My Little Runner escrita por Angie


Capítulo 33
Grupo B, nervos à flor da pele


Notas iniciais do capítulo

Heeeeeey ❤
Eu sei, eu sei... Nem acredito que demorei tanto pra postar esse capítulo. Muita coisa aconteceu comigo durante esse tempo, envolvendo bastante coisa, haha. Mas principalmente sobre minha família, estudos e questionamentos pessoais... Não é uma desculpa nem nada, só contextualizando mesmo, rsrs.
De qualquer maneira, peço que mais uma vez tenham paciência comigo, o capítulo estava pronto desde semana passada, mas tive uns probleminhas, minhas novas responsabilidades estão me matando, haha! Mas é só uma fase, tudo vai se arrumar.
Boa leitura e até lá embaixo!



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Camille encarava estática a cena à sua frente: Teresa estava de volta, assim como suas antigas companheiras de clareira. Apareceram do nada, no momento em que a manhã se iniciou e as montanhas estiveram ainda mais próximas. Como era suposto, deveriam ficar felizes com aquela chegada, mas as diversas armas apontadas para eles e os rostos duros os faziam crer que aquele não seria, nem de longe, o reencontro amigável que planejaram.   

― Mas que merda é essa ― ouviu Minho murmurar ao seu lado ao notar o enfileirado de garotas, o cenho sempre franzido enquanto observava as novas companhias.

Ela não conseguia compreender, Teresa não parecia a mesma: Apesar de, para Camille, seus olhos cor-do-céu sempre parecerem duas navalhas prontas para atacá-la quando preciso, não se recordava de vê-la com aquele semblante sombrio, muito menos as garotas da clareira. 

Seus olhos se umedeceram com lágrimas sem que pudesse perceber, o peito pareceu se encher com um sentimento incontrolável que ameaçava irromper por sua garganta em um soluço, mas algo em si mesma a impediu: ao mesmo tempo que queria se emocionar com o encontro, sentia-se estritamente dividida, se aquilo significasse uma ameaça aos garotos - e possivelmente até para ela -, não saberia a quem tentar defender.  

Não conseguiu falar nada por um momento, apenas encarando-as com os olhos arregalados. Todas elas, por sua vez, pareciam mirar um único ponto em particular: Thomas. A lembrança da tatuagem do garoto a atingiu com força, “a ser morto pelo Grupo B”. 

Impossível, Camille pensara na época. Mas seria mesmo? Seus olhos viajaram pelas garotas, todas tensas e com diversas armas diferentes. Os piores, sem dúvida alguma, eram os arcos: não teriam a menor chance contra aquelas flechas pontiagudas.

Teresa marchou até eles, a longa lança de madeira e sua lâmina afiada pareciam apenas reforçar sua expressão rígida como pedra. 

― Que palhaçada é essa, Teresa? Então é assim que recebe seus companheiros?

A garota ignorou o comentário raivoso de Minho, continuando o avanço.

― Teresa? ― foi a vez de Newt se pronunciar, a confusão como uma máscara em seu rosto. ― Mas que droga…

― Cale a boca ―respondeu, soara ameaçadoramente calma. ― Se algum de vocês fizer um movimento sequer, as flechas começarão a disparar.

Passou no meio de Newt e Minho, balançando a lança afiada entre eles. Os garotos não se mexeram, talvez pela ameaça óbvia, talvez pela surpresa que os deixavam pasmos. 

Continuou.

Enviou um olhar significativo para Brenda, a repugnância entre as duas era palpável mesmo sem uma palavra sequer. 

Camille observava a cena atônita. Olhou para ela e depois para as outras clareanas. Todas apertavam com força suas armas. Se fizessem algo, realmente atacariam. De repente o bolo em sua garganta começou a ser substituído por outro sentimento. 

Mas que mértila essas idiotas estão fazendo?

― Será que alguma de vocês pode me explicar o que é isso? ― Camille finalmente falou, colocando-se no campo de visão de todos, subitamente não se importando com o medo de ser alvejada. Diferente dos garotos, não perguntava apenas para Teresa. 

