Tempted escrita por Camille Rose


Capítulo 11
Perspectivas de passado e de futuro


Notas iniciais do capítulo

Olá! Aproveite mais um capítulo. Acho que este é esclarecedor sobre algumas coisas do Elliot.



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POV Elliot – cinco semanas atrás

Tinha tudo para ser mais uma manhã de tédio na Grey Publicity, mas desde que Amanda e eu tínhamos ficado juntos, naquela noite durante a festa de comemoração de venda, os dias no escritório passaram a ser mais animados. Confesso que na manhã seguinte àquele nosso encontro foi um pouco estranha. Eu cheguei um pouco mais tarde que o habitual, e não tirei os óculos escuros nem mesmo depois de sair do elevador, no meu andar. Eu estava com a pior cara de ressaca que poderia ter arranjado para uma segunda-feira. Ainda por cima, estava preocupado com que tipo de mulher eu ia ver em Amanda depois daquela noite. Contudo, naquela segunda-feira Amanda não apareceu.

— O que houve? Ela deu alguma satisfação? – Perguntei a James, meu assessor, enquanto ele arrumava os documentos que previam uma aliança entre a nossa empresa e a editora CIP.

— Parece que ela comeu algo estranho ontem e está se sentindo mal, - James respondeu arrumando os óculos de almofadinha daquele jeito que me entediava.

— Algo estranho, foi? – repeti. Internamente fiz uma piadinha imprópria sobre o que provavelmente Amanda comeu na noite passada.

— O senhor gostaria de responder agora à proposta do sr. Palmer, da CIP? – James interferiu o fluxo de meus pensamentos, que começavam a se afastar do presente.

— A proposta?

— Sim. Sobre o encontro entre o senhor o representante dele. Alguém que assina o nome Steele.

— Pode ser. Marque para a semana que vem.

— Certo senhor.

E o dia passou lentamente enquanto eu trabalhava com James. Contudo, no dia seguinte, Amanda estava de volta. Eu cheguei um pouco tarde, novamente, e ela já estava lá quando cruzei a porta do elevador.

— Bom dia senhor Grey. – ela falou de modo padrão. A primeira coisa que reparei, instintivamente, foi que não havia decote desta vez.

Seria um mau sinal? Ela estaria arrependida do que fizemos?

— Bom dia, Amanda. Mande chamar James, por favor. – Falei, seguindo direto para meu escritório.

James me encheu de relatórios e informações sobre o encaminhamento dos trabalhos a manhã inteira. Por volta do meio dia já sentia minha cabeça doer.

— James, vamos fazer assim... Peça para a senhorita Roberts providenciar um almoço para mim. Aproveite e vá almoçar também.

— Então paramos com o planejamento agora? Voltamos às duas?

— Às três – informei.

— Como quiser senhor.

James guardou todos os papéis e saiu. Cerca de vinte minutos depois a campainha de meu escritório tocou.

— Entre.

Era Amanda. Ela entrou fazendo seus saltos ressoarem no piso encerado. Trazia nas mãos uma bandeja com uma embalagem do restaurante mexicano que ficava quase em frente ao prédio.

— O senhor não especificou o que gostaria de comer, então eu trouxe algo básico. Espero ter acertado. – ela falou sem me olhar nos olhos. Mas era inegável a tensão que havia entre nós dois.

— Aposto que você acertou. – comentei.

— Mais alguma coisa, senhor?

— Sim. – pensei. — Por que não se junta a mim no almoço? Não estou com muita fome.

Amanda ergueu os olhos para mim e corou.

— Senhor Grey... – ela disse em tom de alerta. Sabia que minha proposta não era tão inocente assim. Ela não cairia na mesma história duas vezes. A menos que ela realmente quisesse.

— Estendi o horário de almoço hoje. Temos tempo se você desejar conversar sobre... Sobre o que aconteceu...

— Senhor Grey...

— Por favor me chame de Elliot.

Amanda arranhou a garganta.

— Bom... Elliot... Não tenho certeza do que realmente pode estar acontecendo entre nós dois e estou tendendo a acreditar que o que aconteceu foi um erro. – ela falou muito seriamente puxando de leve o vestido social para arrumá-lo em suas curvas.

