Evil Ways escrita por Moonlight


Capítulo 24
Purê de Batatas


Notas iniciais do capítulo

Eu dedico esse capítulo as maravilhosas pessoas que comentaram. A Júlia e a Renata, duas lindas, que comentaram TODOS os capítulos! OBRIGADA! A Manih, que me deu um incentivo maravilhoso, e principalmente a Amy (Ams, Amelie, Mads ♥), que além de ter comentado aquela coisa linda, Recomendou minha fic. Eu quase chorei de emoção. Obrigada meninas!
E aqui está, o primeiro encontro Hayffie, que com toda certeza que vai acarretar mais encontros a seguir.
Enjoy! ♥



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— Hoje será um grande, grande dia! — Effie Trinket anunciava pela terceira vez no dia, logo após sua empregada Vera terminar de ajudar sua própria patroa a preparar a mesa de jantar.

— Mãe, eu já te disse que não precisava nada disso. — Disse Peeta, apontando para a mesma decorada. Effie fez questão de retirar e utilizar seu conjunto de pratos chineses, talheres de pratas russas e taças francesas. Também pediu para Vera preparar uma variedade de pratos tipicamente Texanos, como Chilli com Carne, Steaks, burritos e purês de batatas. Todas, vindas de receitas na internet, fruto da pesquisa “Pratos tipicamente Texanos” que Effie fez no Google. — Aposto que ele ficaria feliz só com umas pizzas. Já essa ceia parece especialmente para os Bush ou coisa assim. — Peeta riu, citando os mais ilustres moradores do Texas: A família de políticos Bush, com direito a dois presidentes republicanos.

— Em primeiro lugar: Nós somos Democratas, os Bush não pisariam nessa casa. — Effie falou em tom de brincadeira. — Segundo: Presidentes só comandam nosso país e têm poder e influência em escala mundial. Eles não interferem diretamente na vida do meu filho. Já esse cara sim, portanto, ele provavelmente merece essa ceia. E vê se para de implicar comigo Peeta, seja legal por hoje, está bem?

— Meu deus, quando eu voltei a ter 17 anos pra você? — Peeta sorriu, beijando Effie na bochecha. — Parece aqueles tempos em que Plutarch vinha jantar aqui e coisa e tal...

— Você era mal educado com ele no começo, eu me envergonhava. — Effie justificou. — Vamos mudar de assunto? Ótimo. Quando que.. é... o nosso convidado vai chegar? — Effie gaguejou. Ela não se lembrava do nome do pai de Peeta naquele momento, e ainda tinha certa repulsa em chamá-lo de pai.

— Ele já me ligou, já está chegando.

Já está chegando” é uma das expressões usadas para tudo, menos para seu propósito inicial: O de anunciar uma chegada prévia. Já estou chegando ao geral serve para “não tenho ideia do quanto vou demorar” ou “não tenho ideia de onde ele se meteu”, em certos casos. No caso de Peeta, era a segunda opção, e quando Haymitch diz a Peeta que já estava chegando significava que Katniss já estava chegando em casa com a roupa limpa e passada da lavanderia enquanto Johanna engraxava e fazia milagre no par de sapatos mais feio existente. Haymitch havia topado a ideia de jantar na casa de Peeta, só não imaginava que a mãe dele organizaria tudo para o dia seguinte. Um Domingo. Ele teve menos de 24 horas para parecer decentemente vestido.

Foram quase 40 minutos de desvios, rotas e xingamentos e ofensas ao taxista mais lerdo, salafrário, desonesto e mais filho da puta de nova York, o que fez com que os nervos de Haymitch piorassem ainda mais. Deveria ter aceitado a carona de Peeta, pensou. Tarde demais, no entanto.

