Tulipas escrita por Witch Lunna
Notas iniciais do capítulo
A maioria pode não ver muito sentido em porque escrevi isso, mas a pessoa certa saberá... Só queria que soubesse que sinto muito e jamais o esquecerei e nem deixarei de te amar. Nunca.
As portas do elevador se abriram e uma garota sozinha saiu. Atravessou a recepção cumprimentando enfermeiras, médicos e pacientes no caminho. Após sete meses visitando o hospital religiosamente no mínimo três vezes por semana, já era conhecida por todos. Chegou ao quarto sem nem perceber que seus pés a levaram até automaticamente, e sorriu para a enfermeira que saia de lá.
– Como ele está hoje, Alice?
– Parece bem. Acabei de aparar o cabelo e a barba.
– Da maneira que te disse?
– Sim – a enfermeira sorriu – da maneira que me mostrou.
A garota sorriu em agradecimento e entrou no quarto. Seu coração apertou-se ao ver o garoto na cama. Mesmo tanto tempo passado desde o acidente, ainda lhe chocava vê-lo naquele estado de coma. Todos sabiam que ele não acordaria e aos poucos pararam de visita-lo. Até mesmo seus pais, que passavam ali uma vez por mês apenas. Mas ela não. Ia vê-lo sempre que conseguia.
Aproximou-se da cama e alisou a face e os cachos castanhos que lhe rodeavam a cabeça, em uma bagunça que ela sempre achara adorável. Ajeitou-lhe os lençóis já impecáveis, jogou as flores já murchas de sua mesa de cabeceira no lixo e as substituiu por um novo buquê no vaso. Levara tulipas daquela vez.
– Você sabe qual o significado das tulipas? – desviou o olhar para o garoto na cama, como se ele fosse responde-la – Elas significam amor eterno. Descobri isso a muito tempo atrás, antes de te conhecer, mas foi o tipo de coisa que nunca esqueci.
Sentou-se na cadeira ao lado da cama e depositou a bolsa no chão. Ficou alguns momentos em silêncio, fitando o peito que subia e descia num ritmo constante e sem auxílio de aparelhos. Ele não era mantido vivo por máquinas, parecia apenas estar dormindo. O problema é que ele não acordava nunca. A garota suspirou e tirou um livro de sua bolsa.
– Veja só o que ganhei de aniversário! É o sexto volume acabou de ser lançado. No dia do meu aniversário, acredita?! Os meninos juntaram dinheiro e encomendaram semanas atrás, para que eu recebesse ontem. Eles são demais. – ela sorriu tristemente – Queria que você tivesse estado lá. Fiz vinte anos, dá para acreditar? Estou ficando idosa, como você sempre disse – riu sozinha, o riso morrendo aos poucos – Enfim. Estas são as novidades. Ainda não comecei a ler, estou guardando para ler com você. Será uma tortura me segurar, mas farei isso. Bem, vamos lá – disse abrindo o livro – espero que lembre de onde a história parou no quinto livro, porque eu não ficarei relembrando.
Começou a ler, e não parou até que a enfermeira chefe lhe avisou que o horário de visitas acabava em cinco minutos. A garota assentiu e fechou o livro, guardando-o na bolsa. Colocou-se de pé ao lado da cama e pegou na mão do garoto, tão quente quanto a sua era fria.
– Estou indo, querido. Volto no domingo. Não posso vir na sexta por causa do meu jantar de noivado. É agridoce isso. Queria que estivesse lá, porque estou tão feliz e ainda não me acostumei a não tê-lo ao meu lado nos meus momentos de felicidade, mas sei que ver isso te magoaria demais. Eu o amo tanto – sua voz tornou-se embargada e algumas lágrimas rolaram por seu rosto e caíram na face imóvel do garoto – te amo tanto e você faz tanta falta. Posso amar muito ele, mas isso não anula nem diminui o que sinto por você. – inclinou-se e beijou-lhe a testa, acariciando lhe os cachos – Sinto sua falta.
Após murmurar as últimas palavras, ergueu-se, limpou as lágrimas e foi embora.
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A mulher passou pelos portões de ferro sozinha, cumprimentando o vigia e o coveiro que conversavam animadamente. Desejou internamente o cigarro que o coveiro tinha entre os dedos, mas não fumava já há quase cinco anos, e além disso estava grávida. Continuou seu caminho até a lápide bem cuidada que visitava todas as semanas e sentou-se na grama com certa dificuldade devido ao estágio avançado de gravidez. Ficou ali por alguns instantes em silêncio, apenas apreciando o vento invernal que lhe revolvia os cabelos. Fitou o nome na lápide, os olhos tornando-se úmidos subitamente.
– Hoje te trouxe tulipas.
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