— E se... – falei, colocando-me de pé e contornando a mesa. — E se eu realmente estiver me interessando por você?

Percebi um sorriso querendo despontar no rosto de Amanda, mas ela o conteve.

— Eu diria que... Temos um problema então, porque eu sou sua secretária e relacionamento entre chefe e funcionário geralmente acaba mal...

Antes que Amanda prosseguisse com um discurso que, claramente, ela não defenderia por muito tempo, segurei seu rosto e lhe dei um beijo, de apenas alguns segundos, mas que me permitiu perceber que ela estava cedendo.

— Elliot! Eu não tenho certeza...

— Não? – insisti tocando-lhe nos lábios.

— Não... – ela tentou negar, mas o modo como fechou os olhos ao meu toque respondia o contrário.

— Estamos no horário de almoço... Não está com fome? – incitei.

Amanda abriu seus olhos esverdeados, bem próximo aos meus, compreendendo bem o sentido de minha pergunta.

— Talvez... – ela disse dando um passo para cima de mim. E lá estava de volta a Amanda daquela noite. Dessa vez sem um pingo de álcool.

Puxei-a para meus braços aproveitando a sensação de todo seu corpo colado ao meu. Foi quando percebi que, em compensação à ausência do decote, sua saia possuía uma fenda lateral que ia até a metade da coxa. Minha mão invadiu a abertura do tecido e Amanda, sem demonstrar pudores, flexionou a perna até a altura dos meus quadris, encaixando-se em mim.

— Garota, você é muito boa! – falei, provocando um fraco gemido nela.

— Vamos trancar a porta! – ela disse.

Deixei Amanda ir em frente e, enquanto ela girava a chave na fechadura, enrolei sua saia para cima até a cintura, encostando-a contra aporta.

— Elliot! – Ela arfou, surpresa.

— Droga, Amanda, você é muito gostosa!

Tive a impressão de que ela já tinha vindo trabalhar mal intencionada, a menos que ela costumasse usar fio-dental todos os dias e meias de liga, uma das quais puxei fazendo estalar sobre seu traseiro volumoso.

— Elliot, não podemos demorar muito. – ela disse, parecendo um pouco sem ar.

— Fique tranquila, baby, ou você vai acabar querendo mais.

Sem muita delicadeza, virei-a de frente, empurrando contra a porta e suspendendo-a de modo que ela se encaixou em mim. Movi-nos em direção à minha mesa e coloquei-a no chão.

— Elliot! – Ela gemeu em protesto aos centímetros que nos afastou.

— Vire-se!

Amanda virou as costas para mim e se reclinou sobre a mesa sem eu ter que pedir, deixando o caminho muito fácil para nós dois. Droga! Ela sabia como jogar meu jogo!

***

E assim os dias na Grey Publicity começaram a ficar mais interessantes. Quarta usamos o banheiro da minha cobertura, o único que não tinha câmeras nas entradas e que ficava no fim de um corredor por onde quase ninguém mais passava, a não ser eu. Na quinta fizemos hora extra. Uma lona hora extra que me fez chegar atrasado no dia seguinte, quando tive que dar uma estendida no horário do almoço mais uma vez. Mas também foi na sexta em que quase Amanda e eu fomos pegos.

— Elliot, eu trouxe... – Ela entrou na minha sala, já falando, e teve de parar abruptamente. James ainda estava comigo. — Desculpe... Hum... Senhor Grey. Achei que tinha visto o Sr. Jefferson sair. Eu... Ah... trouxe o seu almoço.

James olhou de Amanda para mim e arrumou os óculos com aquele seu modo irritante. Fechei o paletó, cruzando as pernas e tentando ignorar (assim como James, provavelmente) o tom mais pessoal com que Amanda se anunciou.

— Obrigado, senhorita Roberts. James, eu acho que acabamos por hora. Vá para seu almoço. – falei.

— Certo, senhor.

James arrumou sua pasta de almofadinha e foi até a porta. Ele hesitou por um momento antes de sair completamente, imagino que esperando que Amanda saísse junto com ele, mas ela não saiu. Então, James fechou a porta. Amanda esperou até ouvir o som do elevador para trancar-nos mais uma vez.

