Snow Fairy escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 1
Snow Fairy - Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Ah, finalmente terminei! Ufa! Eu estava super-afoito para escrever sobre Gruvia, que ao meu ver é tão bonito (se não mais que) quando Nalu.
Bem, após duas (ou três, ou quem sabe quatro; não me lembro ao certo) noites maldormidas, cá estou eu com minha segundo One-shot de Fairy Tail. Espero que gostem dela! :3



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A noite fria e nublada que ousava ocupar os céus de Magnólia não seria empecilho para a festividade tão aguardada por aquela grande família chamada Fairy Tail, a melhor guilda de magos de todo o reino de Fiore — não somente no quesito poder mágico. Apesar de haverem vencido com louvor os Grandes Jogos Mágicos, a principal característica daquela guilda ia além de força, era alegria, uma alegria contagiante. Talvez essa fosse a “magia” que fazia a Fairy Tail ser, de longe, uma guilda amada por toda a cidade de Magnólia, bem como por todo Fiore.

Mais uma vez, como de costume, era dia de festa na Fairy Tail. Contudo, não seria uma noite como outra qualquer. Naquela noite — aguardada por muitos — comemorar-se-ia o Dia dos namorados. O mestre Makarov havia separado aquela data para realizar uma festa em prol de uma das comemorações mais prazerosas do reino. A Fairy Tail realizaria uma festa particular, mas tamanho era o volume das vozes, dos berros, dos gritinhos, das risadas, que os moradores mais próximos da guilda, involuntariamente, foram envolvidos. Apesar da barulheira, a Fairy Tail era vista com bons olhos pelos cidadãos.

O enorme pátio estava ornamentado como um verdadeiro palácio. Um gigantesco tapete cor púrpura estendia-se majestosamente pelo piso; as cadeiras e mesas, decoradas por Laki para assumirem a aparência medieval, estavam elegantemente agrupadas ao fundo, próximas ao balcão — onde uma lindíssima garçonete vestida de azul, de cabelos brancos e longos, sorriso gentil e maternal servia bebidas aos que a ela se achegavam. Macao Conbolt, o quarto mestre da Fairy Tail, e seu melhor amigo, Wakaba Mine, eram os mais próximos do balcão. Não era segredo nenhum que ambos tinham uma queda pela beleza estonteante da linda garçonete — e maga Classe S da Fairy Tail — Mirajane Strauss.

— Ei, Mira-chan, é sério, viu? Podíamos sair qualquer dia desses — propunha Wakaba, enquanto sustentava um sorriso malandro na boca já ocupada por um cachimbo.

Mirajane deu uma risadinha.

— Você é casado, Wakaba. Sua esposa não ficaria feliz se soubesse disso — falou Mirajane antes de se virar para encher uma caneca de cerveja para o mago.

Macao, de esguelha, observava o amigo murmurar algo sobre a esposa e disfarçou um sorriso.

— Ei, Macao! Do que você está rindo? — reclamou Wakaba. Mirajane aproveitou a discussão entre Macao e Wakaba para se afastar dos dois.

Sentado sobre o balcão, de braços cruzados, o velho Makarov Dreyar admirava a festança que se seguia. Ao lado dele, uma belíssima jovem de cabelos vermelhos, longos e sedosos. A acompanhante do mestre da guilda estava usando um lindo vestido roxo, decotado e sem mangas; luvas brancas e longas de seda; o cabelo preso num coque — não havia dúvidas de que Erza Scarlet era uma das mais belas magas ali presentes.

— A festa está maravilhosa, Erza. Você realmente caprichou. — Makarov deu uma golada no copo de vinho. — Eu sabia que tinha acertado ao te deixar encarregada da organização.

— Obrigada, mestre — falou Erza, que observava satisfeita a conclusão de sua obra. Os magos riam, brincavam e dançavam euforicamente.

— E você? Não vai dançar também? Está vestida assim à toa? — Makarov não demonstrou a menor discrição ao olhar o decote na altura dos seis de Erza.

— Estou esperando o Natsu, mas acho que ele fugiu. Aquele Natsu... — Erza riu. — Acho que ainda não quer me desafiar, pois sabe que sou o “Demônio da dança”.

E era verdade. Erza era uma dançarina excepcional. O problema era que seus parceiros nunca eram bons o bastante para seguir-lhe o ritmo. A cada dança, um acompanhante passava mal — sintomas que variavam entre tonturas e ânsia de vômito.

