Evolution: Parte 2 escrita por Hairo


Capítulo 9
Brincando com água


Notas iniciais do capítulo

Galera, esse capítulo é um pouco mais leve.

Divirtam-se!



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– Olha – disse Mindy, apontando para um edifício que não parecia nem uma casa, nem um celeiro e, por isso, se destacava na paisagem rural em que o grupo se encontrava desde aquela manhã. Ele desviava das cercas de diferentes fazendas e, aparentemente, não era propriedade de nenhuma. A menina conferiu no mapa que carregava consigo antes de confirmar – Um centro Pokémon! Acho que arrumamos um lugar para comer e dormir!

– Será que eles estão servindo alguma coisa diferente? – começou Jake – alguma coisa frita, quem sabe? É muito difícil fritarmos alguma coisa na estrada, mas quem sabe hoje nós não damos sorte em? Um bife, um batata, ou então eles podiam misturar uns temperos bem diferentes e fazer um molho gostoso para um macarrão, se bem que nós comemos macarrão no outro dia, antes de entrar no bosque. Sabe o que cai bem com macarrão? Brusqueta! Minha mãe faz uma brusqueta maravilhosa. Só de pensar eu já to com água na boca...

– Então fecha ela para não babar – disse Mindy, cortando o menino e rindo, enquanto se encaminhavam para o centro para comer uma comida diferente daquela cozinhada por eles mesmos pela primeira vez em dias.

Liderados por Dave e Eevee, os amigos caminharam rapidamente em direção ao prédio, apressados pelos constantes gritos de reclamação dos seus respectivos estômagos. Eles haviam parado para comer do lado de fora da fazenda Maple há poucas horas, mas a longa caminhada fazia com que aquilo parecesse ter acontecido séculos atrás.

Mindy ainda não havia engolido o fato de que eles tinham sido expulsos da fazenda. Cian insistira em convidá-los para o almoço e eles haviam ficado muito animados, mas Olive não cedeu e os expulsou, ainda muito irritada com a derrota. Scarlet, que era a líder declarada das três, decidira abster-se da questão, o que irritou ainda mais o grupo. Mas nada daquilo tinha muita importância para eles. A refeição daquela tarde tinha sido uma das mais felizes desde que saíram de Cardo, uma vez que Dave, Mindy e Jake não conseguiam parar de quase babar em cima de seus amigos recém evoluídos. Eles tinham feito questão de liberar todos os seus Pokemons das Pokebolas para apresentar os mais novos membros de sua equipe e tinha feito uma farta refeição em comemoração. Só depois de tudo que a menina voltara a pensar no desaforo que tiveram que aturar por parte das Irmãs, lembrando-se com um sorriso maldoso do fato de ter mandado Charmeleon queimar a placa que contava os dias de invencibilidade das treinadoras antes de se encaminhar para fora da propriedade. Bem feito pensava ela, agora vão ter que começar a contar do zero mesmo...

Eles chegaram ao prédio cansados, tanto de andar quanto de ouvir suas barrigas roncarem e logo se encaminharam para o balcão onde a enfermeira Joy atendia os recém-chegados. Ela recebeu os Pokemons do grupo com um sorriso e Dave deu o costumeiro aviso de que Eevee tinha fobia a qualquer tipo de maquinas antes perguntou sobre o jantar. Para a decepção do grupo, ela os informou que a comida só seria servida dentro de uma hora.

– Mas eu to morrendo de fome! – disseram Dave e o ronco de seu estomago, em uníssono.

– Oras, então faça sua própria comida! Nossa cozinha tem seu horário fixo e nem você, nem eu, nem ninguém muda esse horário. – respondeu a mulher de cabelos rosa, um pouco ofendida pelo tom do rapaz.

Dave se assustou tanto com o tom repreensivo da enfermeira que simplesmente pediu desculpas e se voltou assustado para seus amigos, que ficaram tão desanimados quanto ele. Decidiram, obviamente, tolerar a fome um pouco mais, já que cozinhar alguma coisa demoraria quase tanto tempo quanto esperar que o jantar fosse servido, e então resolveram usar os videofones disponíveis para ligar para casa. Jake entrou em uma cabine privada vazia e Mindy entrou em outra enquanto Dave a seguia, afinal, ele também queria dar noticias ao Professor Noah.