— Essa foi por pouco! – ela disse sorrindo.

Eu estava certo ao ter pensado que Amanda não era do tipo de mulher cheia de pudores. Mas estava começando a achar que, na verdade, ela não tinha nenhum.

Assim que se virou de volta para mim, começou a descer o zíper frontal de seu vestido aparentemente recatado. Caminhando até mim, arrancou a roupa antes de se sentar sobre meu colo, exibindo todas suas curvas e um novo par de lingerie que parecia muito, muito rasgável.

— Gosta? – perguntou puxando um pouco a alça do sutiã.

— Muito.

— Ah, que pena! Então não vai querer tirar! – ela deu um muxoxo.

— Para falar a verdade, acho que você fica bem melhor sem...

— Ah, Elliot!

— E isso... – falei segurando as laterais da calcinha — não lhe cai nada bem. – e puxei o tecido rente à costura, rasgando-o de uma vez.

Amanda, surpresa, sorriu e partiu para cima de mim, me devorando tanto quanto eu tão logo ia devorá-la.

As duas horas do almoço passaram voando! Foi uma seguida da outra, mas ainda me sentia insatisfeito por aquela mulher. Nunca pensei que ter um caso com minha secretária pudesse ser tão prazeroso! Amanda não fazia perguntas nem parecia se importar com a ausência de algum pacto de compromisso.

Ela ainda estava se vestindo quando começamos a ouvir o som do elevador anunciando que alguém estava subindo.

— Droga, agora vou ter que ficar sem calcinha! – Amanda reclamou parecendo pouco preocupada.

— Se quiser fazer hora extra podemos dar um jeito nisso... – propus.

Ela caminhou até mim como uma gata e se enlaçou em meu pescoço.

— Que bom que eu tenho um chefe assim tão eficiente! – Ela falou.

— Ah, eu sou mesmo! Talvez eu lhe dê um aumento... de carga-horária...

Amanda riu e se afastou de mim, bem no momento em que bateram à porta. Ela ajeitou rapidamente o vestido e assumiu sua postura profissional enquanto eu me posicionava atrás da mesa como se nada tivesse acontecido.

— Boa tarde senhor Grey e... senhorita Roberts... – disse James ao entrar. Seu olhar discorreu de Amanda para mim e de mim de volta para ela.

— Não esqueça de tirar aquelas cópias, senhorita Roberts! – recomendei acrescentando um tom de displicência na voz.

— Pois não, senhor.

Amanda meneou com a cabeça e saiu, fechando a porta atrás de si. James entrou e assumiu seu lugar na cadeira à minha frente. Ele se demorou um segundo a mais olhando para baixo e depois fingiu arrumar os óculos no lugar.

— Mostre-me de novo aquela sua pesquisa, James, por favor. – falei distraindo sua atenção.

Enquanto James aquiescia e começava a vasculhar os papéis em sua pasta, aprovei o tempo para, discretamente, puxar com o pé o pedaço da lingerie de Amanda que havia caído para debaixo da mesa.

***

Na semana seguinte cheguei no escritório sendo lembrado por James que às cinco haveria o coquetel no qual eu teria que me apresentar a um tal senhor Steele. Eu apenas desejava que a música e o ambiente não fossem tão enfadonhos. Pelo menos haveria drinques. À hora do almoço, como estava virando rotina, Amanda veio para entregar meu pedido. James, parecendo já habituado, se retirou.

— Hum... Eu ainda estou com fome! – Amanda falou recostada em meu peito enquanto terminávamos de comer os tacos que ela havia trazido. Ela ainda não tinha fechado os botões da camisa nem vestido sua saia social, o que me dava uma visão deliciosa do seu corpo recostado sobre mim.

— Está falando em que sentido, Srta. Roberts? – Aticei.

— Fome de comida, Sr. Elliot. Não me entenda mal!

— Acho que a gente se entende é muito bem!

Amanda sorriu e lambeu os dedos enquanto se desgrudava de mim e se colocava devidamente sentada.

