Apenas sonhe ~ sendo reescrita~ escrita por Sol
Notas iniciais do capítulo
Heey pessoas, espero que gostem :3
Lucas caminhava sem rumo, com seus passinhos curtos e desanimados, a chuva não estava tão forte, mas já se encontrava totalmente encharcado e com frio, ele correu em direção ao único lugar à vista: Um ponto de ônibus. O novo abrigo era um tanto úmido e não muito seguro, Lucas ainda sentia alguns pingos de chuva lhe atingir, entretanto o pequeno considerou aquele como o lugar ideal para o momento de desespero em que se encontrava, e depois de alguns segundos notou que não foi o único.
Um rapaz loiro atravessou a rua rapidamente e parou ao lado do menino, mesmo com o guarda-chuva em mãos ele estava um pouco molhado, quanto mais bagunçava o próprio cabelo ondulado, pior ficava o estado de sua aparência.
Lucas pensou que o rapaz se importaria, porém ele apenas cantarolava alguma musica que Lucas não conhecia e parecia animado, para não dizer ansioso.
— O que faz sozinho a essa hora da noite? – O loiro perguntou, fitando o menino ao seu lado e jogando os fios ondulados do cabelo para trás, Lucas preferiu permanecer em silêncio, sempre preferiu o silêncio, era mais seguro para si mesmo, o rapaz permaneceu o encarando por alguns dos segundos que se seguiram, dessa vez em um silêncio agradável ao pequeno.
O tempo para Lucas não parecia querer passar, a chuva ainda permanecia e estava começando preocupar o menino, precisava ir para casa o quanto antes, por mais que não fosse essa sua vontade mais sincera, na realidade Lucas não queria ter que olhar para aquela casa nunca mais, e não olharia, se aquele não fosse o único lugar que aquele pobre menino conhecesse como lar.
— Cristian? – Uma voz chamou a atenção do menino, seu olhar se guiou até um rapaz ruivo e bem vestido, talvez um pouco mais velho que o loiro, ou talvez fosse a seriedade de suas roupas formais que o deixavam aparentemente mais adulto do que deveria ser, ele atravessava a rua e sorria largamente. Lucas não o conhecia, mas por um segundo pensou que seria legal ser como ele, seu estilo, suas roupas, seu sorriso, sua confiança... Lucas daria tudo para ser como ele.
O ruivo chegou à calçada e ergueu os braços para o alto em sinal de rendição ou algo muito parecido. —Demorei?
— Demorou! – Comentou o loiro, que Lucas supôs ser Cristian, ele parecia um pouco chateado e montou um pequeno bico, o menino tentou, mas não conseguiu segurar um risinho. —E tenho testemunhas! - O ruivo olhou para o menino com um bico, como se implorasse por um pouco de piedade, o que fez com que Lucas risse mais. — Eu estou te esperando há um século. – Na verdade não deveria ter sido nem ao menos uma hora. —Minha mãe já deve estar achando que eu fui sequestrado no caminho da casa dela! - Sequer foram meros trinta minutos de espera...
— Quanto exagero... Francamente! – O ruivo ergueu o guarda chuva e sorriu, pegando a mão de Cristian com delicadeza.
—Ainda está chovendo um pouco, testemunha! - Cristian lançou um olhar amistoso ao menino e ergueu o guarda-chuva extra. —Não vou precisar do meu agora, por que não usa para ir para casa?
Lucas encarou os dois por alguns segundos até assimilar o que estava acontecendo, então, ainda com certo receio, pegou o guarda-chuva.
— Mas... Como vou te devolver?
Cristian sorriu e bagunçou o cabelo negro e mal cortado do menino.
—Não precisa me devolver, assim eu obrigo Set a ser menos possessivo com o dele. - O ruivo fingiu tossir um pouco, porém em nada pareceu abalar o companheiro.
— Mas... – Lucas não aceitaria simplesmente ficar com algo que não deveria lhe pertencer. —Mas eu insisto!
