A Esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 23
Capítulo 23




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Estou olhando, descrente para Haymitch. E mal ouso olhar para Johanna. Estou me sentindo traído.
– Quando vocês pretendiam me contar? murmuro.
– Na verdade, não pretendíamos te contar Johanna resmunga, e Haymitch lança a ela um olhar zangado. O que foi Haymitch? Você mesmo disse que era pra manter ele fora disso.
– A questão, é que se há uma chance de lutar contra a capital, farei o que for preciso para conseguir ir digo, convicto.
– Mas Peeta Haymitch começa a protestar pela milésima vez. Depois de tudo o que você passou, pensamos que a última coisa que você fosse querer, seria voltar para lá...
– O que você não entende, é que eu sou tão peça disso quanto ela... Quanto Katniss... Afinal, tudo começou quando nós decidimos engolir aquelas amoras relembro, com amargura.
Passei tanto tempo pensando que isso fosse uma prova de amor da parte dela. Afinal, ela preferiu morrer, a me matar, mas hoje me pergunto se ela realmente teria engolido as amoras. Tenho quase certeza que não.
– Haymi não entende que todos temos motivos de sobra para querer tacar fogo no rabo daqueles malditos Johanna diz, com um sorriso sonhador nos lábios.
– Vocês se esquecem apenas, que eu passei pelo mesmo que vocês... Haymitch diz, e fita o chão.
– Então você me entende. Diga a presidente que eu quero treinar. Diga a ela, que eu quero ir também! Se Johanna e até Finnick vão, porque eu tenho que ficar aqui?
– Ainda não é certo se realmente vamos, temos que passar por um teste Johanna comenta.
– Certo. Verei o que posso fazer Haymitch diz, e sai da sala parecendo mais cansado que quando entrou.
– Você acha que pode ficar no mesmo ambiente que ela? Sem surtar? Johanna pergunta.
– Eu não sei... Talvez eu possa ir, e não ficar perto dela... Eu só quero, fazer parte disso. Snow arruinou minha vida... Ele e Katniss destruíram tudo o que eu tinha. E eles vão pagar. Nem que para isso, eu tenha que ajudar Katniss a aniquilar Snow primeiro.
– Espero que você saia dessa loucura antes de matar ela Johanna diz, enquanto disfarçadamente pega um frasco de remédio e esconde em seu macacão.
– Eu também espero sussurro, e Johanna finge não me ouvir, mas sorri.
Nos dias seguintes, é torturante ficar sentado de mãos literalmente atadas, á espera da resposta da presidente. E quando Haymitch finalmente adentra a sala e anuncia que eu poderei comparecer aos treinamentos, fico exultante de alegria, porém ao mesmo tempo assustado.
Quando comunico a Johanna, ela fica feliz também, e diz quese formos mesmo para a capital, irá ser como se estivéssemos na arena novamente, a diferença é que ao invés de Beetee, é Gale que estará conosco. Esse comentário faz minhas mãos se contorcerem em espasmos nervosos, que com muito custo, eu consigo controlar.
Na primeira manhã de treinamento, me sinto enjoado, e mais assustado do que feliz. Minhas algemas são tiradas, mas dois guardas ainda permanecem como sombras atrás de mim. Minha medicação reduzida a quase nada, está causando alguns efeitos colaterais sobre mim, de modo que é um pouco difícil manter minhas pernas firmes. Mas acho que isso já é um teste, para eles saberem se eu ao menos consigo passar meus dias sem estar dopado.
Quando chego na grande sala, a primeira pessoa que eu me deparo é Katniss. Tento ficar inexpressível, me concentrar no que a treinadora corpulenta está falando, mas é quase impossível tirar os olhos dela. E eu ocasionalmente vejo ela me observando também. No final do treinamento, mal consegui montar uma arma, pois quando estava quase concluindo, uma raiva inumana fazia com que eu destroçasse a arma, para aliviar a vontade de fazer o mesmo com Katniss, que está tão perto de mim.
– Desse jeito, o máximo que você conseguirá, serão visitas ocasionais no refeitório, enquanto eu e Katniss estaremos metendo bala em todo mundo lá na capital Johanna comenta, quando vem me visitar á noite.