Haymitch achava que já esteve em todos os tipos de lugares nessa vida. Já esteve no topo dos hotéis até os mais fundos dos buracos de bar, mas jamais imaginou pisar num condomínio daqueles. Era perto das áreas de comércio e luxo, mas ainda sim – se possível – era isolado. Seu nome, documentos e um breve telefonema à Effie foram necessários para liberação na entrada, junto com um crachá que ele teria que carregar consigo até o momento de sua partida (questões de segurança, segundo os gigantes de terno que trabalhavam ali).

Duvido que eles são da PAREM, Ele pensou.

Haymitch era capaz de apostar que 16 mil não custava o preço dos vasos de plantas que decoravam a entrada do bloco de Peeta, que o aguardava frente ao mesmo.

— Com fome? — Perguntou, depois de abraçar o pai.

— Sempre — Respondeu Haymitch.

O Elevador ecoava ao som de How Deep Is Your Love, do Bee Gees, que é provavelmente a música mais brega e top número um de músicas de elevador, se não fosse uma das favoritas de Haymitch. O elevador parou no último andar do prédio de 30 andares. Cobertura. Meu deus, quem mora aqui, a Paris Hillton? Não. Seu filho Peeta.

— Seja bem vindo e se sinta a vontade. — Peeta anunciou.

Para a maioria das pessoas, não é muito difícil se sentir confortável em volta em volta de luxo, mas esse não era o caso de Haymitch. Primeiro, porque ele nunca fora muito fã dessas coisas, teve uma infância simples e era o tipo sou-um-trabalhador-honesto-pobre-texano-etc, daquele tipo de pessoa que – realmente! – se orgulha em ser batalhador. (Mesmo que, convenhamos, a história dos cubanos não seja lá a melhor coisa que uma pessoa trabalhadora possa fazer... Ah, enfim).

Sem contar o fato de que ir à casa do seu amigo pela primeira vez é um ato que por si só se torna desconfortável. Pior ainda quando esse seu amigo é financeiramente mais rico do que você. Agora, acrescente que esse seu amigo é na verdade seu filho e que a mãe dele (A dona do útero e de todo esse luxo) estaria ali para conhecê-lo.

Porque Peeta precisa de mim mesmo?

Peeta não ouviu os pensamentos de Haymitch, embora se o fizesse, tentaria lhe explicar o quanto dinheiro é fulo perto de questões emocionais. Ele era um quase psicólogo, e sabia como isso funcionava. Lia e estudava sobre coisas que afetam nossa mente e comportamento, e o dinheiro, caro amigos, o dinheiro empurrou homens para o poço, seja por sua falta ou excesso.

Peeta sentiu uma forte agitação nas mãos, fazendo as se mexerem o tempo todo, esfregando uma na outra e coçando a mancha vermelha australiano-neozelandesa. Reparou também que era a primeira vez que duas dessas manchas se encontravam em sua casa. Apesar de nervoso, sorriu satisfeito. Afinal, ele gostava muito de Haymitch.

Haymitch dava passos cuidadosos, adentrando a residência do filho, enquanto o escutava falar alguma coisa sobre reformas anuais e onde cada cômodo se encontrava. Fazia comentários generosos sobre os cômodos, os quadros, as pinturas, os móveis e até os lustres – era impossível não reparar naquelas coisas. Haymitch talvez tivesse um fraco com coisas bonitas.

Ele, que já encontrava surpreso até ali, paralisou quando aproximou-se da sala de jantar.

— Peeta, isso é cheiro de Chilli? — Perguntou Haymitch, maravilhado. Não comia um desses sabe-se deus desde quando.

Peeta riu em concordância.

— Sim, é. — Ele acenou incrédulo, ainda rindo consigo. — Minha mãe mandou preparar quando soube que você era Texano. Eu não acredito que ela está certa outra vez!

— Eu estou sempre certa, Peeta.

E ela apareceu na sala de jantar.

Incrível. Foi a primeira coisa que passou na cabeça de Haymitch.

