Capítulo 4 – Conhecendo indivíduos

Elizabeth corria de um lado para o outro, não sabendo em que direção estaria a porta em que havia entrado. Andava pelas águas escuras do rio Aduntrov’, que já era estranho por si só. Onde estaria aquela maldita porta? Era a pergunta que martelava no seu ser. Não desistindo, correu para mais um canto qualquer do rio, porém nada havia lá.

- Preciso ir. – dizia Elizabeth a si mesma. Tinha em mente que precisava ir para casa, sair daquele lugar esquisito. O fato de que podia andar nas águas escuras daquele rio era o de menos, tamanha a sede de seu lar.

Olhou para os lados procurando por uma alma viva naquele lugar, mas nada viu. Suspirou, enquanto sentava-se desgostosa na água. Tocou esta enquanto fechava os olhos pensando em algo, porém tinha uma textura diferente do que imaginava. Abriu os olhos e os percorreu até onde sua mão estava, constatando que não se encontrava mais sobre a água, e sim, em um barco.

- ÁGUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA. – alguém berrou próximo de Elizabeth, porém não havia uma alma viva ali. Olhou ao seu redor e encarou um horizonte sem fim, somente de águas azuladas e terrivelmente agitadas. Ainda continuava o anoitecer, porém encontrava-se em uma tempestade com direito a trovoadas e ondas gigantescas. Ondas que estavam quase chegando até Elizabeth, mas esta não sabia o que poderia fazer. Remar? Como remaria?

Seus pensamentos foram interrompidos por um turbilhão de ondas, uma após outra, engolindo o pequeno barquinho amadeirado. Estava sufocando, e tentava a todo custo emergir sacudindo os membros desesperada.

- Socorro, so-corro! – berrava, engasgando com o a água que adentrava narinas e boca. Elizabeth conseguiu ouvir melhor as risadas que ecoavam no dormitório dos espíritos, abrindo os olhos devagar.

- Inacreditável Liza, você precisava ver como se debatia. – dizia Madeleine tomando a frente de todos ali presentes. Elizabeth confusa tossia freneticamente.

- Acho que não foi uma boa idéia.

- Pois eu discordo!

Outros murmúrios e risadas se misturavam no cômodo, mas Elizabeth simplesmente desconectou-se de tudo, apenas observando o lugar agora bem iluminado pela luz do dia.

- Posso saber o que aconteceu aqui? – disse Elizabeth com o fôlego retomado. Todos cessaram o falatório e entreolharam-se.

- Vou ter que repetir? – insistiu Elizabeth, enquanto ajeitava-se na cama. Correu os olhos pelas pessoas que rodeavam sua cama, desconhecendo cinco. O garoto mais alto, que encontrava-se com um balde de madeira em suas mãos tomou a palavra:

- Acordamos-te. Agora eu pergunto: Posso saber o porquê de você estar neste alojamento?

Alguns risinhos abafados manifestaram-se no lugar, mas suas irmãs nada o fizeram. Sentiam-se as mais sortudas do mundo por terem saído um pouco antes dos monitores de FHOLDÒRY SORCIER chegarem.

- Vou ter que repetir? – dizia o líder dos monitores. Este estava com o mau humor matinal de sempre, odiava ter que cuidar de amadores como esta que se encontrava em sua frente.

Elizabeth abriu a boca para rebater a sua altura, mas o garoto-fantasma que encontrava-se mais distante de todos fez sinal para que nada dissesse. Não soube o motivo, mas preferiu confiar neste.

- Foi Robertini que a mandou aqui. Teve alguns imprevistos e chegou atrasada, foi só. - o garoto-fantasma tomou a palavra, chamando a atenção de todos. O líder dos monitores trocou olhares entre o garoto-fantasma e Elizabeth, dando uma sonora carranca.

- Que seja. Dou 2 minutos para se retirar e dirigir-se até seu respectivo quarto. – disse o líder dos monitores, enquanto observava os rostos ali presentes.

- E quem são vocês duas?

Madeleine e Lorelayne entreolharam-se temendo o garoto alto que as encarava. Porém para o alivio de ambas, o garoto-fantasma também tomou a palavra.

- Não acha que anda se intrometendo demais Arthur? – aproximou-se o espírito, colocando os braços transparentes atrás do seu corpo.

- Estou fazendo o meu trabalho Gregory. – rebateu Arthur trincando o maxilar. Odiava do fundo da alma aqueles que pensavam que podiam interromper aquilo que fazia, mesmo que não desse tanto valor assim.

- Pois eu também estou fazendo o meu. Não se esqueça que eu sou o responsável por este alojamento. Coloque-se no seu devido lugar, por favor.

Arthur cerrou os punhos, mas não poderia ferir aquele individuo. Deu seu riso perfurador de sempre

- Esqueço que este lugar é somente destinado a aqueles esquecidos pelo mundo. Mas não se esqueça Gregory, elas fazem parte do meu trabalho e uma hora ou outra vão pagar pelos erros que cometerão. – disse Arthur. Este apenas sorriu torto para os estudantes que ali habitavam-se e estalou os dedos, sumindo no ar.

- Já odeio esse cara. – dizia Madeleine enquanto sentava-se ao lado de Elizabeth. Esta apenas digeria o que aquele monitor tinha dito “uma hora ou outra vão pagar pelos erros que cometerão”. Elizabeth sentia que seriam muitos os erros que Arthur havia proferido com tamanha convicção.

