You and Me escrita por Moon writer


Capítulo 1
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Resolvi inaugurar meu perfil com um romance. Sim! O/ Espero que gostem. XD Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/598820/chapter/1

Três de dezembro de mil novecentos e noventa e três. Sexta-feira. Para muitos, um dia comum, mas para a grande e imponente família Tavares era o dia. Nascia na residência daquela família paulistana a primeira filha de Analiz e Antônio: Vitória. Linda e delicada, a criança fora muito bem recebida por todos da família. Tudo na casa era alegria. Das pessoas aos objetos; a tão desejada filha finalmente havia nascido. Vitória era a esperança de manter o nome dos Tavares de pé.
Logo muito nova, sua avó materna insistiu para que sua mãe a pusesse na melhor instituição onde também estudou quando nova, no Espírito Santo. Estava a todo custo querendo que sua neta aprendesse logo, pois a senhora já estava velha e precisava de alguém para subistuí-la nos negócios da família, já que seus outros filhos não as deram netos e nenhum deles se importava com as finanças que seu falecido esposo havia deixado. Analiz, que sempre foi sujeita as ordens da mãe, matricula a filha que acabara de entrar nos seus quatro anos de idade na melhor e mais rígida instituição do estado onde Vitória passou quatorze anos de sua vida.


Perto de completar dezoito anos de idade e também próximo de sua formatura, Vitória estava animada com a volta para casa, o reencontro com seus pais, seus familiares, sua casa e tudo que um dia deixou para trás. Até que uma notícia acaba com sua animação: Sua avó materna havia morrido. Um ataque cardíaco impediu que a morena pudesse rever sua tão adorada e idolatrada avó viva. Com o anúncio da morte, o colégio no qual estudava a liberou das provas finais para o enterro da senhora. Arrasada, a moça volta para casa. A única que sempre iria visitá-la era sua avó, sempre ouviu seus conselhos e agora ela estava ali. Deitada. Fria... Morta. Todos da família esperavam apenas a chegada de Vitória para que o corpo pudesse ser enterrado, eles sabiam a grande ligação que as duas possuíam.


O motorista que fora buscá-la no aeroporto, a deixa na porta de casa. Vitória percebe a grande fileira de carros e limusines que se formava ao decorrer da rua, já estava ciente de que o velório já tinha começado e que todos a esperavam com muita expectativa. Não queria vê-los. Não mais. Estava apenas buscando o rosto de sua avó. Antes de descer do carro, Lorenzo, o motorista a olha sem nem tentar disfarçar sua pena e dispara:


– Sinto muito pela sua avó. - As palavras daquele homem caem como uma rocha em Vitória, ela sabia que aquilo era só o começo. O começo das palavras de pesar, dos olhares de compaixão. Dos abraços sem sentimento. Não queria ir. Não queria ter que passar por tudo isso. A garota engole seco e responde:


– Obrigado. - E sai do carro.


Os grandes portões com ferros na vertical e dois típicos dragões em cada ponta de cima estavam abertos. Um cheiro de tinta invade o nariz de Vitória, ela percebe que eles haviam sido pintados. Ela entra e vê que dentro as coisas também tinham mudado. Enquanto atravessava a passarela que levava a entrada da casa, notava como o vigoroso jardim de sua época havia se tornado em um pequeno canteiro com algumas rosas e margaridas plantadas. No lugar das grandes árvores, estava agora uma piscina vazia, com longas cadeiras azuis na borda. Seu peito se contrai. Vitória estava ansiosa para ver a casa como era, não como está. Não entende o que tinha acontecido, sua avó sempre disse que tudo estava do mesmo jeito de quando partiu. Mas não era. Junto com o aperto, uma raiva toma conta de seu ser, estava pensando e chegando a conclusão de que sua família não obedecera mais a senhora. Não estavam mais a satisfazendo, talvez por isso ela tenha morrido.


– Ela morreu de desgosto! - Murmura furiosamente enquanto finalmente alcança os degraus da porta de entrada. A mesma também estava aberta. Vitória para de frente a todos. Ela olha fixadamente para o caixão no centro da sala. Aos poucos, os presentes no velório vão notando sua presença, um por um, eles a olhavam com o sentimento que a garota tentava ignorar, mas que a invadia sem dó, a destruindo por dentro. Sua mãe finalmente a nota.