– Olá Mindy, Dave – disse o pesquisador careca quando atendeu. Ele tinha um prato na frente da câmera, mas o escondeu antes que eles pudessem ver o qual era a refeição imprópria aquela noite.

– Olá vovô! Como vai a dieta? – perguntou a neta, de propósito.

– Oh muito bem, minha querida, não se preocupe. Acho que já perdi quase um quilo!

– Ótimo! Agora só devem faltar mais uns trinta... - riu-se ela. O velho ignorou a provocação como sempre fazia e prosseguiu.

– E vocês como estão? Nenhum dos dois me mandou Pokemons ainda – disse ele, cobrando – Para falar verdade, apenas Rusty mandou algum até agora. O que eu vou botar na minha revista? Estive esperando por notícias de vocês para fechar a edição desse mês!

– O Rusty já está te mandando Pokemons?! – disseram os dois juntos. Dave ficara vermelho de raiva.

– Sim, sim. E confesso que fiquei surpreso. Há uma semana ele mandou de volta justamente o Bulbassauro.

– O Pokémon iniciante dele?! – surpreendeu-se Mindy. – Mas por quê?

– Também não entendi, e ele não quis explicar – disse o pesquisador – Suponho que seja por que o Bulbasauro ainda é um Pokémon muito novo sabe. O dei ao Rusty ainda bem criança. Mas isso não importa agora não é? E vocês como estão?

– Eu peguei um Pidgey, e meu Sandshrew evoluiu para Sandslash! – disse Dave, feliz.

– Meu Charmander também evoluiu vovô! E eu ainda peguei uma Nidoran fêmea! – disse Mindy com um enorme sorriso – Lembra que eu falei que eu sempre quis um casal Pokémon?!

– Ho, parabéns, meus parabéns! Fico feliz por vocês. Mas bem que poderiam dar passos mais largos não? O povo quer noticias sabe, notícias realmente boas!

– Mas essas são noticias boas! – disse Dave revoltado. – Você não ouviu? Nossos Pokemons evoluíram!

– Eu entendo rapaz, eu entendo. Mas se vocês não capturam Pokemons as pessoas acham que vocês são preguiçosos e que não procuram direito entende? Por enquanto a evolução anima a edição desse mês, mas para o próximo eu preciso de quantidade meninos, quantidade!

Os treinadores ficaram um pouco decepcionados com o que o Professor dissera, e não tinham o que responder. Mindy não se desculparia. Ela estava incrivelmente feliz com o seu time e não se via capturando outro Pokémon agora. De repente, as palavras de Mary Jane voltaram a sua mente e se não tivesse sido a ruiva que as tivesse pronunciado, ela repetiria para seu avô agora mesmo. Dave, por sua vez, parecia verdadeiramente abalado. Não queria decepcionar o povo que lhe recebera tão bem e se sentiu atrasado. Rusty já capturou pelo menos seis Pokemons e o que eu peguei? Um Sandshrew em que eu tropecei e um Pidgey. Boa Dave, muito boa!

– Bom, tenho que trabalhar na edição da revista. Estava esperando por notícias diferentes e agora vou ter que mudar bastante coisa. Boa noite para vocês. – e o velho desligou a ligação, um pouco contrariado.

Mindy se levantou ainda chateada com o avô e pegou as coisas de seus amigos para levar para um quarto, enquanto abria espaço para o amigo discar para casa. De repente a perspectiva de falar com seus pais de novo animou Dave. Aquela região agrícola o lembrou bastante de casa e ele percebeu que sentia muita falta de trabalhar com o pai, além de, principalmente, comer a apetitosa comida de sua mãe. Mais feliz, discou os números e esperou ansiosamente que o atendessem. Antes de o primeiro toque ter terminado o rosto de Martha Hairo apareceu colado na tela, com uma expressão que surpreendeu o filho. Ela parecia assustadoramente preocupada.

– Dave? Graças a Deus é você Dave, estive tão preocupada! – disse ela a beira das lágrimas – Johnatan! Johnatan é o Dave, venha cá! – gritou ela para a porta dos fundos aberta.

