Tempted escrita por Camille Rose


Capítulo 19
Não é justo


Notas iniciais do capítulo

Hey! I'm back



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ELLIOT
“Deixe seu recado na caixa...”...
— Porcaria! – praguejei, desligando o celular. — Anastasia... Onde você se meteu? – perguntei encarando o aparelho enquanto mais uma ligação se encerrava. Já era a décima.
Eu andava de um lado para o outro dentro do quarto imaginando para onde Anastasia poderia ter ido. Ontem mesmo falei com ela e ela disse que me esperaria. Agora descubro que saiu, sem dar nenhuma informação, e não atende mais o celular. Eu só poderia estar sendo castigado pelo meu tempo de canalha...
Desabei sobre a cama, irritado. Mesmo cansado, meu estresse era grande o suficiente para conseguir me manter desperto. Permaneci de peito para cima, encarando o teto por algum tempo até que senti o celular vibrar. Ansioso, sequer olhei no mostrador o nome de quem ligava, atendendo diretamente:
— Anastasia! – falei.
— Não. – uma voz mais grave que a de Anastasia falou do outro lado. — Você me chamar pelo nome de outra mulher até me ofende...
— Amanda, - adivinhei.
— Como vai querido? – ela falou, sua voz se arrastando.
— Muito puto! O que você quer?
— Ouvir sua voz! – ela respondeu num tom ofendido. — Com tantos problemas, achei que o melhor fosse manter distância. Mas soube que o processo ficará parado esse fim de semana, e pensei...
— Em me perturbar? – ironizei.
— Não seja grosseiro, Elliot!
— Você já sabe muito bem que há muito tempo o que havia entre nós acabou. O que você pode querer?
— Ah, eu sinto saudades... A gente bem que poderia sair para comer alguma coisa, como amigos.
Dessa eu ri.
— Você jura? – perguntei, sarcástico. — Sinceramente, Amanda, se não tem nada de útil para falar, me poupe, porque eu já tenho problemas demais!
Ouvi Amanda bufar na linha.
— Você sempre teve problemas e isso não nos impedia de nos divertir... Vamos... Pelos velhos tempos! – ela insistiu quase ronronando.
— Pelo visto você não deve saber que sair com outra mulher quando se tem uma noiva é considerado traição para a maioria das pessoas.
— Ah, claro! Esse noivado! – Amanda comentou com desdém. — Não tem coisa mais chata! Por que você foi fazer isso, heim Elliot? É uma droga! O que essa garota tem?
— Futura Sra. Grey, você quer dizer?
Amanda riu.
— Por acaso ela está aí agora?
Hesitei. O sumiço de Anastasia estava me deixando nervoso...
— Hm... Não nesse momento.
Amanda riu novamente.
— Então...
— Nada de então, Amanda!
— Vai me dizer que você não sente nem um pouco de saudade... Hum? – Amanda suspirou. Droga! Minhas mãos formigaram. — As nossas tardes no escritório. As nossas reuniões de negócios na sala de reunião... – e sussurrou: — Nossas fugidas para o toillet da direção...
Flashes de cada uma dessas situações invadiram meus pensamentos, me fazendo lembrar do quanto Amanda era gostosa! Se ela não fizesse esse tipo, eu até poderia ter levado mais a sério... Devo ter ficado um tempo em silêncio pensando naqueles momentos porque quando Amanda voltou a falar, parecia bem mais confiante:
— Baby... Você consegue lembrar daquele conjunto de lingerie cinza que você rasgou?
— Hm... Não... – menti. Eu não conseguiria esquecer aquele dia, o modo como Amanda estava parecendo o pecado em carne.
— Ah, para! – Amanda riu. — Eu comprei outro igual... Estou usando nesse momento...
Ouvi o som de elástico batendo sobre a pele e imaginei qual das alças ela teria puxado. Droga, garota infernal! Meu sangue começou a bombear mais forte para a região sul do meu corpo.
— Amanda, eu vou desligar...
— Ah, baby... – ela suspirou de um jeito destruidoramente sexy.
— Porra, garota! – xinguei, sentindo-me esquentando.
— Diz se você não sente um tiquinho assim de saudade... Diz! – ela continuou falando de forma manhosa. — Já faz tanto tempo que a gente não...

