Céu & Mar escrita por Luh Castellan


Capítulo 3
50 Tons de Azul


Notas iniciais do capítulo

Oii amores, espero que estejam gostando.
Obs: Eu resolvi criar os monitores assistentes para auxiliarem no acampamento, no lugar das dríades e náiades.



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Thalia

O ônibus mal estacionou e o garoto saltou do banco, fugindo de mim. Se restavam dúvidas de que ele me odiava, elas acabaram naquele instante. E o sentimento era recíproco.

Esperei a turba de campistas alvroçados diminuir um pouco, para me levantar e sair do veículo. "Eu" e "multidões" não eram palavras que combinavam, aprendi isso da pior forma possível, no internato.

Estávamos no topo de uma colina, ao lado de um grande pinheiro. Vários ônibus laranja estavam enfileirados e uma centena de crianças e adolescentes, na faixa dos 10 a 20 anos, conversavam animadamente. Dalí eu tinha uma vista privilegiada do vale. Campos de morangos estendiam-se a leste e um grande lago refletia a luz do sol. Tambem avistei algumas construções em estilo grego antigo. Uma densa floresta cercava o local. Mais ao norte, consegui ver o brilho do mar beijando o litoral de Long Island. Respirei o ar puro do campo.

De repente, uma figura loira me puxou de lado e eu vi dois grandes olhos cor-de-tempestade me encarando. A garota parecia ser da minha idade, tinha pele clara e longos cachos loiros que pendiam em suas costas. Seus lábios se abriram num sorriso, exibindo fileiras de dentes brancos impecáveis.

– Nossa Annie, você tá ainda mais feia do que eu me lembrava - Franzi o cenho.

– E você tá ainda mais gorda, sua baleia - Ela retrucou, torcendo o nariz. Rimos e nos abraçamos.

– Não acredito que você veio! Prima, você vai amar esse lugar! - A loira começou a tagarelar, empolgada. Essa é a minha Annabeth.

Um garoto alto, de cabelos escuros como a noite se aproximou.

– Jaqueta legal - Ele sorriu ao passar por nós.

Com um sobressalto, o reconheci. Era Nico di Angelo. O tempo foi generoso com ele. Uau! O garoto cresceu, desde a última vez que o vi. Estava mais atlético, deveria estar malhando, ou algo do tipo. Sua franja não caia mais sobre seus olhos, em estilo emo. Seus cabelos agora estavam bagunçados, um charme. Ainda se vestia de preto, calçava All Star de cano alto e usava um anel de caveira na mão esquerda.

– Quem. É. Esse. Gato??? - Annabeth "cochichou", boquiaberta.

– Só um velho conhecido - Dei de ombros.

– Você TEM que me apresentar esse seu amigo!

– Vou pensar no seu caso - Sorri de canto.

Ela começou a resmungar sobre como sua vida amorosa estava péssima, mas foi interrompida pelo som de um alto-falante.

– Bem vindos, campistas! Entreguem as bagagens aos nossos monitores assistentes e encaminhem-se ao pavilhão do refeitório para alguns avisos e informes.

Entreguei minha mochila a um rapaz que usava um casaco bege com o logo do Acampamento e Annabeth me arrastou pelo lugar, apontando algumas construções e dizendo o nome de cada uma.

– Esta é a Casa Grande - Indicou uma residência azul. - É a sede daqui. Alí ficam os chalés - Apontou para duas fileiras de pequenas casinhas de madeira. Eram todas iguais, exceto pelas cores.

Continuamos com o tour até chegarmos ao refeitório. Era um pavilhão ao ar livre emoldurado por colunas gregas brancas. Não tinha teto, nem paredes. Possuía longas mesas de carvalho e uma grande fogueira no centro. Algumas delas já estavam ocupadas.

Annabeth me puxou até uma mesa onde estavam sentados cinco adolescentes: duas meninas e três meninos. Muita gente, não gostei. Odeio me socializar. Annie os cumprimentou e todos os olhares se voltaram para mim. Droga.

– Essa é minha prima Thalia - Ela me apresentou.

– Oi... - Murmurei e dei um sorriso tímido.

– Caralho, Annabeth, você não me disse que tinha uma prima tão linda! - Exclamou um loiro de pele bronzeada, me fazendo corar até a raiz do cabelo. Detesto corar.

– Cala a boca, Lee Fletcher. Não vê que tá deixando a menina sem jeito? - Replicou uma garota de cabelos castanhos na altura dos ombros. Tinha uma expressão suave e sorriu para mim. - Eu sou Katie. Senta aí.

