Hold On escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 2
Capítulo Dois - Eu não sabia o que fazer, só sabia que tinha que fazer


Notas iniciais do capítulo

Pedimos desculpas pela demora, tivemos muitos contratempos e, principalmente, provas no colégio. Queremos agradecer pelos comentários, ficamos muitíssimo felizes pela resposta que tivemos!
Esquecemos de avisar que os capítulos terão banners, por isso alguns devem demorar mais para ser postados. Se puderem, voltem no primeiro para dar uma olhada no banner. Todos eles são feitos pela Lady Malik, do Sweet Madness Design.
Outra coisa que não dissemos antes é que essa será uma shortfic. Não serão quatro ou cinco capítulos, só que não vai ter o tamanho comum de uma fanfiction. Estamos pensando em algo depois dos vinte capítulos, mas tudo depende da nossa criatividade e dos leitores.
Perdão pelo nome grande, é que todos os títulos serão trechos ou falas dos capítulos, então a culpa meio que não é nossa...
Boa leitura!



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Ficar deitada não ajudaria muito, mas não havia muito a ser feito naquele momento. Beth não tinha um plano em mente, e sair correndo como uma louca estava totalmente fora de questão. Ter paciência seria o melhor caminho. O único problema, em que a jovem havia pensado durante toda a noite, era Dawn. Certamente sua punição não seria nada piedosa, e talvez aquilo a prejudicasse muito fisicamente, a ponto de atrapalhar uma nova tentativa de fuga. Isso se ela não fosse morta.

Greene aceitaria sua pena da melhor forma possível, pois seria muito difícil recuperar a confiança das pessoas do hospital, e esse era o seu plano: encontrar uma brecha, esperar que abaixassem a guarda. Ela não era uma boa atriz, contudo se passar por uma garota frágil não deveria ser tão custoso. Beth sabia que não era mais a mesma de anos atrás, ela não era fraca, pelo menos não desejava isso. A jovem queria um dia ser como sua irmã, ou talvez até mesmo Michonne, ela almejava muito se tonar uma sobrevivente de verdade, capaz de se proteger sozinha.

Avaliando o Grady Memorial, seus métodos e sua organização, era impossível não se lembrar das civilizações antigas que estudara na escola, em uma época tão distante, em que todos consideravam a História inútil. Mas, naquele momento, estava tendo a utilidade que a loira sempre soubera, quando ela era uma garota que tocava piano, cantava e só comia vegetais. A situação dos pacientes era a mesma de alguns povos da antiguidade: uma escravidão por dívidas que nunca acabava, pois os gastos para a sobrevivência básica somavam altos juros que prolongavam mais o tempo de trabalho. Havia doentes e idosos naquele hospital, pessoas que nunca teriam condições de fazer algo para mudar isso. Beth queria ajudar as pessoas fracas do Grady Memorial, e, em contrapartida, planejava fugir e deixar os mesmo para trás. A verdade, mesmo que fosse dura de aceitar, era que ela não poderia fazer nada por eles, por isso torcia para que a sua fuga servisse de exemplo.

Passos no corredor a despertaram desses pensamentos, deixando a jovem de olhos azuis em alerta. Apesar das luzes apagadas, era óbvio que alguém estava passando pelo local, que costumava ficar totalmente deserto durante a noite, exceto quando algum policial resolvia fazer uma visita noturna a alguma paciente. Beth desprezava muito aquilo, sentia pena das mulheres que sofriam aquele abuso e repudiava Dawn por permitir tais situações, apenas para manter tudo sob controle, mesmo com o mundo de cabeça para baixo.

Talvez fosse a chefe dos policiais. Melhor assim, seu destino seria traçado e agonia da espera teria seu fim na calada da noite, assim a loira não teria que dormir imaginando o que a aguardaria no dia seguinte, se conseguisse dormir.

Os passos pararam próximos à porta, e Beth sentiu que a pessoa estava prestes a entrar. Segundos hesitantes se seguiram, e, já sentada na cama, ela pôde ouvir claramente a respiração descompassada do ser humano que parecia se decidir entre tentar recuperar o fôlego ou entrar de uma vez. A maçaneta se moveu lentamente, como se a pessoa não quisesse emitir algum ruído, uma atitude deveras suspeita. A garota se levantou de forma demorada, não conseguindo se segurar de ansiedade, e apoiou as costas na parede, já sentindo a coragem anterior se esvair.