— Oi Elliot! – uma voz bem mais aguda e jovial falou da entrada do meu quarto, assustando-me e me arrancando da imersão em que estava na voz de Amanda. Era Mia.
— Mia? O que está fazendo aqui? – perguntei, sobressaltado, sentando-me.
— Ora, seu besta! Eu moro aqui! – Ela falou, vindo até a ponta da minha cama e se sentando também. — Está falando com a Ana?
— Hm... não.
— Baby... Vem ficar comigo, vem... – Amanda gemeu do outro na ligação.
— Então quem é? – Mia prosseguiu.
Tirei o celular do ouvido quando Amanda começou a suspirar. Imaginei que ela poderia estar tocando em si mesma, como fez uma vez em meu escritório. Imaginar isso e falar com Mia ao mesmo tempo, ouvindo Amanda gemer no telefone era perturbador.
— Ligação de negócios, Mia. Será que você pode dar o fora? – Perguntei.
— Nossa! Seu estúpido! – Mia fingiu ofensa. Ela era, na verdade, bem difícil de se ofender e bastante abusada. Tanto que nem se moveu da cama. — Eu sou sua irmã caçula! Você desapareceu a semana inteira! E eu aqui cuidando do seu casamento por você!
Mia disse e tirou do bolso um envelope branco. Um convite de casamento.
Peguei o papel sedoso e fiquei ainda mais perturbado.
— Ah... Hum... Obrigado.
— De nada! – Mia riu brilhantemente.
Fiquei a encarando até que ela se tocasse de que eu não ia desligar.
— Argh! Você é mesmo um chato, sabia! E ainda falam do Christian... – Mia reclamou no caminho para a porta do quarto. — Quando a Ana der algum sinal, vê se avisa, porque tenho uma seleção de vestidos no meu quarto para ela escolher.
Assim que Mia saiu e bateu a porta, voltei a colocar o telefone no ouvido
— Sua irmãzinha, amor? – Amanda falou com aquela voz rasteira.
— Era. Mia.
— Crianças. Sempre se intrometendo!
— Ela não é bem criança. E nem nós dois. É melhor pararmos por aqui...
— Mas agora que a brincadeira está ficando boa... Estou começando a derreter todinha, baby...
Puta que pariu!
— Amanda! QUE DROGA! O que você quer?
— Você. – ela disse de forma incisiva.
— Fala sério! – desdenhei.
— Estou apaixonada por você, Elliot... E essa distância que você colocou entre nós, desde que essa garota apareceu, é horrível...
— Apaixonada? – repeti irritado. — Você sempre soube que não era sério. Nós tínhamos concordado com isso.
— Mas acabou sendo diferente. Você sabe que sim.
— O que eu sei é que você não faz muito esse tipo, de que leva a sério. Então, o que você quer?
— Você não tem o direito de me ofender! – Amanda respondeu parecendo ter realmente sentido.
— Não quero ofender você! Não queria nem estar nessa ligação! – extravasei.
— Então por que ainda está? Não percebe? Você não resiste a mim! Nós temos algo...
— Tara. É tudo o que temos.
Amanda ficou um tempo em silêncio e eu me perguntei se teria ido longe demais. Depois pensei “Foda-se!”, porque era verdade. Tudo o que sentíamos um pelo outro era tesão.
— Amanda... – comecei.
— Não, Elliot. – ela me interrompeu. — Espero que se lembre disso. Foi você que pediu.
— Pediu o que? – perguntei, mas Amanda já havia desligado.

