O "Clube do Terror" de Uchiha Sasuke escrita por FP And, Nana Roal


Capítulo 1
One-Shot


Notas iniciais do capítulo

FP And: Gente, essa fic era pra ser comédia do início ao fim! Juro! Mas... Oh bem, saiu algo mais... atemorizante!! 8D Fiquei até com dó do Naruto algumas vezes e descobri que até consigo escrever terror!!! o/ Acho que vou exercitar esse meu lado!! u.u Ah, e temos uma participação especial nas notas iniciais hoje!!! Com vocês...

Naruto: *encolhido num cantinho e tremendo*

FP And: Oh, bem... parece que nosso herói não está em condições de se pronunciar... Então, com a palavra, Temari_Nara!

*sobe a plaquinha onde se lê "Aplausos"*

Temari_Nara: *acenando* Eae, galera? Preparados para tremer, xingar, suar frio e nos odiar/amar? E já que Naruto não se mostrou apto para fazer uma participação, então nós trouxemos um... FANTASMA DE VERDADE!

Itachi: Eu não assusto ninguém! Toda vez que tento assustar uma garotinha, ela tenta me agarrar! Sorte que as pessoas me atravessam! u.u

Temari_Nara: Er... Enfim! Espero que curtam nosso primeiro terror e se envolvam com a história! o/

Esclarecendo a realidade onde se passa a história: Naruto e Sasuke ninjas, Naruto Hokage, pai do parafuso e da girassol, pai adotivo da salada de tomate. Sasuke deixou de viajar o mundo, pai da salada e pai adotivo dos outros citados. O que rolou com Hinata e Sakura? Podem imaginar ai... Vale de desaparecimento a morte... Não ligamos!

Enjoy! (ou não!! 8D)



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“Então, a escuridão cobriu completamente o quarto e o jovem, preso pelas correntes do medo e sentido o ar gelado congelar-lhe os movimento, simplesmente fechou os olhos e se entregou aos braços do ser das sombras.” — finalizou Sasuke em voz tenebrosa.

Boruto e Sarada, que adoravam histórias de terror, olhavam fascinados para o Uchiha. Entretanto...

— Otou-chan... — Himawari chamou chorosa, quase sem fôlego.

— Sim?

— Você pode parar de... me apertar...onegai? — a garota estava ficando azul.

Naquela noite, Sasuke dormiu com um sorriso no rosto, ao sentir Naruto agarrado a ele, como se seu corpo fosse sua tábua de salvação. Naruto até estava escondendo o rosto na curva de seu pescoço. Ah... Seu plano realmente era perfeito! Entreter as crianças, o que as fazia acharem ele o máximo, e ainda ter seu dobe coladinho ao seu corpo como desejava.

Mas, para sua infelicidade, no dia seguinte, foi a vez de Naruto escolher o divertimento da noite para a família. Claro que um passeio no festival da vila não assustava ninguém, então sua noite foi trágica: encolhido num canto da cama, levando ocasionais chutes e cotoveladas enquanto Naruto resmungava alguma coisa relacionada a rámen de porco.

Alguns dias depois, Sasuke pensava em outra história aterrorizante para contar, mas já não estava tão satisfeito com sua brilhante ideia, pois esta tinha apenas um efeito temporário. Após dar várias voltas em sua mente, elaborou o que achou ser, por fim, o plano perfeito. Dirigiu-se ao escritório do Hokage, e estava começando a colocá-lo em prática, mas foi interrompido por um shinobi que entrou esbaforido e com uma expressão aterrorizada. Como o assunto parecia urgente e Sasuke estava ali, Naruto decidiu enviá-lo para a missão repentina, até porque sabia que Sasuke podia resolvê-la rapidamente e sem contratempos.

A notícia foi tão inesperada que Sasuke saiu para arrumar-se e partir o mais rápido possível para a dita missão e, mesmo estando acostumado a isso por ser um ninja, algo – talvez um leve pressentimento –, o fez hesitar por milésimos de segundo antes de atravessar o portão da vila, mas ainda olhou pra trás, especificamente para aquele rosto tão conhecido esculpido na imponente montanha, e o pressentimento voltou a incomodá-lo por um instante.

Chacoalhou a cabeça lembrando-se de algo importante: Uzumaki Naruto era o Hokage, um homem extremamente forte e praticamente imbatível. Não havia nada, além de Uchiha Sasuke, que pudesse perturbá-lo ou colocá-lo em perigo. Finalmente deixou de lado a estranha sensação e seguiu para cumprir sua missão.

