Who We Are escrita por Moonlight, Redbird


Capítulo 17
Carta XVI - Querida Mags: O que diabos há nessa cabeça?


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Eu voltei! Quanto tempo? Dois meses? Mais? Posso em explicar.
Nas notas finais! hahaha

Antes de mais nada: TALIANE JANSEN QUE RECOMENDAÇÃO MARAVILHOSA. REDBIRD E EU FICAMOS EUFÓRICAS, PERDIDAS E MARAVILHADAS. ESTOURAMOS CHAMPAGNE E LOUVAMOS SEU NOME. OBRIGADAAA!!!! Esse cap é pra você!



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— Você tem que me explicar tudo. Pedaço por pedaço dessa história. Detalhe por detalhe. — Disse Katniss, logo após obrigar Matt a se sentar-se à mesa da cozinha e avaliar os pontos dados em seu braço esquerdo. Peeta achou um pouco exagerado tratá-lo como se ele tivesse quatorze anos novamente e tivesse se metido em brigas de rua – algo que Matt já fizera uma ou duas vezes – mas ao saber que se tratava de algo mais grave, a ponto do prefeito discretamente trocar três ou quatro palavras com o casal sobre o ocorrido, o fez relevar um pouco a atitude de Katniss.

— Não foi minha culpa, no geral. — Matt começou, se defendendo arduamente. — Mas também não foi culpa do Dylan. — Suspirou.

— Matthew. — Seu pai se aproximou. Antes ele estava apenas encostado na pia, observando o corte de mais ou menos doze centímetros que seu filho adquirira, mas não pode deixar de fazer mais do que isso. Ele andou, olhou no fundo dos olhos com um cansaço descomunal e pediu. — Conte-nos logo.

Matt soltou as mãos de sua mãe do seu braço, abaixando a blusa de manga longa. Depois, levantou-se da mesa da cozinha, sem dizer nenhuma palavra e se sentou na poltrona da sala, esperando seus pais lhe seguir. Ele não teria aquela conversa como um garotinho que foi pego fazendo algo errado. Ele se sentaria frente a frente com seus pais – não estamos falando dos tributos, nem vitoriosos, nem soldados – e contaria como foi pego dentro de uma sala proibida no edifício da justiça e quase foi preso.

Tudo começou no dia 25 de Maio.

Matt tinha três opções plausíveis: Ele poderia deixar aqueles cachos loiros daquele jeito mesmo, - metade da parte da direita mesclando-se a parte da esquerda, enquanto as extremidades se separavam de tal modo que davam a Matthew a aparência de um abacaxi. Ridículo. A segunda opção, a mais viável, era cortar tudo novamente. Voltar do zero. Tirar os cachos e deixar o corte curto e liso que seu pai usava quando jovem (e ainda usa, agora grisalho). Já a terceira opção era lavar o cabelo naquela manhã quase chuvosa. Ia render um belo resfriado, quem sabe, mas naquela altura, umas tosses e espirros não iriam derrubar o mais novo jovem de 17 anos de Panem.

Sim, dezessete anos. Embora ele tenha repetido a idade inúmeras vezes em sua última carta à sua irmã, agora era oficial: Faltava um ano para a tão desejada maioridade. Na manhã do seu aniversário de 17 anos, Matthew Mellark recebeu a primeira carta oficial do Governo com seu nome no envelope, assim como todos os adolescentes que também completavam 17 anos naquele mesmo dia. A carta dizia:

Caro Jovem Cidadão de Panem

Você está a um passo de torna-se responsável por seus atos e um cidadão ativo em nosso país. Como forma de visar o melhor seu futuro, convocamo-los para estar presente no cartório de seu Distrito e inscrever-se para o XXI Teste de Aptidão, onde os jovens passarão por provas e avaliações físicas e psicológicas para que possa ser auxiliado na escolha de sua profissão.

As inscrições do segundo trimestre irão até o dia 30 de Julho, e serão feitas do Edifício da Justiça ou no Cartório Oficial de seu Distrito. Esta é a única oportunidade: Os testes são somente feitos com jovens de 17 anos uma única vez. Caso perca a data da inscrição, uma nova convocação não será feita.

Participe! O teste é facultativo, mas seu futuro é definitivo.

Panem Today

Panem Tomorrow

Panem Togheter.