Ele supôs que jamais passaria por aquela situação tipicamente narrada em filmes. Aquelas em que você tem que puxar ar de não se sabe onde, e controlar a respiração, ou olhar mais discretamente para a mulher a sua frente. Quero dizer, é que Haymitch já tinha 42 anos de vida, quase meio século, e nunca tinha passado por isso.

Mas puta que pariu, ver a mãe de Peeta era como ouvir How Deep Is Your Love o tempo todo. Ele não pode pensar em outra coisa que não fosse o quanto ele se voluntariaria para ser pai de Peeta de forma natural. Amaldiçoou-se depois.

Isso não é um tipo de pensamento decente.

Achava meio impossível ter pensamentos decentes com aquela mulher de vestido vermelho. Ela não usava um decote exagerado, até que ele confessa, mas não era isso que o chamou. Nem a maquiagem em excesso. Era a maneira sensual de caminhar, como se planejasse cada maldito passo, como se ela quisesse que ele se sentisse um virgem novamente.

Mas ela nem ao menos me conhece. Deve ser assim desde o momento em que acorda até a hora de dormir.

E Effie Trinket? Effie achava que sabia conhecia cada centímetro de sua casa até tropeçar com seu scarpan em um degrau próximo a sala de jantar. Peeta mal notara o tropeço, estava ocupado demais conversando com o homem loiro que ela teve a coragem de trazer para sua casa no propósito de dividir seu filho com ele. Effie jurava que havia perdido o juízo.

Você concordou com isso. Você não é uma pessoa egoísta. Peeta ama você; Peeta sabe o que faz. E Haymitch merece uma chance.

— Oi, eu sou Effie Trinket. Haymitch Abernathy, certo? — Ela disse, esticando a mão.

Haymitch confirmou, apertando-lhe a mão também. Depois, Effie pensou que talvez fosse muito formal da parte dela, e aproximando-se mais do homem, deu-lhe um beijo bochecha-a-bochecha. Sem conseguir evitar, Effie parou instantes para analisá-lo: Tinha os olhos azuis de Peeta. Os seus olhos eram um tom verde esmeralda, mas com toda certeza Peeta herdara sua íris daquele homem. Tinha também a mancha de nascença na mão direita, mancha essa que a fez levar Peeta repetidamente ao dermatologista em sua infância com medo de ser uma espécie de câncer de pele. Os cílios longos e loiros, e até mesmo a sobrancelha desarrumada. De repente, ela sentiu que Peeta não era mais somente seu.

Então ela reparou que ela não possui pessoas.

— Então finalmente uma boa explicação para a cor dos olhos de Peeta. — Effie falou, em tom amigável. Depois, olhou para a mão direita do homem a sua frente. — E para essa mancha também.

— Ah, sim. Meu avô, meu pai e meu irmão também carregam essa marca. Acho que é dos homens da minha família. — Haymitch comentou, com tom casual.

Os homens da minha família. Peeta era um deles. Peeta tinha uma família texana, provavelmente com os mesmos olhos azuis e manchas nas mãos. Tio, primos e avós vivos, quem sabe. Uma família completa em volta de uma mesa de jantar, algo que nem todo o dinheiro de Effie pudesse dar ao filho. Raro eram os jantares que sua mãe, Fúlvia, frequentava.

— Não tive muitas dessas marcas para compartilhar com Peeta. — Effie comentou, referindo-se as marcas hereditárias e – em parte – a família, enquanto orgulhosamente apontava e acariciava os cabelos do filho.

— Katniss, minha afilhada, não concorda muito. Ela disse que Peeta tem um queixo europeu, então isso deve ser seu. E dotes artísticos também. — Haymitch recitou a conversa do apartamento do dia anterior, numa estranha tentativa de confortar as lamentações da mulher a sua frente. Ou quem sabe, ser gentil. — Ah, e ele também herdou essas pintas que parecem a ursa maior na clavícula esquerda.

