Demônio do Norte escrita por Enya Flowers


Capítulo 2
Forte do Pavor - 298/299 DD


Notas iniciais do capítulo

Fic-Trailer feito pela Tathi: https://www.youtube.com/watch?v=4jSyA9QGY1U



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Arya Stark... Durante cinco anos tudo o que fizera foi em nome daquela criaturinha maldita que atormentava os seus pensamentos desde então. Dona de cabelos vermelhos como sangue fresco, pele tão branca quanto a neve e olhos azuis como o céu do verão, Ramsay foi atraído por ela como um ser da escuridão é atraído para a luz. Ele sabia desde o primeiro momento que colocou os olhos sobre ela que esta seria a sua perdição. Em primeira instância ele tentou escapar do destino, mas então ela o seguiu e todos os seus planos mudaram. A menina deveria ter os seus sete/oito anos naquela época e era tão frágil quanto o bebê-cervo que caçara e esfolara com Fedor mais cedo naquele mesmo dia. A pele dela teria feito uma capa melhor do que a daquele animal, pensou quando enfim pôde estudá-la melhor. A ideia lhe era tentadora, de certo, mas não ousaria. Matar cervos e aves era uma coisa, matar humanos era algo totalmente diferente, conforme descobriu mais tarde.

De qualquer forma, Ramsay nunca se sentira tão desconfortável e contente em todos os seus quatorze anos de vida. Sendo um bastardo de uma mulher pobre com o altivo Lorde Bolton que se recusava a assumir sua paternidade, o rapaz cresceu selvagem no meio das matas e apenas dois anos antes de conhecer Arya ele foi privilegiado com a companhia de outro ser-humano que ao invés de educá-lo como se espera que faça com o filho de um senhor, Fedor ensinou ao seu pupilo sua própria cultura com origem no Norte da Muralha. Com isso, aos treze anos Ramsay deixara de matar inofensivos passarinhos e cãezinhos e passara a esfolar raposas, corsas e lobos. Fedor o parabenizava a cada emboscada bem sucedida, dizendo que o prazer maior estava em deixar as caças vivas enquanto o couro delas era retirado. Você é um Bolton, mesmo que não seja em nome. O símbolo da sua Casa é um homem esfolado, você deve honrar as suas origens, Ramsay, só assim o seu pai irá olhar para você, dizia Fedor.

Ramsay se agarrou à essas palavras e dedicou-se inteiramente à causa. Sendo um bastardo ele era privado da companhia de qualquer outra criança, até mesmo sua mãe o desprezava, vendo-o como o fruto de um estupro que lhe rendera uma indenização muito baixa. A mulher ficara satisfeita de ter recebido o moinho de presente do pai da criança, contudo sua progenitora julgava que merecia mais do que aquilo e sabia que Lorde Roose Bolton podia ter-lhe dado mais.

Com má fama pela sua descendência e por seu temperamento doentio, nenhuma menina da vizinhança podia se socializar com ele. Mesmo os garotos que podiam brincar com ele acabaram por descobrir que o melhor era deixá-lo só se não quisessem sofrer grandes perdas. Ramsay sofria muita violência por ser quem era e desde muito pequeno aprendera a se defender da forma mais eficiente possível: respondendo a violência com violência. Quando os seus supostos amigos vinham proferir ofensas contra ele, ele aturava tudo em silêncio, recusando-se a chorar mesmo quando seu corpo estava coberto por hematomas, porém quando estava sozinho na madrugada ele invadia a casa de seus agressores e de alguma forma sorrateira se vingava deles, sendo a maneira mais comum aleijar o pônei preferido de seus inimigos ou matar o cão de caça da família e deixar a carcaça para trás como um aviso. Claro que a culpa sempre caía sobre ele e os garotos aos poucos pararam de atormentá-lo acreditando que Ramsay fosse protegido pelos demônios do Norte. Talvez ele até seja um deles. Dizem que a mãe do rapaz o concebeu no meio das matas e é lá que vivem os demônios... as especulações circulavam pela boca dos moradores da redondeza.

