- Caspian...

- Sim?

Depois de nossa breve brincadeira, voltamos a saborear o lanche. Enquanto terminava minha taça de manjar, Caspian desnudava um cacho de uvas. Um assunto veio à minha. Que tinha a ver com algo que percebi na tarde passada quando saimos para cavalgar. Parecia algo irrelevante e até sem muita importância, mas que ficou no meu subconsciênte e que se enfatizou agora.

- Percebeu que há poucos narnianos na vila ao redor do castelo?

- A maioria se sente desconfortável em viver no meio dos telmarinos. Não é fácil uni-los depois de mais de 100 anos de ódio.

- Tem certeza que é apenas isso?

- O que exatamente quer dizer, meu amor?

- Não sei ao certo, mas acho que o preconceito é bem maior do que diz. Eu vi o olhar das pessoas para os poucos narnianos que vi lá, pareciam repudia-los.

- Isso é um problema.

- Não há nada que possa ser feito?

- Questões sociais e culturais são complicadas. Precisamos da ajuda das duas partes para obtermos resultados. E isso óbviamente nós não temos.

- Não me conformo. Eles são um povo só!

- Infelizmente não há muito o que fazer. Mas não vamos nos preocupar com isso, vamos aproveitar a nossa tarde.

Eu nada respondi, fiquei calada refletindo sobre a minha indignação.

- Acho que Vossa Majestade precisa de algo que a distraia.- disse Caspian.

Com isso ele me fez sorrir, me descontraindo depois de um assunto tenso.

- O que sugere? - disse entrando na brincadeira.

- Talvez um beijo do rei.

- Eu adoraria.

Caspian abandonou o cacho de uvas e me beijou docemente enquanto acariciava meus cabelos e eu os dele. De repente, uma luz brilhou na minha cabeça. Acabara de ter uma ideia que poderia ajudar na convivência na vila. Interrompi o beijo e saí correndo para dentro do castelo.

- Não posso explicar agora. Nos vemos há noite!

- Estela!

Não dei chance para ele continuar, já estava à caminho da biblioteca do Dr. Cornelius.