Matthew avaliou a carta, de todos os seus ângulos, e leu todas as palavras mais de uma vez, antes de dobrá-la, colocá-la na primeira gaveta de qualquer móvel de sua casa e nunca mais vê-la por meses. Ele não faria o teste. É certo que suas primeiras edições foram más vistas pelos moradores de todos os distritos e inclusive Capitol: Para muitos, era só mais uma maneira de ter o nome e capacidades físicas e mentais dos jovens para futuras guerras ou – que não seja verdade – alguma espécie de jogos vorazes. Também era certo que muitos jovens da Capitol ficavam sem empregos por não terem formações necessárias, e muitos dos jovens dos Distritos mantinham-se nas atividades de sua área. Tomaram anos para que as pessoas, principalmente as mais novas – que eram público alvo – vissem com bons olhos o projeto de Linda Hookihn, socióloga e política do Distrito Seis. O Teste tornou-se padrão entre a maioria dos adolescentes ao longo dos anos, mas ainda era facultativo, e Matt não precisava dele para saber que o seria. Ou no caso, aquilo que já era.

A crônica da semana tinha sido entregue para Envy Summers no dia anterior. Ele não escreveu nada sobre a Varíola Neuroforme, como ela havia ordenado na última semana. Toda vez que sentava seu corpo cansado na frente do computador, as únicas pérolas que saiam eram “A Varíola Neuroforme é uma doença que não me deixa dormir por quase dois dias, sendo que minha crônica está atrasada e meu emprego está contato a cada tic dos tic tocs do relógio”. Graças a isso, Matt simplesmente chutou o pau da barraca e escreveu sobre o Admirável Mundo, com M maiúsculo, que ele acreditava que existia. Envy Summers ligou horas depois parabenizando pela crônica genial, mas alertando os perigos de publicá-la.

Depois ela desejou feliz aniversário para M.Mellark, Abraham Lincoln, que seja.

Com o cabelo ainda molhado, Matt correu para não se atrasar novamente para suas aulas. Ele sabia que a coordenadora da escola não queria mais ver seu rosto, implorando por uma chance de entrar na escola e dizendo, (prometendo!) que era a última vez que aquilo ia acontecer. Não foi, ele se atrasou por várias vezes durante aquele último ano escolar, mas na data de seu aniversário, ele heroicamente atravessou o portão dois minutos antes do horário de fechá-lo. Estava tudo dando certo naquele dia maravilhoso.

Matt recebera cumprimentos de todos os lados. Mas, ao ver Dylan em sua frente, correu para os braços do melhor amigo e o ergueu do ar. Não somente as notas vermelhas de física, todas as provas em duplas, algumas noites de fogueira na floresta do Distrito, uma garota – há muito tempo – e os olhares desejosos de algumas meninas: Matt e Dylan também dividiam a mesma data de aniversário.

— E aí, esse ano eu ganho presentes? — Dylan perguntou.

— Como sempre, irmãozinho.

Todos os anos de sua existência, embora Matt nunca tenha pedido, a Capitol manda presentes em seu nascimento. Alguns são até desejados, como os de Effie Trinket e sua ótima intuição, ou até mesmo é compreensível que a antiga (e eterna) equipe de preparação de sua mãe, Vênia, Octavia e Flavius (todos os três já velhos, com suas vidas em bons eixos e agora, um tanto mais sábios) lhe mandassem mimos ou presentes neste dia, mas quem eram todas aqueles socialites, políticos e famosos que enviavam caixas ano após ano? Matt não sabia como, mas para aquelas pessoas, enviar-lhe presentes era um privilégio exclusivo sem tamanho.

E como ele ganhava as coisas mais sem noção para seu próprio mundo, todos os anos desde que ele conhecera Dylan, seu amigo ganhava os presentes mais caros, indesejados, engraçados que a Capitol tinha a oferecer. Eles se reuniam na sala de estar dos Mellark, todos os anos, na companhia de alguns amigos e tentavam descobrir o que estava nas caixas antes mesmo de abri-la. Antigamente, o jogo se chamava “O que diabos há nessa caixa?” Mas sua irmã, Mags, lhe alertou que talvez isso fosse desrespeitoso com as pessoas da Capitol que, mesmo não tendo direito nenhum de presenteá-lo, só tinham boas intenções quanto a isso. Nessa ocasião especial, Matt quis rebater pensando na possibilidade de ter uma bomba ou coisa assim naquelas caixas, mas ele sabia que elas eram 100% seguras, e que todo o conteúdo de qualquer embalagem era analisado antes mesmo de chegar ao trem e ser retirado do lugar destinatário.

