Kisses and Everything Else escrita por Natt Evans


Capítulo 1
Kisses and Everything Else


Notas iniciais do capítulo

Tentei não deixar o Luffy muito OOC, mas não tenho tanta certeza assim se consegui. E o Law é mais como aquele Law despreocupado antes do time skip. Na fic Luffy têm 17 anos e o Law têm 21.

Nas notas finais têm um mini glossário com o significado dos termos em japonês.



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Kisses and Everything Else

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Todo final de tarde ele via o garoto voltando pra casa, a mochila jogada displicentemente nas costas, alheio a quase tudo e na maioria das vezes acompanhado do irmão mais velho.

De início era só curiosidade, mas agora Law sabia que começava a beirar a obsessão. Olhar já não era o suficiente.

Mesmo assim ele tentava se contentar com isso, ao menos por enquanto. Ainda mais ao perceber que o irmão mais velho de Luffy, sempre tão tranquilo e despreocupado, parecia ganhar um ar de profunda irritação toda vez que notava os olhares de Law em direção ao seu otouto.

De qualquer forma, aquilo não o intimidava. Só fazia com que curvasse o canto dos lábios em um discreto sorriso.

Era só uma questão de esperar a oportunidade surgir.

...

E não demorou muito para que isso acontecesse.

Naquela tarde ele havia fechado mais cedo o consultório de sua família, onde estagiava. Se livrou do jaleco branco e com as mãos no bolso da calça jeans, ganhou as ruas na intenção de seguir em direção a loja de conveniência na esquina de trás.

Mas não chegou a dar mais do que três passos ao fechar o portão. Luffy vinha do outro lado da calçada, sem o irmão mais velho dessa vez.

Law o observou caminhar sem pressa, enquanto uma das mãos ajeitava o curioso chapéu de palha, que já era como uma marca registrada do garoto. Pacientemente esperou ele se aproximar mais, para que atravessasse a rua e fosse ao encontro dele pela primeira vez.

Luffy ainda parou em frente a uma das casas e esticou os braços, se espreguiçando antes de continuar, sem notar a aproximação do outro rapaz.

– Oe, Luffy, certo? – Law chamou em um tom neutro, ganhando vagamente a atenção do garoto.

Luffy se aproximou dele, nem um pouco surpreso pelo rapaz de cavanhaque saber seu nome. Quer dizer, provavelmente toda a rua – e talvez até o bairro – soubesse, já que seu avô e Ace viviam berrando seu nome por aí, sempre que sumia ou demorava muito para voltar pra casa.

Sem notar qualquer esboço de receio ou preocupação da parte de Luffy, Law se aproximou mais, mantendo uma ínfima distância, nem um pouco adequada para os padrões japoneses. O garoto apenas ergueu o rosto para fitá-lo diretamente, tão pouco se incomodando e uma expressão quase inocente.

Os dedos de Law formigaram, querendo tocar a cicatriz em baixo de um dos olhos de Luffy, mas ele achou melhor ignorar aquela vontade por hora.

Ao invés disso, ele sorriu discretamente antes de apontar em direção ao outro lado da rua.

– Eu moro ali, naquela casa em frente a sua, onde fica o novo consultório. Você é um dos netos do Garp-san, não é? – Luffy assentiu enquanto os olhos seguiam a direção que o rapaz apontava. – Lembre ao seu avô que a consulta dele está marcada para amanhã, às 10h. Para ele não esquecer, como esqueceu da outra vez.

– O jii-chan está doente? – perguntou, um quase imperceptível brilho de preocupação passando por seus olhos.

– Não, é só consulta de rotina.

– Hm, vou lembrar de avisar então – disse, sorrindo, mas antes que se afastasse, Law o segurou pelo o cotovelo, trazendo-o novamente para perto.

– Espere... Está com fome? Eu estou indo lanchar aqui perto, não quer vir comigo? – e mesmo tendo feito a pergunta como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo, o mínimo que Law esperava era que Luffy o olhasse com desconfiança e mandasse ele para o quinto dos infernos.

Mas para sua surpresa, Luffy deu um amplo sorriso como resposta, começando a caminhar com ele em direção ao final da rua como se já fossem velhos amigos.

O garoto só parou uma única vez com ar de dúvida, segundos antes de perguntar:

– Você paga, certo?

Law assentiu. E o amplo sorriso, estava de volta.

...

Ele passou a se encontrar com Luffy todas as tardes, durante aquela semana.