― Cammie? ― uma voz surpresa exclamou. Todas viraram-se para ela, parecendo notá-la pela primeira vez. Estavam tão tensas e focadas na missão que pareciam se cegar. Teresa também parou de andar e a dona da voz abaixou a arma que segurava. ― Então é verdade, você... está viva mesmo…

Um murmurinho foi ouvido entre as clareanas, claramente comentando o fato de a antiga amiga estar de pé diante de todas elas.

― Sonia... ― Camille murmurou, as lembranças do tempo na outra clareira ainda frescas em sua mente.  

― Pensamos que havia entrado no labirinto durante a noite, te procuramos por todo lugar! Achamos... Achamos que os verdugos haviam te encontrado primeiro ― outra das garotas se pronunciou, era alta e de pele escura, diferente da primeira a falar, cuja pele era branca como leite. Seu tom de voz indicava resquícios de pesar ao ver a ex-corredora de sua clareira. ― Fizemos um funeral ― disse baixinho, os olhos de repente perdidos em outro lugar.

Camille abriu a boca para explicar, o turbilhão de palavras brotando em sua mente. Seu coração estava apertado, havia tanta coisa a ser dita e tanto a perguntar; ao ouvir aquelas vozes teve o impulso de correr para abraçar as velhas amigas e dizer o quanto estava feliz por terem sobrevivido. Balançou a cabeça, expulsando por hora os pensamentos: tinha outras prioridades agora e a indignação ainda dava sinais em sua mente. 

― Harriet, o que diabos está acontecendo aqui? Como chegaram no deserto e por que estão nos tratando como inimigos? 

A morena franziu o cenho, de repente incerta sobre suas próprias ações. Camille observou que as outras se entreolhavam, sem saber o dizer. Os garotos não diziam uma palavra, só então parecendo lembrar que Camille convivera com elas por anos antes de surgir em sua clareira. Aris também as conhecia, mas este parecia ter perdido a capacidade da fala, permanecendo calado. 

O que realmente está havendo… Pensou.

Teresa enfim perdeu a paciência, revirando os olhos antes de intrometer-se na conversa.

― Por acaso se esqueceram de tudo que falei? Temos uma missão, se queremos sobreviver a isso precisamos cumprí-la. Não deem ouvidos à essa traidora.

Camille uniu as sobrancelhas em confusão.

― Teresa, de que mértila está falando? Pensei que éramos amigas.

― Cale a boca, Camille. Você não entende coisa alguma. 

― Agora você acertou em cheio ― confirmou, cruzando os braços. ― Não estou entendendo nada desse seu showzinho. Você desaparece, nos preocupamos e é isso que recebemos em troca?

Teresa ignorou sua fala, voltando-se para as garotas como se ela não fosse digna de sua atenção.

― Façam o que mando e as coisas terminarão bem. Aquela ali ― apontou a lança em direção a Camille que a encarava totalmente incrédula ― não faz parte do plano. Se pensam que esse rostinho inocente é real, estão enganadas, lembrem-se de tudo que contei a vocês sobre ela.

As garotas pareciam inquietas, sem saber no que deveriam acreditar. Os clareanos por sua vez tentavam acompanhar a discussão da melhor forma possível, ainda preocupados com as armas apontadas em sua direção.

― Mas do que é que está falando, Teresa? O que diabos você disse sobre mim?

― Já mandei fechar essa boca, Camille ― dessa vez seu tom foi de total irritação. Apertou os dedos em volta da lança. ― Fique quieta ou juro por Deus, a faço ficar.

Camille não podia acreditar no que estava ouvindo. Minho riu com desprezo, se colocando à sua frente.

― Você só pode ter pirado de vez. 

Teresa sorriu, desdenhosa.

― Aw, Minho. O que foi? Não vai me deixar machucar sua namoradinha?

Ele abriu a boca, mas Thomas foi mais rápido, aproximando-se dela.

― Teresa, por que está fazendo tudo isso? ― o garoto, que até então permanecia em choque, pareceu finalmente reunir forças para falar.

Aquela foi a deixa para a garota esquecer-se completamente dos outros e voltar sua atenção para seu real objetivo. Encarou Thomas com uma raiva impenetrável.