– Acho que dessa vez você tem razão. Preciso... me concentrar.
– Ou de calmantes ela sugere.
Sorrio. Os cabelos de Johanna já nasceram bastante, e cobrem ao menos as cicatrizes em sua cabeça. Ela aparenta estar sempre imunda. E sempre faminta, penso quando escuto seu estomago roncar, mesmo que tenhamos acabado de jantar.
– Miséria de comida ela diz, como se lesse os meus pensamentos. Ainda bem que Katniss não liga de me dar seus pãezinhos.
– Vocês são amigas, agora? pergunto, e para meu espanto me sinto enciumado. Delly, que diz me amar, que eu conheço desde sempre, prefere brigar comigo para defender Katniss. Haymitch não há o que fazer, visto que ele foi nosso mentor, cumpriu promessas e mentiu para ambos, e eu sempre soube que era dela que ele mais gostava. Mas Johanna... Até ela, Katniss tem que tomar para si?
– Ela é uma boa pessoa, padeiro louco ela diz, e pega na minha mão. Nunca pensei em dizer isso, mas preferiria vocês daquele jeito, do que como estão agora.
– De que jeito? pergunto, confuso.
– Como dois pombinhos bobos apaixonados ela diz e sorri. As probabilidades no massacre, pra vocês que não sabiam do plano, era de que apenas um sobreviveria, mas vocês pareciam não se importar com isso....
As palavras de Johanna percorrem minha mente obscura. E eu sinto como se houvesse uma faísca em meu peito. Uma luz no fim do túnel.
– Porque você acha que a gente não se importava? pergunto, querendo desesperadamente me lembrar de mais coisas.
– Vocês só queriam ficar um com o outro. Um perto do outro. Um mantendo o outro vivo.
Vejo você a meia noite ... Ela disse, e me beijou... Eu me lembro. E eu não tornei a vê-la tão cedo. E eu descobri quem ela realmente era. E eu achei que ela estivesse morta...
– Porque diabos você está chorando? Johanna grita, fazendo meu coração disparar, com o susto.
Então sinto as lágrimas quentes em meu rosto. E eu sequer sei o motivo delas.
– Essa conversa está muito depressiva, acho melhor eu voltar pro meu compartimento. Agora eu não sou mais uma doente ela diz, e dá um apertão na minha mão, antes de se levantar.
– Johanna... me ouço dizer, e relutante, faço a pergunta que está fixa em minha mente. Ela ainda tem pesadelos?
– Sempre ela responde, e seus olhos parecem se apagar. Todos nós, sempre teremos....
Quando fico sozinho, e as luzes diminuem, indicando que é hora de dormir, fico me perguntando se Katniss sente minha falta, em horas como essa, onde apenas em meus braços ela conseguia dormir serenamente.

Acordo mais cedo que o normal, e muito suado, devido aos pesadelos. Sinto falta dos remédios, que me anestesiavam, mas ficar sem eles é um grande passo para o fim deste meu cativeiro. Vou ao treinamento e me deparo novamente com Katniss. Ela fica apenas mais alguns minutos e vai embora. Johanna se junta a mim. Começamos a correr em círculos, com o olhar atento da treinadora sobre nós. Só então sinto como estou fisicamente despreparado. E como minhas costelas não estão totalmente curadas.
– Parece que aquela desmiolada também não consegue ficar no mesmo lugar que você Johanna comenta, ofegante, mas não diminui o ritmo.
Quase fico para trás diversas vezes, mas me forço a continuar correndo.
– Ultimamente tem poucas pessoas suportando ficar no mesmo lugar que eu retruco, e minha voz quase não sai, de tão ofegante que estou.
Quando terminamos os quilômetros estipulados, fico deitado no chão pelo que parece ser alguns segundos, mas quando olho a hora, percebo que fiquei mais de 20 minutos deitado, para recobrar metade do meu folego.
Johanna se vai, prometendo ir me ver depois do jantar.
E eu fiquei sem saber se ela cumpriu a promessa, pois após jantar, fui levado para tomar banho, e em seguida adormeci profundamente, invadido pelo cansaço.