Na maioria das vezes eles se falavam brevemente, já que não podia ficar muito tempo de bobeira do lado de fora da clínica, conversando. Mas Law se considerava relativamente sortudo porque em nenhum daqueles momentos o irmão mais velho do garoto estava por perto.

Os dois não tinham muito em comum. Luffy era muito disperso e inquieto. Era difícil mantê-lo focado em um único assunto e parado durante mais do que 5 segundos no mesmo lugar. Talvez menos que isso.

Mesmo assim Law se viu intrigado a cada dia. E de forma diretamente proporcional, se sentia ainda mais atraído pelo garoto.

Queria tocá-lo. Ir além do leve roçar de braços ocasionais ou do resvalar da ponta dos seus dedos nas mãos ou nas costas de Luffy.

Ele já podia até imaginar como seria afundar os dígitos nas mechas escuras e repuxá-las com um pouco de força, em um gesto claro para impor suas vontades, enquanto seus lábios sentiam a textura do ombro, alcançando a clavícula e cravando os dentes ali. Iria marcar cada pedacinho de pele, para em seguida beijar cada mancha que deixasse. Uma por uma.

Mas Law sabia que ainda não era a hora certa. As breves conversas haviam sido o suficiente para perceber que Luffy não se submetia a ninguém e não era tão indefeso quanto aparentava.

Por outro lado, ele era tão receptivo e curioso, que talvez tudo caminhasse mais rápido do que Law imaginava.

Fosse como fosse, tinha certeza que seria igualmente divertido.

...

Ace demorou um pouco para criar coragem de sair do futon. E nessa brincadeira, já havia cochilado umas quatro ou cinco vezes. Quando finalmente decidiu levantar, o céu já estava escuro.

Assimilou o barulho vindo de um dos cômodos e a voz grossa do seu avô praguejando contra a falta de jeito com as panelas. O velho podia destruir a cozinha, mas pelo menos sabia preparar uma comida pra lá de decente, pensou, enquanto coçava os olhos em uma tentativa inútil de afastar o sono.

Saiu do quarto e não viu nenhum sinal que indicasse a presença do seu otouto. Estranhou já que àquela hora ele deveria estar em casa, reclamando por comida.

Há vários dias que não voltavam juntos para casa depois do colégio. Isso porque Luffy andava com dificuldade em quase todas as matérias e precisava ficar até mais tarde para as aulas extras. Ainda assim, o mais novo chegava muito antes da hora do jantar.

Bom, ele devia ter se distraído com algo no meio do caminho ou parado na casa de um dos amigos.

Caminhou até a cozinha e se recostou no batente da porta, vendo seu avô mexer algo na panela fumegante.

– Oe, jiji, Luffy ligou avisando que ia chegar tarde?

– Ele já chegou – respondeu, sem se dar ao trabalho de se virar para o neto.

– E onde ele tá?

– Aí fora, gaki. Conversando com o vizinho.

Ace arqueou uma das sobrancelhas, cruzando os braços na altura do peitoral desnudo.

– Que vizinho?

Garp soltou um muxoxo chateado ao quase se queimar, quando foi colocar a tampa na panela. Enxugou as mãos no avental e se virou para o moreno.

– O filho do médico aí da frente. O rapaz que está estudando medicina.

– E você deixou, kuso-jiji?! – perguntou raivoso, só tendo tempo de desviar da colher de pau em sua direção.

– Não me chame assim, moleque! E qual o problema do Luffy fazer novas amizades?

Ace nem se deu ao trabalho de responder. Girou nos próprios calcanhares e saiu em direção a entrada da casa.

Novas amizades? Sabia muito bem o tipo de amizade que aquele estudante de medicina metido queria...

Abriu a porta da casa e já foi logo vendo Luffy mais adiante no portão, conversando animadamente com o outro rapaz moreno.

Certo que seu otouto não precisava de proteção, Luffy sabia se defender muito bem sozinho e ninguém conseguiria forçá-lo a fazer algo que não quisesse. Mas ele era tão inacreditavelmente ingênuo, que seria muito fácil levá-lo na conversa. E ao julgar pela forma como o homem de cavanhaque olhava seu irmão mais novo, era exatamente isso que deveria estar acontecendo ali.

– Luffy, o que faz aí? Entra, o jantar está na mesa e o jiji tá comendo tudo sozinho.