Foi graças à esse seu espírito de auto-defesa que ele mirou uma de suas flechas naquela garota que encontrara na Mata de Lobos. A menina o fizera perder sua caça e isso exigia uma vingança. Ele não a conhecia, mas sabia que todas as crianças eram iguais e iria realmente feri-la se Fedor não tivesse aparecido e o feito perceber quem ela realmente era. Uma Stark... Os Starks governaram o Norte por milhares de anos e continuavam a governar, sendo que esta Casa era superior até mesmo a de seu pai e era estranho que aquela criaturinha com todo o direito de desprezá-lo não o fizesse. Ela não sabia quem ele era e não parecia se importar com isso. Ela o temia, era fato, e ele não precisara fazer nada para amedrontá-la. O poder que ele exercia sobre ela alimentava o seu ego e o pensamento de criar um laço matrimonial com os Starks o divertiu. Se eu me casasse com ela o meu poder seria maior do que o do meu pai. Ramsay puxara a ambição de sua mãe e por esta razão não pôde deixar de concretizar o seu plano antes de se separar definitivamente da garota. Quando ela estiver maior eu virei buscá-la e a forçarei a cumprir sua promessa.

Entretanto, a lista de problemas a respeito de seu plano era enorme, como Fedor pontuara. Arya Stark era uma princesa que com apenas oito anos já conhecia muitas etiquetas, o suficiente para que ela educadamente o presenteasse com o seu lenço em forma de agradecimento a boa ação que fizera. A menina provavelmente deveria conhecer as letras e a História dos Sete Reinos, assim como deveria saber dançar, cantar e bordar. Quando ela fosse abençoada com o sangue da lua já deveria ser uma das jovens mais prendadas de todo o Norte, senão de todo Westeros. Por outro lado, Ramsay nunca pegara um livro em toda a sua vida, nem havia um objeto desse tipo em sua casa. Seu corpo vivia coberto com terra e sangue, mesmo que vestisse roupas de senhor. Ele também não dançava, não cantava, não tocava e também não podia se apegar aos treinamentos de cavaleiro como desculpa para a sua ignorância, porque ele não era escudeiro de nenhum senhor e não havia um mestre de armas para ensiná-lo a profissão. Ramsay só sabia utilizar o arco e flecha porque era a única arma que Fedor sabia utilizar. Como se tudo isso não fosse ruim o suficiente, não podia deixar de fora o fato dele ser uma pessoa concebida fora do casamento e sem amigos influentes para manipular Lorde Eddard Stark a aceitar a promessa que ele e Arya firmaram. Se essa situação continuasse, Ramsay sabia que a única alternativa seria fugir com a garota e então se casarem em segredo, o que resultaria nela sendo deserdada pela família e os dois vivendo em uma profunda miséria, algo bem diferente do que almejava. Não, isso não acontecerá, determinou, sentindo-se mais inclinado do que nunca a mudar o seu estilo de vida e o primeiro passo neste sentido aconteceu três meses após ele ter conhecido sua futura esposa.

A sua tendência a maldade, como sua mãe chamava, ficou conhecida por toda redondeza do moinho onde eles moravam o que despertou o sentimento fraternal de seu único irmão, filho legítimo de Lorde Roose Bolton e herdeiro direto ao Forte do Pavor. Fedor lhe confidenciara que nenhum Stark o aprovaria se ele não fosse educado como um perfeito cavalheiro e por isso Ramsay não hesitou em pedir para que Domeric o ensinasse as palavras, visto que nem mesmo a simplória de sua mãe as conhecia.

Domeric era um rapaz alto, esbelto e bem educado. Ramsay o invejava profundamente quanto mais o conhecia. O filho legítimo do Lorde Roose Bolton era o marido perfeito para a sua prometida, mesmo que ele também apresentasse aquela tendência a violência.

Durante suas aulas o seu meio-irmão tendia a perder facilmente a paciência com os erros que Ramsay cometia, batendo nele com uma vara que Domeric arranjara apenas para estas ocasiões. O bastardo no final de seis meses já era capaz de escrever cartas curtas e a pronunciar com perfeição diversas palavras que não conhecia ou eram carregadas com sotaque plebeu e dessa forma conseguia evitar as punições. Com mais dois anos de treino, em 297, o rapaz agora com os seus dezessete anos se tornara tão cordial quanto o próprio irmão, sabendo ler e escrever, dançar, cantar, tocar flauta e a montar com elegância, porém não a lutar com civilidade.