Nos dias seguintes decidi ir treinar em horários que Katniss não estivesse presente. Acho que foi a melhor decisão para ambos. Em poucos dias, eu já sou capaz de montar diversas armas em poucos minutos. Minha mira tem se mostrado cada vez melhor, e eu me exercito até ficar quase inconsciente de dor. Ellean conseguiu fazer com que me mandem mais comida nas refeições, pois agora, estou precisando de energias. Aos poucos vejo o que restou do meu corpo se reerguer, e tomar formas. Johanna fará seu exame hoje. Não há dúvidas que ela irá passar. Estou incerto se, apesar do meu progresso, eu irei pelo menos conseguir uma indicação para fazer um exame. Passo a tarde toda, treinando todas as habilidades possíveis com afinco. Quando estou voltando para meu quarto-cela do hospital, encontro um Haymitch muito abalado me esperando.
– Johanna está no hospital ele diz. E antes que ele possa terminar a frase, me vejo correndo pelos longos corredores, sem se importar com os guardas gritando atrás de mim. Pois de repente tudo que eu preciso, é saber se Johanna está bem.
Demora um pouco até que eu encontre a ala em que ela está. Os guardas em meu encalço param ofegantes, enquanto eu chego perto da sua cama. Ela parece estar dormindo, mas seu rosto não está relaxado.
– Johanna sussurro...
Ela abre os olhos, e olha ao redor, agitada, enquanto suas mãos agarram minha camisa.
– Aqueles filhos da p... ela começa a gritar. Levo um dedo aos seus lábios.
– Está tudo bem agora eu digo, e seguro seus pulsos.
– Não está tudo bem... eu não consegui... de repente, sua voz está embargada, e eu começo a ficar desesperado com a perspectiva de vê-la chorar...
– Eu não passei na merda do exame ela continua, e agora lágrimas escorrem por seu rosto... E agora todos vão para lá, e eu vou ficar aqui... Eu e você... Os dois loucos...
– Hey, você nunca foi de reclamar da minha companhia digo, na esperança de fazê-la rir. O choro de fato, é um pouco contido. Quer me contar o que aconteceu?
Ela balança a cabeça negativamente.
– Eu me sinto... envergonhada. Eu só quero... esquecer.
Suspiro. Eu entendo bem como é querer esquecer as coisas, mas não conseguir.
– Então, me diz, porque você tem tanta certeza que eu não conseguirei ir? pergunto, tentando mudar ao menos um pouco de assunto.
– Porque eles vão usar sua pior fraqueza contra você, e você vai surtar como eu ela diz, resignada.
Estremeço. Talvez eu não deva fazer esse exame. Enfermeiras adentram, informando que terei que me retirar. Johanna já está fechando os olhos novamente, em uma expressão de dor. Dou um beijo em sua testa, em seguida deixo os guardas, que agora estão com um péssimo humor, me algemarem e me conduzirem de volta.
Porém, a previsão de Johanna se mostra equivocada, quando alguns dias após a partida de Katniss, Finnick, Gale e os outros, a presidente me chama até a sala de reuniões e me dá uma notícia no mínimo inacreditável.
– Peeta, você foi designado para acompanhar o esquadrão 451, perdemos um soldado, e você é uma das pessoas mais qualificadas que nos restou ela anuncia, calmamente.
– Mas... eu nem fiz o exame começo.
Ela faz um aceno com a mão, como se espantasse uma mosca.
– Isso não é necessário, tenho plena convicção que você está apto para exercer as funções necessárias.
Fico aturdido com tamanha confiança.
– Mas... Eu não sei se posso exercer total controle sobre mim, caso... caso eu encontre Katniss... digo, sentindo medo de repente.
– Isso você terá que descobrir pois você está no mesmo esquadrão que ela.
Balanço a cabeça. Será que essa mulher não entende que eu posso simplesmente matar a líder dessa revolução?
– Eu posso perder o controle... digo, aflito.
– Peeta Mellark ela diz, e o que parece ser um sorriso se forma em seus lábios ás vezes, perder o controle é preciso... O esquadrão 451 está sendo acompanhado pela equipe de filmagem, e visto que eles não estão conseguindo nada de interessante, acho que esses prontopops precisam de um calor a mais.