O menino ficou assustado. Sua mãe sempre fora um pouco super protetora, mas não a esse ponto. Ele já havia ficado mais tempo sem manter contato desde que saíra de casa e nunca foi atendido desse jeito.

– O que aconteceu? Está tudo bem, mãe? – perguntou o rapaz, aflito.

– Sim, agora está querido – respondeu, suspirando aliviada. Jonathan chegava correndo por trás.

– Oi meu filho! Que bom que está bem... Eu e sua mãe estivemos morrendo de preocupação.

– O que houve pai? Por que vocês estavam tão preocupados? Eu estou bem. – disse o menino, tentando acalmar os pais.

– Você não sabe o que aconteceu filho...

Jonathan e Martha contaram sobre a visita da Equipe Rocket, alguns dias antes, e do insucesso de todas as operações policiais na cidade. A Equipe Rocket estava vasculhando cada centímetro de Grené em busca de pistas sobre o Eevee, e ninguém parecia capaz da impedi-los. Dave ficou em estado de choque.

– Esse Peter... – disse ele, quebrando um longo silencio após o fim do relato dos pais - Eu acho que lutei com ele quando sai de Grené. No dia que eu conheci a Mindy...

– Então você tem que se cuidar meu filho. Mais do que nunca. – disse a voz firme de seu pai.

– Tudo bem, pode deixar. Mas eu fiquei muito preocupado com vocês agora. Tem certeza que eles não sabem que eu tenho o Eevee? E se eles souberem? Eles podem ir atrás de vocês para me atingir...

– Fique tranqüilo querido – disse Martha – acho que se soubessem, teriam feito isso quando vieram aqui.

As palavras da mãe o tranqüilizaram um pouco, e eles, lentamente, mudaram de assunto enquanto Dave relatava as suas viagens. Ficaram conversando durante um bom tempo até que finalmente, o almoço foi servido.

– Eu já ganhei três batalhas com o Pidgey, pai! Só nessa ultima semana. E adivinha só? Meu Sandshrew evoluiu hoje mesmo!

– Ei Dave, serviram o jantar! – gritou Mindy, de longe.

– Ih, tenho que ir! Estou morrendo de fome!

– Para variar... - comentou seu pai, rindo.

– Se cuida meu filho. Te amo! – disse sua mãe.

– Vocês também. Amo vocês! - E desligou a ligação.

O menino seguiu rapidamente para o refeitório do Centro Pokémon vendo que o aposento era espaçoso e repleto de mesas redondas feitas de alumino, que dariam lugar para seis pessoas cada uma, tranquilamente. Mindy e Jake dividiam uma, guardando lugar para Dave, e já tinham, cada um, um gordo pedaço de lasanha no prato. Pelo que o amigo podia observar, eles comiam como seu nunca tivessem provado aquilo antes. Não que ele pudesse julgar, afinal, assim que se serviu de um gordo pedaço, comeu tão desesperadamente quanto seus companheiros. Aquela noite eles repetiram o prato, todos mais de uma vez, e quando não agüentavam mais engolir uma só garfada, um delicioso Cheesecake foi servido de sobremesa.

Poucas vezes os meninos se sentiram tão estufados como estavam se sentindo ao se deitar no quarto daquele centro Pokémon. Nem Jake conseguia falar muito e simplesmente desejara boa noite para os amigos, antes de deitar na cama de baixo em um dos beliches do aposento. No outro, Mindy adormecera quase instantaneamente, deixando Dave na cama logo acima dela, ainda acordado. O menino pensava em todo o seu caminho até aquele momento e tentava ver se fizera mesmo alguma coisa de errado. O que o Prof. Noah lhe falara realmente tinha surtido efeito e ele estava convencido de que precisava adicionar um membro a sua equipe. Mas o que mais lhe perturbava, apesar de ele tentar afastar o pensamento da cabeça, era o que seus pais haviam lhe contado. Ele não percebera o tamanho do risco que estava correndo até aquele momento. Essa organização criminosa conseguiu revirar a minha cidade de cabeça para baixo atrás do meu Eevee, e não teve nada que a polícia pudesse fazer... Com o Jack e a Jody eu venho me virando bem, mas e se eles não forem exatamente os mais perigosos? Será que eu vou conseguir proteger o Eevee?