Naquela noite as crianças fizeram o de sempre, jantaram, depois ficaram conversando/discutindo até um pouco tarde e logo foram para seus quartos, despedindo-se rapidamente do Uzumaki, que havia se disposto a ler alguns relatórios antes de dormir. Breve a casa estava quase totalmente silenciosa, exceto pelo suave tic-tac do relógio e o som das folhas da árvore que havia no quintal do fundo.

Naruto estava realmente concentrado no pergaminho quando sua visão periférica captou algo passando rapidamente de um lado a outro da cozinha e chamou totalmente sua atenção; o vulto foi tão rápido que o homem sentiu um sutil deslocamento de ar. Virou-se imediatamente, mas tudo que encontrou foi o armário e a geladeira. Voltou-se para o pergaminho e coçou os olhos, pensando estar vendo coisas devido ao cansaço, mas essa ideia se esfumou ao ver novamente um rápido movimento e logo algo saltar diante dele:

— QUE CARAL... — se calou e voltou a respirar novamente ao ver totalmente o “vulto”.

— Miau — o gato preto se alongou sobre a mesa e se aproximou de Naruto, ronronando.

— Cacete, Nico! Você quase me matou de susto! — bronqueou em tom de brincadeira, fazendo um leve carinho no gato.

Após isso, decidiu que já havia trabalhado o suficiente por aquele dia, então colocou comida para o gato, abriu a janela para ele ter acesso ao jardim e seguiu para seus aposentos.

Enquanto subia as escadas para o andar dos quartos, disposto a perder a consciência até o dia seguinte, teve a nítida impressão de ouvir outros passos o acompanhando na subida. Virou-se imediatamente, já com um Rasengan em posição, mas tudo o que viu, ou julgou ver, foi uma estranha sombra atravessar a parede. Alarmado por conhecer jutsus variados e saber que os inimigos não hesitariam em usá-los, correu para os quartos das crianças e viu que cada uma dormia placidamente em suas camas. Ativou a energia natural para escanear o perímetro, mas não percebeu nada de anormal.

— Ok, Naruto — murmurou pra si mesmo. — Você realmente deve ter trabalhado demais — suspirou, desativou a energia natural e seguiu para o próprio quarto.

O curto percurso foi normal, apenas a madeira rangendo sob seus pés descalços e o som de suas roupas ao se movimentar. Realmente o silêncio fazia cada pequeno som duplicar de intensidade. Abriu a porta, já retirando as vestimentas de trabalho e bocejou, enquanto se espreguiçava. Aquela sensação era sempre incrível, por isso ele fechou os olhos para aproveitá-la melhor. Quando se deu por satisfeito voltou à posição normal, abriu os olhos fitando o vidro de sua janela e travou. Uma mensagem estava escrita ali:

“Vamos pegá-lo.”

De repente uma mão movimentou-se sobre o vidro, apagando a mensagem. Uma mão pálida, ensanguentada e sem um corpo. Tropeçou para trás, assustado, fazendo a porta cerrar-se com um baque e se assustou mais ao ver a mão desaparecer.

— Que por... Ah, meu Kami-sama! — murmurou sentido todos os pelos de seu corpo se arrepiarem e um vento gelado bater em sua nuca. — Oh, não! Oh, não!

Fechou os olhos tentando se acalmar e repetiu como um mantra “é só imaginação sua”. Respirou fundo e abriu os olhos, esperando dar de cara com um ser espectral, mas nada disso aconteceu.

Finalmente começou a se trocar para dormir, mas mudou de ideia rapidamente. Se precisasse fugir no meio da noite, não seria nada digno o Hokage fazer uma aparição nas ruas de Konoha apenas de cueca. Fugir era algo covarde para um dos shinobis mais fortes da história? Talvez fosse, mas ele sabia que poder ou jutsu algum poderia dar conta de seres sobrenaturais!

Se enfiou na cama e decidiu que dormiria com as luzes acesas mesmo. Contudo, para manter um pouco de sua imagem de homem destemido caso alguma das crianças resolvesse levantar no meio da noite e visse sua luz acesa, pegou um documento qualquer e o colocou sobre o peito. Perfeito! Pareceria que o ocupado Hokage dormira enquanto trabalhava até tarde.

Os minutos foram passando calmamente, e seu coração já batia num ritmo normal. Sentia-se ser levado pelo sono, mas sua aguçada audição captava mais uma vez o leve tic-tac do relógio da sala, o farfalhar do vento nas folhas da árvore, o ressonar das crianças nos outros quartos, unhas arranhando o assoalho abaixo de sua cama...

O QUÊ?!

Seus olhos se abriram como pratos e, mesmo sem querer, sua cabeça girou lentamente para o lado e para baixo, para o lado e para baixo...

