Evolution: Parte 2 escrita por Hairo


Capítulo 2
Esse é meu!


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo começa a mostrar as dificuldades de que falamos no anterior. Acho legal explorarmos esse lado que nem todo mundo explora. Afinal, a amizade não exclui a rivalidade... ;)

Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/597944/chapter/2

Dave seguia a estrada para Cardo feliz, como nunca estivera antes. Estava nos primeiros passos de sua jornada por Kanto e no caminho de realizar todos os sonhos que sempre tivera. Ali, alguns passos à sua frente, seguia Mindy, sua melhor amiga, e em seu ombro, Eevee parecia tão empolgado quanto seu treinador. Logo eles estariam em Cardo, local onde Dave, apesar de representar a cidade, nunca realmente estivera.

O grupo seguia confiante no primeiro dia e o sol ainda estava baixo, mostrando que ainda era antes do almoço. Normalmente Dave não estaria com fome, mas ele havia deixado seu café da manhã pela metade graças a um pequeno desentendido no laboratório do avô de Mindy. Além disso, após alguns dias lá, ele havia se acostumado a ser muito bem alimentado. Mais até do que era em sua humilde fazenda com seus pais.

Seus pais. Dave sentia muita falta do pai e da mãe e queria muito saber como os dois estavam se virando para tocar a fazendo sem a ajuda do menino. Ele não fazia muito graças a sua idade, mas sabia que precisava fazer tudo o que podia, pois seu pai já fazia muito mais do que ele.

Nas poucas vezes que Dave falou com os pais enquanto estivera no laboratório, os dois não falavam do trabalho, e apenas queriam que o menino contasse suas historias. Mas Dave podia ver na aparência dos dois, principalmente de sua mãe, que eles estavam mais cansados. Mesmo assim, os dois se mostraram extremamente orgulhosos do filho ao saber como havia conseguido se tornar um treinador oficial de uma cidade como Cardo.

Dave acordou de seus pensamentos nostálgicos quando viu Mindy virando em uma estrada que mais parecia uma trilha em meio ao gramado. Ela cortava a estrada principal que Dave tinha certeza que levava a Cardo, principalmente após olhar a placa que dizia “Cardo“ e apontava para frente, onde já se podiam ser vistos os altos prédios da cidade natal de sua amiga.

– Ei, onde você esta indo Mindy? – perguntou o menino, parando no início da trilha – A cidade é logo ali na frente.

– Eu sei Dave, mas quem disse que a gente vai pela cidade? – respondeu a menina, sem parar de andar.

– E quem disse que a gente não vai pela cidade? – retrucou o menino, sem entender o que ela queria dizer.

– EU disse que não vamos pela cidade, Dave.

Sem se render, ele correu atrás de Mindy, que não parara de andar em nenhum momento.

– Mas, ei, espera ai. Eu quero muito passar por Cardo! Eu nunca visitei a cidade que eu represento!

– Sinto muito Dave, mas se a gente entrar ali, só vamos sair amanhã, com muita sorte. E vai ser incrivelmente perturbador. Acredite em mim.

Perplexo com a resposta da menina, que insistia em seguir pela estrada/trilha, ele a segurou pelo braço pedindo uma explicação melhor para o que estava acontecendo.

– Olha só. O pessoal de Cardo é fanático por Pokémon. Para falar verdade foi por isso que o meu avô criou o torneio de iniciantes, há um tempo atrás. – começou a menina - O povo não se contentava com o pequeno número de treinadores que saia daqui, e que nunca conseguiram ganhar um titulo para a Cidade. Eles queriam mais treinadores, e trazer todo ano jovens das cidades pequenas a nossa volta parecia uma solução que agradava a todo mundo.

– Tudo bem, mas eu ainda não entendi o porquê de não podermos passar por lá. – Insistiu ele impaciente.

– Posso terminar de falar?! Obrigada. – Disse ela em um tom que Dave percebia estar se tornando usual - Pensa bem Dave, nunca nesses anos tivemos um torneio como o nosso. Isso só serviu para animar o povo da cidade. O que, por sua vez, significa que somos celebridades por lá.