E não foi preciso dizer mais nada. Sem nem sequer se despedir de Law, Luffy correu para dentro de casa, praguejando alto contra o avô.

Ace lançou um sorriso arrogante em direção ao homem ainda parado em frente ao portão e sem dizer nada, fechou a porta em um baque forte.

Law, por sua vez, pendeu a cabeça para o lado ante a porta praticamente batida em sua cara, mas sorriu ao levar uma das mãos até a nuca e massageá-la em um gesto descontraído.

Afinal, sabia que estava muito perto de conseguir o que queria.

...

– Luffy? – Law chamou o mais novo ao vê-lo passar em frente ao portão da sua casa.

O garoto olhou na direção dele. Estava usando uma bermuda, regata folgada e carregava uma toalha. As maçãs do rosto se encontravam meio rubras devido ao sol e Law sabia que aquela manhã ele tinha ido a um clube ali perto, aproveitar o início das férias de verão com os amigos do colégio.

Luffy se aproximou, sorrindo e sem cerimônia alguma, sentou-se no chão da varanda ao lado do rapaz de cavanhaque. Apoiou os braços para trás e deixou todo o peso do corpo ali ao levantar um pouco as pernas, esticando-as preguiçosamente. A mesma brisa que balançava as folhas da árvore e fazia sombra onde estavam, bagunçando suas mechas escuras.

– Se divertiu bastante pelo visto – Law comentou, sem tirar os olhos dele.

Haiii... Sanji levou tanta comida que fizemos um piquenique – respondeu, rindo baixo como se lembrasse de algo.

Law se aproximou um pouco mais, inclinando o rosto na direção dele, contendo o ímpeto de roçar os lábios no pescoço alvo. Luffy nunca se incomodava com toda aquela proximidade, sempre receptivo aos pequenos gestos e toques. O mais velho sabia que em parte era porque ele tinha um lado ainda inocente demais para um garoto de dezessete anos.

A outra parte era o fato de Luffy considerá-lo um bom amigo e ele era assim com todos os seus amigos. Tinha certeza disso, ainda que nunca tivesse visto o garoto com um deles.

Permaneceram em silêncio durante vários minutos e com isso Law sabia que Luffy deveria estar com sono. Só assim para ele ficar tanto tempo quieto. Então resolveu voltar a falar, antes que o mais novo acabasse adormecendo sentado ali mesmo.

– Nee, Luffy... – o estudante de medicina se sentou de lado, flexionando as pernas e ficando em posição de lótus.

– Hm? – Luffy apenas virou o rosto, os olhos esboçando curiosidade ao fitá-lo.

Law acabou por curvar os lábios em um sorriso leve, quase imperceptível. Sabendo que não seria repelido, levou uma das mãos até o rosto de Luffy, roçando a ponta dos dedos pela bochecha dele antes de deslizar pela cicatriz em baixo de um dos olhos, como sempre quis fazer.

– Tem uma coisa que eu quero que você prove.

– É de comer? – os olhos brilharam e Law riu baixo.

– Não, mas é bom também.

Luffy amuou, os lábios formando um bico infantil, deixando Law em dúvida se revirava os olhos ou ria novamente.

– Só não se assuste, certo? – pediu, vendo-o sorrir marotamente, fazendo Law se questionar se o garoto era tão inocente quanto aparentava.

De qualquer forma, o mais velho não achava que aquilo seria um problema. Tinha a seu favor toda a curiosidade de Luffy. Ele simplesmente adorava tudo que fosse uma novidade e agia como se estivesse redescobrindo o mundo.

Law se aproximou mais, a mão ainda no rosto de Luffy. Não se deu ao trabalho de fechar os olhos e nem pediu que o garoto fizesse isso. Colou os lábios aos dele como se fosse uma espécie de teste ou um gesto ocasional, enquanto Luffy franzia as sobrancelhas, aparentemente confuso.

Sem encontrar resistência, Law encaixou o lábio inferior dele entre os seus, sugando-o e provando a textura. Sua mão já se encontrava na nuca do mais novo, puxando-o suavemente e enroscando os dígitos nas mechas escuras. Mas foi com surpresa que sentiu o garoto entreabrir os lábios, lhe dando mais acesso.

Talvez aquilo não fosse tão novidade assim para ele. Bom, não tinha como ter certeza mesmo.