— Vou me arrumar. James pode voltar a qualquer momento. – ela informou.

— Ah! Eu preciso tirar férias! – falei, levantando-me também e vestindo a camisa. — É desestimulante ter que voltar ao trabalho depois de uma trepada tão boa!

— Fico satisfeita em esgotá-lo, senhorzinho Elliot. – Amanda sorriu arrumando a camisa, a saia já recolocada.

— É um prazer para mim também.

Amanda me deu um beijo simples e ajeitou meu colarinho.

— Eu estava pensando... Por outro lado, estou começando a ficar entediada...

— Do que? De mim?

— Da rotina.

— O que quer dizer? – franzi o cenho. Amanda falou se virando para a porta.

— Deveríamos experimentar outros lugares.

Ah, isso estava me cheirando mal... Estava indo tudo fácil demais para ser verdade.

— Tipo... Encontros oficiais? – perguntei.

— Ah, pode ser! – Amanda parou se recostando à porta.

— Amanda... – cocei a cabeça. Como dizer isso? — Você sabe que... Bom, o que temos é muito bom, realmente satisfatório... E eu não, exatamente, faço o tipo que se amarra, entende?

Amanda riu, surpreendendo-me.

— Não sou nem uma idiota, Grey. – ela falou, parecendo diferente. — Só que sei que podemos ter mais que isso... Não estou propondo que me assuma como alguma coisa a mais para você, mas por que não podemos espairecer e fazer mais coisas? Em nome da diversão.

Ela fez biquinho e piscou seus cílios espessos para mim.

— Em nome da diversão? – respondi um pouco desconfiado.

— Nos damos bem juntos, não é?

— Sim.

— Então? O que temos a perder?

Ouvimos o som do elevador chegando e Amanda abriu a porta sem esperar minha resposta, a tempo de eu ver James entrar no hall do andar.

— Trago um café antes da sua saída, senhor Grey.

***

Às cinco da tarde eu já estava perto de chegar ao local do coquetel. Estava começando a pensar que se as pessoas desejassem que eu chegasse na hora, o convite deveria ser enviado com o horário marcando pelo menos quinze minutos de antecedência em relação ao horário real. Quinze minutos depois cheguei ao estacionamento do hotel onde seria o evento. Chequei no espelho do carro se Amanda havia deixado alguma marca de batom no colarinho da camisa, mas estava tudo bem. Assim, saí e me encaminhei até o salão.

O espaço era de uma decoração refinada, mas moderna. Havia um chamativo balcão de bebidas ao fundo, mesas dispostas ao longo de uma das paredes e outras acomodadas no meio de uma parte do salão. Havia um espaço para dança onde ninguém dançava. As pessoas ali eram claramente executivos do ramo editorial, criativo e publicitário. Um homem de colete cinza se aproximou de mim com uma lista.

— Ah... Grey. Elliot Grey. – informei.

— Confere. A Srta. Anastasia Rose Steele o espera.

— Mulher? – perguntei surpreso, mas o homem já havia se virado para os novos recém-chegados.

Caminhei alguns passos para dentro do salão quando uma mão feminina deu dois leves toques em meu ombro. Virei-me. Paralisei ao longo dos segundos em que ela disse:

— Sou Anastasia Rose Steele, Editora Júnior da CIP. Estou representando o Sr. Palmer. Muito prazer em conhecê-lo, senhor Grey.

E me estendeu sua mão.

Lentamente, como um retardado, ergui minha mão e apertei a de Anastasia. Ela retribuiu com um aperto firme e rápido, mas que durou o suficiente para deixar um formigamento elétrico em minha palma. Sua pele era suave e macia e ela estava gelada. Fiquei mais alguns segundos vidrado em seu rosto. Ela tinha um par de olhos azuis muito claros e vivos, que contrastava com seu cabelo castanho escuro, preso num coque formal, mas com uma franja solta emoldurando seu rosto quase redondo.

— Sou Elliot Grey.

— Eu sei. – Anastasia sorriu. — Vamos nos sentar, senhor Grey?