– Cele - o que?! Você só pode estar brincando...

– Não, não estou – disse a menina, ríspida – se passarmos por lá todo mundo vai querer um autografo, e os jornais da cidade vão querer entrevistas. Meu primo Rusty passou dias para sair de lá, e mesmo assim só saiu porque nós roubamos a atenção dele com o torneio e com a equipe rocket. Posso te dizer que, por ele, ele ficaria lá até mais tempo.

Dave riu-se e imaginou Rusty dando entrevistas, assinando autógrafos e prometendo títulos. Se dependesse dele e de Eevee, Rusty não iria ser capaz de cumprir nenhuma dessas promessas.

– Meu avô da entrevistas semanais onde fala sobre o progresso dos treinadores da cidade – continuou ela – As informações são tantas que ele publica até mesmo uma revista mensal somente sobre os treinadores. Você não tem idéia do que seria passar por lá agora Dave.

Dave ainda não acreditava em como aquilo havia acontecido com ele. De menino na fazenda a procurado por bandidos e treinador celebridade em um espaço tão curto de tempo. Era informação de mais para ele processar de uma só vez. Aproveitando o silêncio do rapaz, Mindy retomou sua caminhada e o chamou.

– Vamos logo. Por esse caminho, apesar de um pouco mais longo, evitaremos Cardo, e podemos aproveitar o tempo que perderíamos em entrevistas para treinar e capturar pokemons.

Sem ter como refutar, Dave seguiu a amiga. Aquela história toda era uma grande novidade para ele, e para um menino humilde do interior, escapar dos holofotes e das entrevistas soou muito bem. Ao contrario do primo de Mindy, Dave não gostava de muita atenção, muito menos de falar em público. Para ele, se alguém botasse um microfone na sua boca, ela se fecharia eternamente.

Os dois seguiram o resto da manha por uma espécie de campo aberto sem muita vegetação, apesar do mato relativamente alto, suficiente para encobrir Eevee caso ele andasse no chão. A trilha que Mindy havia escolhido não melhorara muito e eles estavam tendo que se desviar de pedras e abrir espaço pelo mato, tentando não perder o caminho que parecia ter sido abandonado ha muitos anos. Dave via Pidgeys voando de algumas poucas arvores que estavam na trilha, mas, como pokemons voadores, eles fugiam sem dar chance a nenhum dos dois de capturá-los.

E assim a primeira parte do dia se seguiu, sem grandes acontecimentos e por um caminho um tanto quanto desagradável e cansativo. Quando decidiram almoçar, Dave estava exausto e se jogou no chão, deitando no mato alto e sumindo. Mindy por sua vez se sentou com mais delicadeza, e desaprovou a atitude do amigo, que parecia despreparado para o resto do dia de caminhada.

– Nem começa Dave. Ainda temos o dia inteirinho pela frente. Só iremos terminar a volta que demos para desviar da cidade amanhã. Vamos caminhar o dia todo se quisermos voltar à estrada principal tão cedo. – disse ela enquanto balançava a cabeça.

– Tudo bem, tudo bem, mas a gente pode ficar aqui um tempinho para comer não? Eu to morrendo de fome.

– Foi para isso que a gente parou não é? O seu Eevee deve ta com fome e seria bom para o Charmander sair um pouco da pokebola. – e dizendo isso, a treinadora liberou seu Pokémon para o gramado alto.

– Char, charmander char!

– Também vou liberar o Sandshrew para comer um pouco – disse o menino, liberando seu Pokémon.

E assim o pequeno grupo teve seu primeiro almoço junto. Os três pokemons comiam animados, fazendo companhia uns para os outros e conversando. Parecia que o laço de amizade entre eles começava a se estreitar e todos estavam felizes.

Dave e Mindy almoçaram bem, com a comida preparada pela menina, que aperfeiçoara suas habilidades culinárias nos dois meses que vivera sozinha. Dave não tinha do que reclamar e os dois almoçaram em clima de paz. Entretanto, o clima não durou muito. Ao final da refeição Mindy começou a recolher todas as suas coisas, preparando-se para seguir viagem, mas o rapaz, que tinha outros planos na cabeça, virou para o lado e fechou seus olhos. Vendo a atitude do menino, a treinadora não se conteve.