Só então Law cerrou os olhos, esquecendo-se de observar as reações no rosto de Luffy. Sua língua invadiu a boca dele, sem se importar em quão apressado estava sendo ao aprofundar o beijo com mais avidez do que planejará. Se deixou levar, sem ligar se poderiam ser vistos.

Inclinou ainda mais o corpo em direção ao garoto e agora sua outra mão também envolvia o rosto dele, impedindo-o de se afastar, ainda que Luffy não parecesse ter tal intenção.

Ele sentiu o gosto de Luffy, tão único como imaginou que seria. E ao encerrar o beijo quase se chutou mentalmente ao notar que o mais afetado com o ato tinha sido ele mesmo, ao invés do garoto a sua frente.

Luffy piscou os olhos algumas vezes, ainda podendo sentir o toque morno dos lábios de Law. Em seguida sorriu amplamente, sem deixar de fitar o mais velho.

– Acho que ainda prefiro comida.

Law deu um leve tapa na cabeça dele, mas riu baixo, negando com um aceno.

Que outro tipo de resposta ele poderia esperar vindo de Luffy?

...

Ele descolou os lábios dos de Luffy, meio relutante. Pateticamente relutante, como disse a si mesmo, mentalmente.

O livro que estava lendo a alguns minutos atrás, se encontrava jogado de qualquer jeito ao pé da cama, mas não fez questão de pegá-lo. Ao invés disso, se levantou, indo sentar na cadeira da sua mesinha de estudos, fitando o mais novo de forma indagadora.

Luffy sorriu travesso, o que vinha se tornando cada vez mais frequente. E agora Law se perguntava quem estava brincando com quem ali.

Porque por mais que se beijassem e se divertissem das mais diversas formas – a maioria delas, nem um pouco inocentes – a sensação que tinha era que Luffy nunca estava totalmente presente.

Law até podia dizer que tinha o garoto entregue em dados momentos, só que o controle nunca pertencia a si mesmo.

Mas não gostava de ir mais além naquelas fracas análises. Era melhor fazer de conta que não enxergava alguns fatos, por mais óbvios que fossem.

Foi pensando nisso, que ele chamou Luffy para mais perto.

O garoto se aproximou, deliberadamente se acomodando em seu colo e ficando de frente para o mais velho. Os braços pendiam soltos ao lado do corpo, apoiando as mãos na cama.

– Você prometeu. Onde está? – Luffy perguntou, os olhos percorrendo todo o cômodo.

Law afagou as próprias mechas curtas, ainda fitando-o com seriedade. Mas acabou por sorrir, desviando os olhos e esticando um dos braços para alcançar a gaveta da mesinha ao lado, antes que Luffy ficasse impaciente.

Pegou a caixa com os chocolates que ganhará no dia anterior e entregou apenas dois ao mais novo. Afinal, pra que mimar tanto o garoto, se já o tinha?

Law o observou comer um bombom atrás do outro, sujando o canto da boca com a calda de cereja, a expressão do rosto em puro deleite.

Oishii! – disse, sorrindo ao terminar de comer. - Me dê os outros – não era bem um pedido...

O estudante de medicina riu, levando a mão até a nuca dele e puxando-o para um beijo. Primeiro provou os lábios de um jeito lento e contemplativo, que sabia deixar o garoto bastante impaciente. Depois aprofundou o contato, sua outra mão firme na cintura de Luffy, os dedos pressionando a pele por baixo do tecido da camisa.

Foi o mais novo que encerrou o beijo, pegando a caixa de chocolate logo em seguida e mais um bombom. Law roubou um para si, já que não demoraria muito pra Luffy acabar com todos. E enquanto esperava, seus dedos percorriam as cicatrizes de infância em um dos joelhos do outro.

Quando já tinha decorado cada pequena cicatriz, resvalou a ponta dos dígitos pela cintura dele novamente, antes de seguir por um dos braços, vendo os poucos pelos de Luffy eriçarem com o toque. Mas a atenção do garoto ainda era toda voltada para os chocolates devorados um a um.

Luffy já estava no último bombom, acabando por deixar escapar um gemido deliciado quando a calda explodiu nos seus lábios novamente. Law quase roubou um novo beijo dele com a cena, vendo o garoto deslizar a língua e sugar o lábio inferior enquanto os olhos cobiçavam o chocolate surrupiado pelo mais velho.