— Bom, ele não sabe o que está perdendo — comentou Makarov inocentemente.

— Mestre, quer dançar? — convidou Erza.

— Não! — Makarov respondeu no ato; também conhecia a reputação dançarina de Erza. — Ei, aquele ali não é o Natsu? — Sua salvação chegara para entreter Erza. Makarov respirou, aliviado.

Erza estreitou os olhos. De fato, ao lado de Lucy Heartfilia, Wendy Marvell, Happy e de Charle estava Natsu Dragneel. Parecia acuado, e com razão; não tardou para Erza agarrá-lo.

— Venha comigo, Natsu! Vamos dançar! — Ela o puxava em meio a protestos escandalosos. O rosto dela era, no momento, severo e assustador.

— Ei, Erza! Espera! Erza... Erzaaaa — Natsu se debatia, mas foi em vão. Erza o segurou com a força típica da Titânia da Fairy Tail e o arrastou até o centro do salão. De longe, Lucy ria da cena.

— Será que o Natsu-san vai ficar bem? — perguntou Wendy temerosa. — A Erza-san consegue ser assustadora às vezes.

— Ele vai ficar bem, Wendy. — Lucy sorria para a garota. — Estamos falando do Natsu.

— Talvez não fique. Estamos falando da Erza — comentou Happy, antes de se virar para Charle. — Ei, Charle, você quer peixe?

— Não — Charle respondeu rispidamente.

— Ela é tão fofa. — Happy suspirou apaixonado.

A festa prosseguiu animadamente. Todos pareciam felicíssimos. Todos, menos ela.

Juvia Lockser estava sentada sobre os primeiros degraus das escadas que levavam ao segundo andar. Ela observava a festa de longe, o olhar baixo, triste; Juvia não sentia vontade alguma de se juntar a comemoração de Dia dos namorados por um motivo muito óbvio.

“Gray-sama”, ela murmurou baixinho. À frente, o amado Gray Fullbuster participava de uma disputa de queda de braço relativamente fácil com Natsu Dragneel, que ainda estava absurdamente tonto devido à dança com Erza, mas, mesmo assim, desafiara Gray.

Gray parecia feliz. Sorria. Juvia sentia o coração bater descompassado enquanto observava o amado. O rosto tão belo, os cabelos negros e lisos, o branco sorriso que parecia desafiar qualquer coisa, o corpo esbelto, os lábios... Para Juvia, Gray excedia os limites da perfeição. Agora, lá estava ele, com os amigos, divertindo-se despreocupadamente. Juvia não entendia o porquê de aquele mesmo sorriso não ter aparecido a ela mais cedo, quando ela dera a Gray um presente para o Dia dos namorados — um boneco do próprio Gray feito à costura por Juvia. O mago nem ao menos se dera o trabalho de abrir o embrulho, antes, porém, deu as costas para Juvia e se afastou, como se ela nunca estivesse ali conversando com ele. Mais tarde, Juvia vira Gray e Cana Alberona conversando animadamente — ela, bêbada como de costume, abraçada ao barril, mas com a cabeça reclinada sobre o ombro de Gray, que não mediu o menor esforço para retirá-la. Juvia se chocou com o que viu e nem resolveu importunar o amado. Quando a festa começou, Gray e Cana ainda estavam juntos conversando, agora, porém sob olhares maliciosos dos outros membros da guilda, que também olhavam para Juvia. “Será que o Gildarts sabe?”, uns cochichavam. “Eu achei que ele ficaria com a Juvia no final”, murmuravam outros. Aquilo foi suficiente para destruir todo o resto do dia de Juvia Lockser, que, desde então, estava a vigiar da escada.

E o que mais doía: ela não se sentia capaz de desviar os olhos de Gray, que parecia atraí-la como um imã. De fato, ele a atraía.

— Há quanto tempo está aí? — Absorta em seus próprios pensamentos, Juvia não viu Erza se aproximar. — Venha se juntar a nós, Juvia — convidou, sorrindo amigavelmente.

— Erza-san, não posso... Juvia não pode — ela se encolheu no degrau, abraçando as pernas flexionadas.

Erza ainda a observava. Sentou-se ao lado de Juvia, ainda a encarando; o sorriso gentil nos lábios, o olhar acalentador.

— Quer me contar o que aconteceu? — perguntou Erza.

Juvia estremeceu hesitante, mas, por fim, revelou tudo à amiga.

