Honestly? I love you! escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 18
E agora?




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— E aí? – perguntou Hanna de uma forma impaciente ao telefone, na hora do almoço daquela quinta-feira em Rosewood High, cercada por Aria, Spencer e Mona – O que foi que deu?

Dois segundos de silêncio se seguiram.

— Como assim você não sabe? – Hanna praticamente esbravejou – O resultado ficava pronto em poucas horas, não é? Você deveria saber.

Um silêncio maior tomou conta da mesa. Mona cruzou os braços, trocando olhares nervosos com as garotas a sua frente e sendo capaz de sentir o macarrão que acabara de comer dando cambalhotas em seu estômago.

— E o que diabos você está fazendo ainda em casa, criatura? – Hanna bateu com a palma esquerda na mesa de madeira.

Mais uma pausa. Se o momento não fosse de fato tão crítico, aquela resposta seria mais uma da loira que arrancaria risadas de todas ali. O poder de persuasão de Hanna valia ouro.

— Tá legal, tá legal – ela voltou a responder, agora numa voz mais suave – E onde está Emily? Ela não está com você?

Pôde-se ouvir Alison negar do outro lado da linha, mas ainda assim não foi possível saber por quê. Hanna levantou a cabeça e direcionou o olhar para a entrada do pátio da escola.

— Aqui ela ainda não está – informou, incerta – Está certo, Ali, calma. Nós vamos achá-la e assim que a aula acabar nós voltamos com você para lá, está bem? Olha, eu não entendo porcaria nenhuma de medicina mas sei que se você se estressar vai ser pior – suspirou, como se de repente estivesse falando com uma criança amedrontada – Sim, meu bem, vamos todas juntas. Não teria como ser de outro jeito, afinal, somos as seis mosqueteiras – um sorriso bobo se formou nos lábios de Hanna e ela desligou, mas ficou por um tempo encarando o celular.

— Então? – instigou Spencer, inclinando-se para a frente.

Hanna suspirou outra vez.

— O resultado já saiu, mas ela está com medo de ligar para os pais irem buscá-lo. Quer descobrir junto com a gente – deu um meio sorriso, como se tal fato fosse motivo de lisonja. E realmente era.

— E Emily? – perguntou Aria.

— Bem, assim que Emily e o pai de Ali a deixaram em casa depois de ela ter feito o exame, Ali disse que queria ficar sozinha. E agora ela basicamente está se sentindo culpada.

Nenhuma palavra mais foi dita até que a tão esperada morena apereceu no campo de visão das meninas. Hanna despejou tudo o que ouvira de Alison ao telefone para Emily e, às três em ponto daquela tarde, as cinco deixaram que o carro de Spencer traçasse o caminho até a casa da sexta garota.

Aria, Hanna, Mona e Alison espremiam-se no banco de trás, já durante a pequena viagem de ida à clínica. Spencer ia ao volante e Emily dava-a eventuais direções. Nada além do som suave dos pneus deslizando pelo asfalto podia ser escutado. Mais uma vez, Ali recostava-se à janela esquerda do carro; ela quase não piscava; seus olhos, de um azul límpido, estavam agora inexpressívos como se fossem de vidro. E desta vez, o silêncio que circundava-as não era nada confortável.

Emily acompanhou Alison até o consultório do Dr. Gilmore e as quatro outras garotas se contentaram em ficar do lado de fora, sentadas nas cadeiras do saguão da clínica, balançando os joelhos impacientemente. Seguraram umas o pulso das outras quando viraram a cabeça na mesma direção e viram Emily e Alison retornando meio minuto depois.

— Tão rápido assim? – Hanna espantou-se.

De braços cruzados, Alison deixou um suspiro frustrado escapar de seus lábios.

— Ele não pode entregar o resultado sem ser nas mãos dos meus pais.

— Eu te avisei – murmurou Emily.

— Por favor – Alison conteve um grito -, já chega de “eu avisei”.

As quatro que estavam sentadas baixaram simultaneamente os olhos, como se a áurea ao redor delas tivesse ficado constrangedora de repente.

— E agora? – Mona arriscou, vacilante, depois de um tempo.

— Agora eu vou ter que ligar pra eles – respondeu Ali, parecendo estar levemente irritada – E eles vão muito provavelmente ficar bravos comigo por eu ter decidido vir aqui sem eles.

