Ela encarava o objeto cortante a sua frente enquanto apoiava as mãos no balcão gélido. Seu coração espancava-lhe o peito, e seus pensamentos estavam inquietos, batendo contra si e impedindo-a de se concentrar em apenas um. Mas a mesma pergunta pairava na sua mente, centenas e centenas de vezes.

"Ela devia mesmo fazer isso?"

E a resposta? Apesar de incerta, ela sabia qual era.

Sim, ela devia.

Não aguentava mais. Estava cansada daquilo, de tudo aquilo. Estava cansada da dor que sentia, estava cansada do vazio que tinha em seu peito, estava cansada de se sentir sozinha, apesar de sempre estar com alguém. Estava cansada de estar tão perdida.

Ela procurou ajuda; tentou pedir ajuda. Ela gritou, mas seus gritos ficaram perdidos na escuridão. Ninguém a ouvia. Todos estavam surdos para ela.

E ela ficou muda para todos.

Ela tinha amigos, mas ao mesmo tempo não tinha ninguém. Tinha família, mas ao mesmo tempo era uma orfã. Ela tinha tudo, e ao mesmo tempo não tinha nada.

Ela se sentia sozinha, sentia como se não pudesse contar com ninguém. Ninguém realmente se importava.

Ninguém realmente se importava.

Ela se sentia sufocada com sua dor, com seus machucados, com sua solidão. Sentia como se tivesse um nó se formando em sua garganta, todo dia ficando mais e mais espesso.

A cada dia ela se afogava mais em sua escuridão, em suas mágoas, em sua tristeza, em sua dor.

E o único pensamento claro e concreto em sua mente, o único sentimento convicto que tinha era que aquilo tinha que acabar. Ela queria que aquilo acabasse.

Ela não aguentava mais.

Estava cansada de tudo aquilo.

Pegou a lâmina, ainda um pouco relutante, e estendeu o pulso esquerdo. Apertou o objeto contra os dedos, e então fez.

Um corte de oito centímetros na vertical.

Uma veia cortada.

O fim.

Soltou a lâmina, e ouviu o tilintar agudo do objeto se chocando contra o piso. Deu alguns passos para trás até sentir a parede gelada contra suas costas, e escorregou lentamente, de encontro com o chão.

Sentada, sozinha, ela encarava o sangue abundante saindo de seu pulso. Encarava, queita, enquanto as gotas vermelhas caiam no chão branco, manchando-o.

Encarava suas lágrimas. Suas lágrimas vermelhas.

Suspirou, com um pequeno sentimento de alívio enchendo seu peito. Aquilo iria acabar. Logo, tudo aquilo iria acabar.

Sua dor iria acabar.

Sua solidão iria acabar.

Sua tristeza, finalmente, iria acabar.

E então, sozinha, em seus últimos minutos de vida, sua visão ficou embaçada, e ela começou a chorar. Suas lágrimas reprimidas por todo aquele tempo, agora escorriam pelo seu rosto pálido. As lágrimas incolores se misturavam com suas lágrimas vermelhas.

Pequenos pontinhos pretos manchavam sua visão, e dessa vez ela sabia que sua vida estava se esvaindo. Sabia que estava indo embora para lugar nenhum. O cansaço tomava conta de seu corpo e seus olhos ficaram pesados, e, lentamente, se fecharam.

Ela tinha gritado, mas ninguém a ouviu.

Então ela resolveu afogar-se sozinha em sua dor.