Fizera de novo.
O que pensariam dela, se a vissem assim? Não seria mais a perfeitinha da escola, seria a esquisitona que vomita todos os dias, apenas para se conservar magra.
Mas ela tinha que fazer.
Comera demais, de novo. Será que não conseguiria se controlar, nunca?
Soltei um suspiro choroso, com a garganta arranhada e ardendo e os olhos lacrimejantes, e me levantei.
Parada na frente da pia, parecia acabada. Suada, os cabelos grudando na testa, cansada e com cara de choro.
Não que eu ligasse. Um banho, maquiagem, e pronto.
Estava de volta a perfeitinha magrela de sempre.
Então uma porta bateu. Mamãe chegou.
Ela ia perguntar o que houve se me vise assim, então eu dei a descarga e lavei o rosto o mais rápido possível. Diria a ela alguma desculpa idiota qualquer, e pronto.
Decidi enxaguar a boca e escovar os dentes,também. Cheirava a vômito.
Quando terminei, passei a mão nos cabelos e os joguei para trás, abrindo a porta.
Mas quem estava lá não era minha mãe, e sim Clarisse.
"Você fez de novo, não foi?" Ela parecia decepcionada, preocupada. Balançando a cabeça levemente, eu me aproximei dela, colocando as mãos em seu quadril e a puxando mais para perto.
Clarisse levantou os olhos para mim, entreabrindo a boca para dizer algo, mas eu a calei com um beijo.
A menina hesitou, mas sua tensão se desfez e eu segurei sua mão, entrelaçando nossos dedos e entreabrindo a boca, aprofundando o beijo.
Quando nos separamos, já quase caindo no sofá vermelho aveludado da sala, ela segurou meus braços novamente, delicadamente, e suspirou.
"Você é perfeita. Você sabe, né? Não precisa disso. Me prometa que vai parar." Tinha um semblante preocupado, e apertava minha mão direita com força. "Prometa." Insistiu, sussurrando docemente.
Eu não podia.
Simplesmente não podia.
No meu silêncio, ela balançou a cabeça, desconsolada.
"Por favor. Você tem que parar, vai acabar.... Vai acabar com você, tem que contar para alguém... É uma doença, Carter, você tem uma doença, precisa procurar alguém... Está me deixando preocupada..." Balançava a cabeça rapidamente, com os ombros curvados, segurando com força minhas mãos. "Ah, Carter, você vai parar, não pode fazer isso com você...!" Levantara a cabeça, olhando para o meu rosto, lágrimas ameaçando transbordar brilhavam em seus olhos castanhos.
Balançou a cabeça de novo, soluçando, e soltou minhas mãos. Olhava para o chão novamente. Encolheu os ombros e girou, dando-me as costas, saindo e fechando a porta em silêncio.
Ah, ótimo.
Eu era a defeituosa e ela que dava o piti.
Perfeito.
Joguei meu corpo desanimadamente no sofá vermelho, olhando para a mesa de café espelhada.
Queria chorar, mas simplesmente não tinha forças o bastante.
Então eu dormi, um sono, felizmente, sem sonhos.
Seria apenas estressante ter mais uma bizarrice para lidar com no dia seguinte.