quando escrevera aquilo. Que ela iria acabar por apaixonar-se ou pelo menos aceitar Senne até lá.
- Nem pensar. – murmurou Zuni quando lhes leram o testamento do pai.
Tal como esperava, Senne tinha herdado o castelo, o trono e todo o reino de Werxez. Se se iam arrepender disso, Zuni tinha quase a certeza que sim mas, uma vez que não tinha herdado nada a não ser o que já era dela, não podia opôr-se.
Mesmo assim, continuava a olhar pela janela do seu quarto depois de acordar.
Só para estar preparada quando Senne estragasse tudo.
...
Todas as semanas, Senne e Zuni reunião-se com o general que comandava o exército para ver como estavam as coisas. Apesar de Zuni ter sempre alguma coisa para dizer, o seu papel era só o de acompanhar Senne e ficar ao lado dele, enquanto ele dizia que deviam ser mais agressivos e ela sorria forçosamente.
Depois da reunião, cada um ia para seu lado e só se reunião nas refeições, onde nem sequer abriam a boca para tentar falar e conhecerem-se melhor.
Por isso, as únicas palavras que tinham trocado oficialmente eram “pirralha mimada”. Tinha-se passado um ano, mas recusavam-se a falar.
Um dia, no entanto, Zuni acordou mais cedo do que o habitual e foi até à reunião com o general sózinha, para discutir os planos e as ordens que Senne lhe tinha dado. Para chegar lá antes de Senne, limitara-se a vestir um casaco por cima do seu pijama. Uma das empregadas viu-a a dirigir-se para a sala de reuniões e, achando estranho, foi até ao quarto de Senne e bateu à porta. Passados cinco minutos, Senne veio à porta e abriu-a ligeiramente.
- O que é que se passa? – perguntou Senne, chateado por ter sido acordado tão cedo.
- Majestage, a reunião com o general foi adiantada? – perguntou a empregada, de cabeça baixa.
- Não. – respondeu Senne – Porque é que perguntas?
- Eu vi a princesa Zuni a dirigir-se para a sala de reuniões há pouco. – respondeu a empregada, levando imediatamente com a cara na porta.
Dois minutos depois, ele saiu, completamente vestido.
- Aquela idiota. – murmurou Senne, passando pela empregada em passo apressado.
- O estúpido do castelo é grande demais. – queixou-se Senne, depois de entrar na sala de reuniões. Dirigiu-se imediatamente a Zuni, sorriu e colocou um braço por cima dos ombros dela – Não sabia que a reunião tinha sido adiantada.
- Não foi. – disse o general – A princesa pediu para me encontrar com ela aqui mais cedo.
- Deve ter-se esquecido de me avisar. – ainda a sorrir, Senne virou-se e deu-lhe um beijo na cabeça – Tens de começar a anotar as coisas.
Contagem de palavras trocadas: 9
- O...
- Como vocês estão a fazer um ótimo trabalho, vamos passar esta reunião. – disse Senne, interrompendo Zuni – Bem, até para a semana.
- Mas que raio! – exclamou Zuni, soltando-se depois de terem saído da sala – O que é que pensas que estás a fazer? A tocar-me tão facilmente.
-O que é que tu pensas que estás a fazer? – perguntou Senne – A sair do teu quarto assim?
Zunni olhou para a camisa de noite que estava que estava a dormir que lhe chegava até o meio das coxas e para o casaco que mal cobria alguma coisa.
- O que é que tem? – perguntou Zunni, inocentemente.
- És uma princesa. Tenta manter a aparência de uma. – respondeu Senne – E essa camisa é de alguma criança?
- É. – respondeu Zuni, surpreendendo Senne – A minha mãe deu-ma quando eu era pequena. Antes ela passava-me dos joelhos.
- Bem, não queria ser óbvio, mas tu já não és nenhuma criança. Para além de teres crescido em altura... – Senne apontou para o peito dela – Esses também cresceram. Se queres usar isso, limita-te a usá-lo no teu quarto.
Zuni corou e tapou o peito com o casaco.
- Preocupares-te assim comigo é um bocado nojento, irmão. – disse Zuni – Não devias estar a dizeres-me como me comportar quando tu já foste coroado rei e ainda não sabes o que raio estás a fazer, sua majestade.
- Faz o que quiseres. – disse finalmente Senne, virando as costas – Quando fores violada, não te venhas queixar a mim, pirralha mimada.
Zuni deitou-lhe a lingua de fora e voltou para o seu quarto onde se atirou para a cama, depois de trancar a porta. Como a janela estava aberta, Zuni ouviu uma bomba a explodir ao longe e fechou os olhos.
Tal como Senne, quantas crianças ficavam sem pais por causa daquela estúpida guerra?
Ela abriu os olhos, vestiu o seu vestido azul escuro (da mesma cor do cabelo), prendeu o cabelo, calçou sapatos rasos e saiu do castelo sem ser vista. Ou assim pensava.