Peeta Mellark olhou para as citadas pintas. Elas realmente tinham o formato da ursa maior – Ele era louco por astronomia, assim como Haymitch, que só veio a descobrir tal semelhança mais tarde. Peeta olhou para a clavícula de sua mãe, que estava um pouco a mostra dentro daquele vestido. Depois, abaixou um pouco sua própria blusa e checou em si mesmo: Era verdade.

— Wow! — Peeta gargalhou. — Eu tenho 22 anos e nunca reparei nisso. É verdade! Você já tinha visto isso, mãe?

Effie estava em transe. Olhava desajeitadamente para si, depois passou as mãos com enormes unhas brancas perfeitamente pintadas de bege pela clavícula do filho. Sorriu em aprovação. Era como se o cosmos mostrasse que Peeta ainda era seu Peeta.

— Eu nunca reparei isso. E eu cuidei de Peeta a vida inteira! — Effie sorriu, sinceramente e calorosamente para Haymitch pela primeira vez. — Obrigada por notar.

Haymitch sentiu o calor dentro de si. Ele não estava destruindo nada, e causou real felicidade para seu filho e a mãe do seu filho. Ele não queria estragar nem invadir uma família, mas ver que a uniu – mesmo que seja pelo sujo ato de ter notado os peitos da mulher a sua frente e, subitamente, procurar desviar atenção em qualquer outra coisa – o fez realmente feliz.

— É um prazer, senhora Trinket. — Haymitch falou, educadamente.

— Senhorita. Sei que não sou lá muito nova, mas eu não sou casada. Peeta não te contou? — Perguntou ela, olhando para o filho.

Peeta suspirou, ainda sorrindo, numa cara semelhante a um “ops”.

— Eu não contei muitas coisas, mas você tem a oportunidade de contar tudo isso agora mesmo. — Peeta sorriu, guiando-os a mesa de jantar.

Eles se ajeitaram a enorme mesa de jantar posta com os melhores pratos Texanos, fazendo Haymitch se perguntar qual seria a principal atração merecedora de sua atenção: A loira ou o Chilli? O Chilli e o purê de batatas não tinham belos decotes, pensou.

— Eu devo dizer, essa mesa está muito maravilhosa. — Haymitch suspirou, enquanto Peeta sorria.

— Eu sabia que iria gostar. De qual parte do Texas você é?. — Effie comentou.

— Eu sou de Dallas. Minha família tem um açougue lá, mas com 19 anos u vim para Nova York a fim de fazer a faculdade, em Columbia. Local onde eu conheci Peeta, aliás. Estava entre um dos convidados numa palestra de entre políticos, economistas e sociólogos. — Disse Haymitch, convicto. — Hoje eu sou professor de História e Sociologia na Escola Preparatória Capitol, em dois períodos.

— Oh, deve ser maravilhoso. — Effie comentou, em falso entusiasmo. Peeta já o conhecia: Effie tinha o super poder de estar 100% bem em todas as situações. Procurava o lado bom em tudo, elogiava coisas inelogiáveis e até inventava palavras, como “unisingular” – cujo significado é “único e singular”, recorrentemente utilizados na frase: “Sua obra de arte é poética e unisingular” e talvez a já citada “inelogiáveis”. — Meus professores foram os responsáveis por formar parte do ser humano que sou, principalmente os de filosofia e sociologia. Dar aulas para adolescentes deve ser divertido.

— Eles são ótimos, quando não me irritam. — Haymitch riu. — São adolescentes estão naquela fase da vida onde tudo é importante e eterno, e onde nada é importante e eterno. Você os vê crescer e essa coisa toda. Alguns deles, ao menos. — Foi desconfortável para Haymitch olhar para Peeta em seguida e reparar que seu filho estava ali, com seus 20 e poucos anos, e não teve a chance de vê-lo crescer. Tentou consertar a si mesmo logo em seguida. — Quero dizer... Moralmente falando. Tipo a maturidade e tudo.

