Decididamente, não! escrita por AnaBonagamba


Capítulo 2
Srta. Perdida.


Notas iniciais do capítulo

Alguns esclarecimentos nada esclarecedores.



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Ao contrário do que me lembrava, o buraco não era tão sombrio e nojento como parecia. Ufa, menos mal. Apenas um declive de meio metro para baixo da terra, porém, o impacto certamente me tirou a consciência. Eu estava esticada no mato, tonta (mais que o normal) e confusa. Poxa, Snape, é sério? Nem pra me procurar e me levar pra enfermaria? Pobre Hawford, deve estar desolado achando que me matou.

Bem feito.

Levantei tão perturbada que nem percebi o sol pairando lindamente sobre a minha testa. Ótimo, perfeito, soberbo, já é dia, e eu provavelmente perdi a primeira aula de poções. Rubra de raiva, eu era capaz de cuspir fogo, pisando firme no chão enquanto caçava o caminho de volta ao castelo. Num átimo, pisquei perplexa. Não tinha castelo. É, pois é, eu precisamente bati com a cabeça bem forte. Pisquei de novo. Cadê? Não podia simplesmente desaparecer da noite para o dia! Andei em círculos, gritei, olhei outra vez, até ensaiei cair de volta no buraco e...nada. Hogwarts havia sumido.

Acreditar no impossível às vezes pode ser uma possibilidade. Ou uma necessidade. Aliás, necessidades estavam em voga ali: sentia dor, fome, uma vontade incontrolável de fazer xixi e a sensação de que tudo daria errado. De repente, num brilho angelical enviado pela ordem dos bruxos de Merlin completa e especialmente para mim, a mochila.

A mochila!

Bendita que vem em nome da salvação! Abracei-a carinhosamente, pedindo desculpas pelo tratamento desmerecido da noite anterior, dispondo o conteúdo para fora afim de organizá-la melhor. Ok, vamos lá: bolinhos de abóbora do jantar, garrafa de água meio cheia, troca de roupas para o inverno, casaco da Lufa-Lufa, livros de magia, pomada cicatrizante, relógio quebrado, capa de invisibilidade, ...

Opa, espera aí. Capa de invisibilidade?

Por que diabos eu teria colocado essa tranqueira dentro da minha mochila ultra útil? Tá bom, talvez o relógio quebrado não seja assim tão aproveitável, mas a capa absolutamente não era. Comprei na Zonko's, quinto ano, e o vendedor jurou que funcionaria por alguns meses. Já deve supor que não durou três dias, também, na promoção por quinze galeões... Bem, que seja, um cobertor a mais caso decidam abrir as portas do polo norte.

Conformada do exílio, me arranjei e parti numa longa caminhada pela encosta do matagal. Se não fosse pela ausência do castelo seria difícil deixar de confundi-la com a floresta proibida, densa e obscura, e não menos musguenta. O cheiro era idêntico, a propósito. Depois de um tempo senti minhas coxas assarem, literalmente, vermelhidão latejante manchando a pele clara sob a recatada saia do uniforme. Um dos infortúnios de ser muito branca: qualquer toque menos sutil irrompe num hematoma e até mesmo o sopro do vento causa queimadura.

Apliquei a pomada imediatamente, o geladinho do remédio me arrepiando. Ao que se sugere não saí do lugar. Derrotada, sentei-me, tirando da mochila a calça de inverno. Beleza, não tem ninguém olhando. Escorreguei a saia num pudor estrondoso, vagarosamente, esperando que minha sala inteira surgisse atrás de uma moitinha dando risadas às minhas custas.

Só que não. Não havia ninguém.

Devidamente vestida para atividades campestres, ousei me libertar da gravata, abrindo os três primeiros botões da camisa social. Devia de ser hora do almoço, pois meu instinto biológico esfomeado não parava de avançar nos roncos, aproveitando a parada para barganhar um bolinho. Hummmm, não existe bolinho de abóbora melhor que o de Hogwarts, nem titia consegue fazer igual.