— E Juvia está aqui desde então — ela falou tão baixo, a voz morrendo a cada palavra. — O Gray-sama ama a Cana-san, a nova rival no amor de Juvia... — a garota suspirou e apertou ainda mais os braços contra as canelas — e namorada do Gray-sama.

Erza ainda sustentava a mesma expressão bondosa do início da conversa.

— Juvia, você poderia esperar aqui? — Erza perguntou casualmente. Tivera uma ideia.

— Hm? Por que, Erza-san? — Juvia ergueu a cabeça, confusa.

— Farei uma coisa, e preciso que você fique na guilda até o final da festa. Seja a última a sair, se necessário.

— M-mas — Juvia não estava entendendo nada —, por que, Erza-san?

— Você pode fazer esse favor a mim, Juvia. — Erza a encarou.

— S-sim. A Juvia pode, sim. — Deu-se por vencida.

Erza sorriu e, levantando-se, pôs a mão sobre o gorro de Juvia carinhosamente. Depois, a Titânia voltou rapidamente para a mesa onde seu time estava reunido. Juvia a viu ir embora e, suspirando, recostou a cabeça sobre os braços, triste.

Até que uma cena lhe chamou a atenção.

Erza tomou o braço de Gray e o arrastou para o meio do salão. Ela cochichava no ouvido dele.

— Por que isso agora, Erza? — resmungou Gray ante a ideia da companheira.

— Vai ser ótimo! Todos vão adorar! — exclamou Erza.

— Ainda acho desnecessário. Todos já estão se divertindo e...

— Você vai fazer o que eu mandei agora, não vai? — Ela abaixou a voz de uma forma ameaçadora e mortal. Gray engoliu em seco e concordou com a cabeça.

— Tudo bem. Eu faço.

Gray se aproximou do enorme tapete no centro do salão enquanto se despia do sobretudo branco, da camisa azul-escuro, da calça preta e dos sapatos — a mania de tirar as roupas.

— Por que o Gray está tirando a roupa? — Lucy perguntou perturbada. Natsu deu de ombros.

— Ice Make: Floor (Criação de Gelo: Chão). — Instantaneamente, chão no qual todos dançavam congelou, tornando-se uma pista lisa de gelo. Gray suspirou, entediado e se voltou para Erza, que aprovou a obra.

— Kansou (Reequipar). — E Erza usou magia para trocar as próprias vestes. Agora usava um vestido de mangas longas, de cor branco-cristal, decotado até a altura das coxas; o cabelo estava preso em rabo-de-cavalo; ela tinha uma tiara de prata na cabeça; nos pés patins branco-prateados. — Patinação no gelo, todo mundo!

Erza foi a primeira a estrear a nova pista de patinação, seguida por outros magos receosos; a ordem de Scarlet foi vista com um quê de dúvida: de dança para patinação tão repentinamente.

— Hã, Erza, não temos patins — comentou Levy. — Como vamos fazer?

Erza olhou para o teto, meditando, e voltou-se para Gray mais uma vez.

— Gray, faça patins de gelo para todos — mandou.

— Eu? Erza, tá falando sério?

— Agora! — gritou furiosamente, e voltou a dançar sozinha como se nunca tivesse alterado a voz. Gray bufou, derrotado. Voltou para cada novo patinador e, um a um, congelava-lhe os sapatos, criando lâminas de gelo nas solas. Ele gastou quase uma hora para terminar os patins improvisados de todos. Por fim, recolheu as roupas jazidas no chão e se voltou para a mesa na qual seus companheiros de time estavam.

— Não vai patinar? — Lucy perguntou a Gray, vendo-o se aproximar.

— Não. Chega de gelo por hoje — resmungou.

— É engagado ouir ocê tizer ‘sas oisas, Gray — Natsu dizia com a boca abarrotada de comida. Lucy o olhou torto.

— Não fale de boca cheia, Natsu — ela repreendeu. — Isso é falta de educação.

— Bu quê? — Natsu ainda tinha muita comida na boca.

— Porque sim! Engula a comida antes de falar! Happy, você também! — Lucy reclamou com todos. — E não tire a sua cueca aqui, Gray! A Wendy também está na mesa, ela é uma criança!

— Desculpe, Wendy. — Gray não pareceu muito arrependido quando soltou as mãos do elástico da cueca para por a camisa. — Vou me vestir.

— Já deveria ter feito isso — falou Natsu que, finalmente, havia terminado a refeição. — Essa sua mania pervertida me irrita, Gray.