Ela saiu à frente, caminhando com segurança até uma mesa. Anastasia estava vestida com elegância num conjunto social que não mostrava demais, mas também não escondia totalmente o que deveria ser um corpo delicado e benfeito.

— Você me parece muito jovem, Srta. Steele. – deixei escapar antes de me dar conta de como poderia soar grosseiro. — Não que eu esteja duvidando da sua capacidade para estar aqui, não me entenda mal.

— E como devo entendê-lo, Sr. Grey? – ela rebateu arrumando uma pasta sobre a mesa.

— Estou apenas... Impressionado. – admiti sinceramente.

Anastasia apertou os lábios e estreitou discretamente os olhos, como se considerasse minha resposta.

— Imaginei que, na sua área, o senhor estivesse acostumado a trabalhar com pessoas jovens. Espero que este não seja um empecilho para nossos negócios.

— De forma alguma. – garanti. Anastasia enfim pareceu convencida e começou a vasculhar algo na sua pasta.

— Então... Eu gostaria de lhe apresentar nossa proposta. Vou lhe falar sobre o autor, sobre a obra, o público que desejamos atingir e porque acreditamos que nossa união à Grey Publicity pode ser um bom negócio para nós dois.

Ao longo de trinta minutos mais ouvi do que falei. Anastasia expos o material de sua empresa com propriedade e objetividade, o que me deixou mais impressionado. E um tanto intimidado também.

— Nossa! Parece incrível! – exclamei sem ponderação.

— Quer dizer que o senhor fecha parceria conosco? – Anastasia falou parecendo um pouco emocionalmente precipitada, como eu. Parecendo a jovem que era.

— Acho que eu não teria por que não fechar com vocês.

— Isso é ótimo, realmente ótimo! – Ela sorriu radiante.

— Você é muito boa nisso Srta. Steele.

— Só procuro fazer bem meu trabalho, Sr. Grey.

Admito: eu fiquei interessado por Anastasia. Mas foi diferente de ficar interessado por qualquer outra mulher. Eu não estava atraído pelas formas e curvas da Srta. Steele, mas sim por sua inteligência.

— Posso cometer a indelicadeza de perguntar quantos anos a senhorita tem? – Arrisquei.

— Não acredito. – Ela riu. — Depois de tudo que eu falei, ainda preciso atestar minha idade?

— Não. Bom. Considere a reunião encerrada. Podemos ter uma conversa informal, se quiser.

Anastasia sorriu. Ela era realmente linda.

— Obrigada, Sr. Grey, mas, não me entenda mal: se nossa reunião está encerrada, eu devo voltar para o escritório.

Anastasia se levantou e começou a arrumar sua bolsa enquanto eu engolia em seco. Ela disse não para mim. Uau!

— A senhorita veio de carro ou...

— Estou com o carro da empresa, obrigada, senhor Grey. – ela respondeu com brevidade. — Eu gostaria de tomar a liberdade de marcar nossa próxima reunião.

— Fique à vontade. – respondi sorrindo como um garoto enquanto assistia Anastasia Steele fechar a bolsa e colocá-la no ombro.

— Bom... Foi ótimo conhecê-lo. Gostaria de lhe entregar meu cartão. Pode entrar em contato se tiver qualquer dúvida.

Steele me estendeu a mão e nos cumprimentamos novamente. Em menos de cinco minutos ela foi embora e tudo que me sobrou foi seu cartão de visitas e a sensação de que meu cérebro tinha entrado em falência diante daquela mulher.

— Garçom! – chamei. — Uma bebida, por favor.

***

POV Anastasia

Eu pulava com uma perna só de um lado para o outro no quarto, usando a cadeira com rodízios do computador como um andador provisório. Eu estava agitada demais para ficar parada, para pensar em qualquer coisa que não fosse o que eu e Christian fizemos e que Martha viu.

“Droga! Droga! Steele, sua retardada!” – eu gritava internamente comigo mesma.

Aquilo foi errado, muito errado. Eu não deveria ter permitido que uma coisa dessas acontecesse! “Mas se pensar bem, nada aconteceu”, dizia a parte de mim que estava com pena do meu estado. “Tudo não passou de um acidente”. “Mas só não passou de um acidente porque Martha apareceu”, apontava a outra parte de mim, a que estava odiando se sentir culpada, mas não se cansava de se culpar.