– O que é que você acha que ta fazendo?! - Esbravejou ela.

– Fechando os olhos para tirar um cochilo oras. O que parece?

– Parece que você esta pedindo para ser abandonado. – a menina continuava a arrumar as coisas, como se não tivesse visto a atitude do amigo - Eu não vou te esperar. Se você quer seguir comigo, levanta esse traseiro preguiçoso e comece a pegar suas coisas!

Por um momento o menino pensou em ignorar sua amiga, se recusando a abrir os olhos. Mas ao lembrar-se que, se largado ali no meio do mato, ele não teria a mínima idéia de para onde seguir, ele levantou-se a contra gosto.

Foi nesse momento que Dave avistou algo que não tinha visto antes. Um par de orelhas cor de rosa e pontudas se moviam na direção do pequeno circulo onde o grupo se instalara. Mindy já parecia ter reparado e se juntara ao seu Pokémon. Dave chamou Eevee para seu ombro, enquanto Sandshrew ficou junto a seus pés.

As orelhas iam se aproximando, mas seria impossível identificar a quem pertenciam ate que o seu dono estivesse a poucos metros, graças ao mato alto. Dave parecia apreensivo, mas Mindy tinha determinação em seu rosto. Como de costume, ela parecia ter sido mais rápida do que ele. Abaixada, ela sussurrava com seu Charmander coisas que Dave não conseguia ouvir, o que o deixava muito mais apreensivo.

E então, como se um choque do trovão o tivesse atingido, ele entendeu o que estava acontecendo. Aquilo deveria ser um Pokémon, atraído pelo cheiro da comida que a menina preparara. Era a sua chance de capturar mais um integrante para a sua equipe. Dave rapidamente sacou sua pokedex, no exato momento em que um chifre rosa aparecia e o Pokémon saia do meio do mato para o campo de visão do menino.

“Nidoran Macho. Um Pokémon venenoso. Os espinhos em volta de seu corpo liberam um poderoso veneno. Acredita-se que quanto maior o chifre em sua cabeça, mais venenoso ele é” – disse a voz da pokedex de Dave, que ficara maravilhado em usá-la pela primeira vez. Seus olhos brilhavam.

Enquanto isso, os olhos de Mindy olhavam o tamanho do chifre do Nidoran. Parece um pouco acima da média pensou a menina. Vou pegar você!

– Charmander, prenda ele em seu circulo de fogo. – ordenou a treinadora, animada.

O Pokémon obedeceu prontamente, fazendo um circulo de fogo em volta de seu alvo. O circulo foi bem feito, visando prender o alvo sem feri-lo mais seriamente, ao contrario do que seria em uma batalha oficial. O Pokémon venenoso foi pego de surpresa, mas a surpresa foi maior para Dave.

– Ei! Eu ia pegar ele! – Esbravejou o menino, sentindo o primeiro problema de viajar com outra treinadora.

– Disse bem Dave, ia! – respondeu a menina, determinada. A adrenalina percorria seu corpo.

Nidoran agora estava preso no centro do círculo, que começava a queimar cada vez mais perto, graças ao mato da planície. Mindy resolveu observar um pouco mais para ver como o Pokémon se comportava na situação.

– Você vai machucar ele Mindy! Deixa que eu pego! – Disse Dave, pegando sua pokebola.

– MAS NEM PENSE EM FAZER ISSO! – berrou a menina, vendo a pokebola na mão de Dave.

O grito foi tão alto que a pokebola caiu da mão do menino. Nidoran apenas se assustou mais, pulando no espaço reduzido em que estava preso. O fogo se aproximava cada vez mais e o calor estava perto do insuportável quando o Pokémon começou ficar desesperado. Mindy então jogou sua pokebola. A pequena esfera atingiu o alvo e um raio vermelho fez com que Nidoran entrasse na bola branca e vermelha. Ela se debateu uma vez, duas, três vezes, e parou. A menina se assustou quando a pokebola se debateu uma quarta vez, depois de uma pequena pausa, mas ela voltou a parar, dessa vez permanentemente.