Desde que saíra de casa, Dave nunca sentiu tanto medo.

***

Como de costume Jake foi o primeiro do grupo a acordar, porém dessa vez ele não precisaria fazer nada em relação ao café da manhã. Aquela era sua primeira vez dormindo em um Centro Pokémon, e ele finalmente conseguia entender o reduto que aqueles lugares eram para os treinadores. Ele se levantou e foi procurar a enfermeira Joy, muito curioso em saber como era o seu trabalho e como ela conseguia cuidar das tão diversas criaturas que apareciam ali. Ele nunca dissera isso a ninguém, mas tinha uma grande admiração por aquelas enfermeiras. Achava incrível o seu conhecimento sobre todo e qualquer tipo de Pokémon que precisavam de cuidados e não entendia como elas não se tornavam pesquisadoras, em vez de ficar ali, ralando todos os dias, sem folga ou feriado. Ele encontrou a mulher de cabelos rosa destrancando as portas do Centro para mais um dia de atendimentos e foi cumprimentá-la.

– Bom dia enfermeira!

– Bom dia rapazinho, já está acordado?

– É, já sim. Eu acordo cedo sabe, é um habito lá em casa. Sempre acordo primeiro que os meus amigos e normalmente eu vou dar uma volta enquanto espero eles, mas hoje eu não tenho muito o que fazer sabe...

– Ora – disse ela – acabei de abrir as portas, por que você não vai dar uma passeada lá fora?

– Eu, bem... – começou ele, timidamente –... Sabe, eu queria mesmo te pedir um favor enfermeira, se não for muito abuso sabe... Eu tenho o sonho de me tronar um pesquisador Pokémon, e sempre admirei muito a sua profissão, por que vocês parecem saber mais do que qualquer pesquisador sabe. Então, eu queria perguntar, se não for muito problema, é claro...eu entendo que o hospital tem regras e você não pode quebrá-las e tudo mais, então se não puder não tem problema, é só me dizer que...

– Vá direto ao assunto, rapaz – disse ela, rindo um pouco do discurso nervoso de Jake.

– Ah, desculpe, é que eu falo um pouco de mais, mas o que eu queria mesmo saber era se você podia me mostrar como você faz o seu trabalho por aqui...

Ela abriu um grande sorriso para o menino e disse – Será uma honra apresentar o meu trabalho para você. Seu nome é Jake não é?

– Sim! – disse ele enquanto seus olhos brilhavam de animação - Muito obrigado enfermeira Joy! Muito obrigado mesmo! Você não sabe o quanto eu sempre quis observar o seu trabalho! Sabe, uma vez na minha cidade eu ia pro...

A enfermeira riu de novo e interrompeu o menino – Olha Jake, eu posso te levar lá dentro e te mostrar todos os Pokemons que estão aqui hoje, mas você tem que se lembrar de que isso é um hospital Ok? Quanto menos falatório, melhor...

– Ah sim, me desculpe. Vou tentar me controlar – disse ele, caminhando ao lado da enfermeira para a sala da enfermaria Pokémon.

Jake passou pela porta e logo ficou ainda mais animado. As diversas camas estavam em sua maioria vazias, mas alguns Pokemons ainda estavam sob os cuidados da doce enfermeira aquela manhã. Uma dupla de Chanceys cumprimentou os dois humanos e continuou a sua ronda cama por cama, verificando o estado de cada um dos pacientes. A enfermeira explicava a Jake cada caso, cada machucado e como tratar deles. Mostrou um pequeno Odish com um problema de envenenamento, aparentemente contraído de uma batalha que fez contra uma Beedrill, além de um Pinsir que precisava recuperar alguns dos espinhos de suas garras, que haviam sido quebrados. Mais a frente ele acompanhou enquanto ela tirava os curativos de um Growlithe que havia fraturado uma costela em uma batalha com um invocado Squirtle. Jake ficou impressionado com como, mesmo com a vantagem da água, uma Squirtle teria conseguido causar tantos problemas físicos para um Pokémon reconhecidamente forte como um Growlithe.

– Pois é, incrível não? – Disse a enfermeira – Venha, vou te apresentar à Squirtle. Ela também está aqui.