Naquele ano, a comemoração foi um pouco mais limitada: Amy e Fiama eram presenças confirmadas, como todos os anos. Chuck estava bem ocupado com os negócios de suas mães, mas ele dera um jeito de estar presente. Presley e Patrick mudaram de distrito. Os pais de Rebeca haviam deixado-a de castigo por uns dias depois de ser pega beijando um garoto atrás da escola – não, não era Dylan. E por fim, Genevive e Hyoran não puderam ir, ocupados com qualquer outra coisa.

No seu aniversário de 17 anos, Dylan ganhou um telefone portátil – Matt já tinha dois, embora não usasse nenhum deles – um blazer azul que prometeu usar em todas as ocasiões possíveis, um vídeo game – Matt também já tinha um desses – e Fiama, excepcionalmente, ganhou diferentes tipos de maquiagem na cor azul, que provavelmente eram destinadas a Matt.

Por falar em azul, a caixa branca e azul era a mais chamativa de todas, porque tinha muito dente de leão e amoras desenhadas ao redor. Matthew nunca recebera seus presentes de Mags embrulhados – geralmente eles se davam coisas a seco, mas com amor – e ele sabia que aquele era dela somente de olhar. Agarrou com os dedos o pacote, abriu-o sem cuidado algum e pegou nas mãos o bilhete que havia dentro.

“"Querido Matt

Olá Matt, feliz aniversário! Espero que esteja tendo um dia maravilhoso ( e realmente espero que meus presentes cheguem no dia certo como o homem do serviço postal de Panem prometeu). Aposto que você está aproveitando o seu dia do jeito que você sempre faz, com tudo o que você tem. Gostaria de poder estar ai, mas realmente não pude, por favor me perdoe. Quando vi o presente soube na hora que ele deveria ser seu, por isso estou enviando um kit de química completo (brincadeira Matt,eu juro). Acho que você vai entender porque lhe enviei o livro com a história de Panem e as músicas. Como você vai perceber, a frase que abre o livro é de um homem importante conhecido como Mahtma Gandhi, deixo para você com seu faro jornalístico descobrir quem ele foi, porque não faço a menor ideia, mas acho que a frase dele cabe perfeitamente aqui e com o temos vivido. "Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova" Também envio as músicas novas que descobri na Doo Dools. Elas são incríveis e sei que você gosta de música tanto quanto eu.Talvez também seja para te lembrar que, não importe o quão feia seja a história do nosso passado, sempre existe a música. Aproveite seu aniversário Matt, você mais do que ninguém merece que seus anos sejam lindos como um dia de primavera na campina. Assim que conseguir umas folgas com a pesquisa e com a faculdade farei o possível para visitar o 12. Estou morrendo de saudades. Parabéns Leãozinho.

Com amor, da sua irmã que está se sentindo velha

Mags.”

— Ela ainda é a melhor. — Amy comentou.

— Sempre vai ser. — Matt concordou.

— Bem, é sempre ótimo ganhar coisas de graça, e como o melhor e último presente acabou de ser aberto, eu tenho que ir. — Dylan falou, se levantando, com metade de um pão com nozes e passa na boca.

— Mas é três e meia ainda, Dyl. — Amy falou, olhando para seu relógio de pulso.

— Pois é, eu tenho que ir no Edifício da Justiça. Teste de aptidão e tudo. — Dylan respondeu.

— Achei que não fosse fazer. — Matt falou. — Não queria pilotar aerodeslizadores?

— Pois é, eu quero. E vou! — Dylan já estava em pé, colocando seu casaco. — E se meu teste de aptidão der esse resultado, minhas indicações serão melhores.

— Então me espera, eu já vou indo também. — Amy disse. — Joseph é um amor, ele sempre me cobre e encobre minhas mancadas, mas meu chefe não é tão condescendente. E estamos numa Quarta feira, alguém tem que trabalhar.

Amy e Dylan ainda ficaram aproximadamente uns 10 minutos, conversando e se despedindo do Sr. e Sra. Mellark – de quem eles gostavam muito. Fiama e Matt ficaram um bom tempo escutando músicas e assistindo besteiras até se cansarem e irem para a Campina.

E se Matt tivesse continuado na Campina em vez de levar Fiama para a cidade, talvez – apenas talvez – ele teria a chance de não se meter em problemas.