O convívio diário com Domeric teria despertado o seu sentimento fraternal se Ramsay não tivesse dado ouvidos aos conselhos de Fedor para a realização de seu objetivo de conseguir ter mais poder do que o pai. Portanto, não foi nem um pouco difícil assistir o irmão agonizar durante horas após ter bebido um chá de broto de tubérculos servido durante as lições no moinho. Sem deixar vestígios no corpo, a morte de Domeric foi determinada pelo Meistre do Forte do Pavor como uma doença rara da estação que a única ação foi ter afinado o sangue do rapaz a ponto de não ser mais espeço do que água.

Com o único filho legítimo morto, não demorou muito para que Ramsay fosse chamado e escoltado ao Forte do Pavor com o seu animal de estimação, Fedor.

Nas terras do pai ele foi tratado como o último herdeiro dos Bolton, mas sem o respeito de um filho concebido dentro do matrimônio. No Forte do Pavor, Ramsay ampliou o seu leque de amizade e montou a sua própria escolta pessoal intitulada como Rapazes do Bastardo, formada por garotos da redondeza sem nenhuma veia intelectual, fáceis de comandar e inclinados a violência. O único filho vivo de Lorde Bolton era visto como a autoridade máxima por essa armada que aumentava a cada ano que passava.

Como todo homem, Ramsay acabou por conhecer os prazeres das mulheres e não importava quantas tivesse nenhuma conseguia suprir a sua vontade de possuir a sua garota Stark. Em 298 ela já deveria estar na idade apropriada para ser trazida ao Forte do Pavor tivesse ela tido o seu sangue da lua ou não. Bonita, educada e de boa família, o rapaz não confiava em deixá-la solta por aí.

O seu pressentimento se mostrou certo quando a notícia de que Lorde Eddard Stark fora chamado para assumir o cargo de Mão do Rei chegou ao Forte do Pavor. Junto com essa notícia veio a complementação da mesma, dizendo que a caravana do Rei Robert I Baratheon deixaria Winterfell com rumo à Porto Real e levaria consigo o Senhor Protetor do Norte e suas duas filhas, Arya e Sansa, sendo que a última estaria noiva do Príncipe Joffrey.

Assim que ouvira a novidade Ramsay foi tomado por uma onda de ódio e sem pensar duas vezes cavalgou até Winterfell sozinho no meio da madrugada. A viagem que normalmente levaria uma semana durou um total de quatro noites e seu cavalo estava quase morto quando atingiu o Bosque Sagrado dos Starks. Havia sido ali que ele a vira pela última vez e fora ali que ele reconheceu a voz dela, agora mais madura, contudo o tom ingênuo ainda estava presente nas notas ditas. Ramsay teria feito a sua presença ser notada se a visão das tropas deixando Winterfell não tivesse tirado toda a sua vontade.

Ela está indo embora, para o Sul... A constatação da realidade caiu sobre ele como um balde d'água fria. Se ela fosse para Porto Real ela acabaria se envolvendo com alguém mais apropriado do que ele e a promessa que fizeram não seria nada mais do que uma memória de verão. Ramsay não podia deixar que isso acontecesse, não sem antes tentar.

Com determinação ele guiou Sangue, o seu garanhão, pela extensão do cortejo. Ali ele viu o que pareceu ser a filha mais nova de Lorde Eddard cavalgando ao lado de quem julgou ser o bastardo Jon Snow. Os dois eram muito parecidos para ignorar o grau de parentesco, sendo ambos bem diferentes de sua Arya que tinha os traços dos Tully. Ramsay se frustrou ao não encontrar a sua prometida cavalgando ao lado dos irmãos. Pelo o que pôde perceber ela estava dentro de uma das carroças tendo uma conversa muito animada com os príncipes Baratheon, o que era estranho visto que era a irmã dela quem estava noiva. De qualquer forma, não era Arya quem ele procurava naquele momento e sim Lorde Eddard Stark. O Senhor Protetor do Norte era o único que podia ajudá-lo em sua ambição e impedir que aquela loucura continuasse.