— O que você disse, Natsu? — Gray levantou imediatamente. Sem perceber, novamente, Gray retirava a camisa recém-colocada.

— E lá vamos nós de novo... — murmurou Charle. Wendy achava graça da cena.

A festa havia chegado ao fim fazia alguns minutos. A grande maioria dos membros da Fairy Tail, incluindo o mestre Makarov, já tinham ido embora. Restavam ali Natsu, Lucy, Wendy, Erza, Gray, Happy e Charle. Ao longe, ainda na escadaria, escondida, estava Juvia.

— Eu tô morrendo de sono! Quero ir pra casa. — Lucy escondeu um bocejo.

— Eu também. Já está muito tarde, eu costumo dormir cedo. — Wendy estava sentada sobre a cadeira. A cabeça sonolenta escondida sobre os braços.

— Nós podemos te levar para a Fairy Hills, Wendy — sugeriu Natsu. — Depois eu...

— Não, eu a levo — interveio Erza. — Eu também moro na Fairy Hills. Natsu, acompanhe a Lucy até em casa.

Lucy ficou feliz em ver o aceno de concordância de Natsu. Era bom estar com ele, afinal.

— Então, vamos? — falou Gray, impaciente.

— Vamos? — Erza arqueou a sobrancelha. — Você?

— Como assim? — Gray não entendeu.

— Você vai arrumar a bagunça — ela indicou o chão congelado —, afinal, foi você quem fez.

— O quê? Erza, foi você que...

— Eu já disse, Gray — Erza o interrompeu, a voz firme. — Arrume a guilda, limpe toda a bagunça e tranque-a. Só depois poderá ir para casa.

— M-mas... — Ele desistiu. Discutir com alguém como Erza era impossível; ela era demasiado intimidadora. — Certo. Tudo bem — falou, a voz contrariada.

— Perfeito. — Erza tinha um brilho estranho no olhar. Gray jurava tê-la visto olhar afoita para as escadarias. — Então, boa noite, Gray. Nos vemos amanhã.

— Boa noite, Gray-san — Wendy cumprimentou.

— Boa noite, Gray — falou Lucy sorridente, antes de se juntar a Natsu, que apenas acenou de costas.

— Boa noite — murmurou Gray longos minutos após a porta ter fechado.

Silêncio. Gray se virou para a pista de patinação, a única razão de ele ainda estar ali, na guilda, a razão que o segurava. Não demorou nem um minuto para o mago de gelo gesticular e toda a pista se desfazer instantaneamente, evaporando. Gray olhou ao redor. A guilda estava incrivelmente imunda e bagunçada — exatamente como os membros costumavam deixá-la após as festas comuns da Fairy Tail —. Cadeiras jogadas, garrafas quebradas, líquidos e comida espalhados pelo chão. Ele nunca sentira tanta pena por Mirajane, que tomava a frente da faxina da guilda quase sempre.

— Então — Gray coçou a cabeça —, acho que devo começar pelas...

— Gray-sama... — O rapaz ouviu uma voz baixa, tímida e receosa chamá-lo. Ele se virou e deparou-se com Juvia Lockser, que estava em pé próxima à escadaria. O rosto dela estava inclinado para baixo, evitando o olhar de Gray Fullbuster; as mãos juntas e coladas ao peito. — A Juvia pode ajudar também?

Gray a princípio se sobressaltou. “Por que ela ainda está aqui? Por que não foi embora também?” pensava ele. Ali, diante dele, estava Juvia: tão carente, frágil, pequena... O semblante dela era vago, tão diferente da Juvia que ele conhecia ou, pelo menos da qual ele estava habituado: sorridente, extrovertida, ciumenta. A garota mostrava-se exatamente como era antes de se conhecerem, e Gray não entendia por quê. Seria algo que acontecera com ela? Seria algo que fizeram a ela?

Ou seria algo que ele fizera a ela?

E então ele se lembrou: horas antes ele a ignorara completamente, como geralmente fazia, e, além disso, rejeitara o presente dela. Sentiu-se mal após analisar o próprio feito. Entristecera Juvia, sentia-se uma pessoa repugnante.

Enquanto Gray se avaliava introspectivamente, Juvia ainda estava ali, a observá-lo. Silenciosa, tímida, mas ao mesmo tempo ansiosa. Queria saber por que ele demorava tanto para responder a uma simples pergunta.

— Gray-sama? — O rapaz despertou dos próprios pensamentos. Agora, seus olhos focavam novamente a bela garota de cabelos azulados que lhe chamara.