Mal seus olhos viram de relance uma mão cadavérica e esverdeada arranhando a madeira ao lado da cama, como se seu dono tentasse se içar para fora dela, Naruto já estava agarrado à maçaneta da porta, que devido ao seu desespero, parecia emperrada. Não queria olhar novamente, pois infelizmente ainda ouvia o barulho angustiante de unhas contra a madeira, mas sua cabeça se virou automaticamente enquanto ainda lutava contra a maldita porta emperrada. O que viu fez suas pernas parecerem gelatina: uma cabeça de cabelos longos negros e aparentemente molhados, começava a ser divisada.

Finalmente conseguiu abrir a porta e correu, mais uma vez sentindo o vento gelado sobre a nuca, o que o fez quase chorar de medo.

Naruto entrou esbaforido no primeiro quarto que encontrou e cerrou a porta com um baque surdo, seu coração descompassado, as pernas tremendo e um suor frio brotando na testa. Se dirigiu rapidamente até uma das camas e sentou-se, logo chacoalhando o ser adormecido que a ocupava.

— Himawari? — aguardou uns instantes, mas aparentemente a filha tinha o sono tão pesado quanto o seu próprio. — Himawari?! — sua voz adquiriu um tom urgente e olhava a cada segundo para a porta e tudo pareceu extremamente pacífico, até começar a escutar risadas infantis – muito assustadoras – e passos rápidos. — Himawari! — chamou em um sussurro estrangulado e a balançou com mais ímpeto.

A menina despertou um tanto zonza e piscou até conseguir compreender a cena que via: seu pai com a testa suada, olhos aterrorizados e mãos tremendo.

— Tou-san? — sentou-se, coçando os olhos. — Aconteceu algo? — indagou inocente e preocupada.

Naruto a olhou extremamente confuso: ela não estava escutando as gargalhadas e a correria do lado de fora do quarto? Olhou ao redor, percebendo que Sarada – que estava na cama ao lado – também dormia calmamente, coisa que não deveria estar acontecendo já que a menina tinha um sono leve.

— N-Não! Está tudo bem! Tudo bem! — Naruto sentia o suor frio impregnando suas roupas, mas conseguiu se tranquilizar o suficiente ao perceber que, aparentemente, as crianças não corriam nenhum risco. — Volte a dormir...

Sem dizer mais nada, a menina recostou-se, fechou os olhos a pareceu pegar no sono no mesmo instante. Arrumou a coberta sobre ela, depois fez o mesmo com Sarada. Sentia-se melancólico, como se fosse a última vez que fosse vê-las, mas respirou fundo e prosseguiu com seu dever como pai.

Decidido a afastar fosse o que fosse que o perseguia das crianças, Naruto deu alguns passos em direção à porta e respirou fundo. Engoliu em seco e percebeu que os sons no corredor haviam sumido. Abriu a porta devagar e quase teve um ataque de pânico ao ver um ser pálido e pequeno, o olhando com expectativa.

— Otou-chan? O que está fazendo acordado a essa hora?

Levando a mão ao coração rapidamente, Naruto percebeu que era apenas Boruto, pálido e fantasmagórico devido à fraca iluminação do corredor.

— Boruto! Eu.. eu só vim dar boa noite para as meninas — respondeu o mais normalmente que conseguiu.

— O senhor comeu lámen sem esperar os três minutos outra vez e ‘tava pedindo chá pra Himawari, não é?

— É... É... Foi isso... Desculpe — sorriu sem-graça e se impediu de pular de susto ao escutar um forte murro na porta de seu quarto. Boruto não se abalou com o som e Naruto aceitou que ele era o alvo e as crianças estariam em segurança se ele não estivesse ali. — Boa noite, filho — o empurrou o mais delicadamente possível em direção ao quarto deste.

— Boa noite, ‘tou-chan — Boruto sorriu levemente, indo em direção à cama e se ajeitou, caindo na inconsciência segundos depois.

Naruto, o mais calmamente possível, ajeitou suas cobertas e, após respirar fundo, saiu do quarto.

O corredor estava silencioso, frio e escuro; sua visão periférica captava sombras arrastando-se pela parede. Eram semelhantes a garras que se aproximavam dele vagarosamente, parecendo saborear cada tremor de seu corpo e gota de suor gelado que escorria por sua pele. Engoliu em seco, decidido a ignorar aquelas figuras, e seguiu com o objetivo de fechar e trancar as portas dos quartos das crianças. Assim que terminou, fechou os olhos e virou-se em direção ao seu quarto.

Naruto — alguém soprou em sua orelha. O Hokage sentiu o medo pressionar suas cordas vocais e suas vias respiratórias, impedindo-o de gritar, enquanto o sussurro gelado parecia ecoar dentro de sua cabeça. Sua única reação foi abrir a boca, como se fosse realmente capaz de gritar, e se jogar em direção ao próprio quarto.