– Vitória, filha! - A voz de Analiz falha, talvez por tanto chorar. - Venha. Sua avó está lhe esperando. - Mais uma vez, as palavras pesam dentro da moça. Era mentira. Iolanda estava morta, não estava esperando a neta. Não estava mais lá. Timidamente, a morena adentra na casa, tenta ignorar todos os olhares a bombardeando por todos os lados. Ela se aproxima o suficiente da mãe para que ela a abraçasse. – Senti sua falta. – As lágrimas de Analiz molhavam a manga do vestido.


– Mentira. – Dispara. – Você não sentiu minha falta, mãe.


– Claro que sentiu, Vitória. Todos nós sentimos, não fale assim com sua mãe. – Antônio fala olhando direto para a filha. Ela por sua vez, continuava imóvel.


– Quantas vezes foram me visitar? Hein? Nenhuma! - Sua voz ecoa pela sala, todos prestavam atenção. Os outros membros da família não intervirem. - Só a vovó. Só ela que me visitava, que me dava atenção. - Continua. Vitória agora olhava para dentro do caixão. Seu peito doía ao ver sua avó morta.


– Não! Filha, não é assim. - Analiz tenta explicar-se para a filha em meio a seu choro. - Sua avó nunca deixou que fôssemos te ver. Você não sabe o que acontecia aqui. Vamos para o quarto, eu te explico tudo. - O rosto da senhora estava vermelho, seus olhos também. Ela pega no braço de Vitória.


– Me solta! Eu não vou a lugar nenhum. Me deixe aqui com ela. Eu só quero ficar com ela, não entende? - A essa altura, todos os presentes já sussurravam algo. ''Que menina rebelde.'', ''Foi pra isso que ela voltou? Para envergonhar a família?''. Os comentários chegavam aos ouvidos dos irmãos de Analiz, mas eles continuavam imóveis. Sabiam o quanto aquela situação era favorável para eles.


– Pare de gritar com sua mãe, Vitória! - Antônio se põe entre as duas. - Você não sabe de nada. Enquanto estava vivendo tranquilamente naquele colégio, tendo tudo do bom e do melhor, as coisas por aqui estavam difíceis. Nada! Não sabe de nada! - Grita.


Tudo se transforma em silêncio. Todos se calam. Vitória encarava o pai com raiva, suas lágrimas tocavam a maçã de seu rosto. Ela as enxuga, pega sua mala e sobe para o quarto. Calada, calma.


– Não deveria ter falado assim com ela, Antônio! - Analiz segue a filha. - Vitória, espera!


– É por isso que ela é assim, você e sua mãe sempre a mimaram muito. - Ele grita mais uma vez, mas logo se recompõe ao perceber que todos o olhavam. Todos haviam presenciado a deplorável cena. - Peço desculpas a todos, minha filha só está muito triste com a morte da avó. Peço desculpas a você também, dona Iolanda. - Ele segura suas mãos frias.


– Como se essa desculpa fosse realmente dar certo. Todo mundo percebeu o que houve aqui. A família modelo estar com rachaduras. - Um sorriso maldoso escapa de Carlos, um dos irmãos de Analiz.


No andar superior, Vitória chora dentro de seu quarto. Nem havia reparado que também lá tudo havia mudado: todos os seus móveis cor de rosa, com enfeites de flores foram substituídos por móveis de cores neutras, sem enfeite algum. A mesinha da qual a morena tanto gostava também não estava mais no quarto. Ela chora. E todo aquele lugar sem vida a deixa mais triste ainda.


– Filha! Por favor, abra a porta. Precisamos conversar. – O apelo é em vão. De dentro do quarto, ouvia-se apenas os soluços abafados da garota. – Por favor, Vitória. – Insiste. – Sua avó... Ela... Nos fez muito mal. Todas essas mudanças, tudo o que viu, foi ela. Foi sua avó que quis que mudássemos. Eu não sei o que ela te dizia quando te visitava, mas por favor, acredite em mim! Ouça sua mãe! – A súplica parece finalmente ter efeito. Vitória abre a porta. Seus olhos estão vermelhos e sua maquiagem, mesmo leve, estava toda borrada. Ela olha para a mãe.


– Por quê nunca foi me ver? Por quê a senhora e o papai nunca foram me ver? – As duas se olham.