Após uma longa pausa, a porta finalmente se abriu, e o primeiro a entrar foi um pequeno feixe de iluminação, que atingiu certeiramente seus olhos. Assim que eles se ajustaram ao excesso de luminosidade vindo de uma lanterna, Greene pôde distinguir a figura que invadiu seu quarto. Um garoto negro e manco deu alguns passos à frente, olhando para todos os lados tentando se certificar de que estavam sozinhos. Só depois da precaução inicial ele se deu ao luxo de relaxar e formar um brando sorriso, enquanto abaixava a lanterna.

– Noah? – ela sussurrou, se sentindo realmente confusa. Beth vira claramente o momento em que seu parceiro atravessara a grade que os separava da liberdade, por isso sabia que o jovem tinha ido embora para encontrar a sua família. Não fazia sentido algum que ele estivesse na sua presença depois daquilo.

– Que bom que você está aqui! Eu pensei que fosse chegar tarde de mais... Você sabe, a Dawn com certeza pretende fazer alguma coisa com você.

– Eu estou aqui, mas o que você está fazendo?

– Eu vim te tirar daqui – Noah respondeu como se fosse o trabalho mais simples do mundo, na condição em que se encontrava, machucado e sem suprimentos. A jovem não se sentia nada bem com aquela situação, sabendo que ele se arriscara para salvá-la.

–Eu estou falando sério, Noah. Você tinha conseguido fugir, não podia voltar. Você ia atrás da sua família.

Olhando por outro ângulo, Beth percebia que, no fundo, não havia tanto lugar no mundo para pessoas tão puras. O egoísmo, por mais que doesse aceitar, poderia ser melhor que o altruísmo na sobrevivência. Ela entendia o porquê de Daryl ter tentado torná-la forte, para que a loira pudesse se virar quando não tivesse outra pessoa para ajudá-la. E, mesmo que o caçador tivesse tentado se mostrar indiferente para que ela seguisse seu exemplo, Dixon fugia à própria regra, pois havia voltado para salvá-la inúmeras vezes.

– Eu não sabia o que fazer, só sabia que tinha que fazer. Foi involuntário, sabe? Eu precisava voltar pra te ajudar.

– Eu não quero soar muito rude, mas estou preocupada com você. Tem noção do que arriscou? Você jogou no lixo as suas chances de fugir.

– Você devia se preocupar mais consigo mesma, sua aparência é péssima, e a Dawn vai piorar isso. Entende por que eu não podia te deixar pra trás? – ele apontou para a nova cicatriz no rosto da amiga, mesmo com a lanterna já apagada a garota tinha certeza de que ele já vira e lembrava dos pontos em sua testa. Não que ela se importasse muito com a aparência, todavia aquelas marcas não poderiam ser ignoradas. De repente, Noah pareceu se lembrar de algo, porque adquiriu uma postura inquieta. – Temos que sair daqui logo.

– O que você está fazendo? – a jovem indagou assustada quando o viu pegando sua mão e começando a puxá-la para fora do quarto.

– Beth, nós vamos fugir de novo. Só que dessa vez vamos sair juntos.

– E como você espera fazer isso?

– Do mesmo jeito que eu entrei: pelas escadas. Falta algum tempo para a troca de guardas, mas talvez a gente consiga pegar ele distraído – Noah esclareceu no mesmo tom baixo que fora usado durante a conversa. Em seguida, os dois começaram uma rápida e silenciosa caminhada pelo corredor.

Fazia duas horas desde a fuga e ele tinha acabado de encontrar uma bolsa com garrafas vazias, uma lanterna com pilhas e um cobertor, além de uma pistola descarregada, quando decidira voltar. Depois de correr o dia inteiro, com aquela dor insuportável na perna esquerda, o afro-americano percebera como estivera inseguro, com medo de ter sido perseguido pelos guardas ou de encontrar um número considerável de andarilhos. Parando para descansar, o jovem notara o que havia feito e, pensando em Beth, soubera exatamente o que tinha que fazer, ou pelo menos que precisava fazer algo. Depois de tanto tempo naquele hospital, o garoto tinha decorado as trocas de turnos dos guardas na passagem opcional das escadas, que no passado fora utilizada para as pessoas que preferissem não usar o elevador ou em casos de incêndio, por isso não havia sido muito difícil entrar em um momento de distração. A verdade era que imaginar o que a loira fizera por ele e a imagem do sorriso dela quando fora derrubada eram coisas que ele não seria capaz de suportar se tivesse seguido em frente. Noah ainda queria procurar sua família, mas queria fazer isso ao lado dela.