Inclusive, cheguei a comentar que moro com a minha tia? Então...somos exclusivamente eu e ela. Ah, e o Toddy, é claro, o gato mais preguiçoso do mundo. Meus pais morreram num acidente de carro quando eu tinha oito anos. Ops, acho que essa eu deixei escapar. Sim, sou nascida trouxa. Nunca liguei pra isso. Penso que minhas atitudes são superiores à pureza de meu sangue, mas não exclui a possibilidade de ser condenada por menos.

Esta é a vida, sendo injusta. Novidade? Nenhuma...

Falando em injustiça, olha lá o sol indo embora. Atordoada, abortei a contagem dos passos, tomando a varinha em mãos e empunhando o mais alto que conseguia, soltando faíscas azuis em direção ao céu escurecido na esperança de que uma alma me avistasse.

Grande erro.

Virei prontamente esperando o bote final. A criatura devia ser uns cinquenta palmos mais alta que eu - não que eu fosse a adolescente mais esguia do mundo - no entanto, aquilo não era razoável. O urso feroz aguardou gentilmente meu espetáculo interno e, quando me dei conta do perigo, saí correndo destrambelhada.

Nem preciso dizer que ele me seguiu, né? Desviei de todo e qualquer obstáculo que se manifestasse, guiando-o para as planícies onde não pudesse me cercar. Ali do alto era possível ver uma pequena casa de madeira, construção esmera típica do interior clássico da Inglaterra, minha única chance de fugir. A maratona continuava incessante, eu quase desfalecendo, o animal super disposto a me destroçar.

Use a varinha, sua estúpida! - berrou meu bom senso.

O medo era tamanho que nem me atentei ao objeto preso firmemente na minha mão direita. Amém! Lancei um Estupefaça rápido, jogando-o para trás, mas sem impeli-lo. O gigante era astuto e, mesmo que minha vida estivesse em risco, não seria corajosa o suficiente para matá-lo. Foi o prazo para que eu cruzasse os jardins da moradia e me atirasse sobre a porta de madeira.

– Socorro! - pedi com urgência. - Por favor, abram a porta!

Sem resposta, exigi que a trava se desfizesse através de Alohomora. Não podia meramente explodi-la com Bombarda, visto que ainda estaria exposta ao monstro. Entretanto, a fechadura não cedeu.

– Tem alguém aí? Se me ouve, abra essa maldita porta!

Aprecio o silêncio em algumas situações, não sendo esta a mais apropriada. Fechei os olhos, deixando que a entrada da casa sustentasse meu peso e, num desejo íntimo, sonhei estar sonhando. É, se fosse pra morrer mastigada, eu pelo menos despertaria assustada na minha cama confortável, rolaria para o outro lado e adormeceria de novo.

E então eu caí.

Não, não. Na verdade eu fui puxada para dentro do ambiente antes que virasse ração de cachorro. Logo que recobrei o raciocínio, dei de encontro para o meu campeão.

– Professor Dumbledore, graças a Merlin! Que bom que está aqui, achei que era o fim, não sabia mais o que fazer e...

O velho na minha frente era extremamente parecido com Dumbledore. Tipo, era ele. Só que mais sujo, er... bem mais sujo, e segurava um cajado esquisito. O chapéu pontudo também não valorizava seu porte. Por favor, chega por hoje, são muitas emoções pro meu espírito recém deflorado de aventuras.

– Por que me chamou de professor? - indagou o outro.

Engoli seco.

– Perdão, é que você, hmmm, o senhor se parece muito com um amigo meu.

– Mesmo? - ele não parecia satisfeito.

– É. - disse simplesmente. - Oh, e obrigada por me salvar daquela fera horrenda.

Ele mastigou um cachimbo, acenando com a cabeça positivamente. Não parecia ameaçador, os mesmos olhos azuis gentis do diretor por trás dos óculos finos de meia lua. Sorri, sem saber o porquê.

– Sou Gandalf, o Cinzento. - pronunciou, estendendo a mão para cumprimentar-me. - E você é...?

– Nelly, a Perdida. - apertei a mão dele com firmeza. - As suas ordens.


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Notas finais do capítulo

Este foi quase que completamente criado pela Natália, eu só editei as ideias.

Portanto, se ficou a porcaria que eu imagino que tenha ficado (nota: estou rindo até agora), joguem tomates nela.

Um breve abraço,
Ana.



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