Uma vez, a mãe de Haymitch disse que ele deveria encher a boca de purê de batas para não falar besteiras. Foi o que planejou fazer, aquela altura. Em menos de cinco minutos de conversa.

Peeta, por sua vez, estava encarando seu primeiro jantar em família, algo novo e unisingular para ele. Ele não sabia como lidar com o que sentia, nem sabia ao certo o que sentia, mas sabia reconhecer bons sentimentos de longe. Esse era o superpoder de Peeta: Sua capacidade em ser otimista, como sua mãe. O gosto do jantar em família era algo tão novo quando os Chilllis de Vera e as novas descobertas sobre Haymitch que ainda não havia passado por sua cabeça perguntar sobre.

— Porque História e Sociologia, Haymitch? — Peeta perguntou, esperando seu pai digerir o purê de batatas que discretamente lotava sua boca. Plano falho.

— Bom, eram as matérias que eu mais odiava na escola. — Ele falou, depois de um tempo. — Depois de um tempo, cheguei à conclusão de que todas as matérias que sempre odiei não eram terríveis em si, mas a maneira com que elas eram jogadas sob nós me desmotivava. Foi como sua mãe falou: Os professores não educam jovens, mas auxiliam, principalmente nessa fase da vida. E essas pessoas precisam de boas aulas de história, principalmente os imbecis que repetem qualquer porcaria que leem nessa tal de internet. Internet é um lugar cheio de mimadinhos vitimistas.

Historicamente falando, foi necessário um trator para destruir parte do Muro de Berlim, quatro aviões para destruir as Torres Gêmeas do World Trade Center e um acidente nuclear para destruir e danificar para sempre toda a cidade de Chernobyl. Neste jantar, no entanto, foi necessária uma pergunta e uma boca vazia de purê de batatas.

— O que o senhor quer dizer, exatamente, com vitimismo? — Disse Effie, pausadamente, largando seus talheres ao lado de seu prato. Peeta suspirou. Não pode ser, eles não vão discut...

— Essa geração é muito fresca. — Haymitch resmungou. — Tudo é bullying, tudo é alguma fobia. Tudo é errado. Eu já vivi e ouvi uns baitas absurdos nessa vida e cá estou eu, um homem formado. Não precisei de mimimi nem me fazer de vítima para conseguir o que eu queria.

— Oh, é claro, tudo é vitimismo, certo? É só uma piada, mas e quando ela gere consequências reais? Ainda é vitimismo? Quantas mulheres serão estupradas, jovens negros mortos inocentemente pela policia e quando transexuais terão de ser violentados até não ser mais vitimismo?

— Wow, wow, calma lá. — Haymitch levantou a voz. — Escuta dona, talvez você tenha entendido mal. Eu sou um sociólogo, e acima disso, um professor de História. Eu sei o que se passou na história da humanidade: Sei da Idade Média, sei da luta das mulheres por direitos, e sei da tragédia que foi a escravidão. Por isso eu sou racista e não apoio racismo, nem estupro, nem nenhum tipo de preconceito ou violência. Mas...

Oh, eu quero ouvir isso. — Effie interrompeu sussurrando para si mesma. Nunca nada de bom vem depois de um “mas”.

— A geração de hoje leva tudo, tudo a sério. Pega o mínimo dos comentários e transforma em algo fora do controle. Qualquer coisinha é recebida com pedradas, e – sem querer dar estereótipos – mas as mulheres são as que mais fazem isso! Elas dizem “isso aí, girls power! Abaixo a depilação, sejamos naturais!” mas enchem a cara de pó. Vocês dizem que não precisam de homens, e quando arrumam homens, nos deixa simplesmente confuso. Sabe qual foi uma das primeiras coisas que eu disse sobre mulheres quando conheci Peeta? Que vocês tem esse... Evil Ways, esse jeito malvado em vocês. Não sabemos mais os poucos truques que sabíamos sobre vocês, mulheres. Não sabemos mais se devemos abrir a porta do carro, ou pagar a conta. Oh, espera, nós ainda pagamos a conta. Esse extremismo de vocês só dura até a conta do restaurante.