Dylan correu por todo a campina, vila dos vitoriosos e cidade até encontrar Matt e Fiama comendo doces escondidos dos outros amigos na loja, e antes que eles pudessem se desculpar com Dylan ou inventar qualquer desculpa não convincente, o garoto arfou e falou:

Querido Matt: Eu tenho o seu presente de aniversário pela primeira vez na vida. — Dylan apoiou as mãos no joelho, tomando mais ar. Depois se levantou e encarou os olhares confusos de Matt e Fiama. — Eu estava correndo. Enfim, vem comigo!

Matt, Fiama e Dylan chegaram em tempo record frente ao prédio do Edifício da Justiça. Dylan apontou o local vitoriosamente, e Fiama tirou o pirulito da boca enquanto gargalhava.

— Ele te deu o Edifício da Justiça. — Ela riu. — É pra casar!

— Não exatamente o Edifício da Justiça. — Dylan corrigiu, também rindo. — Mas é algo bem mais precioso. E precisamos de um plano, agora. Aliás, é muito bom que você esteja aqui com a gente, Fiama. Quando você vai fazer 17 anos?

— Daqui a dois meses.

Dylan explicou todo o plano. Fiama chegaria confusa na recepção e causaria um tumulto ao pedir para os seguranças informações sobre como se voluntariar para o “Teste de Aptidão”, dizendo que não gostaria que seus irmãos o fizessem.

— Você quer que eu minta? — Fiama perguntou, triste. Ela tinha um trato com seus pais, e em sua mente metódica, mentir era um dos piores defeitos e atos do ser humano. Por isso, não proferia uma só falsa palavra sequer, o que fazia dela um pouco afastada das pessoas. Afinal, todos gostam de acreditar na mentira.

— Não é mentir! — Dylan falou, carinhosamente. — É só distrair pessoas. Por favor, Fimi. É meu aniversário. E do Matt! Você gosta do Matt, não gosta? Quem não gosta do Matt?

— Bem, todo mundo ama o Matt. — Ela afirmou.

— Então! Eu prometo que vou retribuir. — Dylan piscou para Fiama, que se inclinou para dar-lhe um beijinho na bochecha enquanto entrava correndo no Edifício. Dylan se virou para o amigo, subindo devagar cada degrau. — E você, só me segue. Você precisa confiar em mim.

— Está meio difícil com toda essa sua loucura de hoje, Dylan. — Matt respondeu, seguindo-o pela escadaria.

— Eu sei, Matt. Sei também que achou a mentira que eu inventei pra Fiama algo de muito mal gosto. — Dylan falou, se referindo a ‘voluntariar pelo teste’. — Mas no final, você vai se dar bem. — Garantiu.

Bom, isso era uma mentira, em partes. Fiama tinha razão.

Juntos, os três seguiram pelas escadas até o 5° andar. Fiama se posicionou, enquanto Matt e Dylan tomavam café no canto da sala. Ela foi conversar com os seguranças, ignorando completamente suas informações sobre se dirigir a recepção, e quanto mais alto falava, mais as pessoas ao redor reparavam nela. Ela estava nervosa, claro, mas como toda e qualquer coisa no qual ela colocasse sua concentração, Fiama executada suas palavras e ato de maneira calculada. Chorava, quando era preciso. Seus olhinhos castanhos acionaram completamente a empatia dos guardas, e só isso foi necessário para que Matt e Dylan largassem o café e subissem as escadas da esquerda até o 6° andar.

— Porque estamos aqui? — Matt perguntou.

— Hoje à tarde, eu deveria estar no 5° andar, e acabei parando aqui. — Dylan se explicou. — E aí eu olhei sem querer por entre uma porta de vidro e vi... Livros.

— E? — Matt ironizou.

— E estavam trancados. — Dylan rebateu. — Porque, Matt? Porque não podemos ver, como os livros da biblioteca? Bom, de qualquer forma, deve ser uma boa aventura pra você e seu faro jornalístico, Abraham.

— Cala a boca, Dylan. — Matthew olhou para os lados, constatando que não havia realmente ninguém para ouvir seu pseudônimo.

Dylan parou frente à porta de vidro, trancada, como havia dito.

— Tudo bem, esse tipo de porta é destrancada por dentro da sala. É coisa de segurança. — E deu um soco perto da maçaneta, quebrando o vidro, cortando as mãos e manchando a cara de sangue quando colocou a mão na boca para evitar o grito. — Droga!

— Tá ok, deixa que eu abro. — Matt colocou a mão no buraco na porta. Foi encaixando-se entre os espaços, cada vez mais, até dobrar o cotovelo e causar um corte profundo no seu braço. Mesmo com a dor e o sangramento, ele só parou quando se viu com a porta aberta.

