Eu poderia dizer sobre como havia sido a noite passada.

Eu poderia dizer sobre o quarto bagunçado, sobre as roupas jogadas no chão e as meias debaixo da cama. Eu poderia dizer sobre o quanto o sol estava lindo enquanto nascia. E sobre como seus primeiros raios atingiam minha pele e faziam minha alma se aquecer, o mínimo que fosse. Eu poderia dizer sobre como uma cama de solteiro pode perfeitamente acomodar dois corpos. Eu poderia dizer sobre a sensação de solidão que sinto quando olho a mesma cama vazia. Poderia dizer sobre os lençóis desarrumados e o perfume impregnado no travesseiro.

Eu poderia dizer sobre aquele filme que ninguém assistiu noite passada. Poderia dizer sobre os sussurros, gemidos e respirações descompassadas. Sobre afagos e beijos. Poderia dizer sobre os pequenos hematomas na pele. Poderia refletir sobre a perfeição daqueles atos. Poderia indagar sobre os sentimentos existentes no âmago de ambas as almas. Poderia apenas ficar parada e observar o dia através da vidraça da janela.

— Lucy?

Levei um susto ao ouvir chamarem meu nome. Virei e vi Claire de pé atrás de mim.

Fitei-a por alguns longos instantes.

Eu poderia dizer sobre seu cabelo molhado e jogado pelos ombros. Tinha cor de ouro envelhecido. Eu poderia dizer sobre seu sorriso e sobre como seus olhos fechavam-se no ato. E eu não via um sorriso como aquele há...Um momento, eu nunca havia visto um sorriso como aquele. Poderia citar sobre a toalha em volta de seu corpo. E sobre sua silhueta perfeita. Poderia dizer sobre sua pele levemente morena, e sobre aquela pequena mancha roxa depositada no lado direito de seu pescoço na noite passada. Poderia dizer sobre como o tom de voz de Claire era música para meus ouvidos. E que sua risada era mais encantadora do que todas as sinfonias compostas por Ludwig Van.

Claire aproximou-se de mim e me abraçou por trás, em seguida depositou um beijo em minha nuca. Será que o sol estava raiando na beira da minha janela? Eu poderia dizer sobre o quanto minha alma e meu corpo aqueceram-se com aquele pequeno gesto.

Eu poderia dizer tanta coisa sobre como aquela garota faz eu me sentir. Poderia dizer sobre os arrepios na pele, os batimentos cardíacos acelerados e as borboletas no estômago. Poderia falar sobre como ela fazia eu me sentir completa, e sobre como todas as coisas fazem sentido durante a noite quando estamos juntas. E sobre como ela me deixa lúcida e ao mesmo tempo faz com que eu perca todos os meus sentidos.

Virei meu corpo para poder abraçá-la melhor. Encostei meu rosto na curvatura de seu pescoço e senti o mesmo perfume que impregnava o travesseiro. Aspirei fundo, como se fosse algum tipo de droga viciante. E era. Meu vício era Claire.

— Bom dia, dormiu bem?

Claire riu.

— Melhor impossível.

Sorri também e voltei a fitar o horizonte através da janela. O dia já estava claro, e o céu aberto sem qualquer sinal de nuvens. Uma brisa fresca adentrou ao quarto.

E eu poderia dizer sobre o quanto a noite valeu a pena e sobre como aquele dia seria bom. Não apenas poderia, eu posso dizer.

Esse dia será bom, porque Claire está comigo.