A luz da manhã fazia meus olhos arderem, eu estava deitada em uma campina verde flamejante, vestia um vestido branco com uma alça cruzando meus seios, sua saia era feita de penas brancas e cobria todo meu corpo.

Meus fios ruivos estavam presos de um lado de minha cabeça, em uma forma que os deixava caindo por meus ombros, uma rosa branca estava presa no meu cabelo e eu usava um salto branco.

O Sol brilhava reluzente, seu calor favorável fazia minha pele branca intocável, eu me sentia perfeita, não, eu estava perfeita.

— Meri?

Virei com rapidez ao perceber quem me chamava, ele estava lindo, vestindo um terno branco com uma gravata preta, seus olhos verdes brilhavam e seus fios negros davam um toque delicado ao seu rosto de guarda.

— Aspen? — perguntei extasiada.

— Sim, amor. — disse ele sorrindo. — Sou eu.

Corri ao seu encontro e pulei em seus braços, mas passei por entre seu corpo e cai no chão, ele não era nada além de um homem de fumaça.

— Aspen? — senti as lágrimas chegando, quando duas mãos pegam meus ombros e me levantam.

— America, não chore, está tudo bem. — Maxon falou, abraçando-me.

Tentei me desvencilhar para encará-lo quando percebi que ele não me soltava.

— Maxon, o que é isso, me solta. — ele apertou meu braço com força, machucando-me, sabia que ficaria com uma marca.

— Está tudo bem. — ele gargalhou, para depois pegar uma faca e passar em frente do meu rosto. — Tudo bem, está tudo bem.

X X X X x X X X X

— ME SOLTA! — gritei ao acordar sobressaltada, acabei encontrando-me na enfermaria do Palácio, com um Rei me encarando assustado e um médico com a mão no peito, como quem acabara de levar um susto.

Eu tremia muito, senti meu corpo deixar de obedecer minhas ordens e criar vida, ele parecia um ser diferente, onde America Singer era uma desconhecida para mim.

— O que aconteceu Ame... Senhora America? — perguntou Maxon preocupado.

— Pode me chamar de America. — respondi colocando a mão na cabeça, tudo que se passara era um sonho, apenas um sonho.

— O que aconteceu, America?

— Só um pesadelo, já passou.

Percebi que ele queria perguntar mais alguma coisa, mas desistiu. Mordi meu lábio inferior e senti meu rosto corar, se ele soubesse como fora o pesadelo...

— Quanto tempo eu passei desacordada?

— Apenas algumas horas, creio que seja a mudança de humor que aconteceu em meio aos desastres que pode ter causado o desmaio. — o médico respondeu se aproximando mais da cama e olhando para uma prancheta. — Em duas horas a Senhora poderá sair daqui, mas quero que fique de repouso enquanto isso.

— Tudo bem.

X X X X x X X X X

Quando fui liberada já era noite, vestia uma blusa de manga comprida e uma calça leve, meus cabelos estavam soltos caíndo por um de meus ombros, decidi tomar um pouco de ar para aliviar a sensação pós-desmaio e sentir um pouco de liberdade.

— America? — Maxon interrogou se aproximando nas sombras.

— Olá. — me curvei meio desajeitada, no momento estava sentada em um banco no jardim, ele se sentou ao meu lado.

— Está melhor? — ele perguntou, seus olhos brilhantes com a luz da Lua, ele estava com um semblante preocupado, nunca achei que alguém além de Aspen e minha família se preocuparia comigo.

— Sim, obrigada por tudo. — respondi abaixando a cabeça, senti meu rosto corar novamente.

— Não foi nada, mas... — ele se aproximou de mim e sussurou no meu ouvido. — Posso te ajudar a melhorar mais rápido.

Levantei-me abruptamente, sendo seguida por ele, fiquei furiosa e dei uma joelhada em seu pudendo, fazendo-o se curvar de dor e seus olhos se encherem de dúvida e dor.

— Por que fizeste isto?

— Você ia tentar algo comigo! — exclamei com muita raiva, mas seu olhar me parou.

— Se acha que sou tão cafajeste a esse ponto, por quê não foi embora? — seus olhos pareciam ofendidos, ele ainda curvado continuou a me olhar. — Não sou assim, agora saia da minha frente.

— Mas... — antes de continuar a falar saí correndo, o que deu em mim? Atacar o rei daquela maneira, de forma tão suja e baixa, fui para meus aposentos com o rosto tão vermelho quanto meus fios ruivos, estava muito envergonhada e queria apenas enterrar minha cabeça na areia branca, ou me afundar naqueles lençóis que me cobriam quando me lancei na cama, fui estúpida e insana, ele podia mesmo querer me ajudar, mas de outra forma.

Não dormi nessa noite, apenas fiquei a refletir em como falaria com Maxon no dia seguinte, se ele não quisesse a expulsar do Castelo, claro.

X X X X x X X X X

A fumaça dourada começou a flutuar e parou nos céus, sua forma sendo criada pelo ar criou uma mulher linda, com cabelos longos e olhos dourados que faiscavam, seu olhar era assustador, um olhar pesado de morte e dor, refletido no buraco em sua barriga que a atravessava, o tiro que levara era sua marca mortal, a última rainha flutuava na noite gélida do céu, a Lua sumira mas as estrelas estavam lá, como uma coroa para uma dama que merecia, sua voz suave e doce não parecia sair de seus lábios imóveis, mas de todos os lados que podiam ser contemplados, a névoa dourada carregada de beleza e virtude apenas estava ali, e como uma mensagem sussurrada dizia:

— Cuide dele, não o magoe, cicatrizes marcam sua dor, que por tanto tempo foi escondida. Pais e filhos brigam, mães e filhos se consolam, o filho imita ao pai mas se arrepende em seguida, o guie para o lado certo, e que a incerteza e a dor, não deixe que as trevas corrompam algo que ilumina a noite.

Foi quando o buraco começou a se expandir os olhos de Kriss se fecharam, seus braços enegreceram-se e a coroa de estrelas sumiu, o céu se tornou a escuridão e o ultimo brilho de seus cabelos foi transformado na escuridão infinita.

Cuide dele.

A voz dizia.

America Singer Leger, viúva.

Cuide dele.

Acordei em um sobressalto, com aquelas palavras ecoando na minha mente.

America Singer Leger, viúva.

Cuide dele.