O cheiro era de pó e mofo. Dylan o ajudou a se recompor e a estancar o braço de Matt com parte de sua camiseta rasgada – eles com toda certeza teriam problemas em sair de lá depois dessa. Mas valia a pena.

— Olhe para isso. — Matt suspirava.

Pilhas e pilhas de livros no chão, próximo as janelas e em prateleiras se encontravam na sala. Grossas camadas de pós cinza o cobriam, fazendo-o ponderar a quanto tempo estavam escondidos. Porque estavam escondidos? Dylan tinha realmente razão.

— O que eles são? — Dylan sussurrou, perguntando.

— O passado. — Matt não tirou os olhos das pilhas. — E o futuro.

Seus pés o guiaram até o primeiro livro da pilha mais próxima as prateleiras. Atlas, estava escrito. Quando era criança, Matt ouvira a história do Deus que segurava o mundo nas costas por amor, mas talvez suspeitasse que fosse uma grande mentira, ou uma lenda mal contada. Agarrou o livro dentre os dedos, esperando pela primeira vez ouvir uma história na integra, e quando abriu a capa, encontrou algo ainda melhor. Mapas.

América. América do Norte. América Central. América do Sul. Europa. Ásia. Oceania. África.

— Isso é...

— Hey garotos! — Uma voz áspera gritava. Ele estava ferrado. Matt e Dylan viraram seus rostos assustados para o Homem com uma Lanterna, que tinha mais ou menos o dobro de suas alturas. Seus braços eram grandes, e Matt não teria um daqueles nem se carregasse a padaria em seus ombros. Suas mãos e seu rosto tinham marcas vermelhas e um pouco roxas, e talvez aquele homem fosse um frequentador nato do Clube do Box clandestino que o distrito tinha. — O que estão fazendo aqui? Como entraram aqui?

Embora Matthew seja o mais esperto dos dois, Dylan e sua excepcional malandragem, junto com a capacidade de achar as melhores desculpas – uma super qualidade/defeito que foi por anos treinado em garotas – se recuperou primeiro.

— O que você está fazendo aqui? — Disse ele, completamente revoltado. — O garoto! O garoto roubou meu relógio e subiu esse lugar correndo! Nos ajude! — Dylan mal terminou de falar e se pôs a sair correndo da sala, mas foi barrado pelo Senhor.

— Não caio nessa, garoto. — A voz do senhor ficou até mais grave e um tom ofendida. Ele agarrou no braço de Dylan e já estava a caminho de Matt quando esse falou:

— Sim!... O senhor não cairia nessa mentira. Isso significa que você é muito competente. — Matt começou, falando aos poucos, adquirindo segurança. — E eu quero que todo o distrito saiba disso. O quanto nós, do Distrito 12 e eu, Matthew Mellark — Pela primeira vez na vida, Matt deu ênfase no Mellark. Soou tão estranho quanto às vezes em que ela brincava com sua irmã na infância, onde eles transitavam de reinos em reinos, florestas a florestas e distritos a distritos somente em citar Mellark. Quando citavam Everdeen, ganhavam alguma espécie de brinde, sendo esses geralmente arcos ou flechas extras. — Te agradecemos pela segurança e te devemos por isso.

Mellark, hãn? Por isso eu te reconheci! — O homem falou. — Seu pai tem uma padaria. Ele diz que é você quem faz os doces de amora, não é?

Matt franziu as sobrancelhas. Ele sabia que não funcionaria. Não em um distrito doze quase 30 anos depois de tudo. Aqui, nesse lugar, apesar dos pesares, Mellark era só a padaria, pois aparentemente os moradores tinham em seus corações um acordo mutuo sobre isso.

— Sim, sou eu mesmo. — Respondeu, referente ao doce.

— São muito bons! Agora vamos, Doce de Amora. — O cara agarrou o braço de Matt, antes de perceber que apertava bem no curativo improvisado que Dylan fizera, emitindo grito de dor de Matt. — Então foi assim que abriram a porta. Bem, vamos passar no hospital também. Antes de falar com o prefeito, ou não sei, dar uma voltinha na prisão.

Naquela tarde, eles falaram com o delegado que, por não aparentar crimes graves – aqueles que o distrito abominava como agressões, roubos (que não fosse de comida), ou assassinatos – dissera que o necessário era somente falar com o prefeito.

— E foi isso, mãe. — Matt concluiu.

