Tempted escrita por Camille Rose


Capítulo 9
Perspectivas


Notas iniciais do capítulo

Depois de tantos problemas, finalmente tenho a satisfação de postar de novo. Espero que goste e agradeço pela paciência e pelo apoio.



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Capítulo 10

A volta para casa foi mais falante que a ida, mas dessa vez foi mais por parte de Mia. Nossa! Como ela gostava de falar! Mas foi divertido. Ela me contou sobre seus estudos, sobre como ainda estava em dúvida quanto o que fazer da vida, sobre as viagens que gostaria de fazer antes de se decidir, sobre os conselhos que seus familiares davam a ela, etc.
Quando chegamos, almoçamos e depois cada uma foi para seu canto. Voltei para o meu escritório e chequei meu e-mail. Nosso cliente da CIP havia respondido e avaliaria nossas mudanças em sua obra durante o dia de hoje, o que me dava uma boa margem de tempo para... Nada. Ou quase nada. Comuniquei tudo ao senhor Palmer e procurei com o que me distrair pelo resto da tarde.
Bom... Eu estava sozinha em casa. Quer dizer... Aqui era tão grande que Mia deveria estar a quilômetros de distância, então seria quase como estar sozinha... E eu não faço isso desde que me mudei para Seattle e comecei a trabalhar na CIP...
Sorrindo com minha ideia boba, fui até o computador, conectei as caixas de som e coloquei uma rádio para tocar online. Kate e eu sempre fazíamos essas coisas bobas. Comecei a desejar que ela estivesse aqui.
A música que começou era Part of Me, Kate Perry, eu acho. Eu não tinha muitas preferências musicais, bastava que a música me contagiasse. E essa contagiou logo. Desliguei-me do meu trabalho, dessa história de noivado, do fato de Elliot não ter me ligado desde que foi embora ontem à noite sem se despedir. (Sim, eu estava chateada, mas não queria pensar nisso). Então, deixei a música tocando enquanto passeava mais uma vez rente às estantes de livros, parando aqui e ali para me mexer no ritmo da batida.
Eu sempre achei que dançar era uma atividade muito divertida apesar de nunca ter feito aulas. Com certeza eu nunca iria me expor a julgamentos alheios, mas quanto ao meu próprio, eu não me importava. Kate também nunca pareceu se importar com minhas qualidades rítmicas (ou a falta delas). Antes de nos mudarmos, costumávamos separar um tempinho para fazer coisas do tipo: beber um pouco de vinho depois do jantar, colocar música alta e dançar só para nos divertirmos.
Bons tempos.
Eu estava passando pela terceira estante quando parei para dar uns giros e me mexer para lá e para cá. Foi quando notei títulos de literatura inglesa. Coloquei-me em frente a eles enquanto dançava e fiz uma varredura pelas diversas lombadas bem espanadas e criteriosamente empilhadas. Quando percebi, estava cantando, me sacudindo e rebolando enquanto tentava escolher um livro.
Mais em baixo pensei ter visto uma coleção de Jane Austen e comecei a me abaixar, no ritmo da música, jogando com os quadris. Passei um dedo pela madeira escura da estante até alcançar Razão e Sensibilidade e Persuasão.
Hum... Gosto disso.
Cantando this is a part of me that youre never gonna ever take away from me, agarrei-me aos livros como se fossem meu par e voltei a ficar de pé, dançando com eles nos braços. Quando girei para voltar ao meio da biblioteca, percebi que não estava sozinha.
— AH! – gritei largando os livros no chão.
— Não pare, por favor. – pediu Christian. Sim. Christian. Parado à porta da biblioteca discreto como um gato.
Eu achei que era uma boa hora para o chão se abrir. Mas ele não se abriu. Tive que suportar cada nervo do meu corpo se contraindo de vergonha enquanto Christian, que estava parecendo divertido, caminhava até minha frente e pegava os livros do chão para mim.
— Olá Ana. – ele falou me oferecendo os livros de volta. Meus braços não responderam para pegá-los.
— C-Christian...
— Falo sério: não precisar parar. Continue.