Cerrou a porta com força sentindo-se trêmulo e fraco, seu corpo parecia pesado, seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas ele recusava-se a permitir que elas escorressem. Ele era Uzumaki Naruto! Um herói! Não choraria diante de inimigo algum, mesmo que este não fosse do mundo dos vivos. Respirou fundo, tentando recuperar um pouco de controle, e decidiu passar a noite acordado, enfrentando o que fosse que estava acontecendo.

— Maldito Sasuke que não está aqui quando mais preciso! Maldita missão idiota e malditas histórias idiotas — começou a murmurar sem parar, andando de um lado para o outro, passando as mãos molhadas de suor no tecido da calça e buscando acalmar as batidas aceleradas de seu coração.

Quando suspirou profundamente e expeliu o ar, percebeu um suave vapor esbranquiçado escapar por seus lábios secos e, finalmente, percebeu que o quarto estava extremamente frio. Mas antes que pudesse raciocinar sobre isso, saltou de susto ao escutar a o televisor sendo ligado e um alto som de estática dominar o quarto. Naruto correu pra tentar desligá-la, mas uma voz robótica e assustadora o travou:

— Uzumaki Naruto — a imagem tremeu e os chuviscos deram lugar à imagem de uma silhueta disforme. — Entregue-me sua al... — antes de a sentença ser terminada, Naruto – em um ato instintivo – acertou o punho de sua prótese no vidro da tela, transformando-o em cacos e fazendo o eletrodoméstico expelir faíscas. Não se importou com os pequenos cacos e faíscas que acertaram seu rosto; a dor era boa, pois provava que estava vivo.

Se afastou, verificando que a faixa da prótese estava levemente chamuscada e havia alguns pequenos vidros presos ali. A limpou da melhor forma possível e olhou ao redor, tudo estava calmo e silencioso novamente.

Evitando se aproximar da cama, pois os acontecimentos anteriores o fizeram ter verdadeiro pânico de subir nela novamente, parou no meio do quarto e se convenceu de que havia algo muito errado. O silêncio que o rodeava não era natural: parecia-se mais como se algo estivesse obstruindo sua audição, pois nem os habituais sons noturnos, como o do relógio da sala ou o vento nas árvores chegavam até ele.

Já pressentindo o pior, aproximou-se lentamente da janela do quarto, pois o fato de nem mesmo escutar o barulho do vento era o que mais o inquietava. Olhou para o quintal da casa, mas não foi a pacífica visão de seu gramado o que lhe congelou o sangue.

Pelo reflexo do vidro, pôde ver alguma coisa parada exatamente atrás dele, com a mão levantada e pronta para segurá-lo pelo ombro. Sentiu o toque gélido, mesmo por cima das roupas e, instantaneamente, tudo o que não podia ouvir ou sentir antes voltou como uma avalanche: o uivo agourento do vento, o maligno tiquetaquear do relógio da sala, parecendo aumentado dez vezes... E o pior, a respiração gélida sobre a sua nuca e a voz rasposa e rouca.

— Uzumaki... Naruto...

O tom enviou uma corrente elétrica que percorreu sua espinha e o fez agir sem pensar. Virou-se rapidamente e, um golpe que mataria instantaneamente um ser vivo que estivesse em seu caminho, atravessou... o nada.

Não havia nada atrás dele.

Mas ele havia sentido! Mais do que o resto, aquele toque gélido em seu ombro, que pareceu congelar rapidamente até mesmo sua alma, havia sido muito real!

Trêmulo e amedrontado como nunca se sentira na vida, suas pernas fraquejaram e ele ouviu os joelhos baterem no chão, pois já não conseguia sentir mais nada. Nem mesmo seu cérebro enfraquecido conseguia formular qualquer teoria sobre os motivos de aquilo estar acontecendo. O som de seus ossos contra a madeira pareceu ecoar, e só então ele percebeu que eram fracas batidas na porta de seu quarto.

— Otou-san?

Ouviu a pergunta hesitante na voz de Himawari e então fracos soluços, como se a garota estivesse chorando baixinho.

Com todos os seus instintos paternos despertados abruptamente, colocou-se de pé, sentindo-se fraco e correu até a porta, abrindo-a de supetão.

— Himawari, o que houve? — perguntou preocupado. A garota estava com a cabeça baixa e seus ombros tremiam pelo choro contido. Ela segurava um ursinho de pelúcia branco, que Naruto não se lembrava de ter visto, mas isso não era muito estranho, pois ela também ganhava presentes de Sasuke e de Hinata. O que realmente foi estranho e o deixou gelado foram as gotas vermelhas que pareciam estar caindo do rosto da menina e manchando a pelúcia branca.