– Ela não nos deixava ir.


– Não brinque comigo, mãe! – Ela grita. – Não me engane com essa conversa. Se quisesse mesmo, poderia ter ido. Você poderia ter visto sua filha crescer! Como quer que eu acredite nisso?


– Estou falando a verdade, Vitória. Minha mãe sempre me criou rigidamente, nunca tive coragem de desafiá-la. Não á conhecia.


– Eu sempre a conheci! – Vitória grita novamente. – Ela sempre esteve comigo. Sempre. – Analiz segura o braço da filha com força. A encara seriamente. Suas lágrimas haviam secado.


– Não grite comigo. Pare de ser mimada! Seu pai tem razão. Eu a criei mal. Sua avó lhe criou mal. Mas eu irei consertar esse erro. Nem que me custe a vida!


– Me solta! – Vitória puxa o braço e sua mãe a solta. – Não fale comigo como se eu fosse uma criança. Eu cresci! E nada do que fale vai fazer eu mudar de ideia. Acredito cegamente na minha avó.


– Eu sei. – A expressão de seriedade permanece no rosto da senhora. – Me desculpe. – Analiz olha mais uma vez para a filha e volta para perto do marido. - Vitória permanece de pé, observando sua mãe se afastar. Mais uma vez.


Ela entra em seu quarto, se tranca novamente, puxa duas malas que estavam em cima do guarda-roupa e retira todas as peças que se encontravam dentro do cômodo. ‘’Até nisso você pensou, vovó. Obrigada.’’ pensa. A garota joga várias camisas, shorts, vestidos e saias para dentro da primeira mala. Depois abre a segunda, e enfia vários pares de sapatos. Dez ao total. Ela se observa pelo espelho preso a uma das portas do guarda-roupa. Percebe seus olhos vermelhos e inchados; sua maquiagem borrada, seu cabelo bagunçado e suas roupas amarrotadas. Decide então tomar um banho, precisava se revigorar. Ela tira sua roupa ali mesmo, em frente ao espelho e agora se olha nua. Olha cada linha do seu corpo de pele clara e bem cuidada. Passa as mãos em seus cabelos cor de chocolate que estavam soltos, cobrindo parcialmente seus seios. Por um momento ela esquece de sua avó, sua mãe e de todo o resto. É apenas ela e sua imagem refletida.


Vitória parte para o banho. A água toca suavemente sua pele, levando sua dor pelo ralo. Pelo menos por aquele momento. A morena sai do banheiro, veste um vestido de seda azul claro, contrastando com seus olhos; calça uma sapatilha de cor salmão e amarra seu cabelo em ‘’rabo de cavalo’’. Sem franja. Ela se olha novamente no mesmo espelho. Vê agora uma nova Vitória. Estava sem maquiagem, natural e simples. Estava decidida a ir embora.


Pega suas malas e as segura em cada uma das mãos. Arrepende-se de ter posto tantas roupas, mas agora não há mais tempo de tirá-las, precisava ir sem que ninguém a visse. Ela se aproxima da escada e olha rapidamente para baixo. Vê seus pais. Seus parentes. As pessoas. E sua avó. Uma lágrima escorre, mas ela a enxuga. Não quer mais chorar.


– Tenho certeza de que a senhora não queria me ver chorar tanto. Eu te amo, vovó. – Sussurra. Ela se vira, apanha suas malas que estavam ali perto e caminha para a janela ao fim do corredor. Estavam fechadas e com muito esforço, a morena consegue abri-las. Ela volta em seu quarto, emenda vários lençóis com nós grandes e os joga pelo espaço aberto. Como a casa era muito alta, a corda de pano não consegue chegar ao chão, mas isso não detém Vitória. A moça lança suas malas que fazem um barulho abafado ao cair nos arbustos. Em seguida ela prende a ponta de um dos lençóis na janela, respira fundo, sobe no degrau e vira-se para alcançar o lençol. Um medo toma conta de seu corpo ao soltar sua mão da parede. Ela olha para baixo, começava a soar, mas não podia desistir. Teria que terminar. Então começa a descer. Devagar e com cuidado ela chega ao fim da corda, mas ainda faltavam quatro metros até o chão. Vitória olha para cima, para baixo, fecha os olhos e pula. Por sorte consegue cair de pé, mas desequilibra e cai próximo as suas malas. Ela as pega e caminha apressada para a saída. Sente seu tornozelo pulsar, estava doendo, mas ignorando a dor ela continua caminhando até conseguir sair.