Segurei, em fim, as obras de Austen e me abracei a elas indo para trás da minha mesa parar a música no computador e tentar me esconder um pouco.
— Eu já... estava acabando. – falei.
Ouvi Christian rir. Não vi porque não queria levantar meus olhos de novo. Não acredito que ele estava me espionando.
— Há... Há quanto tempo você...? – gaguejei.
— Desde quando você começou a flertar com aquela prateleira. – ele respondeu. Percebi que se aproximava da minha mesa. — Você parece ser uma jovem muito ativa. Da última vez que a vi estava fazendo guerra de comida na cozinha, hoje, dançando na biblioteca... A propósito, você dança muito bem, Srta. Steele.
— Ah é? Jura? – disse ironicamente.
— Por pouco não me seduziu... – ele falou mais baixo.
Arrisquei erguer um pouco o olhar para ter certeza de que ele estava zombando de mim. Christian havia se aproximado e estava agora apoiado na minha mesa, bem atrás do monitor. Ele usava roupas formais – terno, camisa e calça. Sua gravata estava frouxa e seu cabelo um pouco desalinhado. Ele estava muito bonito. Até parecia que eu não sabia disso! Christian era um homem muito bonito!
Frente a meu espasmo de vergonha, ele continuou:
— Então já começou realmente sua temporada aqui em casa? – perguntou.
— Já.
— Está trabalhando aqui também? – disse olhando para minhas coisas sobre a mesa.
— Estou.
— Muito bem, Srta. Steel. Quando se trata de trabalho, não se pode brincar. – e discorreu um olhar avaliativo sobre mim. Senti-me colada, presa à cadeira, enquanto ele falava comigo. — Como vão... As coisas por aqui?
— Bem. – respondi.
— Bem? Vamos lá, Ana, não seja tão monossilábica. Converse comigo.
Christian se sentou na ponta da mesa, afrouxando mais ainda a gravata e desabotoando o colarinho. Seu perfume era forte e másculo. Começou a exalar. Eu arranhei a garganta para tentar desanuviar meu cérebro. Christian era um homem bonito e impactante, sua presença me confundia e desacelerava meus raciocínios. Forcei-me a pensar numa resposta, para isso, busquei lembrar tudo o que eu sabia.
— Bom... Ah... Elliot e o Sr. Grey... Eles estão em Seattle, resolvendo problemas na Grey Publicity... Sua mãe... Acho que está trabalhando. Sim. Isso. Ela está.
— E Mia?
— Deve estar no quarto dela. – respondi. Tentei me concentrar em Mia. Ela era tão fácil de lidar que ajudava. — Nós saímos hoje.
— Foi mesmo? Está criando vínculos com minha família, Srta. Steele?
— Naturalmente devo criar... Eu acho. – respondi de forma meio débil. Estalei o pescoço movimentando-o de um lado para o outro. — Nós fomos com Kate.
— Kate?
— Katherine Kavanagh. Minha amiga. Dividimos o apartamento em Seattle.
— Ah, sim... – Christian ergueu uma sobrancelha.
— Nós fomos comprar algumas coisas para a festa de noivado. – completei.
As sobrancelhas de Christian voltaram para a posição original, recaindo um pouco mais pesadas sobre os olhos do que o normal.
— Então o plano todo... Vai acontecer mesmo? – ele quis saber.
— Como assim?
— O casamento.
— Claro. – respondi com obviedade na voz. — Por que não aconteceria?
— Por nada, é claro. Mas tem sido tudo muito rápido, não é mesmo?
Avaliei seu comentário. Sim. Tudo foi muito rápido. Mas achei que já havíamos ultrapassado esse tipo de estranheza.
— Por quê? Acha que é cedo demais? – perguntei.
— Conhecendo Elliot, sim. Ele nunca se amarra em ninguém tão rápido. Mas... Conhecendo você... – Christian parou novamente me olhando. Dessa vez me olhando mesmo. Senti formigar cada parte da minha pele onde seu olhar tocava.
— Eu o que?