Me sentei entre Katie e Annie.

– Eu sou Silena - Proclamou uma morena de longos cabelos lisos. Tinha grandes olhos castanhos e era muito bonita. Uma típica patricinha, mas parecia ser legal. - Esse é meu namorado Charles - Indicou um rapaz moreno, alto e forte que sentava ao seu lado. - E aquele avoado alí é o Malcolm - Apontou para um loiro de cabelos cacheados que estava sentado na ponta da mesa, debruçado sobre um livro.

Ele parecia estar muito concentrado, com as sobrancelhas franzidas, mas ao ouvir seu nome, despertou do transe.

– O que tem eu? - Perguntou, meio distraído.

– Eu só tava te apresentando pra Thalia - Silena rolou os olhos.

– Ah - Ageitou os óculos. - Oi Thalia - Acenou e voltou a ler.

– Oi - Respondi.

Terminadas as apresentações, todos voltaram a conversar normalmente. Silena e Charles trocando elogios e outras melações de casal e Katie numa discussão profunda sobre feminismo com Lee Fletcher.

– Ta legal, você não conhece ninguém daqui, então vou te atualizar dos babados - Annabeth disse para mim. Eu não tinha nada melhor para fazer, então só dei de ombros. Ela começou a indicar discretamente alguns campistas e falar o nome de cada um. - Aquela menina grandona lá é Clarisse La Rue - Mostrou uma garota alta e robusta, de cabelos castanhos claros e olhar cruel. - É uma valentona encrenqueira, nunca fui com a cara dela. Um conselho: melhor não ofendê-la.

– Por quê? - Indaguei, debochadamente. - Ela chora?

– Acredite, você não sabe do que ela é capaz quando está com o ego ferido - Annie estremeceu.

– Veremos - Cruzei os braços.

Ela me falou de outros campistas que ela conhecia: os irmãos Travis e Connor Stoll, tão parecidos que eram confundidos como gêmeos, ótimos com trotes e em pregar peças nos outros; Zoë Nightshade, a garota que mudava de temperamento muito rápido, por isso foi apelidada de "Doce-Amarga"; Chris Rodríguez, o rapaz alto de cabelos escuros, por quem Clarisse tinha uma quedinha; entre outros, que eu não me lembro do nome.

Num momento, reconheci o idiota que sentou comigo no ônibus. Ele estava com o casal que subiu com ele, os três sozinhos numa mesa.

– Conhece aqueles alí? - Perguntei, indicando na direção do trio.

– Hm... O dos cachinhos é Grover Underwood e... Caramba! Não sabia que ele e Juníper estavam namorando. São gente boa, Juníper é um pouco tímida, mas é um doce de pessoa. Mas não conheço aquele gatinho que tá com eles.

– Aquele lá eu meio que conheço - Falei, com desgosto.

– Huuuum... Explica essa história direito - Ela maliciou.

– É uma longa história, e eu to com preguiça de contá-la. E não é nada de mais - Dei o assunto por encerrado e imediatamente tentei desviá-lo. - Quem é aquele lá, que tá em pé em cima da mesa, como o rei dos idiotas ou algo do tipo? - Apontei na direção de um rapaz loiro, que tinha aparência de uns 18 ou 19 anos. Gesticulava enquanto falava e parecia estar contando uma história engraçada, pois seus amigos estavam rolando de rir.

– Aquele é Luke Castellan - Ela suspirou. - Ele é... Perfeito. Ganha praticamente todas as competições, é rápido, esperto e forte também. Tem um senso de humor incrível e, além de tudo, é lindo, né? Quase todas as garotas daqui tem uma quedinha por ele.

– E isso inclui você - Concluí.

Annabeth ficou da cor de um tomate.

– Er... Bem... Não é bem assim. Não foi isso que eu quis di... - Suas explicações foram interrompidas por uma voz grave que falava num microfone na extremidade do refeitório.

– Silêncio, por favor - Pediu um homem de meia idade, de cabelo castanho, sobrancelhas espessas e barba desalinhada. Tinha intensos olhos castanhos e parecia ser simpático. Todos no recinto se calaram imediatamente. - Sejam bem vindos ao Acampamento Meio-Sangue! Eu sou Quíron, o diretor de atividades. Eu sei que vocês só querem dar o fora daqui e começar a correr por esses campos como cavalos selvagens - Alguns risinhos ecoaram pelo ambiente. - E não se preocupem, serão liberados logo. Mas primeiro, temos alguns avisos. Eu sei que é chato, entretanto, regras são necessárias para o bem de todos. O nosso diretor, Sr. D, irá informá-las para vocês.

