A Princesa da Academia escrita por HNRibeiro, Sayuri


Capítulo 2
Capítulo I - Princesa Esther Alves




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O sinal tocou e eu suspirei. Sabia que dia era hoje. Era o dia da Classificação. Olhei para o teto, sentindo a ponta dos meus dedos tremerem. Não era possível que tudo pudesse estar errado, era? Pulei de cima da cama.

Dividia o quarto com mais três meninas. Sofia Santos era hiperativa, o que a fazia pular da cama cedo. Entretanto, Amanda Bernardes e Luciana Ribeiro ainda estavam dormindo. Agachei-me ao lado de Luciana, balançando seu ombro.

– Esther, me deixe dormir. – Seus cabelos negros estavam revoltos e me lembrei que a mãe de Luciana era dos Lima. Nas terras do Ágora, todos tinham cabelos escuros, apesar de que a pele clara era como a de todos que moravam nos Estados Sulistas.

– Vamos! A Classificação começa às 10h!

– Que horas são? – Ela sussurrou, abrindo um pouco seus olhos castanhos. O lado esquerdo de seu rosto estava marcado por causa do travesseiro.

– 7h45min – respondi prontamente. Ela me deu as costas.

– Me deixe dormir.

Sabia que o assunto estava encerrado. Quando fui me erguer, Amanda já me repreendeu.

– Nem comece; Estou dormindo.

Eu sorri e deixei pra lá, indo tomar um banho, e vestindo o que os Mestres nos deixaram. Jeans escuros e uma camisa de manga cumprida. Era dezembro, e o clima estava frio – apesar de que todos nós sabíamos que a temperatura era controlada na sala de controle.

Nos livros de escola, dizia-se que julho era inverno. Mas, depois que os domos foram instalados, seguimos o controle internacional. Para eles, inverno era em dezembro e pronto.

Saí do dormitório feminino. Era um alojamento com vários quartos iguais ao nosso. Morávamos ali desde que tínhamos sete anos. E estávamos para completar quinze. Os Três Mestres iriam nos separar hoje. O que seriamos, após isso, era um ponto de interrogação.

Ao sair para o pátio, vi algumas meninas percorrendo por ali. Achei Sofia perdida, lendo um livro grosso. Ela estava querendo ser uma das Magistradas, apesar de ser filha do Segundo Mestre da Academia. Luciana era filha do Primeiro Mestre.

E eu, como a azarada do grupo, era filha do Rei de Prata. Sofia não ergueu os olhos enquanto me aproximei, mas quando minha sombra interrompeu sua leitura, ela se virou para mim – primeira carrancuda, depois com um grande sorriso.

– Esther! Onde Amanda e Luce estão?

– Dormindo, para variar. Lendo sobre o quê, dessa vez?

– História. Nunca fui muito boa nessa área.

– Hoje é o primeiro exame. Agricultura e Finanças.

Ela concordou com a cabeça.

– Sei que vou reprovar de qualquer jeito. Talvez só me salve em Finanças, afinal, gosto de Matemática.

Fiz uma careta. Odiava Matemática.

– Posso lhe ajudar, se quiser.

Sofia era a única que queria mudar de Estado. Ela provavelmente se casaria com os herdeiros de um dos Mestres da Acrópole e viveria como uma professora ou médica. Ela tinha facilidade em ambos os casos.

Se eu tivesse irmãos homens, talvez também quisesse mudar. Ser uma Produtora, onde o dinheiro corria rápido, ou até mesmo uma Magistrada e me dedicar à tecnologia ou relações internacionais. Mas, sendo a Princesa da Academia e não tendo irmãos, eu tinha que passar por todas as provas e me tornar uma Guerreira. Meu pai esperava por isso.

Ficamos algum tempo nos dedicando à História dos Estados Sulistas. Era longa e nem um pouco legal de se estudar, mas algo me fascinava nisso tudo. Creio que o fim começou com os agentes de saúde. Quando o consumo desenfreado de drogas atingiu mais da metade da população do antigo país chamado Brasil, finalmente o Antigo Governo se mobilizou – mas de forma errada. A polícia e os agentes percorreram as ruas, prendendo todos os usuários que encontravam na frente. A lei havia sido clara. A primeira vez que eles te pegavam fumando, você seria preso e chipado. Na segunda, seria feita uma cirurgia para que não tivesse mais filhos. A terceira era a morte.