Sem mais argumentos, sou vencido.
Me despeço primeiramente de Haymitch. Ele me abraça forte, como um pai.
– Fique vivo, garoto. E traga algo alcoólico para mim quando voltar ele diz, e sai rapidamente, acredito que tentando esconder suas lágrimas.
Depois vou até Johanna, que parece piorar a cada dia, ficando a mercê de mais e mais remédios.
– Não acredito que você está indo ela murmura, os olhos entreabertos.
– A presidente Coin me incumbiu pessoalmente, para ir... Mas, eu não sei se ela entendeu os riscos de me mandar no mesmo esquadrão que Katniss...
Johanna bufa.
– Pare um pouco de pensar em Katniss... Pense em você... Se eles te pegarem de novo... Nem quero pensar no que farão...
– Tem uma pílula, que eu posso tomar se for capturado. Eu irei morrer antes mesmo que eles possam pensar em me machucar de novo digo, para tranquiliza-la, mas não surte esse efeito.
Ela se lança contra mim, e me abraça, trêmula.
– Você não pode morrer, Peeta... Me prometa...
– Johanna.... começo, mas não posso prometer algo que não depende só de mim... cuide-se ok?
Ela me solta, lentamente. Então me fita nos olhos, e os lê. Ela sabe que no fundo, eu não quero voltar vivo.
– Ao menos prometa que não vai matar ela ela sussurra...
– Adeus digo, e vou embora, lutando para não olhar para trás.
Por último, decido ir até Delly. Seu sorriso de sempre não vem ao meu encontro. Dessa vez, são lágrimas.
– Você não precisa ir ela diz, e me abraça, com força, fazendo minhas costelas doerem, mas eu não a afasto.
– Eu preciso Delly, eu não sei porque, mas eu preciso digo, e deixo minha cabeça pousar em seus cabelos.
– Você está indo por ela ela diz, com sua voz abafada em meu peito.
– Por Katniss? replico, espantado com tal perspectiva.
Delly se afasta e me fita.
– Mesmo nessas condições, você ainda quer estar por perto. Você ainda quer protege-la ela diz.
– Não, isso não tem nada...
Mas Delly me interrompe colando seus lábios nos meus. Mesmo assustado, eu não recuo. Seus lábios são macios, e quentes. Não tão quentes como os de Katniss. E eu sou capaz de sentir, o quanto essa garota me ama, através desse beijo. Tenho a sensação de que essa não é a primeira vez que eu desejo poder retribuir seus sentimentos. Ela se afasta, e o rubor toma conta de seu rosto.
– Me desculpe... E só... precisava fazer isso... ela sussurra.
Então eu a abraço mais uma vez, e beijo sua testa, sabendo que essa pode ser a última vez que eu a vejo.

A viagem, é longa. É feita num trem, não tão rápido quanto o que nos leva aos jogos. Vários soldados vão comigo, mas eles descem em outros distritos. Acho que para se assegurar de que estão tomados, ou reunir mais soldados. No fim, fico apenas eu e minha arma. Olho para o número 451 pintado em minha mão, e me pergunto se eu realmente estou fazendo a coisa certa. Eu nunca quis uma guerra. Que dirá lutar numa guerra. Então o trem para, e eu sendo o último passageiro, só pode ser esse meu destino. Avisto um acampamento montado, e o choque percorre meu corpo. Estive tão ocupado lutando contra meu nervosismo, quem nem parei para pensar como seria vê-la. De perto. Sem algemas. Sem remédios para me conter. Quando nossos olhos se encontram, vejo meus medos, refletidos no dela. E ao mesmo tempo que tenho que cerrar os punhos, para aliviar o ódio que começa a surgir, tenho que controlar um sorriso que teima a se formar. É como se uma parte de mim, a odiasse, e quisesse matá-la a qualquer custo. E a outra parte, a amasse, e necessitasse do seu toque, dos seus lábios. Eu só preciso saber, qual dessas partes é a mais forte. E independente de qual sentimento eu queira extinguir, eu sei que eu nunca estive no controle disso, e que de certa forma, meu ódio por ela, cresce na mesma intensidade do meu amor.


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