— Não acho difícil que você conquiste um homem com facilidade, - ele respondeu aproximando sua mão de mim. Por um momento senti minha pulsação latejar nos ouvidos. Achei que ele fosse me tocar, mas Christian segurou um dos livros que eu ainda mantinha junto ao peito e o tirou de mim. Expirei. — Razão e Sensibilidade... – leu avaliando a capa do livro. — Imaginei que gostasse de Austen.
— Imaginou?
— Para qual lado você pende, Ana? Razão ou sensibilidade?
Engoli em seco. Por que parecia uma pergunta difícil de responder?
— Digamos que... Elinor é minha personagem favorita.
— Comedida, moralmente correta, altruísta... Você se identifica? – o que? Christian conhecia a história?
— Um pouco, eu acho.
— Sempre achei que Elinor seria mais feliz se desse mais ouvidos aos seus sentimentos. – Christian falou. — Mas não cabe a mim julgar quanto a isso.
— Por quê?
— Pode ser recompensador quando se cede às paixões de vez em quando.
Oh... Será que esse era o Christian? Um homem que cede às paixões?
— Então você está mais para um Willoughby?
Christian riu.
— Willoughby é um homem vaidoso, do tipo que gosta de tirar vantagem e nunca calcula as consequências. Não, não é meu tipo.
— E quanto ao coronel Brandon?
— Hum...Também não. Não sei ficar esperando tanto assim para ser correspondido. Tenho um pouco mais de amor próprio.
Ergui uma sobrancelha. Christian era tão difícil de entender!
— Então para que lado você pende, Christian? – perguntei.
Ele largou o livro na mesa e se colocou de pé. A movimentação do ar em volta me fez sentir de novo o cheiro de seu perfume.
— Digamos que eu não me encontro nesse tipo de literatura.
— E qual tipo seria o seu?
Christian se reclinou sobre a mesa, ficando alguns centímetros à altura do meu rosto.
— Gosto das paixões na vida real. Bom... Até mais tarde, Ana.
Assisti Christian dar meia volta e sair da biblioteca. Senti como da vez que nos encontramos no banheiro... Aturdida e um pouco descompassada.
Devo ter ficado paralisada até deixar de sentir o perfume que havia ficado para trás. Só então minha frequência cerebral voltou a ser o que era antes.
Christian, Christian... Por que eu tenho que ficar tão impressionada com você?
De repente, sobressaltei com o barulho inconveniente do telefone tocando. Larguei o outro livro de Austen sobre a mesa e peguei o aparelho irritante.
— Alô! – disparei.
— Ana! – era a voz de Elliot.
Senti como se fosse um balão que tivesse acabado de estourar. Logo em seguida senti raiva.
— Finalmente, não é?
— Ana, desculpa...
— Por não se importar com minha preocupação? – disparei.
— Eu estava preocupado também. Entenda. – ele suspirou. — A empresa está totalmente paralisada. Todas as atividades suspensas até que tenhamos certeza de quem é o responsável pelo plágio e pelas outras acusações.
— Oh...
— Estamos fazendo audiências com todos os funcionários e tem um pessoal escaneando as informações de todos os computadores e telefones daqui nas últimas semanas.
— E o que vai acontecer agora?
— Vou participar de uma audiência sobre a acusação de plágio. Papai está entrando como meu advogado. Vamos tentar uma conciliação, caso contrário, teremos de pagar pelos danos morais e acatar a acusação.
Nossa. De repente me senti muito mal por ter gritado com ele.
— Elliot, eu sinto muito.
— Não, não. Sou eu que sinto. Não vou poder estar aí tão cedo.
— Como é?
— É, Ana. Vou precisar estar aqui perto da empresa pelo menos até o final de semana.
— Ah, Elliot...
— Sinto muito. Não imaginava nada disso.

*Especial Elliot

Ouvi Ana expirar pesadamente do outro lado da linha. Eu estava me sentindo um idiota, mas precisava estar perto da empresa e dos possíveis culpados para tentar resolver tudo o quanto antes.
— E o que eu faço agora? – ela perguntou.
— Pode esperar por mim? – eu nem sabia se tinha o direito de pedir isso. — Volto o quanto antes.
