Estava tudo bem, jogamos “eu nunca”, dançamos Show das Poderosas e ainda gravamos tudo. Foi um bom momento, eu e minhas amigas dançando, cantando e sendo nós mesmas. Em determinado momento eu resolvi beber, bebi mais do que deveria sendo que não sabia meus limites, mal havia bebido algo na vida.

Comecei a desabafar com minha amiga Gabriela, hoje somos muito próximas, mas naquela época eram raros os nossos momentos de conversa, falei tudo para ela, sobre meu medo com ele, o medo de ser iludida e feita de boba. Chorei muito naquela noite, chorei pensando que ele não gostava de mim, queria ligar para ele, queria perguntar se ele estava me iludindo. As meninas me botaram para dormir, mas Mari, também alterada, quis beijar-me e aconteceu, quando vi havia beijado três das garotas.

Logo na primeira vez que eu bebi, beijei três amigas minhas de certo modo “traindo” Thiago, não sabia se deveria contar para ele no dia seguinte quando o visse. O resto da noite correu bem. Infelizmente vomitei bastante quando acordei, não consegui comer quase nada e vomitei tudo.

Mais tarde fomos à Redenção encontrar todos,parecia fazer tão pouco tempo desde a primeira vez que o vi lá, levando um grande susto, ainda parece na verdade. Faziam quatro meses, que pareciam quatro dias. De qualquer forma, as garotas ficaram rindo muito e dando indiretas e o dia foi de certo modo estragado quando ele descobriu.

Ele nunca fumava na minha frente já que sempre soube minha opinião a respeito, mas naquele dia ele fumou, eu nunca chorei tanto na vida. Gabi tentou me consolar, mesmo só tendo conversado comigo uma vez. Luiza veio me ajudar também, eu chorei muito no meio de uma praça, foi vergonhoso, mas não ligava para aquilo no momento.

Ele foi conversar comigo mais tarde, eu chorei, ele estava devastado e com cheiro forte que me nauseava. Ficamos ali, com as testas coladas apenas nos olhando. Aquele foi o primeiro problema de nossa relação, foi o primeiro de muitos que viriam.

Minha mãe de cara notou que eu estava estranha, o que eu não imaginava era que dois dias depois ela iria insistir tanto que eu estava estranha. Sua insistência foi tão absurda que me abri, falei com ela como nunca havia antes.

Logo após o meu desabafo, ela contou-me que havia lido minha conversa com Luiza no facebook, isso era inadmissível. Foi aí que Thiago entrou em minha vida com meus pais, bagunçando tudo um pouco mais. Meu pai não gostou nenhum pouco de saber sobre o fato dele ser anarquista, sobre ter tatuagens e sobre saber que ele comparecia aos protestos, não que ele goste do país do jeito que está só não aprovava quando quebravam tudo.

Minha relação com meus pais decaiu horrores, nós brigávamos muito principalmente por ele. Sempre tive minha cabeça muito aberta em relação a tudo, disposta a ouvir opiniões divergentes e discutir calmamente, mas meus pais não eram assim, eles o viam como uma aberração que acabaria com a vida de sua filhinha. Thiago e eu discutimos mais algumas vezes, aquilo acabava comigo, já não bastava meus pais, ele também.

Lembro-me bem de um dos últimos dias de nossa relação, eu estava indo para a praia, entretanto um protesto trancava a saída da cidade, havia muitos carros buzinando, estava quente e eu tive crise de enxaqueca. A dor consumia-me, alucinava-me e fazia-me chorar. Falei para ele a respeito xingando os protestantes, não o culpava e nem o culpo pelos ideais que tem, ele foi criado de forma muito diferente que eu. Mas a única coisa que ele fez foi me xingar, passar um sermão a respeito dos protestantes, que eles tinham o direito de estar lá, não, ele não estava errado, mas nós, seres humanos, somos sim egoístas muitas vezes sem notarmos isso, ele é, eu sou, todos somos.

Machucou-me saber que mesmo eu, do jeito que estava, fui tratada daquele modo. Mas não melhorou, nossos opostos ficaram mais amostra ainda, eu sempre fui uma garota que estudou em escola particular, não era a com as melhores roupas e eletrônicos, mas minha vida sempre fora muito boa. Já ele estudava em escola pública à noite, pois durante o dia costumava trabalhar para ter mais dinheiro, ele me encantava com sua força, mas não me compreendia, assim como eu não o compreendia.

No meio disso tudo, tivemos um momento maravilhoso quando fomos ao cinema juntos, foi a ultima vez que nos beijamos verdadeiramente. Foi um dia bom, sem problemas, fiquei feliz de estar ao lado dele e sentia isso vindo de Thiago também, porém ambos tínhamos nossos pensamentos reservados sobre quanto tudo duraria.

Na festa de formatura de uma de nossas amigas ele estava tão distante, mesmo depois de uma brincadeira que quase me custou caro. Ele e Vinicius, um amigo, me falaram que haviam sofrido um acidente de ônibus e que ele tinha machucado a cabeça. Estava muito preocupada olhando para o celular e quase fui atropelada ao atravessar uma rua. Só para chegar ao local da festa e o ver muito bem.

Ele não me dava atenção, ficava falando com uma de minhas amigas que ele conhecerá no dia, e com uma grande amiga dele que só de vê-la já me contorcia de ciúmes. Decidi que aproveitaria a noite como bem quisesse, dancei com minhas amigas como nunca, aproveitei cada segundo, mesmo com ele em mente. Ele fumou naquela noite, eu não falei nada. Gabi, aquela garota que eu virei amiga, estava passando pelo mesmo com o garoto que estava ficando, afastamento é a pior forma de se terminar algo.

Alguns dias depois fomos a um jantar de uma amiga, eu falava com as garotas a respeito daquilo, que iria acabar a qualquer momento. Ele me chamou para fora da pizzaria e então conversamos após eu desligar uma ligação de Mari, que havia terminado com o namorado, se não estou me equivocando, no mesmo dia.

Ele me disse que começou com aquilo porque achava que ele merecia uma chance de tentar de novo, e que eu merecia também. No inicio era bom, mas nós éramos muito diferentes, ele queria algo sério, mas éramos muito diferentes, mas disse também que eu sempre seria sua batatinha(apelido que ele havia me dado após eu contar uma história envolvendo batatas). Nós nos abraçamos e decidimos que seriamos apenas amigos, era melhor daquele jeito.

Eu não chorei naquela noite, mas também não dormi. Passava cada segundo da nossa relação conturbada em minha mente, meu primeiro amor havia me deixado em um infinito, mas não era um infinito repleto de cor, calor e felicidade como seu beijo, era um infinito vazio, frio e triste. Eu sentia que estava me afogando, me afogando em minhas lágrimas que não saiam, elas permaneciam em mim tirando qualquer sinal de que algum por trás de meus óculos pudesse se ver um olhar apaixonado de uma garota feliz.