– Vai a algum lugar? – Lorenzo pergunta, parecendo um pouco ameaçador.


– Preciso do carro. – Responde ignorando a pergunta do motorista.


– Aonde precisa ir, senhora? Eu a levo.


– Não! Eu vou dirigir. – O nervosismo transborda pela sua voz. O cara percebe as malas que Vitória segurava.


– Aonde a senhorita vai?


– Não te interessa, Lorenzo. Só me dê as drogas das chaves!
Ele pensa por um instante, mas resolve fazer o que a menor diz. Puxa de seu bolso um molho de chaves e a entrega.
– Por favor, não faça besteiras senhorita.


– Você nunca muda não é? – Eles se olham enquanto ela apanha as chaves. Vitória abre o carro, puxa o banco do passageiro e joga suas malas para a parte de trás; fecha as portas sem nem ao menos por o banco no lugar e corre para o lado do motorista. Entra, da ignição e sai em arrancada.


– Deus a leve. – Diz Lorenzo enquanto via o carro cruzar a esquina e sumir do seu alcance de visão.


Vitória dirigia. Suas mãos estão bem presas ao volante. Se sente livre. O vidro estava abaixado, uma brisa entrava e acariciava seu cabelo e rosto. Ela sorria. Sua avó então vem a mente. Sua mãe e sua casa também aparecem para atordoá-la. Ela acelera. Não quer pensar nisso tudo, não agora. Só pensa em fugir, se sentir livre novamente, mas já é tarde. As palavras de seu pai vem a mente, seu olhar sério e furioso metralham a mente da morena. E as lágrimas então inundam seus olhos e começam a escorrer sobre o rosto.


– Pare de pensar nisso! - Grita. - Os esqueça, sua burra!


Ela acelera. Mais e mais rápido. A estrada começa a ficar turva, suas lágrimas atrapalham sua visão. Vitória as enxuga, mas elas não param de descer. A estrada estava deserta e o sol ascendia o asfalto. Novamente as vozes cercam sua cabeça, a garota começa a se atordoar, ficar tonta. Lembra de sua avó morta, de sua pele pálida, de seu corpo estirado sobre o caixão. Lembra dos olhares todos quando seu pai a gritou, da voz firme de sua mãe ao dizer que tinha errado.


– Errado em que? - A voz falha ao sair. - Eu... O que eu fiz de errado? - A resposta não vem. Ela sabe que não virá.


Seu pé está preso no acelerador, o carro está invadindo a estrada cada vez mais rápido, fugindo da realidade que à chama. Curvas, subidas e descidas a afastam de sua casa, mas Vitória sabe o quanto aquilo é inútil. As vozes a perseguem, os olhares a perturbam. O velório de sua avó está dentro daquele carro, dentro de seus pensamentos. A estrada estava reta, imponente. O horizonte não estava visível, o mistério tomava conta daquele caminho e ela estava nele. Longe de casa, longe das pessoas. Seus olhos ainda teimavam em expulsar lágrimas cheias de dor, seu corpo estremecia a cada soluço, sua cabeça não parava de pensar, de atordoá-la. Vitória não via mais o caminho que surgia a sua frente, apenas dirigia; como se sua vida dependesse daquilo. E talvez fosse verdade.


Enfim, uma curva surge no meio do caminho. Para a garota, ela ainda estava longe, distante o suficiente para que pudesse desacelerar no momento certo. Estava adorando o vento forte em seu rosto, não queria parar. Mas a estrada é traiçoeira, e a curva estava mais perto do que ela previa. Antes que pudesse parar, o carro atravessa o asfalto e invade a estrada de terra, arbustos cobrem sua visão. Ela grita.


O carro capota.


Vira mais de uma vez. E para estraçalhado com as rodas apontadas para o céu. O único que havia presenciado aquele acidente. O único que havia visto Vitória rodar dentro do veículo.


E agora, ela está lá. Ensanguentada. Desmaiada. Machucada dentro daquele carro, de ponta cabeça, presa por seu cinto de segurança.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "You and Me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.