Mais uma chance escrita por Carcata


Capítulo 8
Não é sua culpa


Notas iniciais do capítulo

Eu esqueci completamente que hoje não era sexta e fiz esse capítulo correndo pra vcs mas aí quando fui postar eu percebi... hoje é quinta... *senta no chão, coloca a cabeça nas mãos e fica encarando o nada*



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Crianças não deveriam ser enterradas. Meninos e meninas morriam no mundo inteiro, e isso era um fato. Mas não deveria acontecer. Ninguém deveria atender a um funeral de uma criança.

Ninguém deveria enterrar um garoto de catorze anos... Não seu irmão.

Porém não havia nada para enterrar. Buscas foram feitas por muito tempo (e ainda não desistiram), portanto nenhum resquício de Hiro Hamada foi encontrado. Um pré-adolescente com cabelos negros sempre embaraçados, castanhos olhos brilhantes que reluziam com alegria, um sorriso que revelava um pequeno e adorável espaço entre seus dentes, e um cérebro de uma criança prodígio que podia oferecer tanto ao mundo.

Sarcástico, rebelde, inteligente, adorável, encrenqueiro. Amava gummy bears, construir, inventar, filmes de terror. Odiava escola, mas aquilo estava prestes a mudar, ele foi aceito na SFIT... Hiro Hamada era aquilo e muito mais.

Como um irmão mais velho, era esperado de Tadashi dizer alguma coisa no funeral. Tia Cass disse que não era necessário, entretanto ele insistiu. Ele daria Hiro um discurso digno de seu irmãozinho. As pernas de Tadashi congelaram quando ele ficou na frente de todos, e observou as pessoas presentes. Hiro merecia mais pessoas em seu funeral, mas Tadashi também não queria uma multidão de pessoas que viessem só por pena.

A garganta de Tadashi estava seca e ele teve que parar seu discurso várias vezes porque sua voz não conseguia cooperar. Ele gaguejou nas sentenças finais antes de pedir licença, correndo para o banheiro. Ele tremia enquanto suas pernas perderam a força e ele deslizou até o chão. Tadashi puxou seus joelhos e os abraçou, colocando sua cabeça entre eles.

Ele ficou agradecido quando todos deram uma hora antes de enviar alguém para procurá-lo.

Tadashi nunca percebeu quantas fotos haviam dele com Hiro. Elas alinhavam as paredes e algumas prateleiras. Também tinham muitas no quarto deles... Agora só dele. Hiro sorria muito nas fotografias quando era menor. Nos anos recentes, ele não ria mais abertamente, porém seus sorrisos ainda eram genuínos.

Os retratos e as próprias memórias de Tadashi foram tudo o que sobraram desses sorrisos. Ele gemeu e suspirou, tentando parar de pensar assim. Não era saudável para ele. Mas os pensamentos ainda vinham, sem nenhum aviso, e com muita dor no coração.

O jovem desceu as escadas para encontrar tia Cass, que estava no sofá com Mochi em seu colo. Quando se aproximou, Tadashi percebeu que sua tia assistia a uma gravação antiga.

Ela olhava a tela da TV com um ar triste. Estava assistindo um vídeo do décimo aniversário de Hiro. O garoto tinha atirado um pedaço de bolo na cara de Tadashi, que começou a perseguir seu irmão em volta da mesa. A tia Cass do vídeo podia ser ouvida rindo alegremente, a câmera balançando.

Cassandra deu uma risadinha triste enquanto assistia. Tadashi observou o vídeo por um tempo até Mochi notar sua presença e começar a miar. Tia Cass pausou a gravação e encarou o sobrinho até pular do sofá. Ela secava as lágrimas rapidamente antes de ir em direção a Tadashi, perguntando como ele estava e se precisava de alguma coisa. O jovem adulto abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada.

Ela entendia... Mais do que ninguém.

Ela abriu os braços e só se passaram alguns segundos antes de Tadashi retribuir o abraço.

Ele decidiu voltar para a faculdade depois de alguns dias. Tia Cass disse que ele poderia demorar um pouco mais, e que não tinha problema. Mas Tadashi sabia que deveria ser forte e seguir em frente. Ele não podia ficar trancado para sempre. Hiro não iria querer isso.

Seus amigos fizeram o possível para apoiá-lo. Eles checaram em Tadashi para verificar se tudo estava bem e disseram que nunca esqueceriam Hiro. O grupo não mencionou nada sobre o Big Hero 7 ou Callaghan. Afinal, sabiam que aquela não era uma hora certa.