Katniss não desfez sua carranca em nenhum segundo da narrativa, principalmente ao tentar entender o que Matt achou que estaria naquela sala.

— Porque você quer esses livros? — Ela perguntou.

— Porque não posso tê-los? — Ele rebateu. — Nem eu, nem ninguém, nem ao menos vocês. O que eles escondem? O nível de crueldade que chegamos até formar Panem? Como fomos, e o que perdemos?

— Talvez seja algo que não estejamos prontos para lhe dar. — Katniss falou.

— Você não pode dizer isso. — Peeta Mellark respondeu, logo em seguida. — Não há nada que não estejamos prontos para lhe dar. Mas talvez ele esteja certo. —Katniss dirigiu seus olhos alarmantes ao marido. Ela sabia o que aquilo significava, já que esse foi o olhar que Peeta sempre lhe deu quando se tratava de assuntos com Matthew. Era notável sua capacidade de aprendizagem e compreensão desde pequeno, mas sua curiosidade estava acima de qualquer limite. Ouvir dos seus pais uma versão censurada do que foi os jogos aos seis anos não o danificaram. Mas na mesma idade, Haymitch já dizia que Matt “iria causar problemas porque era curioso demais”. Aquele momento era um grande talvez.

— Você está se saindo muito bem como Abraham Lincoln, mas vigie sua língua. — Katniss começou seu sermão, aquele que ela se preparava anos para falar, suspirando. — Nenhum governo gosta de ser desafiado, nem mesmo os mais pacíficos.

— Mags lhe deu um livro sobre a história de Panem, certo? — Peeta perguntou, fazendo Matt, completamente perdido e surpreso, acenar um sim. — Use-o. Concentre no Distrito 12. Tente descobrir mais detalhes de quem foram os primeiros moradores, nos dias escuros e nos primeiros jogos. Converse com Haymitch, anote as memórias dele. Depois disso, depois de ter tudo, você pode começar a ver quem era o Distrito Doze... Antes de ser um Distrito.

— O que tinha na região de Apalaches e porque esse lugar se transformou em um que só tem capacidade física de ter 10 mil pessoas? Se eu encontrar mudanças geográficas aqui no 12 em relação a Apalaches, posso supor que isso ocorreu no país todo. Talvez em função de guerra. Ou desastre natural. — Matt falou.

— Pois é, eu nunca tinha pensado nesse ponto. — Katniss disse, pensando. Depois, voltou sua concentração: — Ache uma maneira de ganhar a confiança, e assim, ganhar os livros. Quem sabe, até esquecem que você estava obcecado neles.

— Você é mais do que um cara esperto, você tem influencia com Abraham. — Peeta falou. — Cuide disso. Não publique coisas que vão de seu feitio pessoal. Use Abraham como uma lente, mas mantenha seus olhos. Isso é tudo.

— Não posso acreditar que vocês estão nessa. — Matt sussurrou, contente.

Eu odeio tudo o que você está fazendo. — Katniss falou. — Mas não posso parar você. E não é mais minha vez de fazer alguma coisa.

— Então vocês estão comigo? — Matt perguntou.

— Sempre. — Peeta respondeu.



Querida Mags

Lembra-se de como nós prometemos nunca usar nosso sobrenome para adquirir vantagem, uma vez que: Ele já fazia isso por contra própria, sem que nós dois ao menos desejasse. E segundo, isso era ridículo? Bom, eu gostaria de te falar que eu tentei fazer isso hoje, e agora temos o motivo número três: Não dá certo.

Eu sei que até essa carta chegar a Capitol, papai e mamãe já ligaram para você, lhe contaram toda a história e você irá ligar para mim para completar o número de membros da família que precisam me dar uma bronca sobre invadir lugares proibidos e comprar lutas desnecessárias, e isso inclui Effie, que saberá mais cedo ou mais tarde. Mas eu também sei que, até essa carta chegar a você, você provavelmente estará contente com o que Abraham Lincoln teve a dizer essa semana, porque eu corri atrás de laboratórios e hospitais para que pudessem me explicar sobre a Varíola Neuroforme feito um louco. Mas só pra deixar documentado, eu não iria escrever sobre a Varíola Neuroforme.

Minha crônica da semana era sobre o Mundo, como espaço geográfico, com M maiúsculo, e já estava nas mãos de NV quando eu lhe pedi para não publicasse. Por enquanto. Sei que você irá se perguntar muitas coisas, especialmente no que eu estou pensando.

