As sardas salpicadas no rosto de Marco eram tão incrivelmente fofas que Jean se questionava como conseguia ficar dois segundos sem tocá-las ou beijá-las.

Não apenas as sardas, mas Marco era a fofura em pessoa. Sua voz mansa, seu jeito gentil e acanhado, seu sorriso acolhedor; tudo nele era tão adorável que ás vezes se pegava sonhando acordado com o melhor amigo.

E ali estavam eles, matando aula depois do horário de almoço e sentados sob a sombra da grandiosa árvore de Sakura que ficava perto do colégio, observando o céu de primavera. Sempre fora um garoto hiperativo, muito disperso e de concentração mínima, e se estivesse em qualquer outra situação, estaria entediado e resmungando por simplesmente não ter nada para fazer a não ser contemplar as nuvens.

Porém agora era diferente. Existia uma grande disparidade entre fazer nada sozinho e fazer nada acompanhado, ainda mais se sua companhia fosse alguém que fazia seu coração pular no peito e seu corpo entrar em combustão só pela sua mera presença. A sensação de ter Marco por perto fazia-o querer se aproximar mais, quanto, ao mesmo tempo, querer fugir dele. Era tão maravilhadamente contraditório que simultaneamente o angustiava e o fazia ficar eufórico.

O amor era estranho.

Quase não notou seus joelhos se roçarem levemente. Sentiu-o friccionar sua perna na dele, como em uma brincadeira. Daquela distância conseguia identificar o cheiro de Marco; era uma mistura única de suor pelo dia quente que fazia e de maçãs, proveniente de seus cabelos negros, do shampoo, talvez. Em somente dois segundos Jean se deu conta que esse cheiro lhe agradava como nada antes que já experimentara.

Suas mãos começaram a suar de nervosismo. Não estava se reconhecendo, sempre fora tão confiante! Que diria Eren se o visse agindo daquela maneira, como uma menininha apaixonada? Seria motivo de chacota pelo resto da vida.

Também demorou para raciocinar quando o amigo avançara para cima de si, não inesperadamente mas com um pouco de hesitação, como se pedisse permissão. Estavam tão próximos que Jean acreditava que poderia contar as suas sardas, se quisesse. Percebeu-se enrubescendo.

E quando Jean o sentiu, verdadeiramente, foi como estar no paraíso. Fechou os olhos para dedicar-se àquilo e acariciou o ombro do outro por cima da camiseta, trilhando a ponta dos dedos até a nuca de Marco só para depois fazer o caminho inverso, tendo o prazer de vê-lo se arrepiar, também com as faces coradas. Aquele cheiro almíscar invadiu suas narinas de uma forma arrebatadora e, logo após se separarem, apoiou a testa na dele, ainda com os olhos cerrados.

— Você respira de forma errada — ouviu-o dizer depois de certo tempo, baixinho e com a voz entrecortada, talvez querendo quebrar o gelo e disfarçar a vergonha, porque Marco era assim.

Jean deslizou a testa até o ombro alheio, meio sorrindo, afagando-se como um gato manhoso e carente.

— Desde quando? — perguntou meio implicitamente, tendo ciência que o moreno saberia que ele não estava falando de sua respiração e sim de algo bem maior.

Eles estavam meio sentados, meio deitados, era uma confusão de membros que chegava a ser cômico. Mesmo não vendo, conseguiu sentir o calor emanando do rosto e orelhas do outro antes de ele lhe responder.

— Acho que desde sempre.

E Jean só pôde rir pelo nariz e voltar a beijá-lo porque era isso que devia fazer, como também foi o que sempre desejou.