— Otou-san... doeu! — os soluços se tornaram de cortar o coração.

Naruto imediatamente ajoelhou-se desesperado e segurou o rosto da menina, ficando em completo choque ao ver apenas dois buracos sangrentos onde antes ficavam os olhos azuis idênticos aos seus. Por algum motivo que nem mesmo ele sabia explicar, olhou para o ursinho que a filha segurava com desespero e deixou de respirar ao ver os olhos azuis o encarando de volta... Olhos que pareciam vivos e tristes.

Imediatamente, os dedos que seguravam o rosto de Himawari foram tomados pelo mesmo frio gélido e maligno que sentiu ao ser tocado pelo ser que o olhava pelo reflexo da janela. Ergueu o rosto lentamente, já sentindo-se quase desfalecer e viu o sorriso maldoso que tomava o rosto de sua caçula, mostrando dentes podres e esverdeados.

Caiu sentado de costas e começou a se arrastar lentamente para longe daquele ser que agora, tinha certeza, não era sua pequena Himawari.

— O... O que você fez com minha filha? — sentia as lágrimas de puro pavor finalmente transbordarem de seus olhos e descerem mornas por seu rosto, o frio espectral o envolvendo irremediavelmente.

— Sou eu, otou-san... Himawari, sua filhinha — o ser começou a dar passos lentos e dificultosos em sua direção, ainda com aquele sorriso maligno no rosto.

— O que você quer de mim? — se conseguisse, Naruto sem dúvida teria gritado, mas sua voz se recusava a sair em mais do que um apavorado sussurro.

— Sua alma... — foi a mesma voz rasposa e rouca anterior.

Estando ainda se arrastando, Naruto só parou ao sentir que atingiu a base da cama e perceber que estava encurralado. Lembrar-se do que tinha visto antes pareceu ser o que faltava para as mãos esverdeadas e cadavéricas fazerem nova aparição, pois sentiu imediatamente como um aperto pegajoso e frio envolvia fortemente seus pulsos, enquanto o ser maligno, disfarçado de sua filha, continuava avançando em sua direção.

E então o intrépido e corajoso Hokage de Konohagakure no Sato... desmaiou.

***

— Naruto — o sussurro cavernoso fez seus pelos se arrepiarem e ele apertar ainda mais os olhos. — Naruto... Naruto — sentiu uma vontade enorme de chorar e se encolher em si mesmo sobre aquele chão duro e gelado, parecendo ser feito de granito. Granito? — Gaki, retardado! Acorda, cacete!

Naruto abriu os olhos, encontrando-se com uma gigantesca mancha alaranjada que parecia pairar sobre ele. Levantou em um pulo e então, finalmente, a mancha tomou a forma de alguém extremamente conhecido.

— Kurama — murmurou entre aliviado e assustado.

— Que merda te aconteceu, gaki? Parece que você viu uma assombração! — a raposa sentou-se diante do Uzumaki e levou uma das gigantes garras para cutucar o rosto pálido deste. — E por que você caiu aqui?

—E-eu... É... Você não viu? — Naruto indagou trêmulo.

A raposa percebeu que ele olhava constantemente em volta, parecendo temer que algo saltasse da escuridão. Seria algum tipo de reação atrasada ao trauma da guerra? Naruto, definitivamente, era muito lento para certas coisas.

— Tudo que eu vi, após acordar com o peso do seu corpo gordo sobre minha cabeça, foi sua cara pálida e desmaiada. O que aconteceu lá fora, idiota? — indagou buscando esconder o tom preocupado.

— Acho que estou sendo perseguindo, Kurama — sussurrou apertando uma mão na outra. — Acho que vou morrer.

— Gaki, pelo amor do velhote, você já é grandinho o suficiente pra não colapsar na frente de um inimigo qualquer. Quem enfrenta Kaguya e o seu Uchiha temperamental pode com qualquer coisa!

— Mas...

— Sem "mas". Já te dei meu ombro amigo, agora vaza! — estalou os gigantescos dedos e Naruto sentiu-se empurrado para longe dali.

Abriu os olhos abruptamente e sentou-se na cama, ofegante e olhando ao redor. A TV estava intacta, o quarto estava na temperatura confortável, nenhuma marca de queimadura nas faixas que envolviam sua prótese e os sons da madrugada estavam normais. Coçou a nuca, perguntando-se se tudo havia sido um pesadelo e então se levantou.