Embora não quisesse encará-la enquanto ela se recostava à parede para ligar para os pais, Mona percebeu que os dedos da mão direita de Ali voltavam a tremer em torno do celular. Talvez fosse por um simples nervosismo, ou por raiva de toda aquela situação, ou ainda, na pior nas hipóteses, por mais uma tontura. E como das últimas vezes, Mona novamente se sentiu tomando as dores da garota. Calafrios percorreram sua espinha e ela sentiu as mãos esfriarem significativamente. Encaixou-as entre os joelhos e desviou o olhar de Ali, na esperança de estabilizar-se.

Como Ali havia previsto, a expressão nos rostos de Kenneth e Jessica DiLaurentis não eram das mais convidativas. O casal adentrou a clinica e parou em certo ponto do saguão, um tanto longe de onde as garotas estavam. Kenneth apenas fez um sinal para que Ali viesse até os dois. A garota obedeceu.

— Ali, o que foi que nós combinamos? – perguntou o homem, numa voz séria mas não tão severa.

— Eu sei, pai, mas eu...

— Alison, como acha que eu me senti descobrindo ontem pelo seu pai que sua saúde anda fraquejando? – interrompeu Jessica, com uma expressão mais severa do que a do marido e ainda assim um tanto desesperada – Vocês dois erraram em não me contar antes, aliás.

— Mas eu fui descobrir ontem também! – Kenneth defendeu-se.

— Sim, mas levou-a para fazer o exame de sangue sem me avisar.

— Eu não quis preocupar você.

— Por Deus, Kenneth, eu passei dois anos preocupada com ela por um motivo muito pior do que esse!

Os olhos azul-esverdeados de Jessica pareciam estar marejados e fitavam o homem de cabelos grisalhos de uma forma magoada.

— Por favor, não briguem – a súplica de Alison não passou de um sussurro.

Os dois desviaram os olhares um do outro e os focaram na filha, relaxando seus músculos em seguida. Jessica fez um carinho no ombro de Ali e suspirou.

— Vamos ouvir o que o seu médico tem a dizer.

A família deu um passo simultâneo à frente e foi de encontro ao simpático homem de jaleco branco que já estava próximo às meninas. Ele sorriu singelamente e estendeu a mão direita para os pais de Ali que a apertaram em seguida após um cordial “boa tarde”. Na mão esquerda ele tinha um envelope plastificado branco com o emblema da clínica no rodapé.

— Vocês podem me acompanhar, por favor? – disse aos três que estavam em pé e fez menção de dar um passo à direção oposta.

— Não. – Ali pareceu agrupar e despejar toda a coragem que ainda restava em seu interior para interromper – Eu sei que você está com o resultado nas mãos. Pode dizer aqui mesmo.

O médico lançou um breve e inquieto olhar às meninas.

— Tem certeza, Alison? Quero dizer, é normal querer certa privacidade em momentos como esse.

— Eu prometi que nunca mais esconderia nada de ninguém, principalmente das minhas amigas – Ali respondeu em uma voz sóbria e baixa – Seja o que for, eu as quero comigo.

Dito isso, novamente recostada à parede, ela tocou o ombro de Aria, e esta pôs a mão sobre a sua. O Dr. Gilmore olhou rapidamente para os pais de Ali, como se quisesse algum tipo de conformação, e Kenneth assentiu de forma quase que imperceptível. Ele, então, pigarreou.

— Alison, se você quiser sentar... – sugeriu, apontando com a cabeça para a única cadeira vaga, ao lado de Mona.

— Eu não quero sentar, obrigada – Ali disparou. Ela fitava o médico com um olhar de “acabe logo com isso”.

Mona, mais uma vez, sentiu o coração bombear sangue gelado para o resto do corpo. Escorregou a mão direita pelo antebraço esquerdo de Hanna e voltou a apertar a mão dela firmemente. A loira envolveu a mão de Mona com suas duas mãos e esta percebeu que ela mantinha os lábios sutilmente separados, respirando pela boca, como fazia nas demais vezes em que estava nervosa.

Por dois segundos, a voz do médico na mente de Mona disse que o que assustara Alison não havia sido nada mais do que uma queda de pressão momentânea e Mona convenceu-se de que isso fazia sentido. Afinal, Alison já havia pagado por seus pecados, aprendido com eles e mudado por causa deles. Uma doença e mais algum ensinamento era desnecessário, e isso era ela quem dizia, a pessoa que talvez mais tenha sofrido as consequências dos pecados de Alison. Mas sua mente quase a impediu de ouvir as reais palavras. Uma confirmação do pré-diagnóstico do dia anterior. Falência renal.