Cavalgando para a frente da caravana, Ramsay encontrou o pai de sua prometida. Ao lado dele estava um homem robusto de idade próxima a de Eddard Stark. O homem era grande, tanto de largura quanto de altura e os seus cabelos e a sua barba eram negros como a noite. Não demorou muito para que o garoto o identificasse como o Rei Robert I Baratheon. Não sabia exatamente como se dirigir à eles, mesmo que isso fosse extremamente necessário. Uma vez que Arya estivesse em Porto Real ela seria facilmente vendida a um cavaleiro ou nobre senhor e todas as suas chances de clamá-la para si estariam perdidas para sempre. Lembrando-se das cortesias que Domeric o ensinara, Ramsay trotou seu cavalo para perto dos dois senhores e quando os alcançou cavalgou ao lado de Lorde Stark.

– Vossa Graça. Lorde Stark - Os cumprimentou, interrompendo uma conversa sobre o passado dos dois senhores e ganhando a atenção deles para si.

– Que criatura estranha é essa, Ned? - O Rei Robert questionou, analisando descaradamente o rapaz que se pronunciava.

– Meu nome é Ramsay, Vossa Graça - Fez uma pequena reverência com a cabeça - Sou filho de Lorde Roose Bolton - Apresentou-se.

– O bastardo do velho Roose, heh? - Rei Robert se animou com a situação - Parece que a Muralha não é a única coisa congelada aqui no Norte, Ned. Se o Bolton estivesse no Sul o gelo do saco dele derreteria e em pouco tempo teria uma bela renca de filhos legítimos e outra de ilegítimos e não teria que pegar a última opção como herdeiro - Zombou.

– O que deseja aqui, rapaz? - Lorde Stark interveio, tentando amenizar a hostilidade presente no ar.

Ramsay hesitou por um breve momento. Com as palavras do Rei o rapaz sentiu todo o peso de sua condição e de sua aparência cair sobre ele e perdeu a coragem que juntara para requirir o que era seu.

– Primeiramente desejo parabenizá-lo por ter se tornado Mão do Rei, mas não é isso que me trouxe aqui. Lorde Stark, sei que seria de agrado do meu pai e também vosso se as nossas Casas se unissem em matrimônio - Disparou as palavras - Soube que vossa filha Sansa está prometida para o Príncipe Joffrey, entretanto não é a mão dela que desejo e sim de sua irmã, Arya.

A gargalhada do Rei Robert era estridente e a reação dele foi totalmente oposta a de Lorde Eddard. O Rei ouvira as palavras de Ramsay como uma piada enquanto para Lorde Stark aquilo soara como uma ofensa.

– Roose sabe que está aqui? - Lorde Eddard questionou com o semblante franzido e a voz fria como lâmina.

Ramsay meneou a cabeça em sinal negativo.

– Não, senhor.

– Pois que continue assim. Retorne para Forte do Pavor imediatamente e fingirei que esta conversa nunca aconteceu - Lorde Stark o aconselhou.

– Não posso. Não antes de ter a vossa palavra de que quando Arya chegar na idade apropriada vós dará a mão dela para mim - Insistiu.

– Você é um Snow, garoto! - O Rei exclamou quando as gargalhadas chegavam próximas de um fim.

Lorde Eddard Stark também tem um Snow, desejou recordá-lo.

– Meu pai deseja me reconhecer, Vossa Graça. Sou o único filho legítimo da Casa Bolton. Se Vossa Graça aceitar a minha causa isso poderá ser resolvido aqui e agora.

– E o que Roose me dará em troca disso? - Rei Robert perguntou.

– Fidelidade - Respondeu de imediato e então percebeu que havia agido mal.

– Fidelidade, você diz. Por um acaso já não a tenho? - O semblante do Rei se fechou - Ou a Casa Bolton me vê como um Usurpador do Trono Targaryen? - A voz do locutor se agravava a cada palavra.

– Tenho certeza que não foi isso que o rapaz quis dizer, Vossa Graça - Lorde Eddard interveio.

– Eu sei muito bem o que o rapaz quis dizer, Ned - Rei Robert disse - Eu sei muito bem o que todos nos Sete Reinos pensam sobre o meu governo e é por isso que eu preciso de você, meu amigo - As palavras eram dirigidas para o Protetor do Norte.

– Não foi isso que eu quis dizer, Vossa Graça - Ramsay tentou se corrigir, mas foi em vão.