― Teresa, o que…

― Cale a boca. ― Seu tom irritado com Camille parecia ter desaparecido, dando lugar novamente à voz calma e dominante. 

― Mas o que…

A confusão de todos já havia passado dos limites, mas nenhum deles preveu o que Teresa iria fazer depois daquilo. Afastando-se, ergueu a lança e em um milésimo de segundo o acertou na face esquerda.

Camille deixou escapar uma exclamação de urgência. Mesmo tendo o atingido com a parte de trás da arma ― salvo da lâmina ameaçadora ―, Thomas ainda parecia ter sentido a dor profundamente. O garoto caiu de joelhos, a mão no lugar atingido. Teresa agarrou sua camisa e o colocou de pé novamente, a lança apontando em sua direção.

― Eu disse para calar a boca. Seu nome é Thomas?

Os olhos de Camille pareceram se abrir mais que o normal. 

Ela não o reconhece? Não… Tem algo a mais. 

― Você sabe quem eu…

Antes que ele pudesse responder, Teresa girou a arma com ainda mais violência, acertando a lateral de sua cabeça. Thomas gritou com a dor lancinante, mas não caiu. 

O corpo de Camille estava paralisado, apenas assistindo a cena horrorizada. Os garotos a sua volta pareciam ainda mais tensos, Newt e Minho como dois animais selvagens prestes a interferir, mas muito chocados para fazer qualquer coisa rápido o suficiente, além da plena consciência das armas ao seu redor.

― Costumava saber ― Teresa respondeu-lhe. ― Vou perguntar mais uma vez: Seu nome é Thomas?

― Sim! ― gritou. Camille não saberia dizer se pela dor ou pela total indignação. ― Meu nome é Thomas!

Ela apenas concordou com a cabeça, afastando-se com a lâmina ainda apontada para seu peito. Os clareanos abriram caminho até ela se reunir com as garotas que os circundavam.

― Thomas, você vem conosco! ― gritou. ― Lembrem-se: Se algum de vocês tentar alguma coisa, flechas vão voar!

Foi aí que Minho perdeu seu único fio de paciência restante.

― De maneira alguma! Não vão levá-lo para lugar nenhum!

Os clareanos concordaram expressivamente.

Teresa agiu como se ele não estivesse ali, ainda encarando Thomas profundamente.

― Isso não é nenhuma piadinha idiota. Se resistirem, vou começar a contar. A cada vez que alcançar um múltiplo de cinco, matamos um de vocês com uma flecha. Não se enganem, farei isso até o Thomas ser o último de pé. Queiram ou não, o levaremos conosco. O que preferem, a maneira fácil ou difícil? A escolha é de vocês. 

Se Camille não estivesse tão chocada e se ela não falasse de maneira tão convicta e convincente, teria começado a rir. Minho tinha razão, Teresa só podia ter ficado maluca.

Ela não vai mesmo fazer isso, vai…?

― Um! ― Teresa gritou, fazendo seu coração pesar como chumbo. Olhou para as garotas em desespero, mas estas pareciam ainda mais firmes em seu aperto contra as armas, finalmente de volta à sua missão.

Thomas não esperou outra deixa, andando a passos largos em sua direção, como se confirmando a própria entrega. Os clareanos se exaltaram, mandando o garoto voltar ou perguntando se ele estava ficando maluco de obedecer o comando de Teresa.

Ele os ignorou, prosseguindo até estar cara a cara com ela. Camille mantinha-se estática, sua garganta mais seca que nunca. As ações do amigo não lhe surpreendiam, todos deveriam saber que com seu senso heróico de justiça, Tommie nunca deixaria ninguém se machucar às suas custas. E é claro, considerando as flechas espalhadas a cada meio metro entre as garotas, uma coisa era certa: Teresa definitivamente não estava blefando.

― Muito bem ― falou. ― Pode me levar.

― Só contei até um.

― É, sou mesmo corajoso.

Aparentemente, o sarcasmo em sua voz não foi percebido apenas por Camille, pois um segundo depois Teresa voltou a atingi-lo com a lança, tão forte que o garoto caiu no chão, o sangue espirrando de sua boca em tosses sofridas. 