Joy caminhou umas duas camas para a direita e abriu a cortina, revelando um Pokémon com aspecto de tartaruga dormindo. Mal a mulher chamara seu nome, porém, e ela se levantou rapidamente, se postando de pé.

–Squirtle, squir!

– Bom dia também Squirtle, como está se sentindo? Esse é meu amigo Jake – disse Joy apontando para o menino. O Pokémon o cumprimentou com a cabeça e logo virou suas costas para a Joy, lhe mostrando sua casca, aparentemente em perfeitas condições.

– Sim, parece que está melhor das queimaduras mesmo. Você sempre se recupera antes de quem você manda para cá não é? – Disse ela, rindo – Você já está boa, pode voltar para o campo.

A Pokémon sorriu alegremente e pulou da cama, correndo para a saída da enfermaria enquanto Jake e Joy olhavam a cena rindo.

– Ela é fêmea, essa Squirtle? – perguntou Jake, curioso.

– Sim é fêmea. E uma fêmea selvagem – respondeu a mulher – sabe, não é fácil encontrar Squirtles fêmea por ai, mas como essa eu nunca vi. Acho que ela foi abandonada por seu treinador há um tempo, mas não tenho certeza. Só sei que os treinadores que a encontram sempre acabam por aqui.

– Nossa – disse Jake, enquanto caminhava do lado de Joy. Aparentemente ela tinha acabado a ronda da manhã e se dirigia de volta para o saguão de entrada.

– E o mais interessante é que quando ela se machuca, como dessa vez contra o Growlithe, ela sempre vem procurar meus cuidados sozinha – disse ela, rindo.

Eles saíram da enfermaria e Jake viu Dave e Mindy ainda se espreguiçando e bocejando, enquanto saiam do quarto e se dirigiam ao refeitório para o café da manhã.

– Ei Jake, ai está você – disse Dave – Vamos tomar café para continuar viagem logo.

– Se a gente mantiver um ritmo bom, chegamos a Etton amanhã antes do almoço! – disse Mindy, feliz.

– Ta bom, já to indo – disse o menino mais novo, correndo levemente em direção aos amigos – Obrigado enfermeira.

– Não há de que, Jake. Vou providenciar as Pokebolas de vocês para que possam sair assim que terminarem de comer.

Dave, Jake e Mindy tomaram um leve café da manhã ainda com a impressão de terem comido de mais na noite anterior e, por isso, não se demoraram muito para comer. Em pouco tempo eles estavam de mochilas nas costas, Pokebolas nos cintos e prontos para pegar a estrada novamente. De acordo com os cálculos de Mindy, eles poderiam estar em Etton já no dia seguinte, então essa seria, provavelmente, a sua ultima noite na estrada, antes de os treinadores enfrentarem a próxima batalha por insígnias.

O caminho continuaria pelo ambiente rural por todo o dia, mas cada vez mais eles podiam ver sinais claros de urbanização. Aos poucos os tamanhos das propriedades agrárias diminuíam, algumas outras lojas de artigos utilitários apareciam esporadicamente e a circulação de pessoas atravessando a estrada de uma ponta à outra, ou então simplesmente trabalhando a sua borda, aumentava consideravelmente. Além disso, o amontoado de pequenos prédios que eles viram de longe quando saíram do bosque já não parecia mais tão pequeno assim.

Foi em um pequeno riacho que passava atrás de um pequeno barraco de madeira, aparentemente abandonado, que eles resolveram parar para beber água. O dia ensolarado estava quente e eles estavam suados, de modo que resolveram lavar as mãos e os rostos para se refrescar. Mindy e Dave já estavam encharcados, não se importando de molhar as roupas com as águas do rio, quando Jake se abaixou para lavar o rosto também. Ele não queria se molhar muito, lembrando-se que sua mão não gostava quando ele saia correndo molhado pela rua. Ele sempre tivera normas consideravelmente estritas de etiqueta em casa para cumprir, e havia se acostumado a segui-las. Porém, quando ele ameaçou curvar o rosto e pegar água com a mão, Dave deu um grande tapa na água, jogando uma grande quantidade em direção ao menino.

– Ei! Não faz isso! – disse ele, dando um pulo e correndo para longe da margem, escapando da água por pouco.

– Relaxa Jake! – Dave ria alto com Mindy – Pode se molhar direito, está muito quente.