– Avise ao seu pai, bastardo, que enquanto eu viver nenhuma legalização de seu nascimento lhe será dada! - Rosnou o Rei.

– Lorde Stark - Voltou-se para a nova Mão do Rei, vendo-o como o seu último raio de sorte - Tenho certeza que o senhor pode fazer algo a respeito disso como a Mão do Rei. Eu vos peço, aceite-me como seu filho e me dê a mão de sua filha Arya - No fim o pedido pareceu mais uma súplica.

– Não há nada que eu possa fazer, rapaz - Foi a resposta que obteve.

Naquele momento o garoto se sentiu impotente.

Estagnado pelo fracasso de seu plano o bastardo assistiu a caravana Baratheon-Stark disparar à frente dele. Ramsay havia acreditado que as suas palavras seriam suficiente para fazer o monarca legalizar o seu nascimento e o Senhor Protetor do Norte dar a mão de sua filha para ele. Os Bolton podiam não ser muito influentes como os Stark nem possuir tanto ouro quanto os Lannister, contudo sua Casa era uma aliada em potencial e iria provar o quão errados o Rei e Lorde Eddard estavam ao recusarem sua proposta.

Mesmo mais tarde naquele ano quando soube da morte do Rei e posteriormente da condenação da Mão do Rei por traição à Coroa o rapaz não se sentiu vingado. Havia mais coisas que ele poderia e deveria fazer e com um pouco de paciência o poder sobre Forte do Pavor se encontrou em suas mãos no momento em que Roose Bolton assim como outros senhores foram chamados por Robb Stark, o filho legítimo mais velho de Lorde Eddard que reunira as Casas juramentadas aos Starks de Winterfell para partirem para Porto Real e resgatarem o seu pai.

Com a saída de muitos cavaleiros e homens capacitados para a guerra, o Norte se encontrou frágil a qualquer ataque. Ramsay não perdeu a oportunidade, aumentando ainda mais o número de sua armada. Baseando-se em seu desejo de se tornar mais forte que seu progenitor e provar o erro que o pai de sua prometida cometeu ao recusar a sua honrada proposta de matrimônio, ele voltou-se contra a Casa Hornwood ao saber que Lorde Halys e seu herdeiro Daryn caíram durante as batalhas do Jovem Lobo.

Invadir a fortaleza Hornwood fora algo fácil e simples, porém convencer a viúva Donella a ceder todas as suas posses voluntariamente à ele não fora nada agradável. A mulher recusava a doar os seus bens para um bastardo que não fosse o filho ilegítimo de seu finado marido. Para solucionar o problema e ter o que almejava, Ramsay desposou a viúva e o preço que a mulher pagou por sua língua foi a morte. O demônio, como ela o chamara, a trancafiou em seus aposentos após a lua de mel e, privada de receber visitas, alimentos e água, em poucos dias ela pereceu e a cena que encontraram foi de uma mulher definhada que arrancara os próprios dedos no desespero de se alimentar.

– Você deve entender, Fedor - Confidenciou ao homem - Se minha esposa estiver viva não poderei me casar com minha prometida.

O episódio em Hornwood só serviu para que a fama de Ramsay se espalhasse e chegasse aos ouvidos de Bran Stark, que na ausência do pai e do irmão se tornou responsável pelas questões do Norte, mesmo que ele só tivesse sete anos e fosse quebrado. A mando do Senhor de Winterfell, Sor Rodrik Cassel marchou com seus homens para cima do bastardo Bolton.

Foi durante uma de suas caçadas que consistia em libertar uma de suas prisioneiras de Hornwood e persegui-la para posteriormente estuprá-la e matá-la que Sor Rodrik Cassel o encontrou, logo após Fedor ter se satisfeito com o cadáver ainda quente da filha do ferreiro de Hornwood. Trocando a identidade com o seu fiel amigo, Ramsay conseguiu manter-se vivo, diferente de Fedor que fora assassinado pela sua atrocidade por se apresentar como seu senhor.