Senne, que a tinha visto por acaso, seguiu-a sem que ela se apercebesse. Quando ela saiu do castelo, sozinha, ele suspirou e levou uma mão à cara.
- Aquela idiota. – murmurou ele – Será que ela sabe que estamos em guerra?
...
Zuni sabia muito bem que estavam em guerra mas, como era demasiado inocente para o seu bem, não se apercebia que o reino oposto aproveitaria a oportunidade de a capturar e fazê-la refém, se a vissem sozinha. Era por isso que Senne estava preocupado.
Por isso, caminhava descontraídamente por entre a multidão. As pessoas do reino sabiam que o rei e a rainha tinham tido uma filha, mas nunca a tinham visto, por isso ninguém olhava para ela.
Quando viu uma pequena capela, parou e entrou. Apesar de já ser antiga, via-se que quem quer que fosse que cuidava dela, fazia-o com carinho.
Zuni aproximou-se do altar, ajoelhou-se, entrelaçou as mãos, fechou os olhos e começou a rezar. A partir daquele dia, tinha-se tornado um hábito. Ela ia lá todos os dias a não ser quando tinham reunião com o general.
- Pelo que reza, menina?
Zuni abriu os olhos e viu um padre quando olhou para cima. Ela levantou-se devagar e sacudiu o vestido.
- Vejo que tem vindo aqui todos os dias desde há um mês atrás. – disse o padre, já com cabelos brancos – Pelo que reza?
- Pelas vidas perdidas na guerra. – respondeu Zuni, fazendo o padre sorrir – E pelo dia em que esta guerra maldita acabe.
- A sua alma é gentil. – disse o padre – Fico contente por saber que temos uma princesa assim.
- O quê!? – perguntou Zuni – Como é que sabe?
- Como esta guerra a aproximar-se do nosso reino, princesa, nenhum aldeão tem possibilidades ou sequer vontade de se vestir como você está vestida. – explicou o padre – Não se preocupe. Eu vou guardar o seu segredo.
Zuni suspirou.
- Obrigada, padre. – agradeceu Zuni – Eu volto amanhã.
...
- Como assim, “não posso sair”? – perguntou Zuni na manhã seguinte, quando encontrou dois guardas na porta do seu quarto.
- Temos ordens para não a deixar sair. – respondeu um dos guardas.
- Ordens? Mas eu sou a princesa... – ela abriu a boca – Senne!
Zuni abriu a porta, escapou-se dos guardas e foi a correr até à sala real, onde sabia que Senne estaria.
- Achas que não dariam conta que a princesa sai todos os dias do castelo? – perguntou Senne, antes de Zuni ter tempo de dizer qualquer coisa – Eu mandei um dos empregados seguir-te. Achas que é seguro afastares-te assim tanto do castelo.
- Eu faço o quiser! – exclamou Zuni.
- Pelo contrário. A partir de agora, fazes o que eu mandar. – disse Senne, quando os guardas sem fôlego entraram – Levem-na para o quarto, tranquem a porta e tragam-me as chaves.
- Senne! – gritou Zuni, quando os guardas a agarraram pelos braços – Vais-te arrepender deste dia! Tu não és rei de nada!
Depois de a levarem, Senne levantou vagarosamente e caminhou até à entrada onde, tal como previra, viu Zuni a escapulir-se pela janela do seu quarto. O que era já por si uma coisa incrível, já que o quarto dela ficava no terceiro andar do castelo.
...
Contente por ter escapado, Zuni dirigiu-se para a capela e ajoelhou-se como sempre fazia.
- A rezar pelas almas dos caídos outra vez, princesa?
Zuni abriu os olhos e, ao ver o homem, levantou-se imediatamente e deu alguns passos atrás. A principio, pensara que era algum dos guardas que tinha ido atrás dela, mas o homem que estava à sua frente era o filho do general do reino inimigo, Koy.
- Tem de ter mais cuidado, princesa. – disse Koy – Os nossos homens têm visto uma rapariga a vir a esta capela abandonada todos os dias. Começaram a desconfiar e descobriram que era a princesa do reino inimigo. Mandaram-me aqui para levá-la.
Zuni deu dois passos atrás. Será que ele tinha trazido mais ninguém.
- Não se preocupe. Você não estava aqui hoje. – disse Koy, piscando um olho – Mas não venha aqui mais.
Um pequeno sorriso apareceu na cara de Zuni quando ela anuiu com a cabeça.
Quando saiu, Koy suspirou fundo e espreguiçou-se.
- Aqui outra vez, sua majestade? – perguntou Koy, sem sequer olhar para Senne, que estava com uma capa e um capuz a tapar a cara, encostado à parede da capela, de maneira a que Zuni não o visse – Parece que trancá-la no castelo não funcionou. Porque é que não lhe diz que tem vindo atrás dela todos os dias, em vez de estar escondido, aqui?
- Afasta-te dela. – avisou Senne, numa voz soturna.
- Nem lhe toquei. – garantiu Koy, levantando o indicador. Depois murmurou – Por enquanto.
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