—Tudo bem... Eu moro bem ali ó. – O Loiro apontou para a casa branca em frente ao ponto, parecia grande, tinha janelas e portas marrons e um pequeno quintal aberto. —Pode me entregar amanhã. Tudo bem assim?
Lucas assentiu rapidamente, desejando se lembrar de qual seria a casa no dia seguinte. Ele agradeceu rapidamente aos dois e decidiu voltar a caminhar para casa, dessa vez com um pouco mais de pressa. Então correu por entre as ruas iluminadas e comerciais, desviando de ciclistas, skatistas e pessoas que iam e vinham com suas sacolas de compras. Era sempre assim, o movimento sempre era grande à noite, e Lucas havia se habituado a esse ritmo.
Ele saiu da parte movimentada da rua e, com certo desanimo, encarou o beco escuro e sem vida que teria que atravessar, havia outros caminhos, isto era um fato, caminhos mais perfeitos, tranquilos e seguros para uma noite chuvosa, porém, como bem diziam as pessoas, a pressa é inimiga da perfeição, e pressa era tudo o que Lucas tinha naquele momento, mesmo que ele tentasse se consolar, não poderia negar que era a única solução rápida para o seu problema, ele não gostava do escuro, mas gostava o suficiente de sua cama para se motivar a começar a correr até o outro lado, com os olhos entreabertos e o coração amedrontado, acelerando a cada passo, "Deveria haver alguma vantagem em ser tão pequeno", era o que ele pensava quando pisou do outro lado do beco e chegou a uma rua quieta e silenciosa.
A chuva havia quase cessado, restavam apenas alguns pingos rebeldes e assim ele pôde fechar o guarda-chuva enquanto se lembrava de como se fazia para respirar.
Ao seu redor viu que alguns cães deitavam ou reviravam a lata de lixo, viu também duas crianças brincarem na porta de uma casa pequena e, com o consolo de que não estava sozinho na rua, ele continuou andando.
A iluminação era precária, o que o assustava um pouco, mas ainda assim não o impediu de continuar seu caminho, um bêbado tombou no meio fio e permaneceu jogado no chão, Lucas apenas lhe lançou um rápido olhar e acelerou o passo, tentando regular a respiração. Quando avistou a casa cinza e pequena, sentiu o coração se apertar um pouco, não queria voltar, mas havia outro jeito? Ele correu até a porta de ferro e começou a bater, na esperança de ser ouvido.
Ele bateu e bateu, hora ou outra ouvia o som de garrafas rolando pelo chão, porém ninguém parecia interessado em atender, o que o revoltou.
— Pai! – Chamou uma vez, sem resposta. — Papai, abre a porta! Eu sei que está ai! – Insistiu, sentindo as lágrimas escorrerem pelo rosto, não queria dormir do lado de fora novamente, seria muito assustador, sempre era assustador. Começou a bater mais forte até ouvir os passos se aproximarem e a porta ser destrancada. Quem a abriu foi um homem com a barba a fazer e uma expressão de muito desgosto. — Me deixa entrar, por favor, estou com frio e sinto fome!
— Por que chegou tão tarde?
— A chuva me atrapalhou. Deixa eu entrar, estou com frio!
— Quanto conseguiu? – O homem perguntou, ignorando os pedidos do menino. Lucas tirou do bolso algumas moedas. — Essa mixaria? Acha que podemos viver com isso? Você é inútil por acaso?
— Desculpa papai, o tempo ficou ruim e eu... – Lucas não mais resistiu e começou a chorar, levando as pequenas mãozinhas até o rosto, na tentativa falha de conter as lágrimas, o pai estava irado e o empurrou para longe. — Por favor... – Pediu novamente, entre soluços. — Não me deixa aqui! Eu tenho medo! ! Não quero ficar sozinho! – O pequeno focou o olhar em algo próximo aos pés do pai, um ursinho de pelúcia meio esfarrapado. —Mai...
O pai de Lucas se abaixou e pegou o ursinho de pelúcia, o encarando com desgosto. O pequeno menino ergueu os bracinhos, tentando alcançar o ursinho e recebeu como resposta um sorriso do pai.
