8 Horas escrita por VCA


Capítulo 5
Capítulo 5 - Esse era seu mundo...


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é um pouco diferente dos anteriores. Espero que gostem e divirtam-se durante a leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/598529/chapter/5

Mariana acordou. O quarto estava frio e escuro, apesar das pequenas frestas de luz que passavam pelos cantos da cortina. Massageou os olhos preguiçosamente enquanto desligava o despertador na mesinha de cabeceira. Sentou-se na cama e olhou em volta pensando em seu dia. Tinha prova.

Seu quarto era pequeno, uma escrivaninha branca com uma pilha de livros, sua cama com seu edredom branco embolado e um guarda-roupas branco de quatro portas. Nas paredes brancas havia um espelho e algumas fotos coladas de seus amigos, sua família e alguns desenhos que lhe deram. No chão um tapete felpudo em formato de coração no qual ela pisava agora. A janela ficava sobre a guarda da cama. Calçou seus chinelos e andou até o banheiro. A porta era logo ao lado da porta do seu quarto.

Menos de meia-hora depois ela saiu de lá de banho tomado e foi ao seu quarto se aprontar. Se olhou no espelho, todas as tatuagens que tinham tantos significados. Sorriu. Há quatro anos não poderia acreditar que tudo tinha dado certo e que hoje estaria tão feliz. Terminou de se vestir com os usuais tênis brancos e a calça jeans. Pegou uma blusa de meia manga preta, deixando as tatuagens dos braços a mostra, e saiu do quarto enquanto amarrava o cabelo.

A sala era pequena, como todo o apartamento. Todos os poucos móveis que elas tinham eram brancos. Um sofá, um aparador pequeno com a TV e uma mesinha de quatro lugares encostada na parede, perto do pequeno hall que levava pra o quarto de Samanta e para a cozinha mínima. Um tapete vermelho estava no chão, quebrando o tom da casa assim como desenhos em cores e nanquim que enchiam as paredes. A parede de trás do sofá tinha alguns kanjis num canto e pétalas de cerejeira caindo. Samanta pintou tanto os pôsteres quanto a parede assim que elas se mudaram e Mariana aprendeu a gostar deles.

Samanta estava deitada no sofá de calcinha, meias e blusa, dormindo ao lado da pilha de roupas e o par de coturnos no chão.

Mariana foi até a cozinha e começou a preparar o café. Ontem ela, Alan e Samanta foram a um bar comemorar o fato de que ele havia sido aprovado numa matéria que vinha reprovando a dois semestres. Mariana voltou para casa mais cedo e não tinha a menor ideia da hora que Samanta tinha chegado em casa. Voltou para a sala, pegou a roupa no chão, sentindo o cheiro de álcool que a garota emanava , e levou até o cesto de roupa suja no banheiro. Foi até o quarto de Samanta, do outro lado da sala. A porta era ao lado da cozinha. O quarto era extremamente colorido, e bagunçado, com as paredes multicoloridas de arco-íris e desenhos de integrantes de bandas nelas, além de papéis com milhares de gravuras espalhados sobre todas as superfícies. Pegou o edredom e cobriu a garota que dormia no sofá. Samanta abraçou a coberta mas continuou dormindo.

Voltou para a cozinha, pegou uma caneca de café e uma torrada e começou a dividir o café entre uma caneca térmica e a garrafa térmica enquanto segurava a torrada com a boca. Foi até o armário, dando uma mordida na torrada, e pegou pão de forma. Pôs sobre a pia e terminou de comer a torrada enquanto pegava requeijão e peito de peru. Fez quatro saduíches, dois pôs num prato, embrulhou os outros dois, e deixou o prato sobre a mesa junto com a garrafa. Passando pela fruteira ao sair da cozinha pegou uma maçã e uma banana e deixou ao lado do sanduíche e da garrafa de café sobre a mesa. Andou até o banheiro e começou a pegar comprimidos de diversas embalagens. Notou algo na cartela. Tirou um comprimido desta e saiu andando com passos fortes em direção à sala. Deixou os comprimidos que separou ao lado do café da manhã, foi até o sofá e começou a chutá-lo.

–Acorda, vaca! - gritou. A garota se enrolou mais ainda na coberta com um grunhido - Não, acorda! - gritou mais uma vez, dessa vez dando um cascudo na cabeça da garota que dormia.

– Ai! - Samanta gritou de dor enquanto se virava.

– Por quê? - Mariana perguntou enfurecida.

– Do que você tá falando? - Samanta perguntou, confusa.

– Você não tem tomado seus remédios! - Mariana berrou - O que você tá querendo?

– Mariana, calma, tá tudo bem... - ela disse, ainda perdida de sono.

– Até não estar mais! - respondeu - Olha... - suspirou - você já é adulta e sabe o que faz. Fiz um café pra você, seus remédios estão do lado e você decide se toma ou não. - saiu pisando duro em direção ao banheiro.

Pegou numa gaveta uma cartela, jogou um comprimido na garganta, pegou água na pia e empurrou o comprimido garganta abaixo. Passou pelo quarto, pegou sua mochila, enfiou seu celular no bolso e pegou as chaves enquanto Samanta, já de pé, olhava a mesa com o café da manhã. Samanta era alta, o corpo cheio de curvas e a pele tinha cor de oliva. Seus cabelos pretos eram encaracolados e desciam até a altura da cintura, uma das laterais da cabeça era raspada.. Seu rosto bonito, mas de traços fortes, impactantes. Pouco abaixo de seu joelho esquerdo havia uma revoada de pássaros que subiam até a parte superior da sua coxa numa tatuagem. Mariana passou e pegou a maçã que tinha arrumado para Samanta, deu uma mordida enquanto ia até a cozinha, pegava os sanduíches embrulhados e a caneca térmica. Segurou a maçã com a boca e fechou a porta ao sair, deixando Samanta parada, a observando sem dizer uma palavra.

Saiu a passos rápidos pelo corredor um pouco sujo e mal iluminado, tentando se organizar entre os sanduíches, a caneca e a maçã. Sua vizinha, uma senhora bem velhinha saia de seus apartamento, vizinho ao das garotas.

–Bom dia - disse com um sorriso muito simpático, enquanto apertava o botão do elevador.

–Bom dia - respondeu, tentando se acalmar - e obrigada. - disse mostrando as mãos ocupadas.

– Sem problemas - a velhinha disse - Tendo problemas com a colega? - perguntou, simpática.

– O de sempre. - respondeu. Achava Dona Mirtes uma simpatia, mas bastante curiosa também. - Uma hora ela aprende. - sorriu, por fim.

A porta do elevador antigo se abriu e ambas entraram. Agradeceu por haverem pessoas lá dentro e não ter de manter uma conversa com a senhora. Deu mais algumas mordidas na maçã até chegar no estacionamento. As paredes eram cheias de desenhos e coisas escritas pelas crianças, o chão de concreto. Mesmo sendo de manhã o estacionamento do prédio era um tanto sombrio. Mariana andou um pouco até alcançar seu Chery QQ. Segurou mais uma vez o miolo da maçã com a boca enquanto abria a porta do carro. Jogou os sanduíches no banco do carona e pôs a caneca no porta-copos. Colocou a mochila no banco de trás, se sentou no banco. Logo estava saindo da garagem.

Cuspiu o miolo da maçã no saquinho de lixo preso à marcha enquanto saia.

–Bom dia - disse ao porteiro enquanto ele abria o portão. Ele respondeu sorridente e ela saiu em direção a estrada. Dirigiu por quinze minutos e estacionou no lado oposto da rua, na frente de um prédio luxuoso. Desligou o carro, pegou as chaves, os sanduíches e a caneca e saiu. Com uma das chaves abriu o portão da frente do prédio. A recepção era bem decorada, paredes em tom de creme, alguns móveis em madeira massiça com belas almofadas de tecidos caros, quadros bonitos, um grande espelho e algumas plantas muito bem cuidadas.

– Bom dia. - disse mais uma vez ao outro porteiro. Este apenas a olhou, sem a menor mudança na expressão cansada e mal-humorada.

Ela o ignorou e chamou o elevador. As portas de madeira almofadadas se abriram, o chão de mármore branco e as paredes revestidas de madeira clara surgiram. Mariana apertou o décimo segundo andar. Segurou o elevador quando viu um senhor vindo em sua direção e esperou que ele entrasse.

Ele a agradeceu e ambos subiram em silêncio. A porta se abriu e ela desceu no corredor bem iluminado e bem decorado com plantas, belos tapetes e inclusive alguns quadros. Pegou sua chave no chaveiro e abriu um dos apartamentos. O sol entrava pela janela do outro lado da sala. Ocupava todo o espaço de uma parede, com uma lateral de correr para dar acesso à varanda. A sala inteira era maior que o apartamento das meninas. Um sofá muito grande ficava na frente de uma TV que mais parecia uma tela de cinema presa a parede com uma infinidade de jogos de video game e filmes no móvel logo abaixo. Pacotes de salgadinho, pratos e latas de refrigerante e cerveja estavam jogados em volta do sofá numa sujeira sem fim. Hoje era dia da limpeza, ela sabia. Na parede, uma estante com uma infinidade de livros que Alan nunca tinha lido apesar de achar todas as capas muito bonitas e as histórias interessantíssimas. Noutro ambiente, mais próximo da cozinha, havia uma sala de jantar, com uma bela mesa de vidro e um bar suntuoso. A mesa estava sempre cheia de livros e cadernos sobre ela de um lado enquanto um espaço mínimo, do outro, ficava para que comessem. Deixou nesse espaço o café da manhã que tinha preparado.

Tudo muito bem decorado pela mãe de Alan. Mas Mariana ouviu diversas vezes dele que a única coisa necessária ali era o videogame e a TV, mas os seus pais eram um pouco controladores demais e ele preferia evitar conflitos. Além do que, um pouco de conforto nunca faria mal a ninguém.

Foi até a cozinha grande, bem equipada e com uma pilha de louça suja que assustava, pegou uma garrafa d’água e atravessou a sala novamente. Um pequeno corredor levava aos dois quartos da casa. Um estava sempre fechado, era uma suíte de hóspedes. O outro, estava uma bagunça, com roupas jogadas sobre todas as superfícies. Na cama, deitado de bruços e roncando sonoramente Alan dormia.

Uma porta levava a um closet, enquanto outra a um banheiro. O chão acarpetado e as paredes seguiam a decoração luxuosa de todo o resto do apartamento, com as pesadas cortinas sobre a janela. Mariana foi lá e as abriu, inundando o quarto com a luz. Ouviu um gemido enquanto ele se encolhia na cama. Se sentou ao lado do corpo de cueca samba-canção e começou a belisca-lo devagar.

Alan era alto e magro. Para Mariana qualquer um era alto, isso era um fato, mas Alan tinha 1,80m e era estranhamente bonito. Tinha um rosto aristocrático, nariz um pouco grande e o queixo protuberante, mas de alguma forma tudo se completava e fazia com que ele fosse muito bonito. O cabelo castanho acobreado, liso, estava sempre cortado bem curto. Os olhos tinham um tom castanho bem claro, alguns chamavam de mel.

– Acorda... - disse em tom de brincadeira. - Acorda, vai...

–Não... - ele resmugou em resposta. Ela então começou a beliscá-lo e fazê-lo cócegas enquanto repetia:

– Acordaacordaacordaacorda! - já começado a rir.

– Para! - ele exclamou agarrando-a num dos braços e a puxando sobre a cama, tentando segurá-la enquanto ela resistia. Ela deixou a garrafa d’água cair da mão com o puxão dele.

– Sai Alan! - ela brigou enquanto lutava pra se desvencilhar dos braços dele - Você tá fedendo a álcool! Tá de ressaca? Eu trouxe...

– Ah é? - ele a interrompeu enquanto se divertia jogando seu peso sobre ela. Começou a beijar seu rosto entre risos. Ela tentava se soltar mas ele era muito mais pesado e mais forte que ela.

– Vou ficar com cheiro de álcool e a gente já tá atrasado! - ela falou enquanto ele continuava, ignorando-a. Os risos diminuíram, e os beijos bricalhões começaram a se tornar mais carinhosos e delicados. As mãos dele soltaram-na do agarro e começaram a correr pelo seu corpo. Uma delas encontrou um caminho debaixo da blusa da garota. Mariana sentiu um calafrío lhe subir a espinha enquanto ele mordiscava sua orelha, beija seu pescoço, sua clavícula. Ela estendeu a mão espalmada e empurrou o rosto dele para longe dela.

– Chega - ela disse se levantando e andando em direção a porta do closet - A gente tem de estar na faculdade em uma hora e você ainda tem de tomar banho. - se virou e sentiu uma cueca voadora a acertar no rosto.

– Você é muito chata. - ele disse em tom decepcionado, se levantou nu e foi em direção ao banheiro.

– Alan - ela começou a se explicar - a gente já tá atrasado. - ele sumiu pra dentro do banheiro - Nós dois temos prova e se nos atrasarmos o mínimo que for não vão aplicar a prova pra gente. - entrou no closet e começou a falar mais alto para que ele a ouvisse, pegando uma calça, uma cueca, uma camisa - Aí, meu querido, a gente se fode! - disse jogando os sobre a mesa.

– Não é bem esse tipo de foda que eu tenho em mente. - ele respondeu em tom sacana de dentro do banheiro.

– Mas “esse tipo” é o único que tá na minha cabeça no momento - ela disse pegando um par de tênis e meias e colocando ao lado da cama. Foi até o banheiro branco e espaçoso, bastante decorado, com o boxe em vidro transparente e um espelho grande sobre a pia com duas cubas e duas torneiras. Ele tinha acabado de entrar no chuveiro. Ela foi até o boxe, abriu a porta e sussurrou com voz sacana - depois da prova a gente pensa no “tipo” que você tem em mente. - e soltou uma risada. Ele gargalhou junto.

– Adoro quando você quer pagar de transona. - ele disse ainda rindo.

– E não sou?

Ele continuou a rir e só balançou a cabeça negativamente.

– Babaca - ela disse rindo com sua risada gostosa de ouvir, enquanto saia do banheiro - e termina isso rápido! - gritou ao sair do quarto. Recebeu uma mensagem de Samanta.

“Precisamos conversar”

“Samanta, já te disse. Vc é adulta, sabe o que faz”

“Não é sobre isso”

“Depois”

Na mesa da sala, no meio da bagunça dos cadernos pegou uma caneta e pôs ao lado do café da manhã. Foi até a varanda e ficou olhando a vista. O prédio ficava na curva de uma rua, descendo-a, vinha a longa praia e o mar. E o sol que nascera há um par de horas atrás estava começando a aquecer o ar e a pele de Mariana. Ficou observando como as ondas brilhavam como se um milhão de diamantes estivessem sendo atirados para todos os lados. A água escura e azulada da manhã a levava ao passado.

...

Mariana acabara de voltar a estudar depois de seu pior episódio. Mudara de escola pois em sua página de facebook ela já podia perceber como sofreria com seus colegas, sua mãe preferia não arriscar espondo-a a tudo aquilo. Escola nova. Mais cara. Pessoas muito diferentes de Mariana.

Se as pessoas das quais ela estava acostumada antes já eram esnobes e a faziam se sentir inferior, agora, no meio de pessoas realmente ricas ela não ficaria bem mesmo. Se consolava, no entanto, com o fato de Samanta estar sempre conversando com ela por mensagem de texto. Tinham se conhecido recentemente e se tornaram amigas de infância. Sentiam como se uma fosse o complemento da outra. Ambas tinham os mesmos problemas e passaram por histórias parecidas. Apesar disso Samanta não estava com ela seu dia todo, e nesses seus últimos dois anos de ensino médio, sabia que sofreria mais do que todo o tempo anterior. Pelo menos era o que ela esperava.

Por já tocar piano desde pequena, se inscreveu na aula optativa de piano. As normas diziam que todos tinham de ter uma aula optativa. Na primeira semana, antes de ser notada com suas camisas de mangas compridas Mariana passou despercebida a todos os olhares. Até o dia em que um dos rapazes mais inteligentes e populares da escola passara por lá e a escutara tocar. Ela tocava uma música simples, que aprendera há muito tempo, mais como aquecimento, mas ele a reconheceu como fazendo parte de um jogo de videogame. Sentou-se ao lado dela e conversaram após a aula dela por horas. A conversa com ele era simples fácil de se manter. Nenhum dos dois exigia nada um do outro, os dois se interessavam.

Não demorou para que ele voltasse para escuta-la e logo se tornou um hábito. Mais algum tempo depois ele a encontrava antes da aula e no intervalo e passava cada vez menos tempo com seus amigos. Um mês depois ele a chamou para um encontro. Mariana reagiu como se tudo aquilo era uma grande brincadeira de mau gosto e negou. Apesar de achar que já estivesse gostando dele, disse que não queria que a amizade deles fosse estragada. Na verdade ela só estava completamente insegura. Se ele soubesse tudo o que ela passou, as burradas que ela fez, ele nunca mais a olharia com os mesmos olhos. Ele aceitou a desculpa mas quis continuar sendo amigo dela, ele agia normalmente enquanto ela preferia fingir que ele nunca a havia convidado para sair.

Logo ele já conhecia Samanta e andavam os três juntos para todos os lados. Ele se dava muito bem com a amiga, que inicialmente resistiu gostar dele, mas logo se tornaram amigos. Numa noite eles marcaram de ir num show, os três, e Mariana não pôde ir. No dia seguinte, de manhã, Samanta ligou para ela pedindo desculpa, disse que estava muito bêbada e contou para Alan sobre onde elas se conheceram e por tudo o que Mariana passou, contou que Mariana gostava dele e de suas inseguranças. Mariana gritou e xingou Samanta, ela não tinha o direito. Mas nem mais de 10 minutos depois a campainha tocou. Sua mãe a chamou e Alan estava lá. Quando ela saiu para falar com ele, ele a puxou e a beijou.

Foi como se o tempo parasse. Ela ficou sem acreditar que ele estivesse ali e que ele não estivesse horrorizado com quem ela era de verdade. Ele disse que a amava e que não havia o menor motivo de estar insegura, pois ele a amava e era a única coisa que importava para ele.

Depois de uma longa conversa onde ela usou todos seus argumentos para convencê-lo de que ela não era boa o suficiente para ele e que ela era uma pessoa defeituosa e que nunca poderia o fazer feliz. Disse que ela nunca seria o que ele precisava. Alan descordou, bravo e disse que a única forma de não ser feliz era não estar com ela e que ela era a única coisa que ele precisava para viver.

– Eu preciso de você para viver, você é meu ar. - ele disse.

...

As ondas ainda quebravam quando um braço a puxou pela cintura contra o corpo que estava atrás dela e a beijou na nuca.

– Perdida? - ele disse rindo.

– Lembrando. - ela respondeu, ainda com a voz perdida em pensamentos. O cheiro do perfume dele, um pouco forte demais, inundava o ar - Vamos, você tem de comer. Anda logo.

Ela o agarrou pela mão e puxou até a mesa.

– Cara, você é muito chata. - ele disse - Por que você não me deixa? - sentou-se a mesa e começou a comer um dos sanduíches e beber o café.

– Porque você é irresponsável! - olhou para o celular - Olha a hora! Pega isso aí! - disse pegando um dos sanduíches enquanto ele saia comendo o outro e tomando o café.

Foi andando até a porta quando se virou:

– Pega a caneta! - ela falou com ele, nervosa - a gente tem de chegar lá em vinte minutos! - ele voltou, achando o nervosismo de Mariana engraçado. Ela o arrastou para o corredor e perguntou enquanto trancava a porta - Tá tudo aí? Chave? Carteira? Celular? Caneta? - ele gargalhou.

– Tá sim, Mari, se acalma. - ela o agarrou pela mão mais uma vez e o arrastou para o elevador. - Quando você vem morar comigo? - ele perguntou.

– Ai, Alan, lá vem você com esse papo de novo.

– Seria melhor pra todo mundo Mariana.

– Agora não! - ela disse nervosa enquanto o elevador abria. Ela o arrastou mais uma vez pra dentro do elevador enquanto apertava o térreo.

– Para de me puxar! - ele respondeu, perdendo a paciência também.

– Então anda! Lerdo! - ela disse brava.

– Olha aqui... - ele esbravejou, a empurrou na parede e a beijou violentamente. O sanduíche que estava na mão dela caiu no chão enquanto ela se pendurava no pescoço dele e cruzava suas pernas na cintura dele. A porta do elevador abriu e duas senhoras idosas os observavam enquanto decidiam se iam entrar ou sair. Eles as olharam com o canto dos olhos, mas não se separam. A porta do elevador fechou e este seguiu descendo.

Ao chegarem na recepção, alguns momentos e beijos depois, ele deu uma risada. Ela o olhou curiosa. Ao fundo o porteiro sorria e dava bom dia para Alan, mas ele o ignorou.

– Disseram uma vez que essas coisas só acontecem nos primeiros meses.

Ela riu com sua risada musical que ele tanto amava.

– Já vamos para quatro anos.

– Por isso eu acho que deveriamos morar juntos.

– Alan, desiste - ela disse, cansada.

– Mariana, imagina o quanto seria bom! - ele disse mais uma vez saindo do prédio - A gente estaria junto a todo tempo. A gente podia dividir os afazeres de casa - ele disse - seus pais dividiriam as contas com os meus igual você faz com a Samanta mas sem aluguel e...

– Merda! Era só o que me faltava! - ela exclamou. Ele ficou assustado, achando que fosse com ele, mas alguém havia estacionado ao lado do carro dela, impossibilitando a saida. O grande sedan vermelho

– Calma Mariana, ele já vai sair. - Alan tentou acalmá-la.

– Não, Alan, não tem calma. A gente não vai fazer a prova!

– Mariana, pega leve.

– Não, Alan, como pega leve assim? - ela olhou alguns momentos para o carro que os bloqueava - Me dá. - pegou a caneca de café e o resto do sanduíche e deixou tudo o que tinha nas mãos dentro do carro dela - Vamos rezar pra que ele não tenha puxado o freio de mão e... me ajuda!

– Mariana, não vai fazer merda... - ela já estava empurrando, sem o menor sucesso o carro, para trás, o que fecharia a mão de entrada na rua.

– Vem Alan! Ajuda! - ele foi para o lado dela e empurrou. O carro começou a andar e fechar a rua de entrada. Quando havia espaço suficiente para ela sair e o carro já estava fechando a rua ela sorriu para Alan, com um sorriso alegre, quase infantil.

– Vamos fazer a prova!

Entraram no carro e saíram, enquanto a rua da subida começava a ficar engarrafada.

– Mas nós já conversamos sobre isso, Alan - ela retomou a conversa anterior subitamente enquanto dirigia em direção a faculdade - E ainda tem a Samanta, não posso deixar ela sozinha.

Alan levou alguns segundos para entender.

– Mas ela pode arranjar outra colega de quarto ou na pior das hipóteses vir morar com a gente também. Tem outro quarto. - ele disse.

– Não. Claro que não. Você não acha que é melhor começarmos pelo menos a estagiar, ter nosso próprio dinheiro pra começarmos a viver? Não tenho a menor dúvida que eu quero casar com você e viver contigo pelo resto da vida, mas cada coisa a seu tempo.

– Você é muito complicada...

– Você é muito ansioso. - ela disse e emendou o mais rápido que pôde - Me conta como foi ontem.

– Nada demais. Fiquei conversando com a Samanta, como sempre, e bebendo. Levei ela em casa e depois voltei.

– Você dirigiu bêbado? - ela perguntou.

– Não né! - ele disse como se fosse óbvio - Pegamos um táxi. A gente não tinha combinado de pegar o carro hoje e que você me levaria à faculdade?

– Mas você é muito irresponsável, Alan. - ela disse - Se lembra do tanto de problema que você já arranjou por causa disso.

– Sou um novo homem. - ele disse com convicção.

– Tá certo... - ela disse rindo.

Ela parou em frente ao campus dele, medicina, e deu um beijo nele.

–Boa prova, babaca. - ela desejou.

–Boa prova, chata. - ele respondeu e a beijou mais uma vez.

Saindo dali ela dirigiu até o seu campus, dez minutos a frente. Demorou mais cinco para encontrar uma vaga para estacionar. Trancou o carro e correu até sua sala o mais rápido que podia.

Ao chegar na porta verde, com uma janela de vidro que evidenciava o interior da sala. Seus colegas já estavam concentrados, fazendo as provas. Sentiu seu coração acelerar.

“Perdi” pensou.

Tentou entrar na sala em silêncio, mas o professor fez um sinal com a mão, e balançou a cabeça negativamente. Ela tinha perdido a prova.

Saiu desolada e se sentou no chão do corredor.

...

O barulho de uma bandeja raspando no chão a acordou de seu devaneio. Estava encolhida numa cama com um colchão tão fino que era duro. A cela que estava era pequena, tinha uma privada e um pia com um copo. Além disso só uma cama e a bandeja. O primeiro sinal exterior que recebia nas últimas horas.

Pulou da cama o mais rápido que pôde, sentindo todos os seus músculos doerem e seu corpo inteiro latejar, além da fraqueza que sentia. Se ajoelhou ao lado da bandeja e começou a comer.

Pensou no quão ridículo era ela se sentir mal por causa de uma prova. Naquele mesmo dia da prova as coisas começaram a ficar cada vez piores, e agora ela vivia neste pandemônio que ela nem mesmo sabia o que estava acontecendo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que você achou desse capítulo? Eu saí um pouco do meu estilo de escrita, o que foi um pouco difícil mas, no fim, bastante divertido. Como fui? Prestou?
Achei que precisávamos conhecer um pouco Mariana e como era a vida dela antes de tudo o que tá acontecendo, pra que desse pra conhecer um pouco de quem ela é sem todos os acontecimentos bizarros. Ainda existe um monte de coisas sobre ela que a gente não sabe e outros personagens que são importantes pra ela, mas por enquanto esses são todos os que conhecemos. Foi uma boa escolha ou perdi o ritmo da linha temporal principal?
Enfim, espero que tenha gostado e se divertido! Por favor não esqueça de dar aquela opinião marota, com críticas, elogios, hate ou até mesmo um "¯_(ツ)_/¯". Hahaha
Obrigado por ler e até a próxima!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "8 Horas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.