Então, como aquele jogo que você censurou o nome, podemos jogar “o que diabos há nessa cabeça” comigo. E eu não vou esconder nada não, nem mesmo os detalhes que eu sei que você odiará. Vamos fazer isso.

Eu não pude suportar a ideia de ter um lugar que seja proibido para os cidadãos. Não pude mesmo, principalmente se tratando de uma biblioteca. Eu sei que eles disponibilizam alguns livros, especialmente os mais novos, mas aquele lugar era diferente. Eles tinham livros que eu sempre imaginei na vida. Eu abri um, chamado Atlas, e tinha mapas e mapas de lugares que talvez, ainda existam.

Porque, Mags?

Porque temos sempre a perspectiva em acreditar que todo o desconhecido é errado e perigoso? Porque nós não podemos aceitar que talvez haja plantas lá fora que sejam mais eficientes que as nossas? Ou que, simplesmente, há coisas lá fora? Talvez pessoas.

Eu tenho total ciência do risco de radiação, que com toda certeza será seu primeiro argumento, mas caso não se lembre, há alguns anos atrás éramos capazes de criar lugares perfeitos com climas perfeitos, feitos especialmente por diversão, chamado arenas. Sem as mortes que ocorreram nelas, éramos capazes de viver em lugares como aquelas ilhas, e florestas? Eles criavam bestantes. Eu sei, e eu acredito que uma cientista como você, sozinha, é capaz de criar uma espécie de soro que me previna de qualquer doença que possa haver lá fora. E mais do que acreditar na tecnologia, eu acredito em você.

Eu só acho que fechar os olhos para os quilômetros e quilômetros de terra, mar e céu afora não vai fazer com que as coisas estejam bem. Fechar os olhos para a primeira das guerras fatais também não. E fechar os olhos para seres humanos que talvez estejam lá for e talvez precisem de ajuda também não irá. Afinal, nós aprendemos muito sobre guerras para correr atrás de outras. E mesmo que não pisemos fora desse país, saber sobre o resto do Mundo é o preço para nos tirar da completa ignorância.

Enfim, este é o jogo. Essa é minha cabeça. Eu sinto muito.

Ah, além de tudo isso, meu aniversário foi bem legal. Papai fez pão com passas e nozes, e me defendeu logo depois de me dar uma bronca. E mamãe me deu aquele olhar de “você está crescendo”, que ela deu a você logo após suas malas estarem prontas. Lembra-se? Só agora vi que é difícil encarar aqueles olhos.

Aliás, o ponto alto foi o seu presente. Eu o amei. Muito obrigado, Mags. Você ainda é a melhor.

Com amor,

Matt Mellark.

FOLHA DOIS

VARÍOLA NEUROFORME: DOENÇA MENTAL OU SOCIAL?

Abraham Lincoln.

Durante algum tempo, os cientistas mais prestigiados e engajados de Panem vem tentando entender a Varíola Neuroforme. Essa é uma doença grave, ocasionada pela mutação de um antigo vírus que causava uma doença conhecida como Varíola.

A Varíola era causada pelo Vírus Orthopoxvirus. Esse vírus, que se considerava extinto, dizimou cerca de 60% da população do distrito 13 logo após os Dias Escuros. Tal doença sempre foi acompanhada de muito preconceito, já que além da febre alta também causava erupções.

A sua predecessora, a Varíola Neuroforme, é ainda mais grave, por atingir diretamente os tecidos e as células do cérebro. Funções, principalmente as que são controladas pelo lado direito do cérebro, são completamente comprometidas pela doença. Assim como a Varíola, essa doença também pode causar problemas de pele e falência em órgãos como fígado, piorando ainda mais a aparência e o estado dos pacientes infectados.

Ninguém sabe ao certo como o novo vírus surgiu. A teoria mais aceita pelos especialistas é que ela tenha sido criada em laboratório, durante a revolução do Tordo, como uma arma biológica. Isso explica porque mais de 70% dos casos são procedentes da Capital. O Vírus teria sido transmitido pelo ar, mas a sua mutação passou de mãe para filho durante a gestação. Por isso, alegam os especialistas, a doença só tenha começado a ser conhecida nos últimos 15 anos.

Mas, tudo isso é ciência. Tudo isso são dados. Tudo isso são números. O que importa realmente, de verdade, é o modo como tem vivido esses pacientes e que, surpresa, eles não são apenas números.