— Elliot... – ela ponderou. Eu poderia perceber que Ana estava desapontada.
— Elliot! – chamou a voz de meu pai atrás de mim.
— Ana, preciso ir. – anunciei. O descontentamento dela era perceptível. — Espere por mim, ok? Até mais.
Dei meia volta e encontrei meu pai parado à porta do escritório.
— A reunião. Já está na hora. Segundo andar.
— Certo. Já vou. – respondi e o vi me dar as costas e seguir à frente.
Meu pai ainda estava realmente fulo comigo. A empresa era nosso acordo tácito de boa convivência. Ou pelo menos era isso que tinha se tornado de um tempo para cá, quando todos os meus gastos e viagens passaram a ser um problema, na visão dele, e eu tive que fazer algo sério da vida.
Eu sabia que precisava parar, me concentrar algo bom e rentável e trabalhar. Mas nunca senti que tinha dom para isso. Comecei com a empresa para não ter que viver sob o título de filho irresponsável. Achei que ia conseguir me virar, mas estava cada vez mais entediado. Até que Ana apareceu e percebi que me ajustar talvez não fosse ser tão ruim assim. Ela era tão bonita e competente, sendo tão jovem. Eu poderia estar à altura. Ainda que isso significasse, até certo ponto, estar preso à responsabilidades não necessariamente agradáveis.
Peguei minha pasta de cima da mesa e estava acrescentando mais uns documentos dentro quando alguns funcionários passaram pelo corredor em frente à porta que meu pai deixara aberta. Eles haviam sido dispensados e agora iam para casa, levando seus pertences. Um deles, uma mulher que eu conhecia muito bem, passou olhando deliberadamente para mim. E parou.
— Que situação, não é mesmo Elliot? – Amanda falou.
— Ainda é Sr. Grey, Srta. Roberts.
Ela riu, passando a mão pelo cabelo loiro e longo.
— Quanta formalidade! Quer uma opinião? Acho que a melhor coisa que você pode fazer, Sr. Grey, – enfatizando meu nome, — é fechar de uma vez essa empresa.
— E por que eu faria isso? Você por acaso sabe de alguma coisa, Srta. Roberts?
— Sei que tem gente que gostariam muito mais de assumir lugares como este.
— Você por acaso tem ideia de quem?
Não gostava do jeito como ela sorria. Quer dizer, ela era muito bonita, e realmente gostosa, mas desde a última vez que nos falamos... Digamos que talvez tenha ficado chateada comigo. Mas nesse momento eu tinha certeza de que Amanda sabia que algo. Ela havia sido minha secretária, depois pediu transferência para outro setor, onde ela poderia ganhar mais, e foi promovida pelo meu assessor, quem tomava conta de tudo quando eu não estava por perto. Particularmente, eu não gostava de tratar desses assuntos de pessoal.
— Ah, Elliot, quem não ia querer estar no comando de uma empresa como essa?
— Você ia querer?
— Ah não, eu não... Você sabe muito bem o lugar onde eu gostaria de estar... – ela insinuou dispersando um olhar sobre mim. Por um momento ficou muito evidente o decote que ela usava, em sua camisa formal de tecido fino.
— Amanda...
Passei as mãos pelos cabelos, começando a ficar irritado. Ela tinha parado só para me perturbar?
— Mas tudo bem! – ela disse. — Já entendi que você não está mais a fim.
— Amanda, você trabalha para mim. Eu só estou mantendo a ética.
— Não foi isso que você disse há alguns meses atrás... – ela tornou a insinuar, entrando mais na minha sala. Seus saltos fazendo um som agudo contra o piso.
— Há uns meses atrás a situação era diferente.
— Ah, você se lembra!
— Não é algo que eu pense a maior parte do tempo. E você deveria esquecer. Pensei que tivesse deixado tudo para trás depois da sua promoção.
Amanda deu mais uns passos, parando bem em frente a mim. Se eu olhasse mais para baixo, veria sua lingerie através do decote.
— Ah, eu não conseguiria ser tão fria assim... – ela colocou as mãos nos meus ombros, arrumando a lapela do paletó. Dei um passo para trás tentando manter certa distância e segurei suas mãos fora de mim.
