A Fantástica Fábrica é invadida. escrita por dayane


Capítulo 22
Capítulo 21 - Adoce.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoinhas!

Obrigada por ter acompanhado a fic até aqui e mil desculpas por todos os erros de português ou pontas soltas que ficaram ou ficarão.

Para todos os que leram: muito obrigada por tudo. Espero que está fic tenha sido divertida de ler e que possa ter ensinado algo.

Para todos os que comentaram: Vocês fazem parte das jóias que fizeram meu 2015 brilhar e meus dias valerem a pena. Os comentários, cada um deles, valem mais do que qualquer dinheiro que eu poderia receber.

Então, assim como este é o único capítulo com um título, lembrem-se: o único confeiteiro que pode adoçar a vida, é você.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/599021/chapter/22

Charlie estava sentado sobre o tapete felpudo que Willy tinha no quarto. O chocolateiro estava acomodado sobre a poltrona que ficava atrás do tapete e os dois tomavam uma bela caneca de chocolate quente. Na televisão, um musical dos Oompa Loompas passava e ao lado dela o relógio marcava duas e meia da manhã.

Os dois donos da fábrica estavam sonolentos, pois passaram boas horas discutindo sobre a possível noite de núpcias e, depois de uma longa crise de riso, terminaram ali, juntos no quarto de Willy Wonka.

– Eu vejo meu filho cuidando da fábrica. - Charlie sussurrou.

Ele tinha sonhado com aquilo uma dezena de vezes. Via a criancinha crescendo, andando desengonçada pelo jardim e caindo de cara na grama adocicada. Via, o pequeno querendo pular na cachoeira e depois resmungando que não podia estudar em uma escola como as outras crianças. Chegou a sonhar com o garoto adolescente – por algum motivo estranho, sempre era um garoto – e cobrando que os amigos não podiam ir até a fábrica.

– E quem é a mãe? - Wonka questionou.

– Dóris? - Brincou. - Não sei.

Charlie bebeu mais um gole do chocolate e suspirou.

– Parece real? - Wonka questionou.

– As vezes eu acho que é uma premunição. - O Bucket sentiu os pelos da nuca arrepiando. Ele nunca contou sobre aquela visão a alguém. - Eu já cheguei a sentir o perfume dele.

– Foi assim comigo. Quando eu sonhei com a fábrica. - A voz de Willy estava baixa. - Parecia que meu anjo da guarda sussurrava o que aconteceria. Eu via as fórmulas, as paredes por dentro e por fora. O tempo que cada coisa levava para acontecer.

– Via os Oompa Loompas?

– Não. - Willy bebeu o chocolate. - Nunca os vi. Nem nunca sonhei com eles, fosse antes ou depois de tê-los conhecidos.

– Eu já sonhei com meu filho. - O herdeiro embutiu. - E a fábrica estava grandiosa. - O herdeiro girou o corpo até que os olhos pudessem ver Willy. O chocolateiro estava com a cara enfiada na caneca, mas os olhos espiaram Charlie. - Só que você nunca está lá.

“Lá?” Wonka questionou com um gesto.

Charlie Bucket sentiu o peito apertando, o coração doendo e os olhos se inundando. A respiração aqueceu e ele entendeu que nunca conseguiria falar. Nunca conseguiria transformar o pensamento em palavras, pois estava enraizado que eles sairiam em forma de lágrimas.

– No futuro?

“Sim”. O herdeiro respondeu com um sorriso morto.

Willy colocou a caneca sobre a mesa ao lado da poltrona.

O problema da vida é que ela nos enche de dores e machucados. Se é cruel sentir saudades de uma pessoa que está distante, uma que está inalcançável é torturante. Willy sabia disto, pois sentia saudades da mãe que nunca conheceu e da bagunça que envolvia vovó Georgina e vovô George. Sentia saudades de sua lojinha bagunçada na esquina de uma pequena rua. Sentia muita saudade e ao mesmo tempo se sentia o homem mais sortudo do mundo por ter Charlie ali.

– As coisas acabam, eu sei. As pessoas se vão, eu sei. - Charlie precisou parar para tentar conter o choro. - Mas eu não quero que você se vá. Eu me sinto desesperado só de pensar nisto.

– Lane estará aqui, Charlie. E terá seu pai.

– Ele não está lá, também. - A primeira lágrima escorregou. - Assim como minha mãe não está aqui.

Willy não soube o que falar. Ele nunca soube lidar com a morte ou com o fim de algo. Ele só sabia viver da evolução. Só sabia pensar num futuro promissor.

Charlie se acomodou melhor no tapete e olhou para a caneca vazia. Os olhos deixavam as lágrimas escorrendo e aquilo não parecia certo. Sentia-se fraco e até desesperado. Desesperado por um futuro que parecia distante, mas assustava do mesmo jeito.