Na prática tudo que aconteceu não passou de uma sucessão de fatos frios: saí para correr e, coincidentemente Christian também; aí eu resolvi fazer algo estúpido e imprudente, e acabei pagando por isso; Christian por acaso estava lá e me ajudou; ele me carregou de volta porque eu fiquei machucada, por isso e apenas isso; viemos parar no meu quarto porque era o lugar onde eu ficaria confortável; ele apenas cuidou do meu tornozelo e me deu um remédio. FOI SÓ ISSO.

Mas não foi só isso. Eu não conseguia mentir para mim mesma. Eu não conseguia ver Christian sem me sentir intimidada pela sua presença, não conseguia falar com ele sem ficar impressionada com seu modo, não conseguia pensar no que aconteceu sem sentir que, se Martha não tivesse aparecido bem naquela hora, teríamos feito algo do qual eu poderia realmente, realmente me arrepender depois. Ou não. Não sei.

— AH! MAS QUE DROGA! – Esbravejei comigo mesma.

— Senhorita Anastasia! - disseram atrás de mim. Era Martha, do outro lado da porta.

Dei meia volta, levando a cadeira do computador comigo e abri a porta para Martha.

— Eu vim trazer as... AH! Senhorita Anastasia! – ela arregalou os olhos ao reparar em meu tornozelo. — O que houve?

— Eu me machuquei quando saí para correr. – comecei a explicar, sentindo uma necessidade absurda de contar tudo que pudesse me inocentar depois de Martha ter visto o que viu. — Eu fui saltar no lago, mas uma parte da cerca se desprendeu então eu caí. O Sr. Christian que também tinha saído para correr me encontrou e me tirou da água a tempo. Ele me trouxe para casa porque eu não estava conseguindo andar. Na verdade eu ainda não consigo fazer força no tornozelo esquerdo. Ele me deu remédio. O Christian, não o tornozelo. E eu estava... repousando.

Martha acompanhou tudo o que eu disse e depois expressou um leve:

— Ah... – em entendimento. — Mas a senhorita está melhor? Está precisando de mais alguma coisa?

— Não, Martha, eu estou bem.

— Eu vim trazer suas roupas... – Martha avisou respirando aparentemente mais aliviada. — Eu deveria pedir desculpas... Eu não deveria entrar sem bater.

— A porta estava aberta. Não foi culpa sua, Martha. – Garanti. O que era a maior verdade. Nós duas sabíamos que estávamos nos referindo ao momento do quase-beijo entre Christian e eu — Eu só fiquei com medo de você ter interpretado a situação de outra forma. Sabe... Eu sou noiva de Elliot. Christian e eu... Nós dois... Definitivamente...

— Pode deixar, senhorita Steele. Eu entendi.

Foi minha vez de expirar mais aliviada.

Martha, enfim, entrou no quarto e foi recolocar minhas roupas no lugar. Uma gentileza tendo em vista o estado em que eu me encontrava.

— Mais alguma coisa, senhorita?

— Ah... Acho que não, Martha. – disse. Martha sorriu e começou a se retirar. Foi quando tive uma ideia. — Será que eu poderia almoçar no quarto essa tarde, Martha?

— Claro que sim! Pensei nisso, imaginando que a senhorita não tem condições de descer a escada direito.

“E nem de encarar Christian Grey novamente”, eu pensei.

— Obrigada. Você é ótima.

***

Tempos depois, Martha serviu um verdadeiro banquete na mesinha do meu quarto. Estranhei quando, logo depois da primeira bandeja, ela depositou outra bem ao lado.

— Você não achou que eu iria te deixar sozinha o dia todo, não é? – uma voz alegre falou da porta.

— Mia! – Sorri, virando-me na cama para encará-la.

— Obrigada, Martha. – Mia disse, entrando no quarto enquanto Martha ia embora. — Então quer dizer que você tentou cometer suicídio hoje?

Achei graça. A presença de Mia era desanuviadora e nem mesmo este assunto pareceu tenso vindo dela.