– Não quero! – disse o menino, ainda com medo de se aproximar do amigo – Não quero, está bem? Prefiro lavar apenas o rosto.

Ele deu alguns passos para o lado, se afastando dos amigos até considerar a distancia segura, e voltou a se aproximar do rio. Antes de se curvar mais uma vez, ele conferiu se os dois estavam longe, confirmando que estava há quase três metros dos dois, que riam abertamente da reação do menino. Ele se encurvou com a cara ainda amarrada, e botou as duas mãos juntas em formato de concha dentro do rio. De repente, um forte jato de água bateu do lado do seu rosto, e o menino escorregou, caindo sentado dentro do leito do raso córrego.

– Ei! – disse Jake, com raiva, procurando entender o que tinha acontecido. Ele olhou para os seus amigos, que se dobravam de tanto rir, mas ainda sim não entendia. O jato de água o tinha atingido do outro lado do rosto. Era impossível que tivesse sido desferido por qualquer um dos dois.

Virando o rosto e secando as gotas d’água que pingavam em seus olhos, ele olhou para o outro lado e lá viu uma Squirtle parada, também em altas gargalhadas.

–Você?! – disse o menino, se levantando de um pulo e com o rosto vermelho de raiva. – Você vai ver só...

Ele deu três passos raivosos em direção à pequena tartaruga Pokémon, Dave e Mindy mudaram rapidamente a expressão de seu rosto para um misto de expectativa e preocupação e a Squirtle pareceu entender que Jake estava realmente furioso. Antes, porém que ele completasse o quarto passo na direção do Pokémon, de novo foi atingido por um jato d’água, dessa vez mais forte, direto na barriga. O menino foi jogado alguns metros para trás, caindo de novo dentro do rio e perto dos seus amigos.

– Squirtle, squirtle, squirr! – ria o Pokémon, descaradamente, enquanto se aproximava do grupo sem medo. Dave e Mindy, dessa vez, estavam segurando o riso.

– Ei, vocês, dá para me ajudar aqui? - disse Jake, para os amigos.

– Ah, sim, desculpe – disse Mindy, e ela se virou para ele. Nesse instante, ela também foi atingida por um jato d’água e caiu de frente ao lado de Jake, que, sem pena, deu uma alta gargalhada.

A Squirtle parecia estar se divertindo com o novo jogo que descobrira e já havia se voltado para Dave. O menino viu o olhar de Squirtle e percebeu que seria o próximo alvo.

– Eevee, me ajuda aqui... – disse ele, um pouco tarde de mais. Eevee havia pulado para longe assim que viu Squirtle se voltando para seu treinador, e agora ria junto da tartaruga, enquanto ser treinador tinha caído sentado dentro do rio.

Agora o único que ria era Jake, que apreciava com gosto a cara de susto e espanto dos seus amigos, que há pouco riam da dele. Ele viu a expressão de raiva e desafio surgir no rosto de ambos, mas foi Mindy, a mais descontrolada, que se levantou primeiro.

– Você ta se achando muito esperto não Squirtle?! Você vai ver só! – disse a menina, sacando sua Pokebola e liberando seu Pokémon bem na margem do rio. – Vai Charmeleon!

– O Charmeleon?! – disseram Jake e Dave ao mesmo tempo.

– Ah, não me perturba! O Squirtle não está nem evoluído ainda... meu Charmeleon da conta, mesmo sendo de fogo - disse a menina, convencida.

Jake achava aquilo a mais completa loucura, mas Dave pareceu concordar com ela, o que deixou o jovem rapaz ainda mais surpreso. Seu amigo parecia até demonstrar uma leve admiração pela atitude da menina.

– Charmeleon, lança chamas!

A Squirtle entrou em sua casca e a fez ficar na posição vertical, de modo que a parte dura recebeu todo o impacto da rajada flamejante que vinha em sua direção. Quando o fogo cessou, ela saiu de sua reclusão já soltando um forte jato d’água. Mindy, mal teve tempo de reagir e o ataque acertou em cheio seu Pokémon, o lançando para o ar na direção do rio. Desesperada e assustada ela rapidamente o chamou de volta, antes que ele caísse na água.