Tadashi nunca teve que usar seu sorriso forçado tantas vezes em um dia. Ele nem aguentava ver o memorial que tinham preparado para Hiro na faculdade e, quando começou a primeira aula, o jovem não pôde se conter e teve que se retirar.

Nos dias seguintes, seus amigos visitavam sua casa para deixar o dever de casa e anotações ou simplesmente para tentar fazer Tadashi sair de seu quarto, deixar a luz entrar e fazê-lo comer alguma coisa. Todavia nem mesmo o bom humor de Fred foi o suficiente para fazer Tadashi parar de se culpar pelo que tinha acontecido.

Tadashi não conseguia seguir em frente. Por mais que ele tentava, era simplesmente impossível.

Ele nem conseguia se forçar a dizer um “Ai” quando seus amigos trouxeram Baymax em seu quarto, afirmando que o robô poderia ser de grande ajuda.

É claro que Tadashi não aceitou essa notícia logo de cara. No hospital foram necessárias três enfermeiras para segurá-lo e outra para aplicar um calmante. Depois de alguns dias ele ainda estava em negação, e sua cabeça doía com perguntas e dúvidas sobre o incidente. Os agentes de Krei vasculharam o local e todos diziam que era impossível Hiro ter sobrevivido a uma queda daquelas.

Obviamente Tadashi não desistiu e começou a fazer de tudo para ajudar em alguma coisa. Ele precisava pensar mais e só aceitaria a morte de seu irmãozinho se realmente visse o corpo. Arrepios percorriam sua espinha só de pensar nisso. Porém os dias foram passando e ninguém encontrava nada. Tadashi se trancou no quarto e chorava toda vez que olhava para o outro lado do quarto.

O quarto de Hiro não havia nem sequer sido tocado. Tudo estava bagunçado do jeitinho que o garoto tinha deixado da última vez. Tia Cass quis arrumar, mas Tadashi não deixou. Ele observava a cama bagunçada e era como se Hiro ainda estivesse lá com eles. Tadashi sabia que isso não era saudável, mas não se importava. Ninguém tocaria nas coisas de Hiro e o irmão deixaria assim.

– Hey, Tadashi, querido. – Tia Cass cumprimentou em um tom gentil enquanto entrava no quarto com um prato na mão. Ela encarou Tadashi deitado na cama encolhido com um cobertor e suspirou.

Cassandra cuidadosamente desviou dos papéis amassados, lenços, roupas e aparelhos quebrados que contornavam o cômodo. Seu sobrinho descontou toda sua raiva e frustração no seu quarto, mas ela não deixou de perceber que o quarto de Hiro permanecia intocável.

– Eu fiz café da manhã pra você – disse ela antes de colocar o prato na escrivaninha e pegar o outro que tinha deixado ontem à noite. Tia Cass franziu as sobrancelhas quando viu o jantar quase intacto, mas decidiu não protestar. Estava cansada de repreender Tadashi pelo seu hábito alimentar, e já não adiantava mais.

Depois de organizar um pouco o quarto do estudante, ela foi até as janelas e abriu as cortinas, deixando um pouco de luz entrar.

– A secretária de Krei ligou essa manhã – Ela virou para observar Tadashi, ainda imóvel – Disseram que não acharam nada ainda, mas não vão desistir tão cedo. – Tia Cass fez o possível para conversar com seu sobrinho, porém era inútil. Havia semanas que qualquer assunto que falava virava um monólogo.

– E... – Cassandra mordeu o lábio inferior, tentando não demonstrar seu nervosismo – A faculdade ligou também. Eles mencionaram sua ausência, mas disseram que estava tudo bem, você pode levar o tempo que precisar.

Tadashi se moveu em sua cama, mas não disse nada. Tia Cass andou em sua direção, se perguntando se ele estava dormindo. Ela tirou o cobertor e viu que seu sobrinho estava bem acordado. Com base nas suas enormes olheiras, ele não tinha dormido novamente.

Ele pareceu extremamente cansado, quase parecendo um cadáver. Tia Cass absolutamente odiava pensar assim de seu sobrinho quando Hiro já estava... Ela nunca conseguia terminar esse pensamento. Ela notou que nas mãos de Tadashi, posicionadas em seu peito, estava o robô que Hiro tinha feito um tempo atrás. Qual era o nome? Megabot...?

– Oh, querido... – suspirou ela, sentando na beirada da cama e acariciando a cabeça de Tadashi. Isso fez com que ele levantasse devagar, esfregando os olhos cansados. Ele tentou forçar um sorriso, mas parecia mais uma careta.

– Desculpa, tia Cass – Ele murmurou, Megabot ainda pressionado em seu peito – Eu te ouvi... É só que...