Aprisionado por Sor Rodrik, Ramsay foi levado para Winterfell sob o pseudônimo de Fedor. O que deveria ser algo ruim acabou por se tornar perfeito para o seu plano. No castelo onde Arya nascera ele conhece dois de seus irmãos e não sente a mínima vontade de lhes fazer mal, embora a possibilidade de realizar suas atrocidades estivesse presente. Lá ele acaba também descobrindo a respeito da execução de Lorde Eddard e o fato das duas filhas dele estarem presas na capital como garantia de que o Norte não se levantará contra a Coroa, isto é, a Coroa dos Lannister, visto que cinco reis se auto proclamaram ao mesmo tempo, sendo Robb Stark um deles.

Robb Stark, o Rei do Norte. Isso significa que agora Arya é uma verdadeira princesa e que se os seus irmãos vierem a morrer sem deixar herdeiros ela será a Rainha do Norte, logo se eu me casar com ela, serei o seu Rei. Ramsay pensa consigo mesmo e sente o corpo estremecer mediante o poder imaginado. Embora não tivesse sentido a morte de Fedor, em momentos como este ele sentia a falta de um amigo que o entendesse e que pudesse conversar sobre suas constatações.

Como se os deuses tivessem atendido ao seu pedido em uma quinzena desde a sua chegada, Winterfell foi invadido pelos homens de ferro comandados por Theon Greyjoy, filho de Lorde Balon Greyjoy que se nomeou Rei das Ilhas de Ferro e que durante anos deixou o único filho vivo como protegido de Lorde Eddard.

Com Sor Rodrik e seus homens combatendo os homens de ferro que dominaram a Praça Torrhen, Winterfell é um alvo fácil e não resiste aos homens de Theon Greyjoy. Até mesmo Bran Stark se rende e entrega a fortaleza de sua Casa para evitar que mais de seu povo seja morto pelos invasores.

Ramsay, apresentando-se como Fedor é o primeiro a jurar lealdade a causa de Theon depois que ele o liberta do calabouço onde havia sido trancafiado. Mesmo sobre todos os avisos recebidos de Meistre Luwin, o auto intitulado Príncipe de Winterfell passa a confiar mais no ex-prisioneiro dos Starks do que em seus próprios homens e esta confiança fica ainda mais evidente quando Bran, seu irmão caçula Rickon e dois de seus empregados desaparecem em uma madrugada.

Acatando os conselhos de Fedor, Theon assassina duas crianças locais com o porte físico e a idade semelhante ao dos Starks fugitivos e as esfola para evitar o reconhecimento. Porém, para que a mentira fosse consolidada foi necessário que o invasor de Winterfell matasse três de seus homens que sabiam da verdade e a culpa do crime caiu sobre o mestre dos canis de Winterfell que foi executado pelos homens de ferro.

As ações de Theon despertam a atenção dos nortenhos que ficaram para manter a paz no território, fazendo com que esquecessem das maldades cometidas por Ramsay Snow. Nesta situação, o bastardo que se intitulava como Fedor ganha vantagens absurdas em sua missão de vida. Ele e Theon eram os únicos que sabiam a verdade sobre os Stark que permaneceram em Winterfell e Ramsay possuía homens o suficiente para derrubar os homens de ferro e procurar aquelas duas crianças e mantê-las em segurança no Forte do Pavor para o Jovem Lobo em troca da mão de Arya, claro que depois que ele tivesse o que desejava os irmãos caçulas de Arya viriam a ter a mesma doença que o seu irmão desenvolvera e acabariam tendo uma triste morte na infância, assim como Robb Stark quando retornasse da guerra.

Aproveitando o fato dos nortenhos estarem ameaçando a formar cerco no castelo onde ele se encontrava, Ramsay sugere a Theon que o deixe partir para o Forte do Pavor e lhe traga homens fieis para manter Winterfell em suas mãos. Relutante, Theon se agarra neste raio de esperança para manter a conquista e permite que seu fiel conselheiro parta.

Quando Ramsay chega a fortaleza de seu pai acaba descobrindo que todos os garotos do bastardo que havia saqueado Hornwood junto à ele e que permaneceram vivos haviam retornado para casa e estavam realmente surpresos ao encontrá-lo são e salvo. Sem ter tempo a perder com as histórias de sua aventura e ameaçando esfolar até o último membro da família de seus homens que se voltassem contra ele, ele parte em direção à Winterfell vestindo sua armadura carmesim para que não fosse reconhecido.