– Ah, mas você... – começou a menina, levando a mão aos cintos procurando outra Pokebola. Mas antes de encontrá-la, a menina foi atingida por outro jato d’água, forte o suficiente para derrubá-la de novo.

– Squir, quir, quir! – ria freneticamente a pequena tartaruga, alguns passos afastada da corrente d’água. Mindy esboçou se levantar novamente, mas dessa vez Dave a segurou pelo braço.

– Agora é minha vez – disse ele, se levantando também e saindo de dentro d’água – Vai Sandslash!

– Mas você só pode estar brincando... – disse Jake, batendo com a palma da mão na cabeça.

– A Mindy tava certa – disse Dave, animado de lutar com seu Pokémon evoluído pela primeira vez – O Sandslash vai dar conta.

Mal terminou de falar e a Squirtle, mais uma vez lançou seu jato d’água. Dave, porém, foi mais rápido e ordenou que Sandslash mergulhasse na terra. O Pokémon terrestre conseguiu desviar do ataque por pouco, e sumiu dentro de um buraco que ele mesmo cavara. Squirtle, porém, não se abalou. Em um movimento rápido, ela pulou na direção do buraco e soltou seu costumeiro ataque para dentro dele. Dave só teve tempo de gritar para seu Pokémon ressurgir quando o viu voar para o alto impulsionado por uma coluna de água que se assemelhava a um gêiser.

– Sandslash! – gritou o treinador. Seu Pokémon, porém, se recompôs ainda no ar, e Squirtle, que estava rindo abertamente, percebeu que ainda havia luta pela frente.

– Muito bom, Sandslash! – Disse Dave sorrindo. Isso sim é um Pokémon evoluído, pensou ele – Agora use o Rasgar!

O Pokémon avançou na direção de Squirtle com suas poderosas garras brilhando, mas a tartaruga foi mais rápida, dando um leve pulo para trás e desviando do movimento de corte do Pokémon de Dave. Em seguida, enquanto ele ainda tinha a guarda baixa, ela deu impulso no chão e o acertou com o que Dave reconheceu ser um ataque Cabeçada.

Sandslash caiu rolando e, em seguida, sem nem ter tempo de entender o que estava acontecendo, sentiu uma forte e interminável rajada de bolhas atingindo o seu corpo. O Pokémon de terra não resistiu ao impacto do ataque e não conseguiu mais se levantar.

– Sandslash, não! – disse Dave, surpreso. Ele chamou seu Pokémon de volta e olhou desafiador Squirtle, que parecia exausta, porém imensamente satisfeita consigo mesma. Ele automaticamente levou a mão a Pokebola de Pidgey, mas, antes que a alcançasse, viu Squirtle passar ao seu lado, ignorando completamente seu desafio e parar na borda do rio.

– Squirtle, squir! – disse o Pokémon, acenando com a cabeça para Jake.

– Vocês... Vocês se conhecem?! – perguntou Mindy, confusa.

– Então você é o Squirtle que estava mais cedo no Centro Pokémon! – Concluiu Jake, enquanto a pequena tartaruga azul confirmava com a cabeça – A especialista em mandar Pokemons para lá não é?

Squirtle bateu no peito, orgulhosa. Em um movimento com a mão, ela apontou para si mesma, e depois para Mindy, e fez uma careta. Em seguida, repetiu o gesto, substituindo Mindy por Dave, e, finalmente, apontou para si mesma e para Jake.

– Acho que ela está dizendo que já ganhou de todo mundo, e agora quer ganhar de você, Jake – disse Mindy.

Eevee que estava se divertindo muito a borda do rio, confirmou com a cabeça.

– Eu? Mas... Eu nem sou treinador, e só tenho um Metapod... Quer dizer, Metapods são de mais não me entenda mal. Eu os adoro, e adoro meu Metapod, mas eles não são exatamente... - Ele foi cortado por mais um jato d’água bem em seu rosto, enquanto Squirtle e Eevee davam gargalhadas.

– Acho que ela não quer saber de papo, Jake – disse Dave, abafando o riso com a mão.

– Ótimo – disse o garoto, furioso – então ela vai ver só!

