Honestly? I love you! escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 9
Simplicidade


Notas iniciais do capítulo

Então, minha justificativa pra esse capítulo é que está começando a esfriar aqui no Sul e o frio me afeta, sabe como é. E quando eu escrevo bastante mimimi eu me sinto interiormente aquecida ^-^

*Eu defino "mimimi" como besteirol romântico e não dá pra colocar muito disso nas redações escolares, então as fanfics são o meu jeito de ser feliz!*

Mas falando em Sul, digam ae da onde vocês são! Eu sou de Porto Alegre, RS. Seus nomes também, é claro! *O meu é Natália* Idade talvez? É que fico curiosa pra caramba em relação a esse tipo de coisa, desculpem :P



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Hanna passara pelo menos meia hora em frente ao espelho comprido de seu quarto provando todas as roupas que havia em seu closet. Normalmente qualquer vestido florido lhe caía bem e ela saía de casa com a autoestima lá no alto. Mas não naquele entardecer.

Cada peça de roupa que Hanna possuía parecia dizer “muito vadia” ou “muito desleixada” ou “está na cara que você só quer aparecer”. Bufou, irritada, livrando-se de um vestido púrpura pela cabeça.

Em uma de suas últimas tentativas, pegou-se vestindo uma calça social preta – quando foi que usara uma dessas pela última vez? – e uma regata de seda branca com um decote mínimo. Gostou do que viu. Aquele conjunto com certeza era discreto e não dizia que Hanna era uma vadia desleixada. Mas ainda assim não era ela realmente. Qualquer um seria capaz de dizer que ela estava tentando impressionar alguém.

— Mas que tipo de furacão passou por aqui? – indagou Ashley Marin, com uma das mãos na cintura, olhando para um amontoado de tecidos coloridos sobre a cama de Hanna. Ainda assim sua voz não indicava irritabilidade.

— Eu preciso de ajuda – choramingou Hanna, puxando a mãe pela mão até que seu reflexo se enquadrasse no espelho também – Diga a verdade. Como eu estou?

Hanna pôs as duas mãos na cintura e girou os tornozelos, permitindo que a mãe a visse de todos os ângulos.

— Bem – suspirou a mulher –, parece com alguém que está tentando conseguir a aprovação dos pais da namorada.

Hanna surpreendeu-se por um segundo com a facilidade que Ashley dissera a palavra “namorada”, sem hesitar. Em seguida franziu as sobrancelhas, frustrada. Tudo o que ela não queria era parecer puxa-saco. Ashley sorriu docemente, tocando o braço de Hanna, como se quisesse dizer que a filha não precisava se estressar tanto.

— Você está linda – garantiu – E vai estar linda se decidir vestir qualquer outra coisa.

Hanna sorriu em agradecimento e decidiu parar de brigar consigo mesma em nome do “look perfeito”. Acabou apenas por calçar sapatos de saltos curtos, prender uma correntinha de ouro no pescoço e sair de casa sem um casaco, o que sem dúvida foi um erro terrível.

Um ar irritantemente gélido entrava num desagradável contato com seus braços descobertos enquanto ela caminhava numa certa velocidade até a casa de Mona – talvez se mantivesse o ritmo o frio diminuiria. Decidira não pegar o carro, assim teria mais tempo para pensar no que estava prestes a enfrentar.

O que os pais de Mona estariam pensando de fato sobre aquele jantar? Em nenhum momento ficara claro que aquilo seria uma “oficialização” do relacionamento delas. Seria isso? As mãos de Hanna tremiam e seu coração quase saltava para fora do peito quando ela apertou a campainha. Porém o sorriso amigável de Leona Vanderwaal ao recebê-la fez a garota esquecer completamente das preocupações.

A mulher abraçou Hanna confortavelmente e puxou-a para dentro da casa quentinha e bem iluminada. O choque térmico foi tão bom que Hanna teve a impressão de que a pele de seus braços exclamava aleluia. O ar cheirava a carne assada e lentilha. Ah, sim. Muito bom.

O abraço em si tinha sido mais longo, mais carinhoso do que os anteriores. Era como se a mãe de Mona estivesse de fato acolhendo Hanna.

Ela notou a menina no sofá da sala de estar enquanto ainda estava enganchada em Leona. Mona virou o rosto e sorriu, um sorriso que aqueceu Hanna de dentro para fora.

Ned – o tio que Mona tinha em seu coração como pai – também abraçou Hanna acolhedoramente. A loira notou Mona se aproximar, docemente encabulada. Era a última da fila de abraços.

Mona usava uma blusa de lã de um tom leve de cor-de-rosa que era um tanto maior que ela, pois ela segurava as mangas com as mãos; jeans aparentemente confortáveis e meias. Uma trança única e bagunçada escorria por seu ombro. Parecia estar muito à vontade e lembrar-se do fato de que perdera tanto tempo se estressando por causa de o que vestir fazia Hanna se sentir idiota. E... céus! Algo no jeito simples e “caseiro” dela ali a fazia irradiar doçura!

Mona pareceu hesitar antes de abracá-la, talvez porque os pais estivessem ainda em pé perto delas, o que fez Hanna hesitar também, mas sorriram uma para a outra, envolvendo-se em seguida como se literalmente ninguém mais estivesse ali.