― Teresa! ― Camille se exasperou, tentando chamar a atenção por cima dos xingamentos proferidos pelos amigos. ― O que deu em você? Por favor, é o Tommie que está machucando! 

― Tragam o saco! ― ela gritou, ignorando-a assim como aos comentários alheios.

Os clareanos continuavam em choque, sem entender que porcaria estava acontecendo ali.

― Vamos levá-lo conosco! ― repetiu, observando friamente enquanto Thomas permanecia imóvel e encolhido no chão do deserto. Duas garotas caminharam em sua direção, carregando um grande saco, uma delas era a garota que falara mais cedo.

― Harriet, não… ― Camille sussurrou, olhando com total descrença.

― Se alguém nos seguir ― Teresa manteve seu discurso ―, vou bater nele de novo e começaremos a atingir vocês...

Ela continuou falando, mas Camille mal a escutava, a sensação era de total impotência diante da situação. 

― Teresa! ― Minho gritou ao seu lado, a voz tão raivosa que era quase palpável. O garoto tentou falar o mais calmamente possível: ― Você contraiu o fulgor tão rápido assim? Está claro que sua mente já se perdeu.

No lugar da resposta esperada por Minho, Teresa cravou a parte de baixo da lança na nuca de Thomas, lançando seu rosto com força para o solo. 

Camille abafou uma exclamação de choque com a mão, o garoto já deveria estar vendo estrelas.

― Há algo mais que deseje dizer? ― questionou, uma das sobrancelhas erguidas em desdém. Camille praticamente podia sentir o ódio do namorado escapando por entre seus punhos cerrados, mas ele parecia entender o recado. Um longo momento de silêncio se seguiu, então ela continuou: ― Pensei mesmo que não. Ponham o saco em cima dele.

Eles observaram de mãos atadas enquanto Harriet e a outra garota agarravam Thomas pelos ombros, seus rostos uma máscara indecifrável. O clareano as encarou com olhos vagos, ainda atordoado pelos golpes recebidos. 

As duas ergueram o saco sobre sua cabeça. Harriet abriu a boca e falou diretamente com o garoto, mas Camille não conseguiu compreender o que dizia, apenas palavras soltas sobre “não resistir” e “morto”. Apenas aquilo fez com que ela engolisse em seco. Um segundo depois, ele já estava totalmente coberto.

 

***

 

Camille permanecia sentada no chão poeirento; o olhar perdido nas montanhas a apenas uma centena de passos de distância, seus picos pontiagudos erguendo-se majestosamente. Ela não sabia quanto tempo havia se passado desde que levaram Thomas, mas estava ali desde então.

Não posso acreditar, está tudo errado, tudo errado. Repetia em pensamento.

Às suas costas, Brenda, Jorge e os outros garotos discutiam a cada minuto que se seguia. Estavam agitados com todo o ocorrido e irritados como nunca por terem de assistir seu amigo ser levado. Novamente

Em qualquer outra ocasião, poderiam ter feito graça do azar de Thomas, o garoto tinha uma má sorte desgraçada, mas infelizmente a conversa sobre morte e as armas das garotas não eram nem um pouco dignas de riso.

 Minho e Newt eram os piores. Depois de gritarem a plenos pulmões enquanto Teresa e o grupo B se afastava, começaram a andar em círculos pelo local, um turbilhão de palavrões deixando suas bocas.

― Bela namorada o Thomas arranjou ― ouviu Brenda resmungar num canto, mais para si mesma que para qualquer outra pessoa.

Camille olhou para cima, o Sol da manhã agora já brilhava fortemente no céu. Piscou os olhos rapidamente, abaixando a cabeça.

― Tudo bem ― ela começou, depois que os garotos se aquietaram mais. ― O que faremos agora?

Caçarola riu em um sinal de nervosismo.

― Ótima pergunta, Cammie. 

Os garotos resolveram, por fim, se sentar ao redor dela. Um momento de silêncio se passou até que Minho se fez ouvir.

― Precisamos chegar até as montanhas.

Sua voz ainda mostrava os sinais da irritação contida. Newt concordou com a cabeça, olhando para os próprios pés.

― Partiremos agora? ― um clareano murmurou, o calor dos raios de Sol já se instalando ao redor.