A primeira coisa que Mona ouviu depois de se certificar que aquilo estava mesmo acontecendo foi Emily conter um soluço, levando uma mão à boca. As íris esverdeadas de Jessica DiLaurentis pareciam ainda mais esverdeadas agora estando cobertas por uma sutil camada d’água. Kenneth passou um braço em torno dos ombros da esposa e cerrou os lábios, obviamente tentando não se entregar às lágrimas também.

Ali, por sua vez, se mantinha ainda forte. Talvez estivesse abalada, é claro, devido às circunstâncias, mas era a única que não chorava.

— Está certo, e agora? – disparou ela outra vez. Não perguntava tal coisa de uma forma desolada, mas sim prática, querendo saber o que deveria fazer para sair daquela situação.

— Nós poderíamos tentar internar você por algumas semanas no Rosewood Memorial e tentar atrasar o progresso da doença só com medicamentos, mas isso, dependendo da evolução dela no corpo do paciente, nem sempre funciona.

Alison deu um passo para longe da parede.

— E o que funcionaria?

— O transplante é eficaz em quase cem por cento dos casos, mas é considerado o último recurso.

As seis meninas ali trocaram olhares ansiosos e esperançosos com os pais de Alison.

— Você quer fazer, meu bem? – perguntou Kenneth.

Alison respirava depressa, pela boca também, mas a possibilidade de cura fez seus olhos azuis brilharem e, novamente, neles era possível ver refletido o ar de menina corajosa. Ela conseguiu sorrir com o canto os lábios e respondeu como se aquilo fosse óbvio.

— Quero.

O pai da garota fitou o médico com uma expressão determinada.

— Quando começamos?

— Bem, o que geralmente se costuma fazer agora é ver se há alguém na família que possa ser um doador compatível. Mas pode-se achar um tanto dentro da família quanto fora dela, na verdade. Qualquer um pode ser um doador – explicou, lançando um olhar gentil às meninas.

— E se não conseguirmos nenhum? – Ali voltou a indagar, agora com certa preocupação destacada na voz.

— Querida, nós vamos conseguir – Jessica apressou-se em dizer.

E se nós não conseguirmos? – Ali enfatizou.

O Dr. Gilmore adquiriu uma expressão mais cabisbaixa.

— Aí teríamos que recorrer à fila de espera.

— E quanto tempo costuma demorar? – Ali cruzou os braços.

— Preciso dizer que é questão de sorte – o médico suspirou – Assim como podemos conseguir um novo rim para você em quarenta e oito horas... pode levar seis meses... ou dois anos.

Um notável silêncio instalou-se dentro daquele pequeno círculo de pessoas. Foi a vez de Ali baixar a cabeça e, com um sorriso triste – quase fúnebre – nos lábios, perguntou:

— Eu não vou conseguir esperar por dois anos, vou?

Um silêncio quase tão fúnebre quanto a áurea de Ali nos últimos segundos tomou conta do ambiente. Um telefone tocou na recepção e passos eram ouvidos em volta, mas ninguém ali teve coragem de dizer algo mais por um longo e inquietante tempo. Mona encolheu-se em sua cadeira. Foram palavras crueis. E talvez, dizendo-as, Ali tenha conseguido ser mais cruel do que já fora em toda a sua vida. Se prendesse a respiração, Mona quase era capaz de ouvir os outros ali prendendo suas próprias para as lágrimas não virem à tona.

— Não precisa responder – disse Ali. O mesmo sorriso deprimido e um tanto conformado ainda repousava em seus lábios.

— Exato. – rebateu o Dr. Gilmore rapidamente, num súbido animo – E quer saber por que eu não vou responder? Porque eu já encaminhei dois pacientes com falência renal este mês para o transplante. Dois rapazes. Um com trinta e poucos anos e o outro com mais ou menos a idade de vocês, meninas. O primeiro recebeu um rim da namorada e o segundo, da madrasta. Ou seja, sem fila de espera. E ambos provavelmente ainda estão descansando confortavelmente em suas casas para poderem voltar à ativa em breve.

— Ele tem razão, Ali – Hanna se pronunciou, atraindo a atenção da outra loira – Sem falar que descansar confortavelmente é bem melhor do que descansar em paz.

Mona foi a primeira a dar uma leve risada, se guida por todos ali. Agradeceu aos céus pelo humor quebra-gelo de Hanna, que quando falava esse tipo de coisa quase nunca tinha intenção de ser engraçada, apenas visava fazer com que as pessoas ao redor se sentissem melhor. Seu slogan pessoal deveria ser “Oi, meu nome é Hanna Marin, faço piadas quando me encontro numa situação desconfortável”.

— Preciso anotar essa – o Dr. Gilmore sorriu e apontou para Hanna.