Deu de ombros em sinal de derrota, abrindo a embalagem antes de levar o bombom em direção aos lábios do garoto em seu colo. E enquanto Luffy devorava o doce, Law cuidava de pressionar a boca entreaberta contra o pescoço dele, beijando e sugando uma porção da pele, com a mesma fome que o menor expressara segundos atrás.

E em meio a beijos, ora ávidos e ora desleixados, Law o livrou da camisa e o restante das roupas, buscando o calor da pele dele em contato direto com a sua, arrancando de Luffy gemidos e ofegos que nada tinham a ver com os malditos chocolates.

...

Luffy se encontrava deitado na varanda de casa, cochilando. Era uma tarde insuportavelmente quente e Ace estaria fazendo exatamente o mesmo, se não estivesse incomodado com alguns fatos recentes.

Sentou próximo ao irmão e cutucou a perna dele com o pé, chamando-o. Claro que não ia adiantar muito, já que Luffy tinha o sono pesado demais, não importasse onde ou como dormisse. Por isso ele apenas resmungou algo em meio ao sono e virou para o outro lado.

Ace soltou um muxoxo, mas em seguida riu baixo, engatinhando até ele. Puxou Luffy por um dos ombros, balançando-o enquanto o chamava.

Oi, Luffy... Luffy... – o balançou novamente com mais insistência, puxando a bochecha dele em seguida até que ele entreabrisse os olhos.

– Hm... Ace, me deixa dormir... – resmungou arrastado, voltando a fechar os olhos.

– Não, eu preciso te perguntar uma coisa – disse, puxando a bochecha dele mais uma vez. - Luffy?

O mais novo voltou a abrir os olhos, coçando-os e espantando o sono antes de se sentar e olhar mal-humorado para o seu onii-chan.

Ace pensou bem no que ia perguntar, relutando um pouco. Mas acabou se decidindo por ser o mais direto possível, já que rodeios ou insinuações não funcionavam com o mais novo.

– Que tipo de relacionamento você e o cara aí da frente têm?

Luffy franziu o cenho, mas respondeu sem pestanejar:

– Somos amigos – a verdade é que talvez ele não tivesse entendido o sentido da pergunta, ao mesmo tempo em que o tom despreocupado era quase uma afirmação a Ace que ele não estava mentindo. Ao menos não de todo.

– O que eu quero dizer é... – fitou Luffy mais uma vez, algo parecendo prender sua língua e impedindo-o de falar.

O que acontecia é que o própria Ace não entendia porque se incomodava tanto com o assunto. Não era nem a questão que seria mais óbvia naquela situação: a de ter um irmão envolvido, de uma forma que nada tinha a ver com amizade, com outro homem. E não era mesmo isso, ainda que ele sequer conseguisse usar o termo mais adequado.

O problema é que imaginar Luffy em um relacionamento com que quer que fosse, por si só já era uma ideia difícil de aceitar. E a associação mais lógica que ele fazia, era que ou o seu otouto não tinha verdadeira noção do que as ações e envolvimento com Law implicavam, ou estava era sendo levado na conversar.

A terceira opção, Luffy tendo plena consciência de tudo e reagindo com sua naturalidade típica, ele não queria nem cogitar.

– Deixa pra lá... – disse por fim, levando a mão até o topo da cabeça do mais novo e bagunçando os cabelos escuros.

Luffy deu um daqueles grandes sorrisos e se espreguiçou, logo se deitando para voltar a cochilar, enquanto resmungava algo sobre fome.

Ace por sua vez deitou ao lado dele, os braços cruzados atrás da cabeça, tencionando pegar no sono também.

Não eram mais crianças, disse a si mesmo. Luffy não precisava de proteção e ele próprio sempre estimulara o mais novo a trilhar o próprio caminho.

Mas ainda assim não conseguia refrear o desconforto cada vez que o avistava com o outro rapaz. Era como se estivesse perdendo-o.

E em algum ponto, sabia que o desconforto nada tinha a ver com preocupação de irmão mais velho.

...

Talvez e só talvez, ele estivesse bastante encrencado. Coçou a cabeça em um falso gesto despreocupado, enquanto via Luffy ao lado do irmão.

Os dois vinham caminhando pela calçada, entretidos em uma conversa. Law estreitou os olhos quando viu Ace bagunçar as mechas escuras do mais novo, que ria de algo que ele havia dito.

Sabia que aquilo era bobagem, conversa de irmãos com pouca diferença de idade e apegados. Mas também sabia que eles não eram irmãos de sangue. Luffy havia comentado algo a respeito em uma tarde ali na clínica mesmo. Sobre Ace ser filho de um amigo já falecido de Garp-san e que sua mãe morrera durante o parto.

