– E você tem alguma ideia de onde ela possa ter ido? – pergunto à Jack, assim que chegamos em minha casa. – Quer dizer, você deve conhecer ela muito bem, os lugares que ela mais gosta... Você deve conhece-la melhor do que eu. – Falo isso procurando um tom de brincadeira, mas logo vejo que ele percebe que fico um pouco sem graça. Quer dizer, eu realmente não conhecia minha irmã tanto quanto eu achava.

– Acho que eu tenho uma ideia de onde ela possa estar. Ela deve ter ido a algum lugar isolado, para poder ficar sozinha.

Engulo em seco.

– Certo... Eu preciso buscar algumas roupas por aqui. Fique tranquilo que meus pais não voltarão tão cedo. Você pode ficar à vontade.

Deixo Jack na sala de estar e subo para meu quarto. Coloco algumas roupas quentes em uma mochila, e visto botas de inverno e minha capa de lã cor de rosa. Quando saio para o corredor, vejo algo que não é normal: a porta do quarto de Elsa estava aberta.

– Jack? Você está aí... AI MEU DEUS!

Surpreendo-me com o estado que o quarto estava. O chão e as paredes eram praticamente feitas de gelo. Pilhas de neve acumulavam-se no chão, na cama e nos móveis. O local inteiro parecia um mundo à parte, o mundo de minha irmã. O mundo dela que eu nunca havia imaginado que existia.

– Eu nunca tinha entrado aqui. – digo – Os meus pais diziam que era para eu dar privacidade para ela, sabe?

Jack inspira profundamente.

– Ela devia estar muito assustada. – ele diz, em um tom pesado – Devia estar com tanto medo de algo que acabou congelando seu quarto inteiro. Eu acho que ela descobriu o que ela precisava.

Olho para ele, confusa.

– Como assim? O que Elsa precisava descobrir?

– Aconteceu alguma coisa durante a infância de vocês... Durante a nossa infância. – ele sorri quando percebe que não entendo o que ele quis dizer. – Eu conheci você e a Elsa quando éramos crianças. Nós brincávamos muito, até que os seus pais descobriram dos poderes... dos meus e dos dela. Mas algo aconteceu que fez nenhuma de vocês se lembrar disso. – suspira – E acho que ela descobriu o que aconteceu, e isso a assustou até a morte.

Fico pasma.

– E o que eles pensam disso? – pergunto – Meus pais eles... Aceitam?

– Eu não sei, Anna, mas Elsa nunca gostou de falar muito sobre eles. Você acha que, talvez, o relacionamento dela com seus pais... Talvez não seja muito bom para ela?

Paro e penso um pouco. Eu sempre me dei bem com papai e mamãe, e sempre achei que Elsa não aparentasse ser tão aberta com ele porque, talvez, ela fosse assim com todo mundo. Mas, se eu tivesse prestado um pouco mais de atenção, eu teria percebido que eles a tratavam de maneira diferente. Eles pareciam tentar contê-la, de algum modo. Como se a ideia dos poderes dela os assustasse.

***

– Certo, para lá das montanhas, entendi. – digo, tentando ver em minha mente o lugar que Jack tinha me indicado. Olho pela milésima vez para o bilhete que escrevi para os meus pais, e suspiro, aceitando que ele deve estar bom assim.

Mamãe e papai,

Eu fui atrás de Elsa. Ela fugiu e acho que vocês sabem por que.

Eu sei de tudo agora. Por favor, não se preocupem, sei que ela deve estar bem e sabe se cuidar. Confiem em mim.

–Anna.

– E, quando você encontra-la... Não a force a fazer nada, ok? – diz Jack, com um olhar entristecido. – Se ela não quiser voltar...

– Jack. – eu o interrompo. – Elsa gosta muito de você. Você sabe disso. Eu nunca a vi tão tranquila, com você ela parecia tão... livre.

Ele me abraça, e eu retribuo. Saímos porta à fora, e vamos andando até a estrada. Finalmente chegamos no ponto onde eu devo seguir sozinha.

– Obrigado, Anna.

Eu sorrio.

– Não, Jack. – olho para ele por cima do ombro – Obrigada você.