Pensou no que Kurama havia dito e estufou o peito: ele realmente já havia enfrentado coisas demais para ter medo de fantasmas imaginários e de pesadelos! Saiu do quarto, só pra verificar se as crianças estavam bem. Ser precavido não custava.

Primeiro entrou no quarto de Boruto, o encontrando esparramado sobre a cama e fazendo sons que deixariam motores com inveja; sorriu e seguiu para o próximo quarto. O corredor estava na penumbra, mas nada fora do normal. Abriu lentamente a porta do quarto e olhou rapidamente para as duas meninas adormecidas; um sorriso surgiu em seu rosto, mas desapareceu subitamente ao ver, na cama de Sarada, um ursinho branco, manchado de sangue e, desta vez, tendo um olho azul e outro negro.

O urso mexeu lentamente a cabeça, girando para olhá-lo de frente e sua boca abriu-se, mostrando dentes humanos e apodrecidos; os mesmos dentes que estavam na garotinha de antes. Naruto tropeçou pra fora do cômodo e, com o coração querendo sair pela boca, entrou ofegante em seu próprio quarto e batendo a porta atrás de si.

— O que eu faço? O que eu faço? — indagou-se baixo e trêmulo. — Eu sou a merda do homem mais forte da porra do mundo e não consigo parar de tremer por causa de um simples espírito maligno que quer comer minhas entranhas e me arrastar para o inferno — levou as mãos aos cabelos, puxando os fios de forma desesperada. — O que eu vou...? — arregalou os olhos ao sentir a temperatura cair novamente e passos macios seguirem até ele. Olhou, novamente, para o lado e para baixo e viu... o urso lhe sorrindo novamente. — Kami-sama! — exclamou colando-se à porta, tentando se afastar daquele ser.

No desespero fez um selo. O selo que liberava o jutsu que prometeu só fazer em casos extremos. Aquilo, com certeza, era um caso extremo! Sua vida estava em risco, pois se não fosse assassinado por aquela pelúcia do inferno, seu coração pararia de bater por causa do terror que sentia.

— Liberação Bijuu — sussurrou se concentrando — Kurama!

Uma nuvem de fumaça tomou momentaneamente o quarto e Naruto, que ainda estava com a atenção voltada para o perigo, viu a figura do urso tremeluzir até desaparecer.

— É bom você ter um ótimo motivo pra ter me invocado dessa maneira, gaki! — a voz grossa e irritada se fez ouvir. — O que está aconte...? — ele se interrompeu ao sentir-se agarrado bruscamente e apertado contra um peito plano.

— Kurama, me ajuda! Por Kami-sama! Ele quer me levar! Quer minha alma! — Naruto dizia desesperado e apertando cada vez mais o Bijuu – que estava do tamanho de uma raposa normal – contra o próprio corpo.

O Bijuu tentou articular uma resposta, mas estando com a cara enterrada na camisa do outro, isso era um pouco complicado. Respirou fundo e usou um jutsu de transformação. Isso fez Naruto soltá-lo e se afastar debilmente. Kurama – agora adotando uma aparência estranhamente semelhante ao do homem à sua frente, só que com cabelos um pouco maiores e alaranjados –, cruzou os braços e passou o olhar vermelho criteriosamente sobre seu Jinchuuriki.

Naruto estava fora de si e seu corpo completamente tensionado, como se ele estivesse prestes a entrar em batalha, mas algo o impedisse disso. No entanto, o que mais chamou a atenção do Bijuu, foi o chakra completamente desordenado e algo mais. Franziu as sobrancelhas.

— Quem quer te levar, gaki? — indagou finalmente.

— Eu não sei — revelou em tom estranhamente agudo. — Primeiro foi nas escadas, apareceu numa mão cadavérica na janela, se arrastou em baixo da cama, então as risadas, o frio, Himawari e o urso com aqueles dentes e... — começou a hiperventilar e cambaleou pra frente.

Kurama rapidamente o apoiou ficando – mesmo sem admitir – preocupado com estado de seu Jinchuuriki e sem entender nada do que estava acontecendo. Ainda amparando o homem que ofegava, tentando desesperadamente captar ar suficiente para seus pulmões, olhou ao redor tentando encontrar algo anormal, mas havia só uma coisa... Nada.

— Gaki, não há nada de diferente por aqui — esclareceu calmamente. — Onde está o Uchiha?— indagou assim que Naruto se afastou, já respirando normalmente, mas sem perder a expressão de pavor.

— O Sasuke saiu em missão — passou as mãos no rosto. — Só eu os vejo, Kurama! Mas eu não aguento mais! Quando estou com alguém eles não aparecem, mas eu não quero que eles machuquem meus filhos!

