Desde que conhecera Midorima Shintarou, Takao descobriu que o homem que o havia derrotado no fundamental não era exatamente uma pessoa ruim. Além de sua técnica incrível de conseguir acertar cesta de três pontos em uma distância absurda, Midorima também era uma pessoa bem peculiar e de certa forma engraçada.

Takao logo se afeiçoou a ele, por mais que o garoto não tenha dado tanta bola para o moreno de início.

E com esse laço criado entre os dois, logo o Kazunari descobriu outra coisa a respeito da relação deles: o fato de que não importava o momento, ele sempre adorava a oportunidade de provocar Midorima.

Adorava ver a reação do Ás da Shutoku quando algo fora do comum acontecia com ele, como da vez que Takao pegou seu lápis da sorte para fazer uma prova. Midorima ficou absurdamente nervoso naquele dia, com as bochechas coradas de raiva enquanto tentava bancar o durão, coisa que Takao achava, além de engraçado, algo bastante fofo.

E mesmo com o passar do tempo, ele nunca havia perdido o costume de provocar o amigo que aos poucos ia se acostumando com o jeito irritante do moreno, embora às vezes quisesse matá-lo.

Como naquele dia em que Takao tivera a brilhante ideia de debochar mais uma vez do seu horóscopo e da sua crença naquele tipo de coisa.

Depois de terminadas as aulas do colégio, todos os jogadores se encontravam na quadra na parte da tarde, momento este que dedicavam inteiramente ao treinamento esforçado que Shutoku aplicava aos seus atletas.

E em meio ao jogo, depois de passar rapidamente a bola para Midorima, Takao se prendeu em um ponto mais distante da quadra, fazendo-o parar por alguns segundos.

O Kazunari olhou bem para um pequeno coelhinho branco de pelúcia em cima do banco ao longe. Uma ideia lhe passou a mente, uma ideia não muito boa que o fez abrir um enorme sorriso.

Ah, aquilo seria divertido.

— Takao, o que está fazendo aí parado? Vamos treinar! — Ele tremeu ao escutar a voz raivosa de Miyaji do outro lado da quadra, olhando feio para ele.

Suspirou, voltando sua atenção a quadra de basquete.

Não havia desistido de seu plano e certamente o executaria assim que tivesse oportunidade. Ele mal podia esperar para ver a reação de Midorima quando descobrisse o que estava acontecendo.

E assim, um tempo mais tarde, quando todos já se encontravam no vestiário, tomando um banho para enfim poder ir para casa, o Kazunari resolveu agir.

Fez rapidamente o que tinha que ser feito, tomando o maior cuidado para não ser visto por ninguém.

E assim que concluiu tudo, voltou ao seu lugar e fingiu que nada tinha acontecido.

Não demorou muito para Midorima sair do banho, enrolado em uma toalha, e se dirigir ao seu armário.

Depois de devidamente vestido, o garoto passou a olhar para cada canto de dentro do armário, depois se voltando para o banco em frente a ele e em seguida indo até mesmo ao local onde tinha tomado sua ducha, aparentemente a procura de alguma coisa.

Takao via o semblante preocupado e com indícios de claro mau humor de Midorima, quando finalmente resolveu abrir a boca.

— Algum problema, Shin-chan? — Ah céus, como estava se controlando para não rir!

Shintarou parou no meio do vestiário que agora já se encontrava quase vazio e lançou um olhar nervoso para Takao.

— Onde você escondeu? — Foi direto ao ponto, dizendo de forma ameaçadora para o amigo. Midorima não era burro, de modo que quando acontecia alguma coisa, Takao sempre era o primeiro da sua lista de suspeitos.

— Ahn? Do que você está falando? — Takao se esforçava ao máximo para soar de forma confusa, embora todo o seu corpo implorasse desesperadamente para poder rir a vontade do desespero de Midorima.

— Takao. — O seu tom de voz dizia que ele estava a ponto de perder a paciência a qualquer instante. — Onde você colocou meu item da sorte?

— Ah, aquele coelho estranho? — O moreno deu de ombros. — Eu vi uma menina sair correndo daqui quando eu havia acabado de sair do banho. Ela parecia segurar alguma coisa...

Ele dizia, olhando atento para as reações do amigo que finalmente oscilou entre a desconfiança para um traço de dúvida em sua face. Estava claro que ainda não acreditava completamente no que Takao contara, mas já não tinha tanta certeza assim de que tinha sido ele o culpado pelo desaparecimento do seu amuleto da sorte.

— Que menina? — Takao teve que se virar de costas para Midorima, a fim de esconder o enorme sorriso que já insistia em sair em seus lábios ao ouvir a pergunta dele.

O moreno fingia que arrumava alguma coisa em seu armário, tentando parecer distraído.

— Eu não sei direito, tinha cabelos claros... ou eram escuros? Não lembro...

— Takao...

— Talvez você ainda a encontre pelo colégio. — Se virou para Shintarou depois que fechou seu armário.

O outro apenas suspirou, lhe lançando um último olhar desconfiando, antes de terminar de se arrumar, guardar suas coisas e fechar seu armário.

— Ei nós poderíamos passar naquela lanchonete, estou faminto! — Takao dizia, pegando sua mochila e colocando nas suas costas.

Midorima estava a ponto de concordar, mas parou ao olhar para o Kazunari. Este estava ao seu lado, lhe lançando um olhar interrogador... e uma orelha branca de coelho de pelúcia a mostra, saindo por um buraco da mochila às suas costas.

— Takao... — O nome foi pronunciado entredentes e imediatamente Takao soube que havia sido descoberto.

Mas antes que a “explosão Midorima” viesse, ele resolveu agir. Uma última cartada para deixá-lo provavelmente pior e, com sorte, sem ter muito que falar.

Takao se aproximou rapidamente do homem a sua frente, ficando na ponta dos pés e depositando um curto beijo no canto da boca de Shintarou, mais uma vez fazendo o que sabia fazer de melhor: provocá-lo.

E assim que se afastou, não perdeu tempo e saiu correndo a toda velocidade até a saída do colégio, parando por um segundo e olhando para trás, gritando um: “Nos vemos amanhã, Shin-chan!”, deixando um pobre e confuso Midorima para trás, que a essa altura tinha as maçãs do rosto pegando fogo. Porém de raiva ou vergonha, era difícil definir desta vez.