A garota de olhos azuis aparentava ser tão frágil e, ao mesmo tempo, tinha muitos créditos pela fuga dele. Não importava o que fosse, ele não poderia abandoná-la, não com aquela dívida. Ninguém merecia estar no Grady Memorial, aquilo não era vida, era escravidão. Era claro que não dava para salvar todas as pessoas, principalmente desarmado, e o jovem só teria uma chance. Além do mais, Beth faria o mesmo por Noah.

Quando chegara aos arredores do hospital, já era noite e os últimos veículos voltavam para a garagem. Lembrando de algumas informações valiosas que conseguira ouvindo conversas escondido como ajudante de Dawn, o afro-americano conseguira entrar furtivamente no local e seguir para a lateral, encontrando o local de guarda vazio. Esse tipo de descuido era muito comum entre os prepotentes policias do Grady Memorial, tudo o que eles mais desejavam era o fim de seus respectivos turnos para sair rapidamente de onde estavam, em busca de uma paciente considerada atraente ou simplesmente para descansar. Noah adentrara no hospital segundos antes do próximo guarda chegar, tendo que se esconder atrás de uma pilha de caixas. A partir daquilo, ele não havia tido muitas dificuldades para encontrar um novo esconderijo e aguardar o momento em que as luzes se apagariam e a vigília ficaria mais fraca, o jovem tivera muito tempo para decorar cada canto daquele prédio. Apesar disso, Noah estivera tenso o tempo inteiro, sentindo que a cada instante alguém poderia ouvir o arrastar de sua perna manca ou seus batimentos cardíacos, que mais pareciam um trem de carga descontrolado e velho. Se Dawn o tivesse encontrado, seus planos teriam ido por água abaixo, sem contar que isso poderia ter configurado em maiores punições para Beth. Além disso tudo, essa tentativa de heroísmo, se chegasse a ser fracassada, custaria sua liberdade.

Voltar as respirar os ares do hospital, pisar naquele corredor e olhar para aquelas paredes trouxera uma sensação de cárcere. Seu curto período de libertação fora o suficiente para mostrar o que o garoto tinha deixado de aproveitar e o quanto aquilo era bom. Sua respiração acelerada poderia ser explicada pelo fato de que seus pulmões haviam se acostumado com o ar natural do lado de fora. Os olhos, percorrendo o teto constantemente, pareciam procurar pelas estrelas que Noah vira horas antes.

As escadas, que sempre foram um ponto de constante vigília, tinham sido um pouco negligenciadas em prol do elevador, para impedir que outro paciente tentasse repetir a façanha de Noah. Aquela decisão fora um tanto equivocada, uma vez que seria muito mais fácil fugir pela escadas, porém, para Dawn e outros policiais, a medida havia sido necessária, pois todos conheciam a saída e as brechas que a loira e o negro haviam apresentado pela manhã, a notícia correra pelo local. Descendo o último lance dos degraus escuros, a dupla seguiu com cautela até a porta entreaberta. O garoto levava a pistola na mão, quem quer que fosse a pessoa que estivesse do outro lado, não saberia que a arma estava descarregada.

– Pensei que as escadas eram mais vigiadas – Beth comentou num tom quase inaudível.

–Eu também, até hoje – Noah observou pela fresta da porta, tomando cuidado para não ser visto na escuridão. – Só tem um guarda.

Um guarda. Aquilo era a única barreira entre os dois e a liberdade. Um contra dois. Um homem armado e treinado contra dois jovens praticamente de mãos vazias e sem muitas noções de combate. Olhando assim, parecia bastante fácil perto da fuga anterior, fora pela arma de fogo que o homem portava. Ambos pensaram que, se tudo fosse feito da maneira certa, poderiam sair.

– Aquele balcão atrapalha a visão dele – o afro-americano acrescentou dando espaço para que Beth também visse o ponto-cego.

– Podemos atravessar até lá e rastejar pelo balcão – não havia argumentos contra um plano tão simples, no momento não parecia tanto ruim quanto seria no futuro. – Você vai primeiro.

– Beth... – o jovem não queria correr o risco de deixá-la para trás novamente. –Você conhece as regras, as damas primeiro.

Contrariada, a loira resolveu atender o pedido do amigo para evitar discussões e se adiantou. O policial se localizava exatamente no centro da recepção, alguns metros à esquerda do balcão. O homem andava em círculos pelo local, de forma que podia observar todos os cantos em determinado espaço de tempo, apesar de não estar prestando atenção em nada em especial. No momento em que ele deu as costas para a porta, Beth se agachou e foi de maneira rápida, porém furtiva, até a lateral do balcão. Fora do campo de visão do guarda, tudo o que ela podia fazer era aguardar a chegada de seu parceiro enquanto se arrastava em direção à saída. No momento em que alcançou a metade do caminho, Noah já se preparava para ir ao seu encontro.