Ela o puxou para um curto abraço, pois sabia que ambos precisavam naquele momento.

– Eu... Vou me trocar, e... – Tadashi murmurava enquanto dava uma boa olhada no seu quarto.

– Leve o tempo que precisar, Tadashi – Tia Cass o assegurou e depois saiu do cômodo, dando a seu sobrinho sua desejada privacidade.

No segundo em que a mulher fechou a porta, ela pressionou suas costas na madeira e soltou um suspiro estremecido. Honestamente, ela não sabia como Tadashi agüentava ficar trancado em seu quarto. Cass não conseguia nem olhar para o quarto de Hiro sem deixar uma lágrima sair.

Hiro aparecia constantemente em sua mente. O pequeno garoto de quatro anos que se agarrou em sua saia por vários dias depois que ele e seu irmão se mudaram. O pré adolescente que fazia pequenos robôs para alegrá-la e reclamava de seus abraços, mas sempre os devolvia com o mesmo amor.

Sua casa parecia tão sem vida agora. Não existiam mais sorrisos, pelo menos não os verdadeiros. E tudo estava tão quieto... Não havia mais barulhos de seus meninos encrenqueiros correndo para lá e para cá e ficando super agitados por causa de alguma nova invenção.

Descendo as escadas, ela parou para observar um retrato da parede com seus sobrinhos sorrindo alegremente.

– Me desculpe, Tomeo... – sussurrou ela antes de limpar uma lágrima e continuar a andar.

–-

– Nós estamos preocupados com você! – exclamou Honey Lemon depois de ter ouvido Tadashi falar, com uma voz cansada, para pararem de visitá-lo.

– É, bro! Você é nosso amigo! – Fred adicionou, movendo-se para colocar sua mão no ombro de Tadashi, mas este o rejeitou.

– Eu preciso que vocês saiam – repetiu Tadashi, encolhendo em sua cadeira quando sentou.

– Tadashi, se trancar aqui não é saudável pra você! – Wasabi exclamou, tentando racionalizar com ele.

– Mas é o que eu quero – Tadashi respondeu.

– Você acha que Hiro iria querer isso? – Gogo perguntou rangendo os dentes.

O nome de Hiro foi a gota d’água necessária para fazer Tadashi pular da cadeira, seus punhos fechados com força. Os outros olharam ansiosamente para Gogo, que fitou o olhar zangado de Tadashi com a mesma intensidade.

– Vão embora – Ele ordenou, sua voz tremendo de frustração e raiva.

– Tadashi-

Vão embora!

Sem mais uma palavra, seus amigos o encararam durante alguns segundos até fazerem o que ele disse.

–-

A primeira coisa que Tadashi fez pela manhã foi cobrir todas as janelas que sua tia Cass tinha aberto. Em seguida foi até a mesa desarrumada que foi uma vez de Hiro e colocou cuidadosamente Megabot em seu lugar de sempre.

Quando foi em direção a seu quarto para voltar à sua cama, seu pé acidentalmente bateu na beirada da mesa.

– Ai! – gritou, pulando com o outro pé por um pouco enquanto esperava a dor passar.

Um bip e então o som de algo inflando foi ouvido e Tadashi estava confuso por um segundo até se lembrar de um certo alguém que seus amigos trouxeram em seu quarto semana passada.

– Ah, que ótimo... – Ele murmurou para si mesmo, virando-se para encontrar Baymax.

– Olá, eu sou Baymax, seu agente pessoal de saúde – O robô cumprimentou seu criador.

– Baymax – Tadashi respondeu e soltou um suspiro – D-Desculpa. Eu não quis te ativar.

– Eu fui alertado com um som de angústia. Qual é o problema?

Tadashi suspirou novamente, seu rosto entristecendo e seus olhos encarando o chão.

– Qual é o problema, você diz? – Ele deu uma risada seca e sarcástica – Desculpa, amigão, mas você não é capaz de consertar esse problema.

– Eu estou captando emoções semelhantes às de Hiro onze meses atrás – Baymax o encarou e Tadashi levantou a cabeça.

– Quê? Está falando do Segredo dos Nove Meses? Quando eu morri e o Hiro... – Ele mordeu os lábios, não querendo terminar a frase. Em seguida ele fitou o robô com uma expressão aflita – Você poderia me mostrar mais vídeos do Hiro antes dele... Sabe, voltar no tempo? – Depois de uma pausa Baymax respondeu:

– Claro, Tadashi. Mas antes, preciso informar Hiro. Não estou detectando sua presença em meus sensores. Onde ele está?

