[NARRAÇÃO: Josué]

Estava tudo indo muito bem na minha viagem - exceto pelo fato do meu filho estar passando muito mal - quando senti meu celular vibrar em meu bolso assim que aterrissei em uma cidade perto da capital mexicana para fazer conexão.

Era o José Augusto. Estava desesperado e mandava eu cancelar o voo para a Cidade do México. A princípio não entendi o porquê, até que ele me contou sobre a lenda. Então era realmente verdadeira? E quer dizer que, além do meu filho estar necessitando de cirurgia de emergência, foram abandonados em Cuba?

Meu cérebro não estava processando aquela informação. Meus músculos tremiam. Retirei minha passagem do bolso para a capital e vi que o avião chegaria em menos de duas horas. Para descansar e pensar em tudo o que estava acontecendo, fui a uma das lanchonetes do aeroporto onde estava fazendo escala. Pedi um suco de maracujá e um salgado.

Quando terminei o lanche, resolvi caminhar um pouco pelas lojas, até se passar meia hora. Assim que percebi que já estava mais calmo, fiz uma ligação para Sandra, minha ex esposa.

– Sandra, sou eu, o Josué - falei, com a voz um pouco tremida enquanto me sentava em um banco.

Percebi que a mulher estava aflita. Ela me contou todos os detalhes, inclusive sobre a conversa que teve com o Felipe acerca de sua paternidade. Mas isso era o que menos importava naquele momento.

– Quer dizer que vocês conseguiram fugir do navio? - indaguei - mas e suas coisas? Ficaram todas lá?

Ela me respondeu que assim que o José Augusto percebeu esse detalhe, tentou voltar para o Ocean, no meio da multidão que tentava sair do navio. Foi à cabine e juntou tudo o que podia o mais rápido possível.

– Uau... deve ter sido desesperador - disse - mas e aí, conseguiram pegar muita coisa?

Ainda com uma voz de choro, Sandra respondeu:

– Sim... o José Augusto achou aqueles carrinhos de carregar a bagagem para os quartos e trouxe tudo... ainda bem que levamos pouca coisa...

– E as outras pessoas do navio? Conseguiram sair todos?

– Nós não sabemos... estávamos tão desesperados, Josué, que nem vimos se havia alguém precisando de ajuda... mas muitas pessoas disseram que tiveram alucinações, essas coisas. Ninguém sabe se foi realmente coisa da cabeça deles ou se realmente aconteceu...

– Pois é... mas e o Felipe? Cadê ele? E a Aurora? Quer dizer, onde vocês todos estão?

– O Felipe teve outro desmaio. Ah, Josué, como estava preocupada... mas enfim, no desespero, chamamo um táxi que passava em uma rua. Como eu falo espanhol, não tive problemas com isso. Entramos eu, a Aurora, o Josué Augusto e o Felipe desacordado no carro, com a bagagem espremida na mala. Pedimos para o motorista nos levar a um bom hospital, e até aí ficou tudo bem. Ele perguntou se não queríamos ir a um hotel por causa das bagagens, mas não podíamos ir com nosso filho passando mal. Então o Augusto foi com a Aurora para um hotel e depois o táxi os levaria novamente ao hospital.

Sandra ainda disse que neste momento ainda estavam na clínica. Começou a chorar quando me falou que o Felipe entrou em coma. Está na sala de cirurgia e todos estão torcendo para que ele saia dali com vida. A substância que ele ingeriu era venenosa e fez como que uma parte do cérebro paralisasse.

Meu coração disparou quando recebi a notícia. Estava me sentindo sem rumo. Perguntei o que deveria fazer, se ia para casa no Brasil ou se ia pra Cuba. Sandra me orientou a ir para casa e falar com os amigos do William. Pediu para que eu falasse para eles ficarem calmos. Se fingirem que nada aconteceu, poderiam se sentir melhor. Ela disse que depois me pagaria a passagem perdida, mas eu recusei.

Voltei ao Brasil e enviei uma mensagem a um dos colegas do Felipe. Um tal de Júlio. Pedi para que ficassem calmos, mas que também torcerem pela melhora do meu filho. Ele me falou que iriam fazer de tudo para manterem a calma, mesmo sendo uma situação difícil.

Agora só faltava eu conseguir me acalmar.