― Não, cabeção, amanhã. É claro que é agora.

― O Thomas... ― Brenda começou, sendo bruscamente interrompida pelo asiático.

― Não há mais o que fazer além disso. A louca da Teresa não nos deixaria seguí-la, mas sabemos que ela foi na direção das montanhas. Meu palpite? Eles também querem chegar no tal refúgio seguro. 

― Não demoraremos a chegar ― Jorge refletiu. ― Em um piscar de olhos estaremos lá.

Todos concordaram solenemente.

― E depois? ― Camille murmurou, o coração apertando teimosamente.

Minho deu de ombros.

― Só saberemos quando chegarmos lá. Mas eu realmente gostaria de quebrar o nariz empinado daquela traidora.

― Conte comigo ― Brenda resmungou com a cara amarrada.

― Ok, espera ― Camille interveio. ― Ninguém aqui está considerando a possibilidade de o CRUEL ter feito algo com ela? Quer dizer, nunca compreendi muito bem a Teresa, mas as outras garotas…

― O que tem? ― Minho a cortou. ― Não me venha com um papo moralista. Aquelas loucas estavam prestes a nos trucidar com as flechas.

― Papo moralista? ― Camille o olhou com o cenho franzido. ― Eu só quero entender o que está acontecendo. Aquelas garotas não são daquele jeito! Me recuso a acreditar que queiram fazer algo ruim. 

― Cammie, a Teresa também não era assim e veja só o que ela fez! ― Newt argumentou. ― Aquelas armas não eram de brinquedo e sabe-se lá o que vão fazer com o Thomas agora.

― Eu sei, mas…

― Não tem “mas”, Camille. Está seriamente as defendendo?

― Uou, calma aí ― ela ergueu as mãos na defensiva. ― Não estou tentando defender ninguém aqui, eu vi o que acabou de acontecer. Você saberia disso se me deixasse terminar ao menos uma frase!

Minho bufou, não se importando em ser grosso.

― Como se eu não te conhecesse o suficiente. O que vai dizer? Que precisamos dar a elas uma segunda chance? Talvez a cura para o fulgor seja o poder da amizade, afinal ― ele bateu com a mão na testa, como se fingisse uma grande descoberta. ― Poxa, quem sabe se não tivesse avisado isso ao CRUEL não estaríamos enfiados nesse fim de mundo.

Ela olhou pra ele com mágoa.

― Estou tentando melhorar a situação.

― Com palavras motivadoras de perdão? Que lindo, Cammie.

― Tá legal, talvez essa não seja a hora… ― Newt começou, imaginando o que viria dali em diante.

― Ah não, Newt ― Camille se levantou, agora ela era a pessoa irritada. ― Deixa ele falar, afinal ele adora descontar a raiva nos outros, não é mesmo?

― Opa, não jogue a culpa em mim ― a essa altura todos os clareanos já estavam de pé ―, você quem começou com tudo isso. 

Camille fechou os olhos e contou até três mentalmente.

― Minho ― iniciou, tentando não explodir todo o misto de emoções que guardava depois de encontrar as velhas amigas daquela maneira ―, acha mesmo que não estou preocupada com o Tommie? Ou que não gostaria de chacoalhar cada uma daquelas meninas até que voltassem a si? Tem algo a mais acontecendo, por que não conseguem ver?

― Não somos estúpidos, Camille ― rebateu. ― É óbvio que algo a mais está acontecendo. Mas e daí, acha que vou apenas sorrir e acenar enquanto elas nos tratam daquele jeito? Você por acaso estava olhando quando a Teresa quase enfiou aquela lança na cabeça do Thomas?

― Não é isso, Minho ― tentou explicar. Camille olhou em volta em busca de auxílio. ― Aris, você as conhece, diga alguma coisa!

Todos olharam para o garoto, mas ele apenas murchou os ombros, recusando-se a olhar para ela. Suspirou aflita.

― Olha, aquela hora… A Harriet não parecia querer machucá-lo de verdade…

― Você está brincando comigo, não é? ― o asiático riu com escárnio. ― Quer dizer, ela e as amiguinhas loucas do grupo B o enfiaram num saco e o ameaçaram de morte, mas foi apenas uma maneira engraçada de dizer “ei, vamos ser amigos”. 

