O Reflexo escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 1
Capítulo 1




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Olho no espelho. E vejo o que sou.

Odeio quando as pessoas fazem isso. É tão óbvio. As pessoas deveriam fugir do óbvio. Quando eu olho no espelho, vejo o que eu não sou. A questão é... Será que eu sei separar o que sou do que não sou? Bom. Agora eu sou os dois. Vou contar a vocês minha história.

Meu nome é Wesley Ferreira, mas todos me chamam de Wes. Na minha opinião, é muito mais bonito. Eu tenho características físicas um tanto... Incomuns. É raro no Brasil encontrar alguém com cabelos loiros, ou com olhos acinzentados. Os dois juntos? Nossa, nem me fale. Desde pequeno, as pessoas me consideram meio maluco. Só porque ninguém vê o que eu vejo.

Eu devia ter uns seis anos quando olhei pela janela do meu quarto e vi um menino. Um menino comum. Mas o menino, de longe, parecia ser eu. Era como se eu estivesse olhando para um espelho muito longe. Mas eu soube que não era um espelho quando o garoto olhou pra mim e acenou. Eu acenei de volta. Parecia que eu estava repetindo as ações dele. Mas não era de propósito.

Meu coração bateu um pouco mais forte quando o garoto começou a se aproximar. Eu quis fechar a janela, baixar as persianas, me esconder dentro do armário. Afinal, o garoto poderia muito bem ser qualquer ladrão de quarto. Mas alguma coisa me disse para não fechar. Talvez a imagem de mim mesmo fosse perturbadora demais para que eu simplesmente ignorasse. Quanto mais perto ele chegava, mais difícil era para mim deixar de olhar. Eu queria pular a janela e correr até aquela imagem, para saber se era real. Eu estava hipnotizado.

Após tanto correr, o garoto chegou até mim. Ele não era exatamente igual, mas era muito parecido.

- Oi, garoto! – Disse ele. Deveríamos ter a mesma idade.

- Olá... - Eu disse, um pouco perdido.

- Ahn... Posso entrar?

A desconfiança bateu em mim. Eu ainda estava encantado por encontrar alguém como eu, mas isso não significava que ele era boa pessoa.

- Para quê?

- Para brincar, ué!

- Eu nem conheço você.

- Nunca vai conhecer se continuar com essa palhaçada, guri. Qual o seu nome.

- Ah... É Wes.

- Wes? Nome estranho para esse país, mas tudo bem.

- Não vai me dizer seu nome?

- Eu não tenho nome. Se quiser pode inventar um pra mim... - O menino olhou distraidamente para o interior do meu quarto, e encontrou uma coisa que o atraiu. - Nossa, você tem um gato!

O menino pulou a janela do quarto e correu até a bola de pêlos cinza, que tentou se esconder.

- Tome cuidado – eu disse. - Vai acabar machucando ele.

- Você acha que eu vou machucar um gato? Eu não sou nenhum assassino não, senhor Wes. - Disse ele para mim, como um professor que chama a atenção do aluno por estar conversando. Depois, se dirigiu ao gato, imitando um bebê. - Quem é a coisinha mais fofa desse mundo? O super gato da cor dos meus olhos!

- O nome dele é Nagato – o repreendi, indo até o filhote e o aninhando em meus braços.

O garoto se levantou.

- Muito gentil da sua parte apresentar o gato, uma vez que ele não pode falar. Mas eu vou dizer uma coisa: vocês tem um péssimo gosto para nome por aqui. Acho que não deveria ter te pedido para me dar um nome.

- O que você quer, afinal?

- Eu? Eu já disse o que eu quero. Eu quero brincar. - Eu desviei os olhos. - O que foi? - Perguntou ele. - Você nunca brincou antes?

- Já brinquei sim. É claro que já. Mas geralmente eu... Não brinco.

- Eu também não. - Disse ele, um pouco triste. - Foi por isso que eu vim aqui. Mas... Acho que você não quer brincar.

O menino foi até a janela e colocou o pé como se fosse pular.

- Espera! - Eu gritei. Ele olhou para mim.

- O que foi?

- Ahn... Quem sabe você devesse... Ah... Voltar amanhã. Para a gente brincar.

Os olhos do menino se iluminaram.

- Tudo bem – disse ele, sorrindo. - Até amanhã, Wes.

E pulou. Eu fui para a janela e coloquei Nagato próximo ao canteiro que beirava a janela, onde ele poderia comer em paz suas margaridas. Embora ele já estivesse longe, eu respondi.

- Até amanhã, garoto.


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