O garoto começou a se esgueirar perto da parede, tentando usá-la como apoio. Devido ao ferimento na perna, ele não era capaz de ir tão rápido assim, principalmente quando carregava uma bolsa com algumas garrafas vazias e um cobertor, além da lanterna e alguns objetos que não aparentavam ter utilidade para o afro-americano, que não fazia ideia do erro que cometera ao não entregar aquilo para Beth. No momento em que o policial estava se virando em sua direção, o jovem perdeu o equilíbrio, de forma que suas costas se chocaram contra a parede, produzindo um pequeno ruído.

Por uma fração de segundo, Noah ficou estático, pensando no que viria em seguida. Seu cérebro só foi capaz de dar um comando quando o homem magrelo, careca e de meia-idade se virou para procurar a origem do som, tentando se despertar do estado de sonolência. Instantaneamente, o garoto negro pegou sua pistola prateada e apontou para ele, tentando ao máximo não demonstrar seu medo e esconder a tremedeira. Aquilo não pareceu intimidar o oficial, que começou a se aproximar para tirar a arma das mãos do fugitivo que acabava de se colocar de pé.

Quando Beth se levantou, viu os dois no chão, em uma luta desigual. O homem calvo havia pulado por cima de garoto e assim ambos caíram no chão. Enquanto o policial tentava pegar seu revólver no coldre, Noah fazia de tudo para impedi-lo. Não sabendo ao certo o que estava fazendo, a garota pulou sobre o balcão com agilidade e se lançou no campo de batalha. O inimigo não teve sequer tempo de ver quando o cotovelo direito da loira colidiu em seu nariz. Ela estivera certa ao pensar que teria mais força assim do que se tentasse dar um soco ou qualquer coisa parecida. O golpe deixou o homem atordoado por certo tempo, buscando se equilibrar enquanto levava outra mão ao rosto coberto de sangue quente. No momento em que o policial esticou o braço na direção dela, Noah pegou sua pistola e atingiu a cabeça do guarda com a coronha dela.

Antes que algo pudesse ser feito, Beth levou seus dedos trêmulos ao coldre do homem inconsciente, pegando seu revólver. Sem pensar duas vezes ou olhar para trás, o garoto puxou a mão da amiga sem muita delicadeza e com convicção, tudo para afastá-los daquela cena. Ele não precisa ver os olhos claros dela para notar o quanto estava aturdida. Noah não ficava para trás nesse sentido, ele nunca fizera algo parecido. A agressão, que fora feita por puro instinto, também o abalara. Mesmo assim, os dois seguiram em frente, nada mais estava no seu caminho.

Eles seguiram pelo pátio do hospital com um ritmo menos acelerado que o anterior. Alguns errantes se aproximavam, contudo ambos sabiam que não poderiam cometer o erro de puxar o gatilho. Por isso, e pelo fato de serem poucos mordedores, a dupla se limitava a desviar deles, empurrando-os no chão quando era necessário. Em dado momento, quando se aproximavam do portão, Beth simplesmente parou de andar, soltando a mão de Noah e o olhando fixamente.

–O que foi? – ele indagou em um tom de confusão e agitação, querendo sair o mais rápido possível daquele lugar.

– Por que você voltou? – a voz da garota indicava que ela estava falando sério dessa vez, como se buscasse uma resposta mais concreta, sem repreendê-lo. Olhando para trás e para tudo que seu parceiro havia simplesmente ignorado, incluindo sua liberdade, apenas para salvá-la, Greene estava mais que confusa e desejava mais do que tudo uma explicação por parte dele.

– Que pergunta idiota! Você sabe o por quê. Vamos sair daqui logo.

Não era uma pergunta tão idiota assim, o jovem apenas não sabia como e o que responder. Talvez fosse por gratidão, por se sentir em dívida com aquela loira, talvez não fosse só isso. O que sabia era que, mesmo sem ter noção do que havia feito, ele havia feito algo importante.


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Notas finais do capítulo

Ficou maior que o anterior, e esse deve ser o tamanho mais ou menos de todos. Alguns devem ficar maiores, outros menores, mas ainda estamos no começo.
Como viram, o Noah fará parte do grupo inicial de quatro mencionado anteriormente, só não falamos o nome do personagem na sinopse para não entregar. Tínhamos o colocado na história muito antes da morte dele (muito triste!), nós adoramos o Noah e tentaremos explorá-lo ao máximo.
O próximo não tem previsão de postagem, ainda nem sabemos quando pediremos o banner.
Então, o que acharam? Comentem!
Até mais!