— É... Hã... Tudo bem. Tudo bem, Juvia. Pode vir — ele conseguiu dizer.

Juvia deu um sorrisinho, mas por dentro seu coração estava acelerado. Ela resolveu apartar os pensamentos pessimistas de outrora, os quais lhe mostravam Cana Alberona recostada sobre Gray, o Gray de Juvia.

Trabalharam juntos. Ela lavando o chão da guilda em um canto, ele recolhendo lixo e arrumando as mobílias em outro. Por instantes Gray se flagrou olhando na direção de Juvia, que estava concentrada na tarefa dela. Ele nada dizia, a mente parecia estar em branco, ele apenas estava olhando para ela. Apenas olhando, que mal havia?

Juvia por sua vez não quisera olhar na direção do amado, tinha certeza de que não se sentiria bem se o fizesse. A questão era por quê? Sempre fora capaz de abraçar Gray, de paquerá-lo, de considerar qualquer garota como rival no amor por causa dele. Não fora a primeira vez que ele lhe dera as costas, não fora a primeira vez que ele fora rude, então, por que naquele dia ela não conseguia ser ela mesma? Por que se sentira tão mal mais cedo, sendo que tudo o que vivera naquela comemoração não lhe era estranho? Juvia não sabia dizer.

— Você não dançou na festa, Juvia, por quê? — Ele a surpreendera com uma pergunta repentina.

— P-perdão, Gray-sama, a Juvia não escutou...

— O que aconteceu? — Gray se amaldiçoou assim que perguntou aquilo. Era óbvio que Juvia estava triste com ele, por ele. Ela não precisava, naquele momento, de uma pergunta mal colocada para lhe refrescar a memória.

Juvia estremeceu, lembrando-se do descaso de Gray para com o presente dela, de Cana ao lado dele, inclinada sobre o ombro do rapaz, sorridente. Juvia mordeu o lábio, tentando dar a melhor resposta para Gray.

— A Juvia não...

— Me desculpe — ele a interrompeu, ela se calou. — Me desculpe, Juvia por... — Gray suspirou — por mais cedo. Eu... Onde está o meu presente, aquele que você queria me dar?

A moça ficou quieta por vários minutos, fato que pareceu uma eternidade para Gray. Ela, então, se virou para ele, que a observava quase sem piscar os olhos. Sem saber o que dizer mais, ela simplesmente foi até as escadarias e de lá trouxe um bonito embrulho branco-azulado com fitas douradas, entregando-o a Gray.

Gray sorriu singelamente para ela e abriu o embrulho. Nas mãos, agora, ele tinha uma réplica feita de panos. Estava vestida exatamente como ele no momento, Juvia caprichara nos detalhes do boneco, que também tinha o aroma dela.

— Obrigado — ele disse. — Eu gostei dele.

— G-gostou? — Juvia arregalou os olhos, surpresa. — Q-que bom, Gray-sama. Que bom...

Ela se virou novamente para o canto, desviando o olhar do de Gray.

— Você ainda não me respondeu — ele falou mais uma vez.

— Perdão?

— Você não dançou na festa, Juvia.

— Ah, isso. — Ela relaxou os ombros. — A Juvia não estava com vontade de dançar... E não sabe patinar no gelo também — acrescentou.

— Mas e agora? — Gray insistiu.

— Agora?

— Agora está com... — Gray pigarreou. — Você quer dançar?

A informação demorou a ser assimilada na mente de Juvia, que, boquiaberta, observava Gray vir em sua direção. Os braços dele, fortes e quentes, lhe envolverem a cintura e tomarem-lhe a mão direita. Juvia estava atônita. Olhou para Gray que, assim como ela, não entendia as próprias ações, apenas agia.

Gray sentiu a pequena e trêmula mão dela segurar-lhe pelo ombro enquanto a outra estava junto da dele. Quando se deram conta, estavam a lentos passos sobre o tapete arroxeado. Gray puxou o corpo de Juvia mais para perto do dele, observando-a sem piscar. Apesar de não estar sentindo muita lógica nos próprios atos, era bom estar com ela, mesmo ele não sendo capaz de dizer isso a ninguém, nem a ele mesmo, antes.