***
ANASTASIA

Christian continuou dirigindo, distanciando-nos da região mais precária da cidade, de volta para o centro. Já passava da hora do almoço, mas eu não conseguia lembrar de mais nada que não fosse os últimos acontecimentos. Christian mantinha o olhar fixo no caminho, as mãos grudadas ao volante e o maxilar trincado. Aparentemente nenhum de nós sabia por onde começar, ou melhor, recomeçar, depois daquela cena... Mas eu precisava de esclarecimentos... Dúvidas diversas vagavam pela minha cabeça, mas tinha medo de piorar a situação começando com qualquer uma. Então, decidi pegar leve:
— Você está bem? – perguntei, insegura.
— Bem é forte demais. – Christian admitiu. Ainda parecia ter dificuldade para falar em voz alta. — Você está bem? – ele perguntou de volta.
— Eu estou legal... – atenuei. — Eu só não entendo...
— Eu sei.
— O que aconteceu?
Christian estreitou os olhos, como se minha pergunta o fizesse pensar em coisas difíceis de sair falando. Ele ficou um tempo em silêncio, como se estivesse escolhendo por onde começar.
— Aquela mulher foi uma das inspetoras do orfanato. Suzy. E aquele era o filho dela, Raphael.
— Aquela senhora... Hum... Cuidou de você? – Perguntei. Persisti sobre Suzy porque pareceu um assunto menos tenso para Christian continuar falando naquele momento. E eu precisava ouvi-lo, para ter certeza se o Christian que eu achava conhecer ainda estava ali, depois de tudo o que eu vi.
— Sim. Ela era a mais atenciosa.
Imaginei Christian criança, sozinho naquele lugar, se perguntando onde estaria seu pai ou sua mãe, ou por que ele estava sozinho, e Suzy ali, cuidando dele e tentando confortá-lo daquela realidade difícil... Meu coração desacelerou e sentiu uma espécie de gratidão por ela.
— Vocês ainda têm algum vínculo? – perguntei. A resposta era meio óbvia, mas esperava que Christian falasse mais.
— Ela continua trabalhando no orfanato, mas como uma das diretoras sênior agora.
— O orfanato ainda existe?
— Sim, foi remanejado.
— E você faz doações para ele?
— Duas vezes ao ano... – Christian respondeu. Pude perceber que seu tom desanuviou um pouco.
— Eu sei que pode parecer uma pergunta idiota, mas... Por quê? O que motiva você? Você disse que fugiu de lá, então... Por quê?
Christian relaxou o cenho.
— Digamos que eu entendo um pouco do que eles precisam... – Christian pensou por um tempo. — O orfanato não foi... A parte mais difícil. Não por completo.
— Claro... – suspirei. Lembrei-me do quarto incendiado e me veio uma enorme vontade de querer saber mais. Contudo, esse, provavelmente, seria um assunto difícil de conversar. — Para onde você foi quando fugiu de lá?
Christian me olhou como se confirmasse mentalmente que aquele seria um assunto difícil.
— Lugar nenhum. Por aí. – ele vagou. — Ana... Eu não sei mais se é uma boa ideia nós continuarmos com isso.
— Como assim? Isso o que?
— Tudo isso!
— Se você ainda não está pronto para falar, eu posso esperar, eu...
— Não! – Christian me interrompeu. Ele tornou a franzir o cenho e deu um leve soco no volante. — Eu tentei. Você viu! Mas acho que não dá. Não posso fazer isso!
— Isso o que? – perguntei tornando a ficar aflita.
— Mostrar meu passado, deixar você conhecer tudo... Deixar você saber... Ah! – Christian fez uma curva fechada, de repente, que me assustou. — Não posso ficar tentando fazer você ficar perto de mim.
— Por que não? – minha voz deixou transparecer um tom de desespero ao ouvir aquela frase, surpreendendo até a mim mesma.
Christian me olhou e, sem que eu esperasse, fez uma baliza e estacionou próximo ao meio fio. Ele afrouxou o cinto e se virou pra mim.
— Eu não sou... – ele hesitou, como se não soubesse que palavra usar. — Eu tenho segredos, e arrependimentos. Eu sofri coisas e fiz coisas... – ele fechou os olhos por um instante, como se sentisse dor. — Não importa o quanto eu quero você, não é fácil assim deixar alguém entrar num espaço que ficou fechado há muito tempo.
