Três dias depois...

Os dias que se seguiram foram tranquilos e, ao mesmo tempo, muito agitados.

Tranquilos, pois nenhum dos que havia me agredido vieram sequer me dirigir a palavra.

Apenas me encaravam de longe. Desacreditados.

Talvez eles estivessem se perguntando como eu tinha sobrevivido, chegado em casa ou até mesmo não chamado minha mãe.

Mas eu particularmente preferia acreditar que eles eram tão estúpidos ao ponto de achar que eu tivesse morrido naquele dia, e o que eles viam ali era o meu fantasma, meu espírito que havia voltado de maneira perturbadora para colher as almas deles, levando-as para o Inferno.

Sim, estou adorando ler Edgar Allan Poe. E vamos combinar que essa versão é bem mais legal que a real.

Ao mesmo tempo, os dias que se seguiram foram agitados por conta dos primeiros testes e provas. Eu nem sequer havia tido tempo de retornar até a sala para pegar meu livro.

Mas hoje, entre um rápido lanche e o início de mais um exame, eu resolvi escapar até a sala e ver se o encontrava.

Subindo a escada espiral, me perguntei se John estaria por ali, já que desde então não havia visto-o mais.

Ao chegar na sala que tudo havia acontecido, duas antes daquela que eu havia me escondido, vi que tudo estava do mesmo modo como antes, exceto meu livro que havia sumido de fato.

Chutei o armário e logo o sinal tocou.

Merda. Meu livro, que havia sido presente do meu pai!

Saí dali o mais rápido que pude, praticamente voando pelos corredores. E descendo a escada foi quando o vi novamente.

– Ei! Sherlock?! – era ele. John Watson sorrindo enquanto comia uma maçã, que combinava com seu casaco muito vermelho.

– Oi. – foi o que consegui responder ao parar, quase trombando com ele, num encontro brusco.

– Vejo que está melhor! Até voltou no local do crime...como se sente? – perguntou me encarando de cima a baixo e isso me incomodou. De novo.

– Melhor. Obrigado. Preciso ir. Exames...

– Claro! Mas você está melhor mesmo? Parece chateado...

– Meu livro. Meu livro sumiu. Eu perdi ele naquele dia da briga...vim ver se achava, mas perdi meu tempo. – respondi enquanto ele dava outra mordida.

– Hm. Se quiser eu posso procurar para você. Me mostra a sala...eu estou no meu horário de almoço...qual é o livro?

– “O Corvo”. Não importa. Eu já vi, não está lá. De qualquer modo, preciso ir agora. Até logo. – disse já saindo sem nem ao menos agradecer.

– OK. Até mais então, Sherlock. – ouvi sua voz atrás de mim.

Quando cheguei à sala de aula, notei que meu coração batia de uma maneira descompassadamente estranha. Provavelmente por conta da corrida desnecessária que eu havia feito, já que professor nem havia chegado.