Foi aqui que a conheci, Ramsay constatou enquanto trotava com sua tropa no meio da mata de lobos para não chamar a atenção de soldados nortenhos e das Ilhas de Ferro. Em sua cabeça casar-se com aquela garota que lhe fora prometida perante os deuses antigos seria a realização de seu sonho de supremacia. Ele não a amava, isso era verdade, ele nunca havia conhecido o amor e sabia que se ela fosse de uma outra família ou tivesse uma condição inferior a dele, ele nunca a olharia duas vezes. Talvez a montasse e se fosse uma boa caça daria o seu nome a um de meus cães e esta seria a maior honra que conseguiria de mim, pensou consigo mesmo. Felizmente para Arya a situação dela era favorável aos planos dele e ele faria de tudo para manter as coisas como eram.

Seguindo o caminho que traçara com Arya alguns anos atrás e que a levara direto para casa, Ramsay logo pôde avistar o vislumbre de homens trajando suas pálidas armaduras montando acampamento ao redor dos muros das terras do Jovem Lobo. Com a sua presença anunciada com o tinir de espadas desembainhadas, o bastardo reconheceu o líder daqueles homens.

– Sor Rodrik Cassel - O saudou, meneando a cabeça em um cumprimento.

O cavaleiro, sentindo-se contente por receber o apoio de mais uma Casa para a reconquista das terras de seu Senhor, estendeu a mão para dar-lhe as boas vindas com um largo sorriso no rosto, mas antes que qualquer saudação deixasse os seus lábios seu braço fora arrancado na altura da omoplata.

Tivesse sido qualquer outro cavaleiro que o recebesse, Ramsay teria se comportado como um verdadeiro Lorde. Entretanto, fora Sor Rodrik o responsável e ele não podia simplesmente perdoá-lo pelos infortúnios que lhe causara ao matar o seu Fedor e trancafiá-lo como um prisioneiro em Winterfell, ainda que isso tivesse lhe trazido mais vantagens que desvantagens.

Seus homens percebendo o conflito que acabara de ser criado, desembainharam suas próprias armas e atacaram sem nenhum pingo de civilidade os nortenhos que se reuniram para afastar os inimigos das Ilhas de Ferro. Em menos de dois pares de horas a grama amarelada pela presença do outono se tornara vermelha com os pigmentos vindos do sangue dos derrotados.

Ramsay, para provar sua lealdade à Theon ofereceu a cabeça de Sor Rodrik e de mais dois distintos cavaleiros para os homens de ferro que permaneciam do outro lado dos fortes portões da fortaleza. O herdeiro de Balon Greyjoy aceitou aquele presente como prova de confiança e ordenou que os seus homens permitissem que a tropa vinda do Forte do Pavor pudesse entrar. No entanto, o bastardo revelou a quem ele realmente era leal e assim que retirou seu elmo exigiu de seus homens a cabeça dos invasores, exceto a de Theon Greyjoy, que seria o seu novo brinquedinho como recompensa ao tempo que ele gastou sendo dele.

Até aquele momento, os planos de Ramsay se mostraram infalíveis. Dentro de si o bastardo da Casa Bolton acreditava que estava tomando o caminho correto e era por isso que estava sendo abençoado pelos Deuses Antigos. Para sua felicidade, esse seu pensamento foi comprovado quando o seu pai anunciou o retorno para o Norte. Agora era a hora do garoto concebido na floresta mostrar para todos que ele não era o demônio que todos pensavam que fosse. Entretanto a curiosidade a respeito dos demônios é que a natureza deles não se pode mudar por mais que eles se esforcem para isso.


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Notas finais do capítulo

N/A: Só posso dizer uma coisa: este shipper é canon! Melhor mudança feita por D&D, apesar de achar que podia ter sido um pouco menos violento o relacionamento deles...
Sobre a fanfic, tentei unir acontecimentos originais com fictícios nesse capítulo para justificar os próximos, o que explica um pouco a minha demora para atualizar. Vou me esforçar para não demorar tanto mais, mas não posso prometer nada a não ser capítulos de qualidade!

Apesar de estar tarde, agradeço a todos os comentários que recebi e nada me agradaria mais do que receber novos! :)