No caminho voltando de Ton DC para o acampamento da Arca, Clarke quase se deixa esquecer dos momentos intensos dos últimos dias. A paisagem ao seu redor é tão naturalmente selvagem e ao mesmo tempo acolhedora que ela sente que vivera ali toda sua vida. Melhor ainda, que deseja viver ali por toda ela. E como seria? Com quem seria? Essa era a pergunta que lhe tirava o sossego naquela paisagem: com quem?

Mas primeiro ela teria de libertar seu povo da Montanha e ainda estabelecer uma paz definitiva com os Terra-Firme.

Esse breve momento de tranquilidade acabou no instante em que sua equipe foi atacada por soldados da Montanha e Octavia entregou-lhe uma foto, tendo Lexa e ela mesma demarcadas como alvos.

Indra ordenou que guerreiros corressem para avisar a comandante enquanto Clarke permanecia estarrecida, apavorada. Em segundos, seu coração gelou por saber que corria risco de vida. Mas foi quando mirou a imagem de Lexa que ele de fato parou. Ela podia não saber nem o porque, mas não conseguia tirar aquilo de sua cabeça: dois pontos vermelhos ao redor de suas cabeças. Não era como se ela não tivesse vivido situações reais de perigo antes ou mesmo que tivesse chegado a estar segura ali na Terra desde que chegou, mas aquele medo que estava sentindo era diferente e por ser diferente, mexia com ela.

Ela tentou fugir dele, escondê-lo dos outros, de si mesma. Até sua mãe percebia que algo a estava preocupando, talvez fosse o fato dela ser um alvo é claro, mas talvez fosse outra coisa. Certamente era outra coisa e Clarke não sabia lidar com aquilo, com o que quer que fosse. "É só mais um dia em terra firme".

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As horas se arrastavam e ela focou toda sua energia em resgatar seus amigos, feitos reféns na Montanha. Ela precisava entrar em contato com Bellamy e para isso seguiu para o encontro de Raven.

Vê-la era muito pesado, a sensação de estar diante de uma legião de inquisidores. Cada frase que saia da boca de Raven continha um insulto ou ameaça entre linhas. Clarke sabia que não podia culpá-la. Ela mesmo não deixava de fazê-lo... Desde que deslizou a lâmina para dentro do corpo ainda quente de Finn, ela sabia que se tornara uma assassina. Apesar de seu ato tê-lo poupado de imenso sofrimento, não a tornava menos assassina. Esse pesar estava constantemente expressado em seu rosto, de noites mal dormidas presa em pesadelos intermináveis. Seu único momento de tranquilidade era como o que havia vivido instantes antes, à caminho do acampamento Jaha, livre de qualquer pensamento até que eles se voltassem para um outro tipo de pensamento que talvez fosse de igual ou maior pesar... Em todo caso, ver Raven era estar em conflito consigo mesma e ela tinha esperanças de que pudesse falar com Bellamy evitando que aquele diálogo entre as duas se estendesse, pois ela não conseguiria ouvir novamente "Você matou Finn e eu não desisti. Faça seu trabalho!".

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Ouvir a voz de Bellamy no rádio era mais do que um fio de esperança. Era escapar de um túnel por entre escombros em direção a luz. Essa luz poderia se extinguir se ela não fosse capaz de proteger a identidade de Bellamy.

Clarke pensou em um plano ousado. Apensar de suas diferenças com Indra, ela sabia que a guerreira entenderia seu modo de pensar e até se satisfaria com seu ímpeto atroz. Ser cruel era sinônimo de força para aquele povo e Clarke precisava deixar seu lado mais obscuro prevalecer se ela quisesse resgatar seus amigos, mesmo que isso a levasse cada vez mais longe deles. Não importava, ela daria seu sangue para que parassem de drenar o deles.

Avançou pelo acampamento até os portões de Jaha, guiando uma horda de Terras-Firme, tendo um soldado da Montanha como seu refém.

Confrontar sua mãe daquela maneira foi um dos momentos mais difíceis, mas ela sabia que era necessário, pois sua mãe não seria capaz de tal atrocidade, sua mãe não era capaz de fincar uma faca no coração do homem que amava, mas Clarke era.

Indra via isso agora. Ela via agora também o perigo.