Amontoados de coisas inúteis à humanidade estavam presentes naquele campo aberto. Lembranças esquecidas. De namorados e jovens e velhos e solteiros. Da mais alta riqueza daquela nação até as mais pobres, porém que ainda possuíam uma renda para sobreviver.

Eles estavam abaixo da linha da pobreza. A garota e o garoto chegavam o mais cedo que conseguiam aquele lugar. Mesmo antes das grandes máquinas que traziam mais entulhos. E dos catadores que assim como eles se sustentavam da tarefa de coleta de bens ainda aproveitáveis. Porém diferente daqueles profissionais, Satsuki e Daiki se utilizavam daqueles itens como fonte de alimentação. Eram tempos difíceis para aquele grupo. Na verdade, as esperanças eram quase nulas de que um dia poderiam conseguir ter a chance de ter um estudo. Um futuro.

A garota ajudava o garoto e vice versa. Poucas palavras eram ditas. A atividade era silenciosa. Desesperados para poder continuar vivendo.

Dificilmente eram encontrados carnes e frutas comestíveis, principalmente de aspecto bom. Por isso era com grande alegria que Aomine ofereceu a Satsuki uma metade de maçã com um sorriso.

– Olha Satsuki! Achamos um tesouro!

A garota retribuiu o sorriso fracamente. Também estava contente, porém imediatamente se lembrou de sua mãe querida que a tivesse deixado ali para morrer. Tinha tido uma época em que poderia se alimentar com quantas maçãs quisesse. Porém cada vez mais pessoas estavam se tornando pobres da noite para o dia. Sua família inclusa. Isso devido à necessidade de demissão cada vez crescente.

Em desespero os seres humanos podiam cometer atos impensados. E ali ela teria se ido. Se aquele garoto e sua família humilde não a tivessem adotado. Não sabia nada além de escrever o próprio nome e fazer bordados. Não sabia sobreviver por conta própria.

Claro, isso já fazia algum tempo.

Satsuki assentiu para si mesma que estava mais forte que antes de algum modo. Talvez por aquele sorriso tornar tudo mais leve?

–... Isso é bom Dai-chan. Agora você pode mudar o mundo!

– Não é? Aprecie meus domínios e pertences!

Então Aomine estendeu os braços como se tais propriedades incluíssem todo o lixão.

Daiki então quase que deixa a maçã cair ao olhar algo atrás dela. Momoi congelou. Sabia o que estaria ali mesmo que não virasse o rosto. Máquinas. Parecia que o tempo da coleta havia se esgotado.

– Rápido!

Aomine não precisou repetir duas vezes, logo a garota e o garoto já estavam correndo o máximo que suas pernas permitiam. Momoi rezou. Se eles fossem pegos antes que deixassem o local... Aquele lugar era proibido a qualquer pessoal não autorizado. Por segurança. Por conter potencial tóxico nas proximidades. Apenas pessoas com roupas especiais eram permitidas. Mas o que mais poderiam fazer? Era apenas precioso demais para ser ignorado.

Isso também deveria incluir a dor no coração que sentia ao ver aquelas costas se afastarem cada vez mais.

Não era apenas pelo ar que faltava por aquele movimento desgastante.

Porém se pensasse demais ela apenas seria deixada para trás. Em um local onde a gentileza devia ser tida como rara. Mas isso o moreno nunca tinha faltado em lhe dar em todos aqueles dias. Talvez fosse isso uma espécie de nobreza? Uma espécie de ouro que não poderia ser contada e vendida, mas adquirida e ensinada?

Mesmo que a vida cinzenta que tinha antes fosse mais confortável Satsuki estava contente. Talvez fosse um pecado pensar dessa forma, e ela deveria pensar em uma maneira de fugir para bem longe. E assim ele e ela juntos. De alguma forma e algum motivo que desconhecida. Porque ele e ela se conheciam ou havia um motivo a mais?

Não tinha tempo ainda de descobrir. Quando teria tempo era outra questão que não sabia a resposta. No entanto estava aliviada por hora que pelo menos tinha aquele pedaço de maçã e aquele garoto tranquilo.