Effie conhecia, de cor e salteado, todos esses argumentos. Sabia que ouviria asneiras sem tamanho, e acusações tão injustas quando o inicio dessa conversa. Sabia que, mais uma vez, iria ouvir sobre mulheres: os objetos, os enigmas e como adestrá-las. Não podia acreditar que aquele senhor era o pai de seu filho.

— Você não conhece a luta, nem se familiariza com as causas, nem sabe do que sofremos. Não é sobre isso que lutamos. Não é sobre a maquiagem nem depilação, é sobre os padrões estéticos que nos foi imposto e que jamais serão alcançados. É sobre humilhar e nos fazer ter vergonha do próprio corpo, e muito mais do que isso. Enquanto isso, você reclama de uma conta no restaurante? O que é uma conta do restaurante perto dos 30% que a mulher ganha a menos que o homem exercendo a mesma profissão?! — Effie se levantou, furiosa.

— Você está reclamando de dinheiro? — Haymitch também se levanta. — Olha essa casa! Você é infinitamente mais rica do que eu! Está vendo? Isso é vitimismo!

— Não se atreva! — Effie gritou. — Meu deus, receber os Bush teria sido beeem melhor!

Parem vocês dois!! — Peeta se levantou. — Vocês estão agindo como selvagens por algo que não importa para nenhum vocês nesse momento!

Era tão claro. A humanidade concordara no inicio dos tempos, logo após a arca de Noé, que política, religião e esporte não se discutia. Não em um jantar onde o objetivo era unir famílias. Haymitch e Effie tiveram, juntos, a experiência de ver Peeta chegar naquele nível de fúria.

— Mãe, troque de lugar comigo. — Mandou.

Effie estava sentada na ponta da mesa, deixando Peeta e Haymitch frente a frente. A ponta da mesa é o máximo da hierarquia e da monarquia, onde normalmente o pai de família se senta, mostrando quem manda na casa. Onde o mestre se senta para ensinar seus discípulos, e onde Effie escolheu se sentar para mostrar quem mandava. No entanto, quando Peeta pediu para que mudassem, ela e seus instintos furiosos o obedeceram, porque queria ficar o mais longe possível daquele homem, e sua maravilhosa mesa de mogno estaria sendo uma eficiente como barreira com aquele... Crápula. Com um queixo charmoso e uma voz firme bem bonita.

Enquanto isso Haymitch pensava que estava frente a versão loira e pior que Johanna e Katniss juntas. As duas não o enfrentavam daquele jeito. Ao menos, era assim que Haymitch pensava. Acontece que Katniss e Johanna ignoravam maioria das coisas que ele dizia, evitando assim discussões desnecessárias como essa. Mas Effie não se calaria diante dele. Ela bela, teimosa, bem decida. Malditamente bonita quando está brava.

Faíscas foram trocadas enquanto Haymitch ainda encarava Effie, e vice e versa, e ódio foi expressado em cada garfada e mordida firme. A sala ficou silenciosa, o clima mais pesado ainda. Não foi ódio a primeira vista, e eu posso afirmar, caros leitores, que Haymitch e Effie teriam mais e mais discussões decorrentes e que Peeta ficaria mais e mais vezes no meio do tiroteiro. Mas não iria durar para sempre.

Porque todos sabem que um dos maiores clichês da literatura e da vida é que há aquela velha e desgraçada linha tênue entre o ódio e o amor. Enfim, pois é. Cansativo, não acham?!

— Eu não acredito que vocês discutiram por redes sociais. Vocês nem ao menos tem um facebook! — Peeta resmungou, dessa vez mais calmo, enquanto enchia a boca de purê de batatas, a maneira mais eficiente de calar a boca.


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