Esses pacientes são obrigados a conviver com o pior tipo de ignorância todo os dias. O tipo de ignorância que é causada por medo, pelo desconhecido. "Vou me infectar se chegar perto? Vou me tornar como eles se abraçá-los?". Muitas pessoas, nos círculos mais proeminentes da Capital, vêm defendendo a internação forçada desses pacientes em locais "seguros". Por "seguros", eles querem dizer, o mais longe o possível das pessoas saudáveis.

Além da falta de recursos – já que o medicamento para a doença e para as patologias associadas a ela como distúrbios psiquiátricos são caros – esses pacientes ainda são obrigados a conviverem com um tipo de exclusão que é ainda mais cruel do que a própria doença. Esse preconceito ainda é agravado por se tratar de uma doença que reconhecidamente atinge os setores mais vulneráveis de nossa sociadede. Alguns, muito erroneamente, até mesmo chamam a doença de "Varíola da pobreza, ou loucura da pobreza"

Durante nossa história – e não me refiro a história de Panem, mas a história de toda humanidade – nossos doentes tem sido tratados da pior forma possível. Lepra, Aids, Tuberculose, todas essas doenças assim como a Varíola Neuroforme, atingiam setores marginais e serviam para excluir ainda mais pessoas que já sofriam com o isolamento social.

O Orthopoxvirus neurodeformador é com certeza perigoso. No entanto, acredito que exista outro que seja ainda mais perigoso: O preconceito. Ele geralmente é causado pela ignorância. E mata. Talvez até mesmo mais do que o Orthopoxvirus. A boa noticia, no entanto, é que, embora não tenhamos descoberto a cura para a varíola neuroforme, descobrimos a cura para o preconceito.

Bom senso. E, meus amigos, ele é eficaz. Nos distritos ou na Capital.


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Notas finais do capítulo

Bom, eu vou começar por ordem cronológica:

Eu tive uma crise de criatividade. Nem mesmo minha outra fanfic, Evil Ways, estava saíndo. Até agora, não consigo me concentrar em nada para ler, e não terminei um livro sequer. Isso complicava. Todas as vezes que sentava meu grande bumbum para escrever WWA, a história não saia. O que eu poderia escrever? Inicialmente, só seria aniversário do Dylan, com direito a Matty. Depois, só do Matt. Juntar os dois e trazer essa história dos livros me fez ter criatividade o suficiente para trazer personagens que vão aparecer mais para frente, mas que já aparecem em "Beautiful War" (https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-jogos-vorazes-the-hunger-games-beautiful-war-2102098)
Depois de dias, semanas a fio preocupada, eu me desculpei com a Rafah e conversei com ela e outra amiga que escreve fic, e ambas foram excelentes Mags para mim. Elas disseram que escrever deve ser algo para me relaxar, não me preocupar mais. E minha rotina da escola e curso técnico estava muito tensa, minha carga emocional de ver meus amigos se formarem também, e definitivamente todos os veteranos que fazer curso técnico e médio juntos, como eu, me disseram que o segundo ano é o pior, porque é o que cobra mais da escola. O terceiro, os professores te dão nota e te encaminham para Enem e TCC (sim, eu terei que fazer um TCC de eletrônica. Foda).
Enfim, é isso é mais 500.
Antes de iniciar o papo principal que estamos aguardando séculos, quero agradecer do fundo do meu pobre coração a Rafah, que escreveu o bilhete da Mags e a crônica do capítulo de hoje. De nós duas, ela foi a criadora da doença, e achamos ótimo ter esses detalhes expostos. Além disso, Mags é genial, só perde pro quão Talentosa a Rafah é! OBRIGADA AMIGA! QUEBROU O GALHÃO ( pra vocês verem minha situação. Quase não teve crônica nesse capítulo!)

SOBRE A ESPERANÇA O FINAL MOCKINGJAY PART 2 [tem SPOILER ainda, mals]

Gente, vocês viram o Matt? AWWN. Ele é tããão bonitinho, embora eu quisesse muito ver Mags. Pois é, não podemos ter tudo. O que vocês acharam do filme? Apesar de estar muito cortado pra mim (sdds em valorizar a traumatizada Johanna) eu achei muito bom! Achei que era isso mesmo que esperavamos de uma adaptação, e eu to CHOCADA com aquele maldito Joshua Ryan (nome de pobre) HUTCHERSON e aquele Peeta. E a cena que ele entra na guerra?!?!?!?! "My name is Peeta Mellark. I'm from District 12. My name is Peeta Mellark. I'm from District 12. My name is Peeta Mellark. I'm from District 12." AAAH CARAI

E vocês, o que acham?



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