Jake se levantou e saiu decido do rio, se postando frente a frente com seu oponente. Inteligentemente, porém, ele fez com que, dessa vez, fosse Squirtle que ficasse de costas para o rio. O Metapod não se meche sozinho, então se eu ficar aqui, ele não pode cair na água, pensou o menino, jogando a Pokebola para o alto e fazendo com que ele fosse liberado a poucos passos de distância.

Squirtle não perdeu tempo e lançou seu jato d’água, que acertou a casca dura do Pokémon Casulo em cheio, mas Jake já esperava por isso.

– Endurecer!

A casca de seu Pokémon começou a brilhar e se enrijeceu ainda mais enquanto era jogado a certa distancia pelo ataque do oponente. Com isso ele quase anulou o impacto sofrido tanto pela água em si, como também pela queda depois de ser lançado. Squirtle pareceu se irritar com o movimento dele e decidiu tentar de novo. Jake continuava a sorrir.

Ele viu seu Pokémon não sofrer quase impacto nenhum, enquanto era lançado de um lado para o outro, cada vez para mais longe do rio, enquanto Squirtle ficava mais cansada e irritada a cada ataque. Dave e Mindy também estavam surpresos, compreendendo depois de um tempo a inteligente estratégia do amigo, enquanto corriam atrás do Metapod, que continuava a ser lançado de lá para cá, poucos metros de cada vez.

– Pelo que eu contei, já foram dez jatos d’água Squirtle – provocou Jake – Por que você não desiste logo?

Exausta e extremamente irritada, a pequena Pokémon olhou para Jake e não conseguiu engolir aquela ultima provocação. Em um movimento instintivo e impensado, ela correu na direção de Metapod e pulou, novamente no ataque Cabeçada. Tudo que eu queria pensou Jake.

– Agora Metapod. Endureça o máximo!

O Pokémon obedeceu a seu treinador e começou a brilhar intensamente, ficando o mais duro que sua casca verde permitia, enquanto a tartaruga se aproximava em alta velocidade para desferir seu ataque desesperado. Chegando a poucos passos do alvo, ela mergulhou no ar e mirou o topo de sua cabeça no meio do corpo do casulo verde a sua frente, mas, quando o atingiu, o viu se mover ainda menos do que se movera quando atingido pela água. Ela olhou incrédula para seu alvo quase intocado, quando, de repente, percebeu que não estava vendo apenas um, mas três Metapods a sua frente. Ela olhou para o lado para ver os treinadores, mas tudo estava meio embaçado.

Mindy e Dave riram alto enquanto Jake dava um sorriso vitorioso. Ele observou a tartaruga cambalear para um lado e para o outro, tonta pelo impacto na cabeça, e procurar apoio. Sem encontrar onde se encostar, ela caiu de barriga para o alto, por cima de sua casa, e tentava inutilmente se por de pé de novo, arrancando risada de todos.

– Vamos Jake, captura ela logo, antes que ela volte ao normal – disse Mindy, entre risadas.

– Ã, o que? – disse Jake, que até então não tinha pensado em capturar aquela Squirtle atrevida até ali.

– Captura logo, ANDA! – disseram Dave e Mindy juntos.

Vencido, ele pegou sua Pokebola e lançou na tartaruga, que até agora não tinha conseguido ficar em pé de novo. A esfera bateu no alvo e o sugou para dentro em um raio vermelho, caindo no chão. Balançou uma vez, duas vezes, e parou. Jake havia capturado Squirtle.

– Boa! – disse Dave, indo dar um abraço de parabéns no amigo. – Sabe, você daria um bom treinador, se não precisasse que a gente mandasse você jogar a Pokebola.

– Ótimo trabalho, Jake – disse Mindy, rindo.

Mas Jake não conseguia tirar os olhos da Pokebola no chão a sua frente. Ele nem conseguia acreditar no que acabara de acontecer. Eu peguei meu primeiro Pokémon ele repetia para si mesmo, em sua cabeça. Não acredito que peguei meu primeiro Pokémon.

E assim, o grupo seguiu feliz a viajem para Etton. Dave e Mindy focados na batalha decisiva que tinham pela frente, enquanto Jake admirava a Pokebola com sua mais nova conquista.


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Notas finais do capítulo

E então? Curtiram?
Particularmente, adoro a Squirtle!

Espero vocês nos comentários!



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