Já Gregory sentia-se humilhado pelas palavras do sobrinho-neto. Sabia que este era sangue do teu sangue e sentia-se na obrigação de protegê-lo, mesmo que este fosse o pior ser da face da terra.

- Não diga isso. Ele é uma pessoa boa, no fundo, bem lá no fundo. – dizia uma das estudantes de FHOLDÒRY SORCIER. Todos se entreolharam e caíram em uma sonora e única gargalhada, pois de fato, isto havia sido uma grande piada em opinião de todos ali presentes.

- Que seja. Agora vocês precisam ir para seus quartos, do contrário é capaz do Arthur, O rei da maldade vir dar as honras de expulsa-las daqui. 

As três irmãs assentiram e pegaram suas URD’S. Elizabeth nem se deu ao luxo de arrumar-se, pois em mente acreditava que poderia voltar a dormir mais algumas horas.

As três irmãs e os cinco estudantes atravessaram a escola até chegarem a um grande campo deserto.

- Aqui é onde vamos dormir? – Madeleine atreveu a perguntar, e todos os cinco estudantes assentiram com um sorriso descarado nos lábios.

- É aqui sim, não é lindo? Tem bastante espaço. – zombou o mais brincalhão, que apelidavam de Wosh. As três irmãs entreolharam-se e suspiram.

- Vai começar. – Lorelayne disse, enquanto Elizabeth e Madeleine já se acomodavam em cima das URD’S. Os cinco estudantes gargalharam

- É brincadeira. Esperem, vamos mostrar!

- Old Fòry Sumdulir Okspu – os cinco pronunciaram em coro, enquanto em menos de segundos uma escada de lugar nenhum estendia-se a frente destes. As três irmãs levantaram-se rapidamente e sorridentes nem esperaram que os estudantes incentivassem-nas a ir adiante, embolando-se na escada de pequeno porte.

- Eu primeiro!

- Até parece. Eu é que vou!

- Saiam da minha frente, idiotas. Quem vai primeiro sou eu, e fim de papo – dizia Elizabeth empurrando as irmãs de lado bruscamente. As irmãs de Elizabeth cruzaram os braços rentes ao peito, as caras mais feias que poderiam emitir. Elizabeth achou aquilo cômico demais e aproveitou para colocar a língua de fora, como se tivesse sete anos novamente.

- A port... – Wosh tentou avisar Elizabeth sobre a porta que encontrava-se muito perto dela, mas esta já havia estatelado a face na madeira rústica. Todos gargalharam quando a garota gemeu de dor, provavelmente com um nariz quebrado.

- Não riam de mim, pois se meu nariz ficar danificado, terão que pagar umas boa plástica para mim. – dizia Elizabeth massageando o nariz que começava a avermelhar, enquanto girava a maçaneta circular revestida de cristal.

Elizabeth e suas irmãs mal acreditaram quando os cincos estudantes disseram que aquele cômodo em que encontravam-se era o quarto das três irmãs.

- Enfim estamos aqui. Esta cama é vezes mais macia do que eu imaginava. – dizia Madeleine enquanto acariciava seu cobertor aveludado. Suas irmãs não ficavam atrás, estas já encontravam-se ajeitando suas respectivas camas para finalmente dormirem aconchegantes.

- O que vocês estão fazendo? – dizia um dos cincos estudantes. As três irmãs nada entenderam, o que foi nítido pelas caras que fizeram.

- O que você acha? Vamos dormir! – dizia Elizabeth enquanto afofava seu travesseiro de plumas. Os cincos estudantes caíram em mais uma gargalhada sonora, deixando as três irmãs irritadas e sem entenderem nada.

- Posso saber qual é a piada?

- Vocês! – dizia Morgana. Elizabeth já muito irritada, levantou-se em um pulo, estralando os dedos.

- Quer perder alguns dentes? Não precisa nem pedir, queridinha. – dizia Elizabeth sendo apartada pelas irmãs.

- Calma, calma. O que Morgana quer dizer é que estamos rindo do que vocês acham que vão fazer nesse mesmo momento. Dormir? Vocês só podem estar brincando. – Marcus dizia, balançando a cabeça enquanto ainda um sorriso brincava em seus lábios.

- Pare com essa frescura. Diga logo o porquê da graça.

- Oras, tudo. Acham mesmo que podem dormir a essas horas? Os outros estão de férias, mas nós não.

- Eles vão entender se faltarmos hoje. Estamos cansadas! – disse Madeleine enquanto voltava a sentar-se em sua cama.

- Impossível. – Morgana tomou a palavra, fazendo Elizabeth estralar os punhos novamente. Morgana fingiu que a não enxergava Elizabeth, dirigindo a palavra há Lorelayne que ainda permanecia com a mão direita no ombro da irmã do meio.

- Arthur é o monitor principal, o mais rude e o pior, o monitor responsável pelo Lado Norte, ou seja, por nós. Vai fazer a vida de vocês um inferno se não aparecerem na hora certa.

- E exatamente que horas temos que comparecer? – perguntou Lorelayne.

- Sinto muito lhe informar, mas daqui há 7 minutos. E, aliás, o que me lembra que estamos atrasados, adeus. – disse Morgana e junto com os outros quatro, sumiu no ar.

- Mas que droga, todo mundo agora deu para sumir do nada. – resmungou Madeleine sendo fuzilada pelas irmãs.