Acordei na segunda feira com o barulho irritante do despertador e estranhando a falta de alguém do meu lado. Suspirei.

– Bom dia, Lena. - falei para mim mesma. Eu podia não estar arrependida de ter deixado Kai ir, mas dizer que não ia sentir a falta dele é outra coisa totalmente diferente.

Levantei bruscamente da cama e desliguei o despertador que, a essa altura, já devia ter acordado Kath e Jer. Fui ao banheiro e tomei um banho rápido, checando logo as janelas só para ter certeza de que a cortina estaria fechada. E estava. Ainda bem.

Vesti uma calça jeans e uma camisa de botão. Penteei os cabelos e os deixei soltos mesmo. Calcei sapatilhas pretas, peguei minha bolsa e desci para a cozinha. Logo que comecei a descer as escadas, senti o cheiro gorduroso do bacon que Kath adora comer de manhã. Que eu também adoro, reconheço. Mas hoje não. Logo que senti o cheiro, quis passar mal.

– Katherine, o que você colocou nesse bacon? - falei, segurando o estômago.

– O que se coloca no bacon, Elena? Óleo e só. - ela respondeu virando o bacon de lado e deixando subir o cheiro de gordura e do bacon fritando. Senti meu estômago dando voltas. Bufei.

– Sério, Kath. O que você botou de diferente hoje?

Ela se virou para mim, parecendo, pela primeira vez na vida, realmente preocupada comigo.

– Lena, por acaso você tá bêbada ou doente? Eu não fiz nada de diferente no bacon.

– Eu acho que vou pedir pro Damon parar no Starbucks.

Ela olhou para mim com uma cara safada.

– Garota, eu sabia que você era rápida, mas não tanto.

– Cala a boca, Katherine. Eu não terminei com o Kai, nem pretendo. - Kath suspirou. - Agora, se me dá licença, eu vou pegar carona com o Damon. - me virei e estava pra sair, quando ela me chamou.

– Elena.

– O que foi, Katherine?

– O Damon ainda gosta de você. - isso era tudo o que eu menos queria ouvir.

– Porque você acha isso, Kath? Somos só bons amigos.

– Eu não acho, Lena. Eu sei. Ele já me disse isso várias vezes quando eu tentei dar em cima dele.

– Quem garante que ele não estava só querendo se livrar de você?

– Elena. - ela estava bem próxima e olhando bem no fundo dos meus olhos. - Eu sei quando as pessoas mentem. Ele não estava mentindo. Mas você está.

– Katherine, você tá louca? - me afastei dela. - Eu não estou mentindo. E mais, sobre o que eu estaria mentindo?

– Não saber que o Damon gosta de você.

Engoli em seco, dando de ombros.

– Ele já tinha me dito. Muito tempo atrás, na verdade. Eu pensei que tivesse passado.

Katherine suspirou.

– O ponto em que eu quero chegar não é esse. Eu acho que, com o Kai fora, talvez você devesse tentar com o Damon. - olhei para ela incrédula.

– Katherine, você só pode estar brincando. O que eu tenho com o Damon é especial, mas é só amizade. E eu não terminei com o Kai.

– Elena, eu sei que, lá no fundo, talvez onde nem você possa ver, ou não queira, você é apaixonada pelo Damon.

– Katherine, porque você acha isso? - perguntei, os braços cruzados sob o peito.

– Minha querida irmãzinha, eu acho isso porque você chega a ser estúpida demais pra pensar no Damon desse jeito. Então eu pensei e acho que é o certo.

– Diz aquela que dá em cima dele desde sempre. Porque você não tenta?

Ela riu. O cheiro de bacon ainda empestiava o ar e meu estômago se revirava.

– Ora, Elena. Por favor. Eu não sou masoquista. Eu sei quando parar de tentar.

– E agora, dentre todos os momentos, é o melhor?

– Claro. O Kai está fora, o que dá ao Damon espaço pra agir. Ou seja, eu vou ser invisível de verdade.

– Tudo bem, então. Agora eu preciso ir ou vou me atrasar.

– Tudo bem, Leninha. Bom dia.

– Bom dia.

Saí de casa com o estômago de cabeça para baixo. Katherine devia ter colocado algum tipo de aromatizante que eu seja alérgica no bacon. Só pode. Damon já me esperava do lado de fora de casa.

– Bom dia. - entrei no carro e dei-lhe um beijo na bochecha.

Ele me olhou de lado com uma das sobrancelhas levantadas. Ri.

– Bom dia, Lena.

– A gente pode passar no Starbucks?

– Pode ser. - ele olhou demoradamente para mim e colocou a mão na minha testa. - Você tá bem?

– Sim. - menti. - Porque?

– Você tá pálida. Tem certeza que tá tudo bem?

– Mais ou menos. - me encostei contra o banco. - Eu tava passando mal por causa do bacon da Kath. Mas tá tudo bem agora.

– Tem certeza? - ele parecia realmente preocupado.

– Tenho, Dam. Não se preocupe. Eu estou bem. Vamos?

Ele suspirou.

– Vamos.

E com isso arrancou.

●●●

– Bom dia! O que desejam?

Paramos no Starbucks e eu estava quase pedindo meu café com leite quando Damon começou a falar, um sorriso em seus lábios.

– Um expresso, um café com leite e duas rosquinhas, por favor.

– São 16 dólares.

Vi Damon estender uma nota de 20 dólares para a moça, que olhava muito demoradamente para o sorriso e olhos dele.

– Vamos. - falei, já puxando Damon meio de lado enquanto a moça entregava o troco e ficava com cara de bosta.

– Quem diria que Elena Gilbert tem ciúmes de mim? - Damon falou.

– Tenho mesmo. Você é meu melhor amigo. Meu dever para com você nessa Terra é fazer com que as garçonetes não deem em cima de você a cada cinco segundos.

Ele riu.

– E o meu é tentar te tirar dos namorados ridículos.

– Ora, por favor.

– Sério. Eu te avisei sobre todos eles.

– Sim. Eu sei. - dei uma pausa e continuei. - Mas você não tem motivo pra pedir rosquinhas.

– Tenho sim. - ele respondeu. - Você não comeu nada e estava mal. Se só tomasse o café eu provavelmente ia ter que te levar ao pronto socorro antes do expediente acabar. E, até onde eu saiba, você simplesmente odeia hospitais.

– Você sempre pensa nesse lado? O lado ruim?

– Sim. Um de nós tem que pensar. E o destino me escolheu. - ele deu um sorriso de lado. - E eu me preocupo com você, Elena. Ainda mais agora que o próprio Kai me pediu para tomar conta de você. - ele falou, sarcástico.

Kai pediu pro Damon tomar conta de mim? Isso é alguma piada?

– Pera, pera. O que? - comecei a falar, quase rindo.

– Isso mesmo. Ele me ligou e pediu para que eu tomasse conta de você enquanto ele estivesse fora. - ele sorriu de lado.

Foi aí que comecei a gargalhar.

– Por favor, me diga que você tá mentindo.

– Não estou mentindo. Ele me ligou pedindo pra fazer a coisa que eu faço desde que tinha meus 6 anos.

– Ah, meu Deus.

Pegamos nossos cafés e rosquinhas e fomos para o carro. Pensando bem, acho que não seria nada mal dar uma chance.