Mindy olhava incrédula para a pokebola parada no meio do círculo de mato queimado, ainda em chamas. Dave, por sua vez olhava sem acreditar que perdera aquela chance. Sua amiga havia sido mais rápida.

O fogo foi se extinguindo rapidamente e Mindy correu para sua pokebola com brilho nos olhos. Ela se abaixou para pega-la, mas quando tocou, quase gritou.

Ai! Ai! Está quente! Está quente! – Disse ela, rindo-se. A pokebola havia ficado perto do fogo e quase queimara a mão da menina.

Ela pegou uma garrafa de água em sua bolsa e despejou um pouco em cima da pokebola, visando esfriá-la. Deu certo. Ela a pegou no chão e logo liberou seu mais novo Pokémon.

– Nido, nido! – exclamou ele, ao ser liberado. Ele olhava de um lado para o outro parecendo confuso, mas parecia um pouco aliviado de sair da pokebola quente.

– Ola, Nidoran! Eu sou a Mindy, sua nova treinadora! – Disse Mindy, se abaixando e fazendo carinho na cabeça do Pokémon.

Ele estranhou no início, mas gostou da caricia da menina, e logo se aproximou e se mostrou bem mais confortável. Charmander também se aproximou, cumprimentando seu novo amigo.

Quem não estava nem um pouco confortável era Dave.

– Ei! Esse Pokémon era meu!

– Não era não! – disse Mindy, virando o rosto e encarando-o, séria – Eu vi primeiro enquanto você tava ai dormindo. Eu ataquei primeiro e eu o capturei. Ele é meu. Esse é meu! – e com isso a menina voltou a acariciar o Nidoran.

Dave sabia que tudo aquilo era verdade, mas ainda assim sentia-se desapontado. Ele estava ansioso para batalhar com um Pokémon selvagem e capturá-lo. Porém, vendo o brilho nos olhos da amiga, ele percebeu que não havia sentido em travar essa batalha com ela. Era o primeiro Pokémon que ela havia capturado e então ele se contentou em apenas acariciar o novo integrante do grupo e apresentar Eevee e Sandshrew a ele.

Vendo a conformidade de Dave, Mindy não conseguiu esconder o sorriso de agradecimento que brotou em seu rosto. Apesar da postura firme e de ter certeza de que estava certa, discutir com Dave a fez ficar com certo temor de ter que se despedir de seu mais novo Pokémon, ou de seu grande amigo. A verdade é que, antes de sair de Cardo, ela havia pensado em seguir viajem sem ele, prevendo esses problemas, mas ao vê-lo novamente decidira que não queria se afastar daquele que a ajudara tanto.

O grupo ficou naquele local mais uma hora. Mindy havia decido alimentar o Nidoran, que parecia faminto, e então todos se instalaram novamente. Por um lado Dave havia ficado grato: Mindy o havia deixado dormir sem reclamações enquanto seu Pokémon comia. Ele pensou que era uma forma de agradecimento.

Mas Dave não conseguiria dormir tão bem como antes. Agora os dois treinadores estavam em pé de igualdade, ambos com dois Pokemons, e Dave estava determinado a tomar a frente de novo. Uma competição implícita nascia nele. Algo que ele não sabia se era bom ou ruim. Então vai ser assim viajar com uma treinadora. Ela pode ser minha amiga, mas não deixa de ser minha rival pensava o menino. Da próxima vez eu tenho que ser mais rápido. E com esse pensamento na cabeça, ele adormeceu.

O grupo seguiu viajem após Nidoran estar bem alimentado e bem ambientado com os outros Pokemons. Dave levantou contrariado, mas logo eles retomaram o ritmo e seguiram viajem rumo à estrada que os levaria a Auburn e ao primeiro ginásio. O que os viajantes não puderam perceber é que naquela tarde, no meio de uma planície com mato alto, eles tinham mais companhia do que imaginavam. Alguma coisa se esgueirava escondida pelo mato, determinada a seguir o grupo para onde quer que eles fossem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Gostaram do resultado? Quem vocês acham que deveria ter ficado com o Nidoran?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Evolution: Parte 2" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.