Kurama enrugou a testa e, novamente, concentrou-se no ambiente, fechando os olhos para ser mais efetivo: captou as três crianças dormindo nos quartos próximos, alguns selos de segurança – algo básico para proteção do Hokage – ao redor da casa, um gato ninja – provavelmente do clã Uchiha – no quintal e... algo em Naruto! Fora o chakra de ambos, aqueles eram os únicos rastros de chakra existentes naquela região. Abriu os olhos rapidamente, já compreendendo o que estava acontecendo e bufou levemente.

— Naruto você precisa descansar — disse com calma.

— Mas eu não posso, Kurama! Eu tentei, mas não... — levou as mãos aos cabelos curtos e puxou os fios com força exagerada enquanto fazia uma careta de puro desespero. Naruto estava prestes a ter um colapso nervoso.

— Pode dormir, eu ficarei aqui e vou vigiar o ambiente — Kurama afirmou, enquanto empurrava o homem em direção à cama.

Naruto, sentindo-se seguro, deixou-se levar e se acomodou na cama. Breve sua respiração começou a voltar à normalidade, assim como o ritmo de seu coração. Fechou lentamente os olhos, tendo como última visão a figura humana de seu Bijuu parado a poucos metros de sua cama.

Seu corpo estava relaxando, seus músculos tremeram levemente quando estava prestes a se entregar ao sono e ao cansaço, quando sentiu uma leve carícia subindo por sua perna, levantando sua calça. O toque era macio, porém frio e sentia garras rasparem contra sua pele fazendo seus pelos se arrepiaram. Logo sentiu um peso sobre seu corpo... Um peso sufocante.

Abriu os olhos assustado e um esgar de horror tomou seu rosto, ao ver uma mulher pálida, de longos cabelos escuros e rosto completamente desfigurado. Ela abriu a boca, mas a pele e os músculos de sua face se rasgaram, fazendo a mandíbula despencar grotescamente e insetos saírem de dentro dela.

Novamente o medo esmagou suas cordas vocais e ele sentiu o ar abandonar seus pulmões, enquanto seu coração parecia perder finalmente o ritmo. Ele estava prestes a...

— GAKI! — o grito o fez sentar-se na cama, ofegante e tremendo mais do que achava ser possível. Kurama estava diante dele e parecia estar manipulando e empurrando o chakra dele contra o seu e isso, estranhamente, o fez se acalmar. — Eu achei que dessa vez você ia dessa pra melhor!

— Kurama — sussurrou assustado e agarrou o outro, quase quebrando suas costelas. — Graças a Kami-sama, você estava aqui! — se afastou, segurando o ruivo pelos ombros firmemente. — Você vai ter que dormir comigo — decretou.

— Você não ‘tá falando sério, ‘tá? — estava incrédulo.

— Onegai, Kurama! — Naruto implorou quase aos prantos.

— Naruto, você tem noção do que está pedindo? Eu não vou tomar chutes seus e nem Chidori daquele doente possessivo que você, amavelmente, chama de namorado. Eu não quero ter que matar aquele cara e fazer com que a Sarada entre na espiral insana de vingança! Estou velho demais pra isso!

— Isso não vai acontecer, Kurama, eu prometo — usou aquele típico tom irrefutável que havia mudado muita gente. — Eu não poderei dormir sozinho e, quando digo isso, quero dizer que preciso estar abraçado com alguém!

Kurama suspirou e começou a pensar em fugir, mas o olhar desesperado de Naruto e seu lado maligno – aquele que vivia querendo fazer Sasuke sofrer e se retorcer de dor –, o fez decidir fazer aquela boa ação. Dormiria com Naruto e se deixaria ser usado como tábua de salvação.

— Ok, gaki — concordou, se ajeitando na cama. — Mas se me chutar ou babar em mim, tu vai conhecer a morte! — ameaçou.

Naruto abriu seu maior sorriso, sem se importar com a ameaça do Bijuu, e se ajeitou ao lado dele. Kurama estava deitado com as costas na cama, Naruto deitou de lado, passou um dos braços sobre o peito do Bijuu e jogou uma perna sobre o corpo. Logo o estava agarrando como se fosse um maldito travesseiro.

— Arigatou, Kurama — Naruto sussurrou e, em seguida, se entregou aos braços de Morfeu.

— Esse Uchiha me paga — Kurama murmurou, sentindo-se levemente sufocado dentro daquele abraço de ferro.

***

— QUE PORRA É ESSA? — o grito furioso fez o Bijuu, que estava abraçado a algo macio, virar-se e se aconchegar ainda mais. Ele sabia onde e com quem estava e, exatamente por isso, fez questão de continuar “dormindo”. — NARUTO!

