A Imortal escrita por Neko


Capítulo 10
Nova Identidade




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Minha mãe estava visivelmente nervosa com o que quer que fosse me contar, desde que entramos ela me fez contar como foi meu dia, pediu que fizesse um café, e por fim me perguntou, mais séria, o quanto eu confiava no Kylor, me surpreendi ao notar que ele se tornou uma das pessoas que mais confio.  

Já sentadas no sofá pedi para que ela não enrolasse mais, que estava me assuntando. Ela respirou fundo e começou. 

—Teve algumas coisas que não tive a coragem de te dizer, sinceramente ainda estou buscando uma forma que possa te falar isso. Nunca havia um momento ideal, e é algo que você não pode revelar nem para a pessoa mais próxima a você. Especialmente, não revele isso para nenhum Imortal. -Ela suspirou, e colocou sua mão sob a minha –Carrie, você sabe que seu pai era um Imortal, e imagino que Kylor tenha te contado a história deles. Mas não a dos Caçadores, certo? 

Neguei com a cabeça. 

—Imaginei. Bom, muitos anos atrás surgiu a família fundadora, aquela em que o primeiro Caçador foi originado. Nessa época eles descobriram sobre os Imortais, e sabiam que criaturas superiores assim, mesmo que não na época, chegariam a ser uma ameaça à sociedade humana. E bom, isso aconteceu, quando o rei maldito surgiu- ela deu uma pausa, pensativa, mas logo continuou- Enfim, isso não importa agora. A família fundadora fez um pacto, digamos que se para os Imortais existem as divindades, para os Caçadores existem os demônios.  

—Não por menos, Caçadores são podres! 

—Me deixe terminar Carrie- ela me repreendeu- No início, apenas a família fundadora exercia o papel de Caçadores, mas mais pessoas tomaram conhecimento da causa e se ofereceram para lutar ao lado deles. A organização foi assim crescendo, mas a família fundadora nunca deixou de existir, e continuam até hoje. Eles têm uma regra de que todo membro da família, ao completar 18 anos, faz o juramento para se tornar um Caçador. Por isso, a família sempre teve a liderança dos Caçadores, pois nunca eram extintos, e como eram a família original, são mais fortes, mais ágeis. Enquanto os Caçadores têm um contato direto com o juramento, a família fundadora tem um contato direto com o pacto. Bem Carrie, o nome dessa família, é o nome que carrego. Os Wanrov são a família fundadora.  

Me afastei, assustada. Minha mãe era uma caçadora? Isso não era possível... 

—Como? Você se envolveu com um Imortal! Não pode ser uma caçadora! 

—Carrie, me escute atentamente: eu fiz o juramento ao fazer 18 anos porque era uma obrigação. Eu nunca quis isso, nunca matei um Imortal e me apaixonei pelo primeiro que conheci. Seu pai não desapareceu após me apresentar Fell, eu fugi. Quando meu pai descobriu o que fiz, com quem me envolvi e que acabei engravidando, ele queria você. Ele queria descobrir o que uma mestiça poderia fazer. Eu abdiquei de tudo, e saí de lá. Fell veio junto, já que seu pai havia ordenado a ele que protegesse você. Ele deu um jeito para que ninguém fosse capaz de te rastrear, nem a mim. Isso até o seu despertar. 

Estava tentando absorver tudo que ela dizia, mas na minha cabeça peça alguma se encaixava. Era tudo tão novo. Era tudo tão falso. 

—Você mentiu para mim a minha vida inteira –ela se aproximou e me levantei- sempre acreditei que minha única família era você! Sempre acreditei que meu pai estava morto, e pelo que você está falando ele pode muito bem estar vivo! 

—Acredite Carrie, é melhor que continue pensando em mim como sua única família. Seu avô não é flor que se cheire, e minha irmã consegue ser ainda pior... 

—Eu tenho uma tia!? 

Ela me ignorou, e continuou: 

—E seu pai está morto. Fell tentou por anos encontrá-lo, nada. Ele não respondia em nenhum meio de comunicação que havia deixado e sua energia simplesmente desapareceu.  

A olhei, com raiva. Como poderia ter mentido tanto para mim? Minha própria mãe! 

Como se pudesse dizer o que eu pensava ela falou: 

—Não podia te contar tudo isso Carrie, pelo seu próprio bem. Também não poderia te contar na possibilidade de que alguém soubesse, por isso aquele dia em casa, contei uma história incompleta.  

—O que significa ser uma mestiça?  

Perguntei, não queria continuar no assunto de suas mentiras pois sabia que me estressaria. 

—Em toda história existiram apenas dois Imortais diferentes. Apenas dois Imortais únicos: o rei maldito e agora, você. O rei maldito tinha três individualidades, duas delas nenhum outro Imortal jamais teve, ele podia controlar sua energia, ou seja, podia se passar por humano, Imortal ou Caçador. E a individualidade mais assustadora: ele podia dominar o sangue. Nas histórias que ouvi, ninguém era o suficiente para ele, ninguém era forte como ele. -agora ela me olhava, preocupada- E sobre você, não houve, em toda história, nenhum Imortal mestiço. Caçadores e Imortais nunca se envolveram. Houveram pesquisas de Caçadores, eles estupravam mulheres Imortais já que humanas normalmente não sobrevivem ao parto de crianças Imortais. Mas nem mesmo essas mulheres aguentavam ao gene dos Caçadores, todas morriam, assim como as crianças, pois elas já nasciam Imortais. Então, eu não tenho uma resposta para sua pergunta. 

—O que é a individualidade? 