Garp o trouxe para casa um dia e disse a Luffy que aquele agora seria seu irmão mais velho, simples assim. Mas Luffy tendia mesmo a simplificar demais as coisas.

Afastou esses fatos, atento em observar os outros dois no lado oposto da rua. Ace puxando Luffy pra dentro de casa, ambos ainda rindo, o irmão mais velho lançando a Law um olhar quase de deboche e desafio quando abraçou Luffy de lado e entrou com ele.

Quase sorriu diante daquilo. Quase...

A sensação de dúvida que o suplantou e algo mais que ele desconhecia, fez o sorriso morrer antes mesmo de nascer.

Estava mesmo encrencado. E agora era uma certeza.

...

– Então, qual é a sua?

Law se virou em direção a entrada da clínica e se deparou com o irmão mais velho de Luffy.

– O quê? – ele indagou, arqueando uma das sobrancelhas sem entender a pergunta.

– Eu quero saber qual é a sua com o Luffy? – Ace perguntou, os braços cruzados na altura do tórax e o fitando com seriedade.

Law conteve a vontade de soltar um riso frouxo e apenas revirou os olhos. Sem dar muita importância, voltou a ficar de costas para Ace, sua atenção no fichário que folheava em cima da bancada.

– Somos amigos – respondeu, dando de ombros e virando a página, mas em seguida se voltou na direção de Ace, com um sorriso torto nos lábios ao completar: - Mas você já deve saber disso, certo?

Ace descruzou os braços e cerrou os punhos, percebendo a insinuação implícita. Sua vontade era de socar aquele imbecil que estava mexendo com seu otouto, mas sabia que se fizesse isso, Luffy ficaria extremamente chateado. Quem sabe até mesmo magoado, já que não admitia que ninguém machucasse um dos seus amigos

Por isso, tentou se controlar e com toda a calma que conseguiu reunir, deu alguns passos até o balcão de atendimento ficando ao lado do estudante de medicina.

– O jiji ficou de preparar o prato preferido do Luffy hoje pro jantar. Aparece por lá às sete.

Law imediatamente deixou de dar atenção para o fichário e encarou Ace com uma expressão de quem não estava entendendo nada. Mas antes que abrisse a boca para indagar o outro rapaz, ele deu meia volta e saiu da clínica.

O estudante de medicina ainda ficou uns bons minutos tentando entender a razão do convite repentino, já que Ace claramente o detestava. Por fim, decidiu arriscar e ver no que aquilo ia dar.

Pelo visto não era só Luffy que não seguia o senso comum dentro daquela família.

...

Law olhou para toda aquela loucura, tentando lembrar a razão de ter decidido ir naquele jantar.

Quer dizer, deveria ser mais que obvio que Ace não tinha boas intenções ao convidá-lo. Além do mais, Luffy era só uma curiosidade. Alguém para passar o tempo.

Por isso, não deveria importar se ele ia ou não ligar se Law aceitasse o convite para o jantar. Ou que o estudante de medicina seria ou não aceito por sua família.

Mas bem... ali estava ele, com todas essas preocupações em mente.

O silêncio na mesa era pesado. Apenas Luffy não parecia se dar conta disso e continuava a comer como se aquela fosse mais uma refeição comum em sua casa. Não que Ace ou Garp-san também não estivessem comendo, mas mesmo levando a comida a boca sem parar, nenhum dos dois desviava os olhos da figura de Law.

Seria até engraçado se aquilo não parecesse uma ameaça de morte completamente explicita, apesar de silenciosa.

Mas ele ainda preferia o silêncio ameaçador, do que a pergunta disparada por Ace tão de repente:

– Então, por que um estudante de medicina como você tem tanto interesse em Luffy?

Garp-san parou de comer imediatamente, vidrado no que Law iria responder, enquanto Ace tinha dificuldade em esconder um sorriso quase triunfante.

Mas antes mesmo que ele respondesse alguma coisa, Luffy escolheu aquele momento para se pronunciar:

– Somos namorados.

Law começou a tossir na mesma hora, Ace levantou da mesa bruscamente e Garp-san inflou e ficou vermelho de um jeito que Law achou que ele fosse ter um infarto.