Leona disse casualmente para que Hanna ficasse à vontade enquanto ela terminava de preparar o jantar e voltou à cozinha. Ned também se afastou, deixando as duas sozinhas, o que deu a Hanna coragem para envolver os braços ao redor da cintura de Mona.

— Você está gelada – constatou a morena, deslisando as mangas macias de lã pelos braços de Hanna – Não está com frio?

A preocupação de Mona fazia o coração da loira derreter.

— Não mais – devolveu, no mesmo tom de voz, deslisando as mãos pelos braços cobertos dela.

Escorada nas costas de um dos sofás, a garota riu de leve e abraçou Hanna de lado, encaixando a cabeça abaixo do pescoço dela.

— Estou muito feliz que esteja aqui – sussurrou.

Hanna sentia o sangue correr velozmente em suas veias, seu coração batia do mesmo modo, como se fosse a primeira vez que se envolvessem daquele jeito. Era pura e simplesmente bom demais para ser verdade.

— Eu também, meu amor – garantiu, sentindo seu corpo formigar inteiramente ao ouvir-se dizer as últimas palavras. Sorriu para si mesma ao constatar que soavam tão bonitas em voz alta quanto em sua mente.

Calada, Mona puxou Hanna para o sofá pelas duas mãos e, sem cerimônias, deitou a cabeça sobre seu colo, num gesto dengoso e inesperado. A garota encolheu as pernas e aninhou-se ali, ingenuamente. Hanna sentiu-se derreter de vez. Seus dedos tremiam, só que desda vez, de felicidade ao acariciar delicadamente os cabelos de Mona.

— Tem certeza que podemos ficar aqui assim? – perguntou baixinho, mas percebeu que não se importava nem um pouco se alguém testemunhasse aquele momento.

— Por que não poderíamos? – rebateu Mona, outra vez como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Hanna concordou internamente. A garota tinha o rosto virado para a televisão ligada. Parecia estar interessada em um documentário sobre o Triângulo das Bermudas que passava no Geografic Channel.

Hanna suspirou, desfazendo calmamente a trança de Mona que pendia para seu lado direito. Aquilo sim era um genuíno exemplo de felicidade. Nada nunca se compararia à sensação de ter Mona nos braços; nada nunca a faria se sentir tão importante quanto se sentia ao cuidar dela, mesmo nos gestos mais simples, como acariciar os cabelos dela. Aliás, a beleza estava na simplicidade. Agora Hanna percebia isso. Quer dizer, se havia uma coisa que ela havia aprendido com a Guerra Mundial –A, era que os pequenos prazeres da vida eram os que realmente contavam.

Para falar a verdade, Hanna agradecia por tudo o que elas haviam passado. –A mostrara-a que a relação que ela tinha com Mona era indestrutível e mostrara-a também que os momentos ruins existiam para que os bons pudessem valer a pena. Todos os pesadelos, reais e irreais, fizeram também com que Mona voltasse ao seu estado bruto, isto é, a garota doce e encantadora que sempre fora, antes que tudo aquilo começasse. Ela deixara de lado os moletons pretos e os laptops encriptados; voltara a ser a garota pela qual Hanna viera a se apaixonar gradualmente. E ter aquela garota junto de si - aquela cujo abraço era o mais macio e o perfume, o mais inebriante –, fazia tudo e mais um pouco valer a pena.

Mona finalmente desgrudou os olhos da televisão e olhou para cima, para os olhos de Hanna, fazendo com que a loira parasse com sua silenciosa “contagem de bênçãos”.

— Eu faço outra em você depois – prometeu Hanna, com os dedos entre os fios ondulados de Mona.

— Não precisa – disse Mona, numa voz melosa – Apenas continue fazendo isso. É muito bom.

A morena deixou que a frase terminasse num suspiro arrastado, como se estivesse com sono, e deitou-se sobre seu lado direito, voltando a se aninhar em Hanna, que obedeceu, continuando a brincar com os cabelos de Mona descompromissadamente.

— Está cansada? – murmurou, como se falasse com uma criança.

— Na verdade não – Mona respondeu, de olhos fechados, aproveitando as carícias. Os dedos de sua mão esquerda tocavam sutilmente a parte mais baixa das costas da loira – Eu apenas adoro ficar assim com você.

Aquela confissão macia teve um som rotineiro, como se Mona sempre dissesse aquilo e elas sempre se aconchegassem daquele jeito. Mas tal aqueceu Hanna por completo, como um elogio novo. Ela quis virar o rosto da morena para si novamente e beijar-lhe os lábios, porém não o fez. A garota estava tão serena que parecia pecado querer tirá-la daquele estado. O braço esquerdo de Hanna corria pelo lado esquerdo de Mona e a loira se contentou em beijar-lhe os cabelos, que desta vez não tinham aroma de cacau, mas sim um aroma suave, como se ela os tivesse lavado com shampoo infantil.

Inebriante desta vez também era a sensação de intimidade que as circundava ali. Estavam apenas uma com a outra e pertenciam uma a outra. Hanna não pôde deixar de pensar no quão delicioso seria morar com ela, niná-la daquele jeito e acordar junto com ela todos os dias, dividir a vida com ela. Ah, o futuro nunca parecera tão promissor!

As palavras ditas pelo narrador do documentário na televisão foram gradualmente se tornando apenas sons baixos e enroscados um no outro, irreconhecíveis. E Hanna deixou-se recostar no sofá também e fechar os olhos, sentindo a mão esquerda de Mona na sua. Tão simples, tão bom.


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