Um prato de batatas fritas separava os olhares encabulados que Hanna e Mona trocavam em uma mesa de canto no The Brew. Era estranho para Hanna voltar a sair com ela. Depois que Mona voltara do Radley, ela havia ficado mais próxima da família e o tio, Ned, sempre inventava coisas malucas para eles fazerem juntos, como cavalgar ou fazer um curso de culinária. O que, por outro lado, era muito bom. Qualquer gostinho da normalidade, para elas, agora, era motivo de festa. Todas as garotas haviam apagado da mente o que acontecera nos últimos três anos, inclusive Hanna. Que se dane!, foi o que elas pareceram pensar. Elas mereciam uma vida; mereciam a felicidade e ninguém seria capaz de convencê-las do contrário.

Hanna quase não havia visto Mona no início daquele verão, ela com certeza andava evitando-a. Nas poucas vezes em que se falaram, Mona parecera não querer fazer contato visual. O que acontecera naquele quarto de hospital ficara lá e Hanna não estava disposta a tocar no assunto se Mona não se manifestasse primeiro. E por mais que elas estivessem frente a frente agora, pareciam distantes.

— Estranhei quando você me ligou – disse Mona, brincando com uma pequena batata em seu palito de dente.

Hanna estava feliz por ela ter quebrado o silêncio, mas a voz de Mona soava fria e aquilo amedrontava a loira.

— O que quer dizer com “estranhou”? – ela se esforçou para não gaguejar – Quando nos vimos de verdade pela última vez você disse que queria que eu ficasse com você. O que mudou?

Mona ainda olhava para as batatas e não para Hanna, o que começou a irritá-la seriamente.

— Eu te fiz uma pergunta – insistiu Hanna, levantando um pouco o tom de voz.

— Eu disse aquilo no calor do momento – Mona fitou a garota à sua frente com um olhar amedrontado – Não pensei nas consequências.

— Que consequências? – Hanna já sentia o choro entalado em sua garganta – O último ano vai começar em menos de dois meses. Somos legalmente maiores de idade. Não devemos nada a ninguém.

— Você sabe que não é tão fácil assim – disse Mona com uma expressão cansada – Seu namorado provavelmente gostaria me ver a pelo menos um oceano de distância de você.

— Caleb? – perguntou Hanna, confusa – Foi ele quem me disse para não me culpar pelo que eu sinto.

Pareceu que Mona não estava familiarizada com tal informação.

— De qualquer jeito, ele não seria o único obstáculo.

Hanna sabia que ela falava de suas amigas. O quão chocadas elas ficariam? Ainda existia uma certa tensão no ar quando Mona e Alison partilhavam do mesmo recinto. Não raiva, longe disso, mas um desconforto visível a olho nu. Levaria tempo para que esse desconforto desaparecesse de vez, todos a sua volta diziam. Mas quanto tempo? Com certeza Hanna não aguentaria muito mais daquilo.

— Emily disse que eu não devo me martirizar a respeito disso – disse Hanna baixinho, olhando para suas próprias mãos, porém não houve resposta - Eu apenas senti sua falta – arriscou ela, sentindo a primeira lágrima correr – Não posso?

— Sim, é claro que pode – Mona sorriu, parecendo finalmente se render, e apenas por tal gesto Hanna conseguiu sentir que ficaram mais próximas – Eu também senti a sua.

Hanna estendeu o braço direito sobre a mesa e Mona apertou sua mão de leve. Parecia que a garota havia rejuvenescido alguns anos. A expressão dura e profissional que ela adquiria quando colocava os pés em seu antigo covil havia sumido, assim como qualquer outro traço da velha Mona It Girl, de um par de anos atrás.

Hanna não podia deixar de notar o quão mais linda ela havia ficado sem aqueles brincos enormes, aqueles batons ultra vermelhos ou aqueles sapatos com quase meio metro de salto. As garotas que elas haviam sido no segundo ano foram garotas de porcelana, falsas, e as pessoas tinham total razão quando costumavam xingá-las de hipócritas pelas costas.

— Vem cá – Hanna deslizou para a esquerda no assento estofado do banco, dando lugar para Mona.

Depois de ver a garota exitar e olhar para os lados, receosa, Hanna sentiu a necessidade de puxá-la para perto de si mais uma vez.

— Por favor, não se afaste – pediu ela, encabulada – Você sabe que eu não aguento mais.

Em um movimento rápido e que parecia ser movido por complacência, Mona se juntou a Hanna, quase como se quisesse ampará-la, colocando uma mecha de seu cabelo loiro para trás da orelha. Hanna, por sua vez, conteve um soluço.

— Eu amo você – disse ela, entre lágrimas – Eu havia dito antes que não sabia qual forma esse amor tinha. Agora sei que tem todas as formas. É realmente algo tão errado assim?

Mona beijou a bochecha de Hanna e em seguida o canto direito de seus lábios. Hanna fechou os olhos e aqueles toques pareceram deixá-la fora de si por uma fração de segundo.

— Não – garantiu ela – Não é errado. É apenas algo estranho. Estranho de um jeito bom. Como um novo par de sapatos – Mona tentou sorrir – Algo com o qual teremos que nos acostumar. E também faremos o mundo se acostumar a isso. Eu prometo.