A Imortal escrita por Neko


Capítulo 4
Apenas não


Notas iniciais do capítulo

Quem acompanhava essa história, recomendo que releia, pois a estou reescrevendo e apaguei a maioria dos capítulos.
E aos que chegaram agora, bem vindos ♥.
Capítulos novos toda semana.



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Kylor olhou minha expressão assustada, mas não se importou como se já soubesse do que se tratava. E imagino que sabia. 

—Você quer conversar? -perguntou ele. 

—Sobre o que? -não tinha nada demais, sonhar com um nome. 

—Sobre seu sonho. 

—Não, não quero conversar sobre meu sonho. 

—Carrie, me desculpe, mas você não tem tempo a perder- me virei ele segurou meu braço, delicadamente- olha, só me escute. Você pode organizar seus pensamentos depois disso. 

Olhei para o relógio na parede do corredor, já estava atrasada para o primeiro tempo, mas minha curiosidade foi maior. 

—Eu vou perder a aula do primeiro tempo- respondi tirando sua mão do meu braço- é esse o tempo que você tem.  

—Tudo bem, mas aqui não- ele fez um sinal para que o acompanhasse, evitando me tocar- tem caçadores na escola e nem mesmo eu sei todos os meios de escuta eles têm. 

—Caçadores? 

Ele ignorou minha pergunta, apenas continuou andando. Chegamos onde seu carro estava e ele abriu a porta para eu entrar. Hesitei, claro, não entraria assim no carro de um estranho. 

—Vamos Carrie, se eu quisesse te machucar, você nem veria o que te atingiu. 

—Me dê as chaves então- falei erguendo a mão, na esperança de que pelo menos dirigir para algum lugar ele não iria, se fosse me sequestrar seria de outra forma. 

Ele entregou, sem hesitação alguma. E eu entrei. 

Quando ele fechou a porta e se assegurou de não haver ninguém por perto começou: 

—Caçadores são pessoas que caçam os imortais, seres como você e eu, há séculos. Antes mesmo de eu nascer eles já existiam. 

—Antes de você nascer? 

—Cerca de 400 anos atrás. 

Segurei uma risada, ele percebeu, mas decidiu ignorar e continuar. 

—Enfim, não é a minha história que vim aqui para contar, é a do nosso povo- mesmo que incrédula, queria ficar lá e ver até onde isso iria- um pouco mais de 100 anos atrás, os Caçadores decidiram que iniciariam uma guerra, decidiram que não dá mais para matar um por um enquanto nos reproduzíamos. Eles queriam o extermínio. Imortais são criaturas extremamente orgulhosas, então se nossos inimigos declaram guerra, nós lutaríamos até a morte. Foi uma pena que a morte chegou cedo, era uma armadilha. Na primeira batalha uma grande maioria dos nossos morreram, os caçadores, desde que me lembro por gente sabiam como nos matar, mas não sabiam da nossa fraqueza, uma fraqueza que, em uma guerra, era a garantia da vitória para eles. Nessa batalha, séculos depois, eles descobriram o que nunca imaginamos. Bom, mais tarde descobrimos que foi um dos nossos que deu essa informação, mas é história pra outro dia.  

Ele suspirou, como se estivesse lá e lembrasse de um momento triste. 

—Enfim- continuou- vou tentar resumir para você, então guarde suas dúvidas para o final. Tivemos que recuar, e traçar um novo plano. Infelizmente nos recusávamos a fugir de seres tão nojentos como os caçadores. Voltamos a batalhar, mesmo que em menor quantidade, um fraco dos nosso vale por 100 fortes dos deles. Como você pode imaginar, não acabou bem, foi um massacre, mas infelizmente de ambos os lados. Sobraram poucos de nós e por isso decidimos adiar, e achar um meio de vencer. Tínhamos esse luxo, afina, somos imortais. Cerca de 60 anos depois nos reunimos, e não haviam nem 100 dos nossos. Ai que descobrimos que alguns se juntaram para ir a toca dos vermes. Nenhum voltou. Eles continuavam nos caçando, e a situação só piorava. Assim chegamos no hoje, momento em que, tirando você e eu, não há mais nem um imortal vivo.  

Fiquei parada olhando pra ele, Kylor realmente achava que eu acreditaria em toda essa baboseira? 

—Olha, desculpe- suspirei- foi muito bem bolado e tudo, mas primeiro: se vocês são imortais, não deveriam não morrer? E segundo: se os Caçadores são vermes nojentos, e 1 de vocês vale de 100 deles, por que não foram eles a entrar em extinção? Sinto muito Kylor, mas eu não sou uma vampira, essas coisas aí. 

—Imortais também têm a escolha da vida, e por isso existe uma fraqueza- ele me explicou, paciente- Os Caçadores são vermes nojentos, são humanos. A não ser que acabemos com a raça humana, é impossível exterminar os Caçadores. O nosso Concelho nunca permitiu tal ato, já que sempre consideraram os humanos importantes apesar de sua inferioridade. Machucar e matar Caçadores é nossa obrigação, mas fazer o mesmo com humanos nos causava castigos, muitas vezes o pior deles, o purgatório, pois mexer com humanos é o pior crime. E por fim, vampiros não existem! Não precisamos de sangue de terceiros para viver, nós temos nossa própria força, não precisamos literalmente de nada. Comemos e bebemos, ou qualquer hábito humano que temos, é por puro prazer.  

—Inacreditável! - abri a porta do carro, mas não saí- Lamento mesmo, mas não consigo acreditar, se precisa de ajuda ou ali assim, vá atrás de outros dos seus. 

—Você não ouviu? Não há mais ninguém! 

—Como pode ter certeza disso? 

—Rodei o mundo inteiro, a única reação que eu tive me guiou para cá. 

—Reação? 

—É o que sentimos quando temos um primeiro contato com qualquer outro imortal. 

—Aí está seu próximo erro, eu nunca tive isso. 

—Você literalmente desmaiou assim que me aproximei. Se houvessem mais de nós, você provavelmente já teria a reação muito mais vezes. - ele sorriu nostálgico- Quando crescia felizmente foi algo que nos ensinaram a controlar... 

Eu suspirei, cansada, e olhei para o relógio. 10 minutos para a próxima aula. 

—Eu entendo seu ceticismo, realmente- ele disse, pra baixo- posso concluir com algumas perguntas? 

—Vai. 

—Seus pais estão vivos? 

—Meu pai não, minha mãe sim. 

—Talvez sua mãe seja... 

—Não! Ela envelheceu desde que nasci, ela se machuca e sangra! 

—Nós também nos machucamos e sangramos. 

—Dá pra parar de falar nós, como se me incluísse nisso? - me exaltei- minha mãe não é nada, conclua por favor. 

—Como seu pai morreu? 

—Cancêr, até onde sei, não o conheci.  

—Avós vivos? 

—Não. Não que eu saiba, os maternos, mortos. 

—Tios... 

—Vou te poupar tempo, meu único parente vivo, é minha mãe. 

—Você não acho suspeito que... 

—Não! Não acho nada suspeito. Já tá bom, chega! Apenas não- olhei novamente para o relógio- vou me atrasar para aula, sinto muito.  

Saí do carro, e o deixei lá parado, com um olhar de decepção que me acompanhou até que entrasse na escola.  


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