— Eu prometo que não vou julgar sem antes tentar entender você. – falei. Sentia uma necessidade profunda de conhecer Christian. A atração que eu sentia por ele exigia que eu tivesse mais...
— Você diz isso porque não sabe. Ana... – Christian fincou seus olhos nos meus e segurou meu rosto em suas mãos. — Não vou arriscar perder você por causa do meu passado, caso você venha saber dele. Mas vou ter que aceitar caso você não queira mais ficar aqui... Eu conseguiria, mesmo que fosse difícil, aceitar que você escolhesse o Elliot e se casasse com ele, se fosse realmente sua vontade... Mas eu não ia conseguir aceitar que as merdas do meu passado afastassem você de mim. Elas já me assombram bastante sozinhas.
Eu senti como se tivesse perdendo minha chance de compreendê-lo. Frustrada, como alguém que perde o instante em que um cometa passa, e não há formas de ter aquela oportunidade de novo. Eu olhei no fundo dos olhos de Christian e só conseguia enxergar confusão e medo, o que era bastante incomum de identificar neles. Seja lá o que for que Christian escondesse, ele fazia isso realmente muito bem, porque eu jamais poderia imaginar o que fosse.
— Eu sinto muito... – falei. — Eu não posso continuar sendo inconsequente, me deixando levar assim... Não sem saber mais. Eu preciso de mais.
Sem aviso, Christian tomou meus lábios nos dele e me deu um suave e prolongado beijo. Diferente de todos os outros que já me deu. Este era mais macio e lento e me doeu profundamente pensar que seria o último. Seu polegar acariciava meu rosto em movimentos circulares com uma ternura nova e surpreendente.
— Você é noiva do meu irmão... – ele falou baixinho depois que se afastou alguns centímetros de mim. — Isso é tão injusto...
— Christian... – choraminguei, refreando a vontade instintiva de tornar a beijá-lo.
— Você pode esquecer tudo que viu e ouviu hoje? – ele perguntou como se dependesse daquela certeza para retomar a paz.
— Não sei... – respondi. — Eu preciso de tempo. Preciso voltar pra casa.
Christian acenou em concordância. De repente, eu me sobressaltei!
— Nossa! Casa! – exclamei. — Elliot foi para casa hoje. Eu já deveria estar lá!
— Estamos indo. – Christian respondeu, recolocando o cinto de segurança corretamente e tornando a sair com o carro.
Tentei não reparar na forma como ele parecia desolado olhando para frente, com os olhos parecendo frios e distantes. Isso me fazia sentir desolada também.
Curvei o corpo para pegar a bolsa que estava no chão na parte de trás de carro. Depois, saquei o celular e verifiquei que havia dezenas de chamadas perdidas e mensagens desesperadas de Elliot. A última dizia simplesmente:
“Você por acaso fugiu?”
É. Eu poderia dizer que sim. Era como eu me sentia. Fugindo de todas as minhas responsabilidades, do meu relacionamento com Elliot, do meu compromisso em conhecer a família dele... Eu estava fugindo, me refugiando em Christian e nos sentimento intensos que ele conseguia despertar em mim. Mas que nunca seriam compensados, porque simplesmente não posso conhecê-lo.
É tão injusto.
Queria que fosse mais simples.
“Estou voltando para casa. Estou bem. Desculpe. Tinha perdido o celular”.
Digitei e mandei a mensagem. Depois, digitei uma mensagem para Kate me dar cobertura enquanto eu não chegasse. Elliot não teria o telefone de Kate para investigar meu paradeiro, contudo, nunca se sabe.
Pouco tempo depois recebi a mensagem de Kate:
“Positivo. Espero que tenha pelo menos se divertido. Ps: me conta tudo!”.
Ela não fazia noção da diversão!


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Notas finais do capítulo

Estou de volta ao trabalho mas não pretendo abandonar a fic.