—Bem –ela riu- imaginei que soubesse essa, você não está treinando? 

—Íamos começar hoje. 

Ela me olhou, culpada. 

—Pois bem, a individualidade é uma habilidade além daquelas que os Imortais já possuem, ou seja, além de super força, velocidade, a cura, e não envelhecer, alguns Imortais nasciam com um poder a mais, o que era uma coisa rara. Alguns nasciam com duas individualidades, o que era praticamente impossível, e apenas um nasceu com três, o rei maldito.  

—E sobre os Caçadores? 

—O que tem? 

—Você não parece uma. 

Ela sorriu. 

—Infelizmente não é possível deixar de ser uma. 

Ela levantou seu cabelo e se virou para mim, em sua nuca havia uma adaga negra com detalhes vermelhos tatuada. 

—O juramento é para sempre, por isso não posso saber onde mora. Agora que os Caçadores sabem sobre você, é uma questão de tempo até que meu pai descubra. Qualquer pergunta que me fizerem sob juramento, não tenho como mentir.  

Suspirei. 

—Tem mais alguma coisa que eu deva saber? 

—A não ser que você tenha mais alguma dúvida, contei tudo que podia.  

—Certo. Vou chamar Kylor de volta então. 

—Carrie, não importa o quanto você confie nele, não conte isso. Você pode ser vista como inimiga pelos Imortais, assim como pelos Caçadores. Não importa para onde você for, pode nunca ser aceita, sempre vão desconfiar de você. Por isso não queria te contar nada disso.  

—Tudo bem. 

—Só mais uma coisa. Se por um acaso seja proposto a você fazer o juramento, não o faça! Não importa quem peça, ou a situação em que se encontre, jamais faça o juramento! 

—Não faria, nunca me tornaria alguém como aqueles Caçadores que tentaram entrar em casa, nunca me tornaria alguém nojento assim. 

Ela não respondeu, e chamei Kylor pela ligação mental.  

Quando ele voltou imediatamente notou que havia algo errado, mas não insistiu em descobrir o que era. Ficamos nós quatro conversando um pouco, mas minha mãe não escondia sua ansiedade em ir embora. Quando eles saíram fui ao meu quarto, sem falar muito, apenas respondi o boa noite que Kylor desejou.  

Havia passado uma hora, duas, três. Não dormia, apenas virava de um lado para o outro na cama. Me levantei frustrada, realmente preferia não saber nada disso, e tinha um sentimento estranho de que deveria contar tudo ao Kylor. Escrevi em um post it “estou no jardim”, saí do meu quarto e colei na porta de Kylor. Ele pediu para que sempre o avisasse se fosse sair da casa, mas não arriscaria acorda-lo apenas para isso. Estava escuro e provavelmente frio, mas nenhum desses fatores me incomodavam. 

Quando cheguei ao jardim me surpreendi, era algo tão belo, e completamente diferente do que era no dia. A luz da lua o iluminava, as flores do jardim brilhavam sob ela, o vento balançava às folhas das árvores que emitiam um som acolhedor, o barulho baixo da água correndo na fonte. Era o silêncio mais confortável que já estive. Sentei em um dos bancos e olhei para o céu, talvez por ser um lugar mais isolado, relativamente longe da cidade, as estrelas brilhavam em grande quantidade, e a lua estava simplesmente linda, sem nem mesmo uma nuvem para tampar.  

—Esse é meu lugar preferido em toda a residência. 

Kylor. 

—Como pode você sempre me encontrar? 

—Eu já estava aqui fora, te vi chegando –ele se sentou ao meu lado- achei que tinha pedido para me avisar quando for sair. 

—Pediu, eu deixei um post it na porta do seu quarto. 

Ele riu. 

—Para experiências futuras, por favor me avise de uma forma mais conveniente. 

—Anotado. 

—Tem algo te incomodando? 

—Oi? 

O olhei, desconfortável com o quão direto ele foi. 

—Você parece incomodada. 

—Não é nada demais. 

—Você sabe que pode conversar qualquer coisa comigo né? Assim também é uma forma de te proteger. 

—Claro –olhei para o chão, culpada- você tem que me proteger porque sou uma Imortal como você. 

Não era uma pergunta, mas ele a respondeu, como se fosse.  

—Inicialmente, sim. Mas agora não mais –o olhei- somos amigos Carrie, passei a me importar com você e esse é o motivo que estou ao seu lado. 

Continuei o olhando, mesmo não dizendo nada.  

—Sabe –ele continuou- seja o que for que está te incomodando, não precisa me contar, mas ainda estarei ao seu lado. É isso que amigos fazem. 

Eu sorri. 

—Se dissesse para minha eu de uma semana atrás que hoje seria sua amiga, repudiaria a ideia.  

—Não julgo, também não ia muito com sua cara, não gosto de gente cética. 

—Qual é, eu fui criada assim, dá um desconto. -Olhei novamente para baixo- mas obrigada. Por me considerar sua amiga, digo.  

—Bem, eu deveria ser grato também, só percebi recentemente o quão solitária minha vida estava.  

Olhei para o céu, realmente estava grata. Ficamos em um silêncio, ele e eu, mas não era incômodo algum. Entendia minha mãe ao pedir que não contasse minhas origens a ninguém, mas sabia que cedo ou tarde revelaria isso à Kylor, e esse fato não me deixou agoniada em momento algum. De alguma forma, mesmo sabendo dessa minha dualidade, ele não viraria as costas para mim, e era estranho o quão certa eu estava sobre isso. Naquele silêncio decidi que, assim que me conformar com o que eu sou, contaria tudo a ele.  


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