— Amanda, é melhor parar! Todos estão indo embora e eu tenho uma reunião agora.
— Continua me rejeitando?
— Eu estou noivo. Acho que você ficou sabendo.
Ela arrancou as mãos de mim e se afastou, puxando a camisa para baixo. Seus seios ainda assim se insinuavam volumosos.
— É. Eu soube sim. Pois, já que é assim... Passar bem, Elliot. Espero que não se arrependa da sua escolha.

***
POV Elliot. ~dois meses atrás~

Grey Publicity. O nome, feito em metal escovado, reluzia no alto da fachada do prédio, cuja superfície espelhada refletia os poucos raios de sol que vazavam no céu parcialmente nublado de Seattle. Mais um dia em que eu era obrigado a ir trabalhar. Grey Publicity... Meu pai bem que poderia me dar um crédito e ficar um pouco no meu lugar. A final, eu tenho ou não trabalhado regularmente nos últimos seis meses?
Estacionei na vaga preferencial dos executivos e afrouxei um pouco a gravata antes de sair. O tempo estava úmido, como sempre, eu adoraria que tivéssemos um almoço de negócios marcado num lugar agradável, onde eu pudesse dar uma fugida discreta e espairecer. Mas não hoje. Pelo menos não segundo as atualizações da agenda, repassadas para mim pelo meu assessor pessoal, James Jefferson. Um bom sujeito, formal e eficiente, mas que me enchia de más notícias sempre, assuntos com os quais eu deveria me preocupar e obrigações que eu deveria cumprir. Ah! Só de lembrar aquele topete penteado e do par de óculos retangular, meu ânimo já despenca uns dez metros.
Assim, entro no elevador, ainda de óculos escuros, pouco disposto a dar bom dia a todo e qualquer funcionário que passasse por mim, aperto o botão da cobertura e me deixo levar até lá. No décimo quinto andar, o elevador para e abre as portas. Para minha alegria, James Jefferson entra.
— Sr. Grey! – ele me cumprimenta. Tento esboçar um sorriso. — Espero que tenha recebido meu último e-mail. Enviei ontem, por volta das dez.
— Sim, sim, eu vi. – claro, a agenda. — Então tenho que ir para uma reunião no setor criativo hoje, às nove?
— Exatamente – ele diz em seu tom profissional e arruma os óculos.
— E do que exatamente nós vamos falar?
James arregala um pouco os olhos, mas não comenta nada. Ele já deve saber que sou um pouco desatento, e é bom que não tenha o hábito de comentar.
— Bom... A equipe de produção espera que o senhor dê sua aprovação para a última peça do...
— Ah, sim! Ok. Lembrei. Daqueles caras marrentos que nunca estavam satisfeitos com nada, da Extasy Events. Eu estou lembrado.
— Pois é. Esperamos que aceitem dessa vez. A equipe precisa da sua posição antes de marcar a apresentação da peça. E têm mais outras duas coisas que acabei de saber!
O elevador abriu no meu andar e saí, tirando os óculos escuros e afrouxando mais um pouco o nó da gravata. James esperou eu me posicionar atrás de minha mesa antes de continuar.
— Eventos extras? – tentei adivinhar.
— Sim, senhor. Um deles pelo menos. A direção da CIP ligou novamente. Um dos clientes deles está realmente interessado em fazer ampla divulgação de um livro e eles esperam poder fechar parceria conosco. Desejam marcar um encontro.
— Ah é? Publicidade editorial?
— Sim senhor. Parece que é um autor de fora, então querem algo grande.
Só de imaginar esse negócio todo de parceria minha cabeça começou a girar. Estava prestes a apertar o botão do interfone para pedir um café quando lembrei que minha última secretária se demitiu semana passada. Como se tivesse percebido meu intuito e ligado uma coisa a outra, James falou:
— O outro compromisso fora da agenda é que temos uma pessoa interessada no cargo para sua secretária, senhor. – James remexeu na pasta que trazia e puxou um papel de dentro. — Recebi o currículo dela ontem à noite. Eu já pesquisei. Formada em administração, iniciante, mas com experiência e uma boa referência.