– Como assim namorados?! – Ace berrou, fitando o irmão mais novo, que apenas deu de ombros e voltou a comer antes de responder com a boca cheia:

– Namorados, sabe? Com beijos e tudo mais, ao menos foi o que a Nami disse.

– O que você quer disser com tudo mais? – Ace continuou berrando, enquanto Garp-san começava a hiperventilar. – O que diabos você fez com o meu irmão?! – dessa vez o rapaz se dirigiu a Law, o rosto vermelho de fúria.

Law olhou na direção de Luffy, que continuava a comer despreocupadamente. Suspirou resignado e voltou a encarar Ace.

Namorados.

De algum modo aquilo soava tão certo, que ele se viu apenas dando de ombros como se concordasse com Luffy.

Ji-jiji! – Ace exclamou, indignado. – Você não vai falar nada?

Garp-san finalmente pareceu começar a se acalmar, seus olhos na direção do neto mais novo. Ele tossiu algumas vezes e quando se pronunciou seu rosto ainda estava vermelho.

– Você está feliz, Luffy?

– Sim, jii-chan – ele respondeu, aproveitando para roubar o prato de Ace, que ainda parecia horrorizado com algo que Luffy nem fazia ideia.

Kuso jiji! – Ace praguejou, ainda não acreditando na forma como seu avô tinha aceitado aquilo com tanta facilidade.

– Já falei pra você não me chamar assim, moleque! E não se preocupe, Luffy não é nenhuma garotinha indefesa. Tenho certeza que se Law-kun magoá-lo, vai sofrer as consequências disso. Agora, sente-se aí e volte a comer – ordenou, ainda sem tirar os olhos do neto mais novo.

Luffy sempre lhe causava problemas, muito mais do que Ace, mas tinha um excelente instinto para saber quando uma pessoa era boa ou não. De fato, estava até um pouco preocupado com Law-kun, que pelo visto já estava rendido e teria que se desdobrar para atender as vontades do seu neto, que não era uma pessoa muito fácil de lidar.

Além do mais, antes um estudante de medicina, do que um daqueles marginais desocupados com que Luffy andava, pensou.

Seus olhos recaíram em Ace, que ainda continuava enfurecido, lembrando em muito o mesmo garotinho sempre sério e mal humorado que era na infância.

Suspirou. Chega uma idade na vida, que um homem se dá conta que não há como ir contra alguns sentimentos.

E Ace... uma hora ele perceberia isso. Ao menos era o que Garp esperava.

...

Quando ele começou aquela brincadeira, não imaginou as consequências.

Não imaginou que se encantaria por Luffy e seu jeito longe do senso comum, a ponto de ansiar por sua presença.

Mas estava tudo bem...

Mesmo com Ace agindo possessivamente quando se tratava do irmão e roubando-o de Law sempre que possível. Ou Garp-san, que parecia ter aceitado aquela relação sem grandes problemas, mas esbravejando o tempo todo sempre que os via juntos, sobre não ficaram se agarrando na sua frente.

Estava tudo bem porque ele tinha o sorriso fácil de Luffy, seus risos constantes, os abraços despreocupados e mais todo aquela forma peculiar que o mais novo tinha de ver o mundo e as pessoas ao seu redor.

Law quase podia se chutar mentalmente por esses pensamentos tão melosos, mas esqueceu disso quando pela janela da clínica, viu Luffy do outro lado da rua, chegando do colégio junto com o irmão mais velho.

Aproveitando que não havia paciente algum para atender, se livrou do jaleco e ganhou a rua, indo atrás do namorado.

E ao passar um dos braços pelos ombros de Luffy, puxando-o contra si e deixando um beijo em sua bochecha só para implicar com Ace, Law soube que naquele jogo, brincadeira ou seja lá qual fosse o nome que se dava aquela sua ideia inicial, ele havia ganhado muito mais do que sonhou.

Sua certeza sobre esse fato aumentou ainda mais, quando com toda a naturalidade, Luffy deu um beijo rápido em seus lábios. O gesto simples aquecendo-o confortavelmente.

Assim como beijos e tudo mais.

Owari


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Notas finais do capítulo

Mini glossário:
Gaki = moleque
Hai = sim
Jii-chan = vovô
Jiji = velhote ou avô. Mas não é uma forma muito respeitosa de se falar.
Kuso-jiji = velho maldito
Oishii = delicioso/gostoso, se referindo a comida.
Onii-chan = irmão mais velho
Otouto = irmão mais novo



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