—Pronto, não fica mais sozinho! – O homem deu um passo atrás e jogou o ursinho no rosto do filho.
—Papai...
Mas a porta se fechou a sua frente e tudo que lhe restou foi o frio, o ursinho de pelúcia jogado no chão e as lagrimas.
Na casa de Lucas era assim, sem dinheiro, sem nada, sua mãe já não estava neste mundo para protegê-lo e seu pai não parecia nada interessado em ser um pai, as lágrimas e a bebida lhe eram mais interessantes, ao menos era assim que Lucas via as coisas.
O menino olhou em volta, o bêbado continuava caído e agora alguns jovens fumavam e riam alto como se estivessem em uma festa.
A chuva havia parado de vez, pelo menos.
Ele pegou as moedas que tinha em mãos e decidiu comprar algo para comer, voltou a caminhar, se lembrando de que perto do inicio da rua havia um bar, Lucas odiava bares, mas estava faminto e precisa de alguma coisa para comer, qualquer coisa.
Passou pelos jovens, que agora atormentavam o homem bêbado, e continuou em frente, andando o mais rápido que podia. Os cães ainda estavam deitados e as crianças ainda brincavam.
Quando avistou o bar, o pequeno correu e adentrou aquele local rapidamente, ainda desconfortável com o cheiro de bebida e a falação, Lucas chegou ao balcão e pediu um biscoito barato, era tudo o que suas moedas lhe permitiam comprar, mas era muito para quem pouco comeu durante todo o dia. Ele saiu e caminhou em direção ao começo do beco escuro, onde se sentou atrás de um latão de lixo com os olhinhos ainda marejados e os soluços sufocados pelo ursinho de pelúcia.
Pensou no guarda chuva. Deveria devolver ao rapaz que lhe emprestou, pois esse era o certo a se fazer, mesmo que ele tenha dito para entregar-lhe no outro dia. Lucas decidiu que o faria naquele mesmo dia, assim, pelo menos, poderia descansar no ponto de ônibus e quem sabe dormir, certamente seria melhor do que o chão frio e sujo.
~ ~ ~
Assim que terminou finalmente de comer, Lucas jogou o pacote no latão de lixo ao lado e voltou a caminhar, fez questão de comer tudo, pois havia aprendido com o melhor amigo que não era todos os dias que poderia ter algo para comer, mesmo que fosse um simples biscoito barato. O melhor amigo de Lucas era um menino que não tinha uma casa, Lucas pensou se não seria bom procurar por ele depois que entregasse o guarda chuva, esse pensamento o animou minimamente, o máximo que a situação permitia.
O movimento era um pouco menor, mas ainda assim ele quase esbarrou com as pessoas umas três vezes, não havia mais skatistas, já deveriam ser quase oito horas e eles certamente haviam ido para as pistas de skate, Lucas prosseguiu com passos firmes logo avistando o ponto no qual havia se abrigado, ainda tinha fome, mas o biscoito ajudou a reduzir um pouco o incomodo.
Correu para o ponto e tentou se lembrar da casa, ao ver as janelas marrons, um sorriso se formou em seu rosto, ele atravessou a rua e passou pelo pequeno quintal aberto, ficando frente a frente com a porta, bateu uma vez... Duas... Três, olhou bem para a janela, as luzes estavam apagadas, Cristian ainda não havia voltado.
Lucas se sentou em frente à porta e abraçou as próprias pernas, encostando a cabeça nos joelhos, decidiu esperar e as horas foram passando, o frio o fazia tremer e a todo momento as palavras do pai voltavam em sua mente, elas lhe deixavam um pouco tonto, nervoso e triste, tudo ao mesmo tempo, o frio piorava a cada segundo e as lágrimas insistiam em voltar de hora em hora, Lucas evitava essas lágrimas a semanas e agora que elas saíam não pareciam querer ficar presas de novo.
Ele permaneceu assim, chorando, tremendo e encolhido, contando os segundos, até que se recostou na porta e sentiu seus olhinhos pesarem, por ali mesmo adormeceu.
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Então, como ficou? Alguma boa alma ai para me dizer? ♥