Ele me estendeu o papel e eu o peguei. Era um currículo, na verdade, e tinha três páginas. Pulei para a parte da foto. Uma mulher loira, de olhos esverdeados sorria levemente na 3x4 anexada ao fundo do documento.
— Boa referência, é? – Perguntei.
— Sim, senhor.
— Marque com ela hoje, pela hora do almoço. Vamos resolver logo isso. – falei mais por praxe do que por interesse. Não tinha a menor aptidão para lidar com questões de pessoal. Eu ia contratá-la, a entrevista no almoço era mera formalidade.
— Sim, senhor.
***
~ dias depois~

Depois de um pouco de dor de cabeça, conseguimos vender a peça publicitária daqueles caras marrentos que nunca estavam satisfeitos com nada e hoje à noite era a festa de comemoração. O evento acontecia no salão da própria Grey Publicity e todos estavam lá. Funcionários, executivos parceiros, o pessoal da empresa cliente, e, claro, eu. A música ambiente, o requinte e toda aquela fachada começaram a me entediar antes mesmo das onze da noite.
Depois da cerimônia oficial, decidi subir para minha cobertura e beber um pouco em privacidade. Definitivamente, depois dessa, eu ia pedir ao meu pai umas férias e deixá-lo no comando das coisas por... O que? Dois meses? Acho que ele permitiria, a final, eu tinha feito ou não um bom negócio?
Já tinha tirado o paletó e a gravata de almofadinha que fui obrigado a usar na cerimônia e bebia a terceira dose do meu melhor uísque quando a campainha do escritório tocou. Olhei no relógio. Já passava da meia noite.
Abri a porta, intrigado e me deparei com Amanda Roberts. A nova secretária que estava na ativa há uma semana.
— Desculpe interrompê-lo, senhor Grey. – Ela disse, piscando seus cílios espessos para mim. — Alguns figurões estão indo embora, outros estão chegando e o pessoal do jornalismo está perguntando pelo senhor. Gostariam de umas fotos para a coluna social, e...
Fiz sinal para que ela se calasse. Eu estava ficando zonzo. Claro que tinha um pouco a ver com o champanhe, o vinho e, agora, o uísque que eu tinha bebido. Tentei retomar o que Amanda disse, mas quando baixei os olhos me deparei com seu decote e meu raciocínio um tanto bêbado desandou de vez. Acho que Amanda percebeu, mas não fez questão de puxar mais pra cima o vestido preto que usava, aqueles retos que só ganham forma no corpo de uma bela mulher e... Amanda estava parecendo mesmo uma bela mulher.
— Senhor Grey, o senhor está bem? – Ela quis saber depois que não respondi mais nada.
— Melhor impossível.
— E então, o que o senhor me diz? Eu devo avisar lá em baixo que...
— E você, está bem, srta. Roberts? – perguntei. Ela tinha uma boca carnuda que hoje estava colorida de vermelho. Não queria que mais nenhuma palavra sobre negócios saísse de lá por hoje.
— Eu estou bem, sim senhor. – Ela respondeu sorrindo. Amanda sempre me dava um sorriso não importava as coisas mais idiotas que eu pudesse ter dito numa reunião ou meu mau humor matinal.
— Você não gostaria de entrar e me acompanhar num drinque? – Perguntei.
— Senhor Grey, não seria muito impróprio...
— Pode me chamar de Elliot, Amanda.
Percebi que Amanda conteve um sorriso engolindo em seco.
— Ah, bem, senhor... Elliot. – ela pausou e respirou fundo. Não tinha ideia de como seu decote saltou ao fazer isso. Bem... ou talvez tivesse sim. — Mas e os jornalistas?
— Já tirei fotos demais hoje. Aposto que eles vão encontrar uma que sirva pra coluna social. Mas e então? O que me diz? – dei um passo para trás, abrindo um pouco mais a porta.
— Sr. Elliot, o senhor é meu chefe e...
— Não estamos em horário formal de negócios, Amanda. Considere como... um encontro.