– Chega de conversa, vamos às regras - Disse um homem baixinho, um pouco acima do peso, de cabelos negros, que usava uma camisa com desenho de tigre e bermudas caqui. Tinha um sorriso sarcástico no rosto. - Aqui nós temos rigidez no cumprimento dos horários. Todos devem estar de pé às sete da manhã e também temos toque de recolher. Tudo isso está na programação de vocês, assim como o número do chalé em que vocês ficarão. Ela está sendo entregue pelos monitores assistentes.

Moças usando rabos de cavalo entregaram envelopes para todos nós. Abri o meu e vi um número 5 estampado. Logo abaixo estava escrito "chalé azul". Annabeth me mostrou o dela e sorriu, era o mesmo que o meu. Pelo menos ficaríamos juntas.

– É terminantemente proibida a entrada de garotos nos chalés femininos e vice-versa - o Sr. D continuou. - O descumprimento de qualquer regra acarretará punições para o chalé, como perca de pontos em competições e também prestação de serviços, como limpeza dos banheiros e ajuda na cozinha. Nos casos mais graves, será expulso do acampamento.

Ele passou uma eternidade enumerando regras, que eu tinha certeza que seriam burladas. Corri os olhos pelas outras mesas, para tentar aliviar o tédio. Notei que aquele garoto, Luke, me encarava descaradamente. Seus olhos azuis me analisaram de cima a baixo e ele sorriu maliciosamente. Um arrepio percorreu minha espinha. Eu não gostava muito desse cara.

Desviei o olhar o mais rápido possível e, por uma infelicidade do destino, justo na direção do garoto de olhos verdes, aquele idiota do ônibus. E por uma infelicidade maior ainda, ele também estava me encarando. Nossos olhares se cruzaram por um milésimo de segundo antes dele desviar.

O Sr. D finalmente terminou o discurso e Quíron nos liberou para nossos chalés.

– Até que enfim! Minha bunda já tava quadrada de ficar sentada por tanto tempo - Resmunguei e Annabeth riu.

Andamos até o lugar onde ela tinha me mostrado os chalés mais cedo, duas fileiras de construções coloridas, com uma fogueira no meio. Contei vinte casinhas.

– Os da esquerda são os femininos e os da direita são os masculinos - Ela me informou.

Notei que para cada chalé feminino havia um correspondente masculino em frente. Por exemplo: o nosso era azul claro, o masculino era azul escuro. De frente para o chalé feminino rosa estava o chalé masculino vermelho, e assim por diante. Que bizarro.

A quinta casinha era de um tom azul bonito, como o céu em um dia sem nuvens. Já o masculino era de um tom mais escuro, como o fundo de um mar tempestuoso. Empurrei a porta e vi três beliches brancos. Dois recostados na parede da esquerda e um na da direita. Toda a decoração do quarto era temática de acordo com a cor. As paredes eram pintadas de um azul clarinho, as colchas das camas eram azuis com desenhos de nuvenzinhas e no fundo do quarto havia um sofá azul de três lugares, com duas almofadas azuis bordadas com florzinhas, também azuis. Haviam duas janelas na parede da porta e duas janelas na parede do fundo e todas era cobertas por cortinas finas, advinha de que cor? Isso, azuis. Agradeci mentalmente por não ter ficado no chalé rosa, se não eu já teria corrido de lá há muito tempo. Tambem haviam dois baús ao lado de cada beliche, supostamente para colocarmos nossos pertences. Nossas bagagens já haviam sido trazidas para o quarto.

Me joguei na cama de baixo do primeiro beliche que vi pela frente.

– Vou ter pesadelos com a cor azul por um bom tempo... - Resmunguei de olhos fechados.

– Você se acostuma - Annabeth afirmou, enquanto enfileirava no baú os livros que trouxera.

A porta do chalé se abriu e duas figuras entraram. Uma ruiva de olhos verdes que tinha o nariz salpicado de sardas e usava um jeans rasgado, pintado com marcador de texto e uma garota de aparência angelical, que tinha pele clara, olhos amendoados e o cabelo cor-de-mel preso numa trança lateral.

– Oi, sou Rachel - A ruiva falou, enquanto dava uma boa olhada no lugar - E essa é Calipso - Apontou para a outra.

– Oi, sou Thalia - Cumprimentei as duas. - E aquela vaca alí é minha prima Annabeth.

Ela me jogou uma almofada e eu desviei com facilidade.

– Calypso? Como aquela banda brega? - Annabeth debochou.