No primeiro ano, as prisões aumentaram em quatrocentas vezes. Em cinco anos, 100 milhões haviam sido mortos. Nossa taxa de natalidade caiu drasticamente. Cidades populosas como São Paulo e Rio de Janeiro tiveram uma grave falta de funcionários. Uma faxineira ganhava mais do que um CEO.

Foi quando houve as novas eleições e o Novo Governo se estabeleceu. O Senado e a Câmara dos Deputados foram extintos. Um golpe na democracia brasileira, que estabeleceu uma nova Monarquia.

Então aconteceu o Primeiro Levante, nos estados do Centro-Sul do país. Nos dois primeiros anos, 100 mil morreram. Quem podia sair do Brasil, assim o fez. A crise de energia e água se alastrou. Em meio a crise total, os países vizinhos tentavam tomar parte do território – principalmente onde a Direita era muito pesada, como Bolívia e Colômbia.

O Novo Governo caiu em sete anos, pois não havia como vencer duas guerras ao mesmo tempo. Foi erguida então uma Politeia. Os tratados com os países vizinhos diminuíram drasticamente nosso território – perdemos o Acre, Rondônia, Roraima, Amapá e grande parte do Amazonas e Mato Grosso. Os sobreviventes do primeiro levante criaram grandes colônias, e os drogados – os livros sempre os culpavam pelo início do nosso fim – eram apedrejados assim que descobertos.

Várias cidades ficaram destruídas. Brasília, Campinas, Belo Horizonte. São Paulo e Rio de Janeiro foram sede dos Levantes, mas ainda assim tiveram sua taxa de destruição. Dessa maneira, os estados da Região Sul se juntaram, formando um novo país, o Estado Sulista. Fazia 142 anos que havíamos sido fundados.

Nós vivíamos nas terras da Academia, que um dia fora chamado de Santa Catarina. A Academia, nossa principal sede, ficava onde um século e meio antes todo mundo chamava de Florianópolis. Nós estávamos do outro lado do território, na Segunda Radical.

Todas as crianças do nosso Estado, a partir dos dois anos de idade, eram deixadas aqui. Éramos filhos dos Guerreiros. Estudávamos meninos e meninas juntos até os sete anos. Depois, éramos separados e só voltávamos a nos juntos aos quinze, quando éramos Classificados.

Senti alguém fechar meus olhos.

– Adivinhe quem é? – Eu ri. Lógico que Luciana faria essas brincadeiras. Simplesmente tirei suas mãos de meus olhos e me virei para vê-la.

– São nove horas. Querem ver os novatos de dois anos que entram dia 01?

Acenei com a cabeça. No primeiro dia da Classificação, eles divulgavam a lista de novatos. Era a forma mais rápida de você descobrir se tinha irmãos ou não, pois nós não tínhamos contato com nossas famílias até os 15 anos.

– Acha que vai ter um que não irá chorar? – Amanda perguntou. Ela era filha de um soldado.

Ano passado, ficamos três noites sem dormir devido ao barulho do choro incessante. Dei de ombros.

– No final, não passam de bebês.

Paramos em frente ao mural de avisos.

– Algum sobrenome interessante? – Sophia perguntou. Ela já tinha uma irmã e um irmão ali dentro. Natália tinha 12 anos e Victor, 7. Passei os olhos nos sobrenomes.

– Nenhum pelo o que eu vi. Tem um Santos novo, é um primo seu, Luce.

– Sim. – Ela comentou, lendo o nome de seu tio. – Qual é o nome?

– Bruno.

– Ei, meninas. – Amanda murmurou. – Temos um Alves.

Ergui uma sobrancelha. Eu já havia tido primos ali, afinal meu pai tinha uma irmã, Bárbara, e um irmão, Orlando. Os três filhos de Bárbara – Emanuel, Thiago e Francisco – já haviam sido Classificados a poucos anos. Emanuel, o mais velho, acabou como um Produtor. Thiago e Francisco viraram Guerreiros.

Já Orlando, teve a mesma infelicidade de meu pai: seus filhos homens morreram. Guilherme, quando bebê. Pedro, durante um treinamento depois dos 15 anos. E o último, Rafael, morreu no parto, junto com a mãe. Mas, ao contrário de meu pai, ele não teve filhas.

– Qual é o nome?

– Felipe. – Murmurou Amanda. – Príncipe da Academia.


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