Juvia levantou o olhar para o rosto de Gray. Ele estava muito, muito perto. Ela podia sentir a respiração dele, embriagante, tão próxima da dela. As bochechas de Gray pareciam mais vermelhas de vistas de tão perto — algo que Juvia vira apenas em sonhos. Os olhos negros dele encarando-a, como se a hipnotizassem. Nada disseram um ao outro. E Juvia viu Gray se aproximar ainda mais e, instintivamente, entreabriu os lábios finos, fechou os olhos...

E desviou o rosto da hora, recostando-o sobre o peito de Gray, que estava confuso.

— Juvia?

A garota não respondeu. O corpo dela tremia sobre o de Gray. Ele percebera que, do lado de fora, a chuva irrompera com ímpeto de forma abrupta. Torrentes de águas frias e tristes despencavam dos céus noturnos. Gray sabia: era Juvia, eram os sentimentos de Juvia extravasados naquela chuva.

— O que aconteceu, Juvia? — ele perguntou.

— Eu... A Juvia adorou tudo isso, Gray-sama. De verdade. Juvia não esperava se sentir tão bem, tão feliz — ela hesitou; lá fora a chuva apertou —, mas a Juvia sabe também que tudo isso não passa de um sonho. Tudo isso não passa de um momento que vem e depois vai, talvez para nunca mais voltar. — Ela se afastou de Gray, que a olhada, sereno. — E-eu amei, Gray-sama, ter dançado com você, mas sei que amanhã tudo o que vivemos hoje passará, e seguiremos nossas vidas normalmente na guilda.

Gray estudava a feição de Juvia afoito. Olhos, nem por um momento, deixaram de contemplá-la.

— É o que você quer? — ele indagou, por fim.

— Bem... eu não... — ela se interrompeu. — É melhor eu ir. Boa noite, Gray-sama.

Ela tentou passar por ele, mas Gray se pôs à frente, bloqueando o andar de Juvia, que, confusa, se voltou para cima. A maga estranhou: Gray estava sorrindo para ela, um sorriso que Juvia vira apenas uma vez: no dia em que se conheceram. Dia em que Juvia Lockser, maga Classe S da Phantom Lord, se flagrou apaixonada por Gray Fullbuster, seu rival.

Gray caminhou até ela e tomou-lhe a mão em um gesto convidativo.

— Venha. Vamos lá fora.

— Mas Gray-sama, está chovendo — desentendida, ela falou.

— Eu sei, mas isso não importa agora.

Juntos, atravessaram a porta da guilda. O céu noturno e chuvoso era de um negror quase impenetrável. As finas gotas de chuva desciam geladas e melancólicas, lavando por completo a terra de Magnólia. Gray contemplava o céu, como se o admirasse, como se a chuva o vivificasse, fizesse parte dele.

— Gray-sama, por que estamos aqui? Você está todo encharcado! Por favor, entre — disse Juvia, que não conseguiu encontrar o motivo para Gray chamá-la para fora.

— A sua magia — ele começou —, água, é bonita, Juvia. Você me disse uma vez: “Nossas magias, água e gelo, são compatíveis.”. Fico feliz em saber que é verdade.

Gray fechou os olhos, concentrando-se. Juvia não compreendeu. Um gigantesco círculo de magia azulado brilhou no céu noturno imediatamente e...

— Neve! — Juvia exclamou surpresa e encantada. Do céu, Gray usara a própria magia para se unir à de Juvia. Água e Gelo, unidos como um só.

O céu pareceu clarear, já não chovia. A neve caía com brandura sobre Magnólia. Juvia não conseguiu evitar o sorriso; aquilo era lindo para ela. A garota estendeu a mão e sentiu os gelados flocos brancos lhe tocarem a pela; era uma ótima sensação, Juvia se sentia confortada, afagada. Já não pensava mais no que havia acontecido horas antes, os momentos que a deixaram cabisbaixa noite adentro. Ela se sentia feliz, se sentia calma.

Gray se postou ao lado dela. Juntos, eles observavam a noite nevada.

— Não será apenas um sonho. — As palavras de Gray chegaram aos ouvidos de Juvia, que se virou no ato para o rapaz. — Hoje foi real, e o amanhã também será. Pelo menos para mim.

— Gray-sama...

— Feliz Dia dos namorados, Juvia. — Ele se achegou mais a ela, e segurou-lhe a mão. Juvia enrubesceu e, por fim, sorriu.

— Feliz Dia dos namorados, Gray-sama.

Desta forma, lado a lado, os dois permaneceram a observar o céu nevado de Magnólia.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem, pessoal!

Até uma próxima oportunidade o/