– Céus, todos perguntam isso - A garota revirou os olhos. - Não, o meu nome não tem o "y".

– Isso aqui é tão... Azul - Rachel disse, terminando de analisar o quarto.

– Você se acostuma - Annabeth repetiu, fechando seu baú.


Percy

Lá estava eu, mais uma vez, sozinho com Grover e Juníper, numa animação igual a de um velório. Não é que eu não gostasse dos meus amigos, mas era chato ficar segurando vela o tempo todo.

Recebi um envelope e vi um número 6 escrito, embaixo dizia "chalé azul". Ótimo, mais uma coisa azul na minha vida. Essa cor me perseguia, desde quando meu antigo padrasto teimou com minha mãe que não existia comida azul. Ela passara a fazer tudo dessa cor, desde então. Ovos cozidos azuis, bolos azuis, doces azuis que ela trazia do emprego, entre outras delícias azuladas. Minha mãe, Sally, felizmente divorciou-se desse monstro e estava namorando um professor de inglês, Paul. Eu revezava entre a casa dela em NY e a do meu pai, em Miami.

Grover ficou no chalé 10, o vermelho e Juníper no chalé 5, que também era azul. Eu só vim para esse acampamento porque ele insistiu muito. Do contrário, eu estaria surfando nas belas praias de Miami e pegando geral nas baladas. Mas não, eu estava no meio do mato, num lugar que não pegava nem sinal de telefone, muito menos internet, com meu melhor amigo se engolindo com a namorada e eu sozinho olhando para o nada, enquanto um velho gorducho falava alguma coisa chata lá na frente.

Eu observava as outras mesas, procurando alguma coisa interessante que me desviasse da pegação dos meus amigos, quando reconheci a maluca que discutiu comigo. Foi meio que automático, meus olhos focaram nela imediatamente e ela também olhou pra mim. Desviei, não queria que ela percebesse que eu estava observando-a. Felizmente, o Sr. D nos liberou. Suspirei de alivio e andamos até duas fileiras de construções coloridas.

– Que gay - Resmunguei, para ninguém em especial.

– Ei cara, Ju quer ir no banheiro, eu vou com ela, a gente se vê - Grover se despediu.

– Huuuum - Dei um sorriso malicioso. - Sei aonde é esse banheiro. Tchau pombinhos.

Empurrei a porta do sexto chalé e dei uma boa olhada em volta. Era tudo azul: paredes, cortinas, lençóis, tudo.

– Que merda é essa?? - Exclamei.

– Bem vindo aos 50 tons de azul. Incrivel , não é? - Disse ironicamente um cara loiro de olhos azuis. - Eu sou Luke. Esses retardados são Travis e Connor, não necessariamente nessa ordem - Indicou dois garotos muito parecidos, que estavam empoleirados na cama de cima de um dos beliches. - Aquele grandão é Beckendorf - Um rapaz moreno e alto acenou do sofá. - E o esquisito alí é o Nico - Apontou para um menino pálido, de cabelos escuros e expressão sombria que estava sentado na cama de baixo do terceiro beliche, martelando ferozmente um PlayStation portátil.

– Eu sou Percy Jackson - Proclamei e joguei minha mochila na cama de cima do beliche onde estava Nico.

A decoração do quarto já tinha sido incrementada pela presença masculina. Isso significa que roupas estavam jogadas em toda parte e uma cueca jazia no encosto do sofá. É incrível a rapidez com que um bando de machos conseguem bagunçar um ambiente.

– E aí, garanhão? Já tem alguma gata em mente? - Ouvi Beckendorf perguntar para Luke.

– Tenho sim - O loiro sorriu cinicamente - Aquela de cabelos curtos que tava na sua mesa, como é mesmo o nome dela?

– Uma que tava de jaqueta preta? - Beckendorf perguntou e Luke assentiu - Acho que é Thalia, ou algo assim. Prima de Annabeth.

Reconheci de quem eles estavam falando, a marrentinha que implicou comigo no ônibus. Uma raiva súbita inundou meu corpo. Senti vontade de socar alguma coisa, ou "alguém".

– Que seja. Só sei que ela é gostosa - Luke desenhou curvas no ar, imitando o corpo de uma mulher.

Beckendorf deu de ombros. Não sabia o por que, mas minha única vontade era esbagaçar a cara cínica daquele loiro maldito.


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Notas finais do capítulo

Este capítulo foi mais para conhecer um pouco sobre o acampamento e alguns personagens, prometo que nos próximos terão mais emoções. Deem suas opiniões. Beijos e até semana que vem :3