– Me desculpe, estrelinha. - Willy sussurrou. - Eu menti.

Ficaram em silêncio por longos minutos. Calaram-se até o momento em que o musical acabou.

Só então, Willy Wonka concluiu:

– Quando eu disse que no nosso mundo podíamos ser o que quiséssemos, eu menti. - O chocolateiro suspirou. - Nunca poderemos ser eternos.



Ϣ.Ϣ.



O futuro, por mais inevitável que seja, não passa de um tempo ao longe. E o presente, por mais machuque, não passa de algo momentâneo. O passado, por outro lado, estará sempre lá e as vezes consegue ser a válvula de escape do presente. Você consegue mergulhar nele e recolher as lembranças que lhe tiram da tortura do presente.

Consegue ser feliz ao lembrar do sorriso de alguém. Consegue chorar ao lembrar como foi conquistar algo que sempre quis.

Então, enquanto Lane escutava a conversa dos chocolateiros, ela percebeu que mesmo vivendo na utopia, em seu maior sonho, não estava livre da tristeza ou dos machucados que a vida nos fornece. Ela enxugou as lágrimas e decidiu ir para o próprio quarto, onde poderia tentar dormir. Raras pessoas, Kenneth pensou, conseguem ter a sorte de realizar os maiores sonhos. Ou, talvez, ela e Charlie tenham sido tão obcecados por seus sonhos, que a “sorte” não conseguiu escapar deles.

Agora, quando finalmente ela tinha realizado seu maior sonho, aquilo não tinha mais importância. Luta ou sorte, agora era passado e ela precisava viver o presente, pois naquela fábrica, só viveriam as pessoas que realmente amavam aquele mundinho maluco. Não só amá-lo, teriam que amar e se dedicar ao que faziam para que ele aquele universo se mantivesse funcionando.

Os Oompa Loompas amavam o cacau e os doces que ajudavam a criar. Willy, amava absolutamente tudo. Charlie amava a essência da fábrica e aquele que a tinha criado. Lane, amava os sistemas. A fábrica, amava existir. Amava ensinar. Amava ser única.



Ϣ.Ϣ.



O sol saltou pela janela de Wonka e bateu contra o rosto do chocolateiro. Foi como levar um tapa, pois ele tapou os olhos com as mãos e lentamente os abriu. As cobertas se remexeram e o susto que Willy levou o fez berrar.

– Eu deixei você dormir aqui? - Rosnou Wonka.

– Willy, você me devia uma noite...

– Chega! - O desespero surgiu na voz do chocolateiro. O cérebro dele ainda não estava funcionado plenamente e a brincadeira não pareceu brincadeira. Ele tinha o coração tão desesperado, que ter um infarte não estava fora de questão.

Charlie sorriu e se espreguiçou. A memória de Willy Wonka não era boa para coisas que não tinha relação com chocolate. Na noite passada, Charlie lembrava, Willy deixou que o pupilo dormisse por ali e assim os dois pudessem aproveitar a noite em meio aos musicais dos Oompa Loompas.

Não foram necessários três minutos de um novo musical, para que os dois se enfiassem na cama e capotassem em um sono pesado e sem sonhos.

Naquela manhã ensolarada, o Bucket se sentia mais leve, menos desesperado como futuro e mais confiante no presente. Sentia que teria muitos risos para dar com Willy e muitas coisas para viver junto com Lane e com o senhor Bucket.

E quando o fatídico dia chegasse, a fábrica teria lembranças para amenizar a dor da saudade.

– Vamos Charlie, saia da minha cama! - Rosnou Willy.

– Mas você disse que traria meu café na cama! - O pupilo mentiu.

Willy ficou boquiaberto, sem saber se tinha realmente dito aquilo. Charlie tinha falado com tanta convicção, que o chocolateiro jurou ter feito algo muito errado. Desesperado, Wonka caçou na memória o que, diabos, tinha acontecido há algumas horas, mas não conseguia chegar a nenhuma resposta.

Charlie riu. Um riso debochado de quem diz “não acredito que ele está caindo nisso!”.

– Sua barrinha de cereal vencida! - Resmungou Willy, que com os pés jogou Charlie para fora da cama.

– Na próxima vez, você é quem dormirá no calabouço da fábrica! - O chocolateiro pisoteou o chão até a porta do banheiro. - Isto se eu não lhe colocar na sala das caldeiras!

Charlie ainda ria, quando Willy se enfiou no banheiro. Ainda ria quando percebeu, assim como Willy tinha percebido anos antes, assim como Lane perceberia em pouco tempo, uma das maiores lições que aquela fábrica fantástica tinha para ensinar.

Não importa o quão boa ou ruim esteja a vida, ela sempre poderá ser mais doce.

Você só precisa deixar que ela se adoce.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada.