Ainda é cedo escrita por AmeWeasley


Capítulo 1
Ainda é cedo


Notas iniciais do capítulo


Espero que gostem. Uma música nacional para vocês!



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- Ainda é Cedo –

Legião Urbana

- Lily, eu vou sair para ver se arranjo outro cantinho para eu ficar – disse entrando no quarto da minha melhor amiga.

- Lene, eu já disse que você pode ficar aqui quanto tempo quiser! – Lily respondeu deixando o computador de lado na cama e se endireitando.

- Eu sei. Mas eu realmente quero um apartamento para mim. Eu economizei dinheiro para isso.

- Não, não – Lily rebateu meu argumento. – Você economizou dinheiro para realizar seus sonhos.

- Eu tenho um sonho de comprar um apartamento para mim. – disse e sorri.

Eu estava com a cabeça encostada no batente da porta olhando para a minha amiga ruiva.

- Para, Lene! Eu gosto de você aqui. Gosto de ter companhia. Tem um quarto e espaço sobrando. E, além do mais, é divertido.

- Tudo bem, ruiva – disse indo até a cama e sentando defronte a ela. – Você me convenceu. Mas eu vou ajudar você com as coisas.

- Tudo bem – Lily disse sorrindo.

- É que eu não gosto de incomodar, mas eu também não consigo ficar na casa de meus pais.

- E o que você vai fazer com ela?

- Acho que vender é o mais coerente. Alegra-me pensar que outra família poderá ser feliz lá. E quando você não me aguentar mais usar o dinheiro para comprar meu apartamento. Mas vou ver isso depois.

- Vai demorar um pouco para você usar esse dinheiro – Lily disse.

Estava já bem claro que ela queria que eu ficasse com ela.

- E você imaginava sair do apartamento de Sirius? – Lily perguntou.

- Há um tempo. Nada estava como antes. Mas imaginava voltar para a casa dos meus pais, não sabia que não iria conseguir.

- E como você se sente em relação a Sirius?

- Não sei. A gente deu um tempo e só faz três dias. Ele ainda não me procurou e eu não o procurei – disse olhando para baixo.

A campainha da casa tocou.

- Você está esperando alguém? – Lily perguntou.

- Por enquanto só você e James sabem que eu estou aqui – respondi dando os ombros.

- Bom, então deve ser para mim. Na verdade deve ser o James. Vou atender.

- Tudo bem. Vou arrumar algumas coisas, já desço.

Eu fui para meu novo quanto e Lily desceu para atender a porta.

Antes de chegar ao quarto tinha um cômodo que servia de sala com uma sacada no fundo. Era um dos meus lugares preferidos na casa de Lily. James, o namorado da ruiva, dizia que era um ótimo lugar para observar as estrelas.

Quando eu olhei para a rua vi uma moto preta estacionada na frente da casa.

A moto de Sirius.

Então não era James que estava aqui.

Fui até o corredor e me escondi perto da escada. Eu podia vê-los, mas eles não poderiam me ver.

- Ruiva, eu preciso tocar uma coisa para você ver se está bom – Sirius disse.

- Ta, tudo bem. É aquele acorde que você estava fazendo? – Lily perguntou guiando Sirius para sentar no sofá de dava de costas para a escada e ela sentou na frente dele.

- Sim. É para a Lene. Mas obviamente eu só consegui fazer a música depois que a gente brigou. Eu nunca me dei bem em fazer coisas românticas – Sirius dizia enquanto tirava seu violão da capa.

Vi Lily olhar para cima, talvez na esperança que eu estivesse ali ouvindo, mas ela não conseguia me ver.

- Ainda não está pronta, mas eu preciso da sua opinião – Sirius disse quando finalmente começou a tocar.

Nós primeiros acordes eu sorri inconscientemente. Eu já tinha pegado ele tocando aquela música, mas ele sempre parava quando notava a minha presença. Quando eu perguntei que música era aquela ele disse que era uma surpresa e que não estava pronta. Mas isso já faz um bom tempo e ele nunca tinha tocado aquela música para mim.

Uma menina me ensinou

Quase tudo que eu sei

Os primeiros versos me fizeram sorrir ainda mais. Era o que ele dizia para mim quando ele mesmo tinha uma ideia boa. Quando conseguia fazer algo ou até quando ele achava uma resposta.

“Você que me ensinou.”

Sirius veio de um orfanato para a cidade grande. Quando chegou aqui ele tinha muitas idéias para poder encontrar seus pais e, um dia, quando ainda éramos apenas amigos e eu ainda morava com meus pais, eu expliquei para ele que poderíamos encontrar sua família de várias formas.

- Lene, você é a pessoa mais inteligente que existe – foram as palavras dele quando eu terminei de explicar.

Lembro de quando ele dizia que eu tinha apresentado o mundo para ele, de como ele não sabia muito bem se deslocar numa cidade grande como Londres e que sempre pedia a minha ajudar.

Os dois primeiros versos quase que pareciam resumir nossos primeiros anos como amigos.

Era quase escravidão

Mas ela me tratava como um rei

- Você é minha dona – ele disse sorrindo numa tarde de inverno. – Vem morar comigo, Lene.

- Isso é uma ordem? – perguntei.

- Quem interpreta é você.

Acho que foi uma dos poucos momentos românticos que tivemos juntos. A partir daí eu já o agradava como podia. Cheguei a fazer coisas só para agradá-lo, mesmo que não gostasse muito.

Não me arrependo, mas essa não é uma das hipóteses hoje em dia.

Ela fazia muitos planos

Eu só queria estar ali

Sempre ao lado dela

Eu não tinha aonde ir

- Viajar pelo mundo. Ser mãe. Cantar em volta de uma fogueira. Salvar uma vida. Ajudar um animal. Acordar e sorrir. Ver as estrelas de outro lugar. Ver o sol nascer no mar e se por no mar no mesmo dia. Casar. Ser feliz.

Nós estávamos deitados na grama do jardim dos fundos da casa dos mus pais observando as estrelas e eu listava para ele tudo que queria fazer.

Ele não tinha nenhum plano, apenas viver a vida dia por dia.

- O que você acha? – perguntei quando terminei de listar meus sonhos.

- Sendo com você feliz está bom.

- Você me ajudaria a fazer essas coisas?

- Claro, sonhos de quem mais eu teria que realizar?

Naquele dia eu percebi como eu odiava que me respondessem com outra pergunta, mas não falei mais nada.

Mas, egoísta que eu sou

Me esqueci de ajudar

A ela como ela me ajudou

E não quis me separar

A medida que ele ia cantando todos os dias que passamos juntos iam passado pela minha cabeça. Aquela música praticamente resumia a nossa vida. Todas aquelas palavras me lembravam do porque nós tínhamos ido cada um para um lado.

- Sirius, o que nós somos exatamente? – eu fiz essa pergunta para ele num dia que estávamos em casa assistindo qualquer coisa na televisão.

- Como assim? – ele perguntou desviando a atenção para mim.

- Colegas, amigos, namorados, ficantes...

- Nós não precisamos desses títulos. Somos apenas nós. Ainda é muito cedo para pensar nessas coisas, você não acha?

Não, eu não achava. Eu já morava com ele há três anos.

Sirius realmente não ligava para isso, nós éramos presos um ao outro, mas ao mesmo tempo não éramos nada. Já tínhamos vivido tanto juntos, e continuamos não sendo nada. Naquele dia eu saí da sala batendo o pé sem dizer mais nada. Um tempo depois ele veio perguntar o que tinha acontecido? Será que ele não me conhecia a ponto de perceber que eu queria um titulo para falar para mim mesma. Que eu queria e me importava com aquilo.

Ela também estava perdida

E por isso se agarrava a mim também

E eu me agarrava a ela

Porque eu não tinha mais ninguém

- Eu não posso deixar a minha vida parar – eu disse.

Já tinham se passado três meses da morte dos meus pais e eu ainda não conseguia pensar direito. Sirius tinha preferido ignorar o assunto, mas também não me dava um apoio.

Eu estava caindo, mas não tinha ninguém para me salvar. Eu me forçava a agarrar ele para não chegar ao final da queda. Mas ele parecia ainda em não se importar.

E eu dizia

Ainda é cedo

Cedo, cedo

Cedo, cedo

E eu dizia

Ainda é cedo

Cedo, cedo

Cedo, cedo

Apenas Lily pareceu perceber quando eu saí do meu esconderijo. Sirius continuava tocando e não conseguia me ver. Eu sorria a cada acorde, a cada verso que dizia a mais pura verdade. Aquilo me parecia uma declaração de amor. Algo particular apenas para nós dois.

Sei que ela terminou

O que eu não comecei

E o que ela descobriu

Eu aprendi também, eu sei

A nossa ultima discussão. Era tudo que vinha a minha cabeça com aqueles versos. Era praticamente explicitas as minhas palavras na música.

- Acho melhor tudo acabar assim. Eu vi que esse sentimento que eu tenho por você pode virar dor quando eu percebo que você não se importa – eu já tinha meu tom de voz bem elevado.

E ele ficou em silencio. Novamente, como se não se importasse.

Ela falou: "Você tem medo."

Aí eu disse: "Quem tem medo é você."

Falamos o que não devia

Nunca ser dito por ninguém

- Você tem medo, não tem, Sirius? De se apegar a alguém. De ficar preso a uma pessoa só. Mas o que você não percebe é que as pessoas não vivem umas sem as outras. Viver agarrado em alguém é uma coisa, mas viver com alguém é outra. Você está fazendo uma coisa e eu estou querendo outra! Eu tentei ceder um pouco, mas não posso fazer isso sempre! Está na sua hora, medroso – É, eu já gritava muito nessa hora, e chorava também. Será que se eu não falasse e gritasse ele não iria entender?

- Quem tem medo é você, Marlene! Tem medo de que eu seja que nem seus outros namorados, que te largaram. Você quer me prender para eu não poder viver a minha vida e meu mundo girar em torno do seu. Eu não vou fazer isso. Eu não sou seu! – Ele também gritava.

- Não quero você para mim. Eu queria que você visse que eu quero você comigo! Mas isso você nunca vai entender.

Naquele dia a discussão durou muito.

Eu desci alguns degraus da escada.

Ela me disse

"Eu não sei

Mais o que eu sinto por você

Vamos dar um tempo

Um dia a gente se vê."

- Marlene, o que você está fazendo? – Sirius me perguntou naquele mesmo dia da discussão quando me viu empurrando a minha mala pela sala em direção a porta de saída.

- Eu realmente não te entendo, Sirius. Não sei o que vai acontecer. Mas não vou mais ficar aqui. Quando você se resolver me procura. Se quiser.

E eu dizia

Ainda é cedo

Cedo, cedo

Cedo, cedo

Sirius parou de tocar e olhou para Lily, que sorria para mim.

- O que foi? – Sirius perguntou quando viu que Lily não olhava para ele.

Ele virou para trás para seguir o olhar da ruiva e me viu.

Sirius se levantou de pressa. Eu terminei de descer toda a escada.

- Sirius...

- Lene, eu não sabia que você... Você não estava na casa dos seus pais?

- Na verdade... Na verdade não. Eu preferi ficar aqui.

Nós ficamos em silencio nos encarando. Eu não sabia o que dizer. A música era linda e era para mim.

- Bom, eu acho que eu vou indo – Sirius disse e foi em direção à porta.

Notei que Lily não estava mais ali.

- Sirius – eu chamei e ele se virou para me olhar. – Você esqueceu a capa.

Fui até o sofá e peguei a capa do violão dele e a entreguei.

- Obrigado – ele agradeceu. – Bom... Tchau.

Quando ele saiu Lily apareceu atrás de mim e falou.

- “Você esqueceu a capa”. Sério que isso foi o melhor que você conseguiu?

- Mas ele deveria tomar a iniciativa, não devia? – perguntei para ela.

- Além de ser homem ele é o Sirius. Ele precisa de um empurrãozinho, Lene.

Pensando bem, era verdade.

Quando eu abri a porta ele já estava montado na moto, mas ainda colocava o capacete.

- Sirius! – o chamei.

Ele tirou o capacete e olhou para mim enquanto eu me aproximava.

- Eu só queria dizer... dizer que eu não sei o que sinto por você, mas com certeza não é algo ruim – disse.

- Ah, tudo... tudo bem – ele respondeu sorrindo.

Estávamos envergonhados, talvez, por estar ali. Talvez, por tudo que dissemos um ao outro. Mas ele não falou mais nada. Eu estava dando um empurrãozinho, mas não poderia ceder tudo, como já havia feito.

- Então – disse dando um passo para trás e acenando. – Tchau.

Quando me virei ele segurou o meu braço e me puxou.

- Desculpa – ele me pediu.

E me beijou.

- Namora comigo, Lene? – ele me pediu.

Eu sorri.

E eu dizia

Ainda é cedo

Cedo, cedo

Cedo, cedo


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