― Cammie, odeio dizer, mas o Minho tem razão ― Caçarola murmurou. 

― Olha, você não as conhece como eu conheço!

― A minha paciência com essa droga acabou, Camille. De que lado você está afinal? 

― Eu não… não estou do lado de ninguém aqui, só estou tentando…

― De ninguém? Uau, já que não se importa em estar conosco ou com elas, talvez devesse ter ido no lugar do Thomas. Seria realmente agradável reencontrar suas melhores amigas enquanto elas te dão uma surra.

― Minho!

― O que foi? Não é o que estão fazendo com ele agora mesmo? 

Ela abriu e fechou a boca várias vezes, as palavras certas lhe faltando. O que diria, afinal? O que menos queria era acreditar no que tinha visto. Passou um tempo importante de sua vida com elas e ninguém a convenceria daquilo.

― Olha só, esqueça. Vamos logo para essa droga de refúgio ― declarou, já dando as costas aos outros. Um bolo parecia se formar em sua garganta.

― Que conveniente, Cammie. Não tem mais argumentos pra dar? 

― Eu não estou mais discutindo, Minho. ― ela respondeu, ainda sem olhar pra trás e começando a andar a passos largos. 

Conhecia Minho o suficiente pra saber que ele estava mais irritado com a situação que com ela, mas as palavras ainda a machucavam. Depois de tudo, sentia-se exposta e sensível. 

― E depois? Quando o Thomas for morto por elas, vai voltar de mansinho pedindo desculpas?

Camille parou de repente, virando-se com os olhos brilhantes, parecia querer chorar a qualquer momento. De raiva, de frustração, por ele não tentar compreendê-la, mas também por saber que ele em parte tinha razão. 

― Quer saber, vai se danar Minho ― disse sem pensar, ouvindo o quebrar da própria voz. ― Não dá pra ter uma conversa decente com você.

Ele apenas ergueu as sobrancelhas, não parecia comovido.

― Você não vai seriamente chorar por isso, vai?

Mas ela não respondeu, já estava de volta em sua marcha decidida até as montanhas.

Minho emitiu um som como “tsc”, sentindo-se ainda mais frustrado que antes, já seguindo o caminho com os outros.

― É… Agora a merda bateu de vez no ventilador. 

― Você é nojento, Caçarola. ― Newt murmurou, suspirando antes de começar a andar atrás do grupo. Era realmente só o que faltava


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Notas finais do capítulo

Eu sei, EU SEI: "Angie, eles acabaram de fazer as pazes e você me vem com isso?"
Antes que alguém resolva me atingir com uma britadeira, vamos esclarecer alguns fatos:
Primeiro, eu não acharia real se não fosse assim. Independente de tudo que aconteceu antes, sempre que pensava nessa parte do livro, só conseguia imaginar esses dois discutindo.
Segundo, antes que alguém se desespere, não vai ser algo duradouro ou difícil de resolver. Como o próprio título indicou, os nervos de todo mundo estavam uma loucura, mas haja paciência pra esse casal, não é? Haha
Por último, não fiz isso com a intenção de ficarem do lado de algum dos dois (ao menos, é o que vejo kkkkk mas pensem o que quiserem). Ao meu ver, os dois tem suas razões. Minho irritadíssimo pelo amigo e por, na cabeça esquentada dele, a Camille estar protegendo as antigas amigas (além de estar se sentindo completamente tapeado pela Teresa) e a Cammie tendo que lidar com todos os sentimentos presos em sua garganta, reencontrar as garotas, ficar dividida entre o que era real ou não... Enfim, a cabeça deles deveria estar a mil. Não vamos nos esquecer que eles já estavam quase chegando nas montanhas quando essa loucura acontece!
Mas e vocês, me digam o que acharam ❤

AVISO: Esqueci de falar no começo, mas tive de pegar algumas falas do diálogo que acontecem no livro no início, mas todos os parágrafos foram originais e tentei modificar algumas falas para o estilo não ficar muito diferente da fic.

Obrigada por lerem, vocês são demais ❤



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