Tadashi arregalou os olhos e sentiu um nó na garganta, lágrimas ameaçando aparecer outra vez. Ele encolheu-se e passou as mãos em seus braços em uma tentativa de se abraçar, como se a dor fosse embora se ele ficasse miserável o suficiente.

Baymax não sabia...

– Desculpa, Baymax – Ele começou, não sabendo exatamente como dar a notícia para Baymax. Nem sabia porquê estava pensando nisso, sendo que era somente um robô – O Hiro morreu.

Houve um silêncio esmagador e tudo o que Baymax fez foi piscar algumas vezes, como se estivesse pesquisando em seu banco de dados uma reação adequada para a situação.

– Sinto muito, Tadashi – O robô quebrou o silêncio depois de alguns minutos, mas não se moveu de seu lugar – Como aconteceu?

Tadashi se sentiu como alguém estivesse pisando em seu coração e o cortando em pedacinhos ao mesmo tempo enquanto tentava explicar (através de soluços e pausas) à Baymax o que tinha acontecido. O robô ouviu atentamente ao jovem e depois que Tadashi terminou, recebeu um abraço de Baymax, que como sempre, tentava de tudo para melhorar o humor de seus pacientes.

– Desculpe-me, Tadashi – Baymax disse após quebrar o abraço.

– Tudo bem, Baymax. Eu já disse: não foi culpa sua – Tadashi tentou sorrir para assegurar o robô que ele não tinha causado nada disso.

– Não.

Tadashi franziu o cenho.

– Não?

– Eu falhei, Tadashi – disse Baymax em um tom mais baixo e Tadashi podia jurar que havia pelo menos um pouco de emoção nos pequenos olhos do robô – Você me programou para ajudar os outros. Hiro era meu principal paciente, e mesmo assim não pude ajudá-lo.

Baymax olhou para baixo como estivesse se redimindo, e Tadashi não podia acreditar. Estaria Baymax expressando algum tipo de emoção? Não. Isso era impossível. Tadashi estava mesmo doente.

– Tudo bem, Baymax – ele disse em um tom gentil, fazendo com que Baymax voltasse a fitar o estudante – O que está feito está feito. Não podemos mudar o passado.

Seus olhos se arregalaram e alguma coisa clicou dentro de sua mente.

– Ou... Será que podemos? – Ele andou em direção a Megabot e o pegou delicadamente, observando sua cara raivosa vermelha e cômica. Tadashi de repente virou para sua criação com um brilho inexplicável nos olhos – Você disse que você e Hiro tinham voltado no tempo. Como?

Baymax piscou algumas vezes, tentando processar uma resposta plausível.

– Eu não fui informado sobre como fomos parar no passado. Sinto muito. – Tadashi olhou Megabot novamente como se o mini robô tivesse todas as respostas. Porém dessa vez, Tadashi não ia desistir.

– Eu vou encontrar Callaghan. Não sei como, mas eu vou – Ele apontou para Baymax – E você vai me ajudar.

Ele tinha dito para seu irmãozinho que não desistiria dele, e era uma promessa. Alguns minutos depois e Tadashi tinha ido com Baymax em direção à garagem. Megabot foi colocado de volta, sentado na mesa de Hiro com sua cara vermelha e maléfica agora amarela e feliz.


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Notas finais do capítulo

pra aquelas pessoas que ainda pensam que hiro está vivo: *entrega pipoca e lenço de papel* COF COF OII PESSOAL *MANDA BEIJO* meu deus, escrever a tia Cass triste foi a pior parte de qualquer fanfic que eu já escrevi. Simplesmente quebrou meu coração. Acho que quando você percebe que aquela pessoa que parece invencível e sempre está feliz não é feita de ferro, as coisas ficam muito tristes :( mas é a realidade, pessoal
Ok, vou ficar séria agora *ajeita o sutiã* vcs que tem algum parente ou alguém próximo que faleceu (não importa se é recente ou faz anos) e querem falar com alguém eu estou aqui. Eu posso não ter tido essa experiência de perder alguém tão proximo de mim (ainda bem) mas fiquem sabendo que eu já passei por muita merda, e sei como consolar um amigo que está em pedaços. Vocês são todos meus amigos (até mesmo os bichinhos escondidos que não comentam e.e ) e saibam que estou aqui por vocês e sempre estarei.
Acho que é isso. Ainda estou trabalhando no próximo capitulo da fic "Obsessão" então esperem mais um pouquinho ç.ç obrigada aos que sempre comentam e até aos leitores fantasmas que não avisam sua presença mas acreditem: *sussurra: eu sei q vcs tao ae*