Vi Amanda arregalar os olhos, ficar vermelha e começar a respirar fundo com mais frequência. Sim, ela estava na minha. Não parecia ser o tipo de mulher cheia de pudores. Deveria estar apenas insegura, a final, nos conhecíamos há pouco tempo. Mas, pela minha experiência, já era capaz de identificar quando uma mulher estava a fim de mim. Neste momento eu começava a comprovar.
— Sr. Elliot, eu sou nova na empresa, o que os outros poderão falar?
Fui até o centro do escritório e espiei pelos lados.
— Não tem ninguém aqui. Ninguém precisa ter nada para falar amanhã.
Hesitante, Amanda entrou e fechou a porta.
— Muito bem, senhor Elliot. Mas só um drink. – ela cedeu. Sorri e pude perceber que ela expirou longamente.
— Vai me chamar de Senhor durante todo nosso encontro? – comentei servindo um copo de uísque para ela também. Amanda não respondeu, apenas tomou a bebida de minhas mãos e se sentou ao meu lado no sofá de couro que ficava a um canto do escritório. — Agora, me diga, quais são os seus interesses, Amanda?
Com a bebida na mão e na privacidade de minha cobertura, Amanda logo pareceu mais à vontade e começou a falar. Nenhuma novidade. Ela lembrava muito outras garotas com as quais saí. Só que as outras eram garotinhas mimadas, filhas de gente rica que conhecia nas festas. Amanda era minha secretária, e isso era novo e começava atiçar minha imaginação.
Já estávamos no fim da garrafa de uísque quando Amanda se levantou.
— Já é muito tarde, Elliot. Eu preciso ir. – Ela se curvou para pegar a bolsa e seu uma desequilibrada de leve.
— Não acho seguro que você saia daqui a essa hora e neste estado. – Falei segurando-a pelos braços até que recobrasse o equilíbrio.
Amanda se voltou para mim e respirou fundo de novo. O decote, de novo. O decote. Eu já estava no limite, perto de perder a compostura. Se ela suspirasse de novo...
— Elliot... – Ela suspirou.
A puxei para mim e encaixei minha boca na dela. Amanda não hesitou mais que um segundo antes de me retribuir e amolecer em meus braços. Ela suspirou novamente, apertando seu peito contra o meu. O gosto de uísque na sua língua me deixou faminto e, sem opor resistência, voltei com Amanda para o sofá.
Para minha sorte ela não era do tipo que começa a falar àquela altura. Tudo que ela fazia era corresponder a mim. Parecia que ela vinha esperando algo do tipo há algum tempo, pois ela mesma começou a descer o zíper do vestido e expor, enfim, tudo o que o decote mal conseguia comportar.
Droga! Ela era gostosa!
Isso ia me dar dor de cabeça amanhã, mas, na hora, consegui facilmente ignorar o fato.
— Elliot. – Ela suspirou de novo.
— Droga! – resmunguei, inebriado, descendo em seu sutiã. — Droga! Você é minha secretária! – reclamei. Nunca tinha ficado com nenhuma funcionária, não sabia como seria depois.
Amanda sorriu ao meu comentário e se sentou. Achei que o choque de realidade havia caído para ela também, mas o sorriso lascivo em seu rosto, borrado de batom, me indicava outra coisa.
— Sim, senhor. – Ela assentiu e se levantou. O corpo todo daquela mulher me deixava aceso. Ela andou até minha mesa e se sentou, de frente para mim. — Acho que já está na hora de tratarmos de negócios sérios, senhor Grey. – e me chamou com um aceno.
Fui para cima de Amanda sem nem ao menos hesitar.
— Está falando sério? – perguntei, incrédulo sobre o jogo que ela estava propondo jogar.
— Quais são as ordens, senhor? – Amanda perguntou virando a cabeça de lado e fingindo arrumar uns óculos que ela não usava. Ok. Se ela queria brincar... Minha cabeça (de baixo) estava cheia de ideias.


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Notas finais do capítulo

Desculpe algumas possíveis falhas no texto: a digitação e a formatação no celular é horrível. Então, o que você achou?