— Martha contou para você foi?

— Não. Christian. – Ela informou e eu tive que parar de respirar um segundo para não esboçar nenhuma reação estranha. — Quer dizer que ele bancou o cavaleiro de armadura reluzente hoje?

— Acho que se pode dizer que sim... – hesitei. — Ele contou tudo?

— Sim. É claro que do jeito dele... “Vi a noiva do Elliot saltando da casa do lago. Ela mal sabia a profundidade da água! Ainda tive que trazê-la para casa porque ela mal podia andar”. – Mia falou imitando um grave masculino que não tinha nada a ver coma voz de Christian.

Então quer dizer que foi assim que ele contou tudo? “Claro, você não esperava que ele dissesse para a própria irmã que quase teve um caso com a noiva do outro irmão?”, ironizei mentalmente.

— Pois é... Agora estou aqui, acamada.

— E ficou muito ruim?

— Meu tornozelo? Que nada! Quer dizer... conforme o inchaço diminui, a dor de pisar vai passando. Mas ainda não tenho coragem de testar de novo.

Mia fez uma expressão de dó de mim.

— Sendo assim...

Ela foi até a mesinha perto da janela e a arrastou para junto da cama. O cheiro da comida exalou durante o trajeto e meu apetite se abriu instantaneamente.

— Mas quer saber mesmo o que eu vim fazer aqui antes de saber do seu acidente? – Mia perguntou enquanto almoçávamos.

— Não. O que?

— Eu tomei a liberdade de encomendar os convites de noivado. – Ela falou sorrindo brilhantemente. Forcei-me a engolir a comida.

— Convites?

— Sim. Lembra que você tinha me dado uma lista de nomes?

— Aham.

— Pois é. Eu falei com um amigo que conhece um amigo... E, bom... Tcharã! – Mia largou os talheres e tirou do bolso um envelope retangular.

Peguei o papel e senti um toque acetinado. Ele parecia muito delicado, quase um tecido. Estava um pouco amassado por ter estado no bolso de uma calça, mas nada que me impedisse de perceber a elegância dos detalhes.

— Vamos! Abra! – disse Mia.

Virei o papel e, do outro lado, a borda de abertura era decorada com um desenho sinuoso e vasado das iniciais A. e E. Levantei a abertura e puxei o cartão de dentro. Novamente o mesmo desenho das iniciais A. e E.decoravam a folha, mas dessa vez feitas à tinta. Em baixo, os dizeres:

O amor não avisa e não manda convite. Ele simplesmente chega. Não escolhe nem o momento nem o lugar. Mas assim que é sentido deve ser celebrado, pois não há milagre maior no mundo. Por isso, nós, Elliot Grey & Anastasia R. Steele, temos a honra de convidá-los para celebrar conosco esse amor que nos atingiu em cheio, que não pudemos refrear ou impedir.

Desejamos que vocês possam estar presentes em nosso casamento.

Com carinho...

E o lugar para assinarmos.

Fiquei embasbacada olhando para aquele pequeno pedaço de papel como se fosse uma sentença. Um choque que me trouxe de volta para uma realidade que me pareceu tão estranha de repente. Ver meu nome junto do de Elliot não pareceu mais tão familiar como pareceria a alguns dias atrás. Por quê? O que está acontecendo comigo? É assim que era para ser? Onde está Elliot agora? Era isso que eu deveria estar sentindo? Essa confusão toda? Eu não deveria estar me sentindo realizada e feliz?

Comecei a chorar de medo e confusão, largando o talher sobre o prato e afastando a mesinha de perto de mim.

— Oh, Ana, não chore! – Disse Mia.

Ela afastou a mesa mais um pouco e me abraçou.

— Oh Mia... – solucei.

— Que lindo! – Ela disse com voz chorosa também. Eu não entendi. — Não sabia que você amava tanto meu irmão desse jeito!

O que?

— Mia? – solucei de novo, mas eu não soube o que dizer. Não soube SE dizer algo era apropriado. Eu não tinha certeza se meu choro tinha a ver com amor... Como definir o que era isso?


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Notas finais do capítulo

Por favor, o que achou? Estou ansiosa!



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