O Uzumaki abriu os olhos ao escutar o tom tenebroso e se afastou de Kurama com um empurrão, o movimento o fez despencar da cama e se arrastar para longe dos outros ocupantes do quarto, com os olhos arregalados e o corpo trêmulo.

— S-Sasuke — gaguejou vendo a aura escura ao redor do namorado e se encolhendo ainda mais ao se lembrar das cenas da noite.

Após perceber que o perigo, enfim, havia passado, levantou-se e correu para os braços do namorado, ignorando a aura assassina, as palavras se atropelando quase ininteligivelmente por sua boca, explicando a Sasuke tudo o que havia acontecido.

Os olhos do Uchiha, de irados, foram passando para desconfiados e depois atemorizados. Logo abraçou Naruto com força e começou a sussurrar em seu ouvido palavras tranquilizadoras e a acariciar os cabelos loiros com preocupação. Sentia o corpo forte do homem com praticamente sua altura e mesma constituição tremendo como uma criança e a culpa por deixá-lo sozinho o consumia.

Infelizmente, um olhar acusador do Bijuu, o fez sentir medo, mas por outros motivos.

Kurama se recusou a voltar para o corpo de seu Jinchuuriki, mesmo após a aparição de Sasuke, dizendo que preferia ficar por ali caso algo mais acontecesse, o que fez Naruto sorrir agradecidamente.

Após entupirem Naruto de calmantes, num trabalho em equipe altamente suspeito, caso Naruto estivesse em condições de pensar devidamente, e fazê-lo apagar durante o resto do dia, Sasuke e Kurama se retiraram do quarto, trocando olhares acusatórios, por parte do Bijuu, e raivosos, por parte do Uchiha.

***

Sasuke estava deitado na cama que dividia com Naruto. O viu saindo do banheiro após uma relaxante ducha e percebeu o leve estremecimento que o percorreu ao passar pelo novo pacífico e fofo adorno do quarto: um ursinho de pelúcia branco.

O olhar desconfiado de Naruto pousou por alguns segundos no inocente brinquedo antes de se virar para Sasuke.

— Ei, bastardo...

— Já falamos sobre isso, Naruto — Sasuke já previu o que que o outro diria e se adiantou. — Que mal pode fazer um ursinho? E Himawari ficaria magoada se o tirássemos dai.

— Hum... — foi um resmungo inconformado.

Após voltar da missão e ouvir toda a história do que aconteceu com Naruto naquela noite, Sasuke lembrou-se, com um susto, do genjutsu em que o havia colocado, usando todas as suas habilidades, pois Naruto já não era tão ingênuo para cair em um que não fosse extremamente elaborado. E, finalmente, se deu conta do porquê estava levemente preocupado antes de sair da vila: havia esquecido de desfazê-lo. Sabia que se não estivesse presente as coisas sairiam do controle.

Podia imaginar o estresse e medo a que havia submetido o Hokage e sentiu-se culpado a princípio, e agradecido por não ter matado seu companheiro de um enfarto, derrame ou coisa pior.

Depois, entretanto, resolveu tirar proveito da história. Sua mente tortuosa usou o bom coração de sua enteada Himawari e o pavor de Naruto: convenceu a garota a “presenteá-lo” com o ursinho que ele mesmo havia comprado para ela alguns dias antes daquela noite e o colocou como um adorno de destaque no próprio quarto. Como havia imaginado, foi mais do que suficiente para conseguir o que queria. Achava também que o fato de Naruto não se lembrar do brinquedo foi uma verdadeira sorte, mas, obviamente, seu subconsciente se lembrava.

Aquele gentutsu realmente fora a melhor ideia que já teve na vida, precisando ser meramente reforçada por algumas histórias envolvendo brinquedos malignos periodicamente no tal “Clube do Terror”.

Sentiu Naruto se deitando ao seu lado e o agarrando como se tivesse ventosas.Suspirou feliz e também o abraçou protetoramente, adormecendo em seguida, com um sorriso satisfeito.

FIM(?)

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Epílogo

Na manhã após a noite aterrorizante

Estavam na cozinha da casa, após Sasuke dar vários calmantes para Naruto e deixá-lo dormir pacificamente.

— Você vai ter um dívida eterna comigo, Uchiha... Vai ter que suprir eternamente minha fome de carne de porco e minha sede de sake.

— Eu não sabia que você era um bêbado esfomeado, Kurama!

— E eu não sabia que você gostava de jogar o próprio namoradinho em um genjutsu aterrorizante.

— Maldito!

— Não me elogie!

Agora sim: FIM!


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Notas finais do capítulo

Comentem, deem ideias, sugestões e façam suas críticas! É nosso primeiro terror, então realmente precisamos de tudo isso!! o/