— E qual é o próximo passo? – perguntou Emily, com um braço envolvendo Ali pela cintura.

— Ver se há alguém entre vocês que possa ser um doador para Alison. Um simples exame de sangue já diz e pode ser feito aqui mesmo. Mesmo esquema, em poucas horas sai o resultado.

O pessoal se entreolhou e assentiu.

— Certo, então – o médico juntou as mãos e fitou Kenneth e Jessica – Vocês, como são os pais, têm prioridade.

Ele começou a guiar o casal até o laboratório mas olhou uma última vez por cima do ombro.

— E vocês, meninas, preparem os braços – instruiu, divertidamente.

Em seguida tudo o que pôde ser ouvido foram casacos sendo desabotoados e mangas sendo arregaçadas, como em um efeito dominó. Mona sentiu o olhar de Hanna sobre si de repente.

— Você vai fazer também! – disse ela, com um sorriso lindo nos lábios, quase descrente. Os olhinhos azuis brilhavam, emocionados. Falava num misto de interrogação e exclamação.

Mona baixou o olhar para a manga comprida de sua blusa, que havia puxado até pouco acima do cotovelo, deixando o antebraço e parte do braço esquerdo de fora. Havia feito aquilo sem nem ao menos questionar-se, tão rapidamente que ela nem ao menos percebera.

— Vou – respondeu como se fosse óbvio, franzindo as sobrancelhas em confusão – Por quê?

O olhar de Hanna ainda parecia levemente perplexo. Perplexo de um jeito bom.

— Nada, é que eu só... – sacudiu sutilmente a cabeça – estou orgulhosa de você – sorriu, beijando os cabelos da morena que por um momento ficou sem entender tal estranheza.

Mona pensou em responder que também tinha motivos para se orgulhar de Hanna pois as duas iriam enfrentar o mesmo tipo de agulha, mas permaneceu quieta. Como nas recentes filas para abraços, Mona foi a última a ter que passar pelo laboratório. Assim que levantou de sua cadeira ao lado de Hanna, recebeu um sorriso de agradecimento por parte de Ali. Um sorriso humilde, puro, sincero, quase como se Mona fosse a única dentre elas que estivesse se voluntariando.

Ela não soube dizer se fora o fato de estar fazendo uma boa ação de forma tão despreocupada ou se fora o fato de já ter recebido várias fincadas que levavam tranquilizantes às suas veias enquanto estivera no Radley, mas algo fizera sentir-se como se fosse imune àquele tipo de dor, tanto que permanecera de olhos fixos no líquido escarlate que enchia a seringa sem se sentir desconfortável. Quando tudo terminou e a enfermeira grudou um pedacinho de algodão ao centro de seu braço com esparadrapo, Mona sentiu-se verdadeiramente orgulhosa de si mesma.

As garotas já estavam de pé e com seus casacos encaixados de volta em seus corpos quando ouviram a mãe de Ali dizer a ela para que esperasse no carro enquanto ela e Kenneth acertavam mais alguns detalhes com o Dr. Gilmore. As cinco acompanhavam Ali até o carro de seus pais – que estava estacionado do outro lado da rua – sabendo que iriam deixá-la para voltar com eles – talvez Emily voltasse junto apenas – e que iriam voltar às suas casas à pé.

Sentiam-se, de certa forma, aliviadas, ou ao menos Mona sentia-se, de braço dado com Hanna. Tudo iria se ajeitar. Estava na cara que daqui a pouco iriam avisar que o exame de compatibilidade de um dos pais de Ali dera positivo. Não tinha como ser diferente, eles eram a família dela, afinal de contas.

— Você vai ver, não vai demorar nada – disse Spencer amigavelmente, afagando o ombro de Ali, e Mona não soube direito do que ela falava, mas provavelmente ainda de algo relacionado ao que acabara de acontecer.

Ainda que Ali estivesse um passo atrás de Mona, esta distinguiu a loira exalar um pequeno suspiro esperançoso em meio a um sorriso. E então as rasteirinhas de Ali pararam de ecoar no asfalto. A garota havia parado de caminhar exatamente no meio da rua vazia. As outras estavam quase alcançando a Mercedes quando Mona sentiu a mão de Ali agarrar seu braço firmemente, gélida como a de um cadáver. Mona também parou, pensando que era mais um daqueles momentos onde Ali precisava ganhar estabilidade. Enrijeceu o braço para dar apoio à loira, sentindo-se lisonjeada mais uma vez, mas de repente os dedos de Ali perderam força ao redor dele, e tudo o que Mona pôde sentir em seguida foi o peso da garota recaindo sobre seus dois braços, desacordada.


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