Juntos pelo acaso escrita por MsNise


Capítulo 23
Partindo


Notas iniciais do capítulo

Olá! Tudo bem com vocês? :3
Eu sei, eu sei, postei um dia atrasado, mas dessa vez a culpa não foi minha. Quando eu tentava postar ontem o texto ficava completamente sem edição e eu achei muito feio e confuso, então esperei até hoje pra ver se melhorava. E melhorou! Espero que perdoem o meu atraso de um dia :3
Boa leitura ♥



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— Eu ainda não editei nem nada, mas… — Sali pegou o caderno e o deslizou pela mesa. — Aqui está.

Sorri quando ela apoiou a cabeça nas mãos, esperando que eu lesse o texto que ela tinha acabado de escrever.

Por um momento, o fôlego simplesmente me escapou. Não foi gradual ou gentil, foi uma explosão de falta de ar. Como se nunca mais fosse capaz de respirar. Mas foi bom. Ah, se foi! Uma experiência única e indescritível, na qual bastava apenas meus olhos para apreciar.

Senti-me invencível por alguns instantes, como se o mundo — o grandioso mundo — me pertencesse. Me expandisse. Me dominasse. Eu não estava mais no mundo; o mundo estava em mim. E eu voava, voava alto… pela primeira vez sem medo de cair.

Eu cairia; afinal, quem nunca caiu? Quem nunca pensou que treino e equilíbrio bastariam? Mas, lá de cima, o mundo parecia um confortável cobertor que suavizaria a tão cruel queda. E eu percebi que poderia levantar. Que levantaria.

Apesar do vento frio, eu me sentia delicadamente aquecida. Estava em casa. Envolvida por um manto de amor incondicional — ou, ao menos naquele momento, era o que me parecia. Estava segura. O mal do mundo não me alcançaria lá em cima. Estava afastado, tão longe que eu mal podia distingui-lo.

Eu era eterna.

Eu tinha o mundo.

E era forte o suficiente para enfrentá-lo.”

O texto era incrível. Tão bem escrito, tão detalhado, tão palpável. Tão real. Quando ergui meus olhos para ver Sali, ela parecia apreensiva. Seu cenho estava franzido.

— Você é a melhor escritora que eu conheço — murmurei e ela relaxou. Acariciei seu rosto. — E eu fico tão feliz que você tenha se sentido dessa forma.

— Eu me senti ainda melhor — ela balançou a cabeça. — Mas essas foram as únicas palavras que me vieram à cabeça.

— Elas são boas o suficiente.

Ela riu e me abraçou.

— Ah, Guto — suspirou. — Como você é puxa saco!

— Ei!

Ela riu ainda mais, afastando-se um pouco.

— Mas as suas palavras fazem eu me sentir muito bem. E, por mais estranho que pareça, eu acredito em todas elas.

— Porque são verdadeiras!

— Porque vem de você — ela corrigiu.

Balancei minha cabeça e permiti que ela ficasse abraçada a mim por um longo tempo. Sem nada muito intenso. Apenas um abraço inocente e confortável, algo que definia Sali perfeitamente. Algo que me aproximava ainda mais dela.

Somente percebi que deveríamos dormir quando Sali bocejou.

— Vamos dormir — murmurei, levantando-me e estendendo minha mão para ela.

— Tudo bem — ela sussurrou. — Agora eu acho que tenho que ir pro quarto…

Aquela era a ordem do nosso “acampamento de verão”. No entanto, quando cheguei à sala e vi Lipe e Bia dormindo abraçados em um sono profundo, percebi que aquilo não poderia ser aplicado. Bia nunca acordaria apenas para deixá-lo. E decidi que não permitiria que Sali me deixasse.

— Sabe, eu acho que nós dormimos assistindo ao filme — cochichei conspiratoriamente, puxando Sali até o sofá pela mão. — Assim como Bia e Lipe. O que não é bem uma mentira. Desse modo, meus pais não vão poder nos criticar, porque foi completamente sem querer.

Sali riu baixinho e se acomodou no meu peito, segurando o tecido da minha camiseta assim como no dia em que a levei no colo até a minha cama. Sua respiração estava acelerada. Ela parecia nervosa.

— Sempre quis saber como era dormir abraçada com um garoto — ela sussurrou, parecendo constrangida. — Com o garoto. O meu garoto.

Sorri, acariciando seus cabelos.

— Espero que goste, então — murmurei.

— Eu já estou gostando — ela completou, suspirando e se encaixando melhor em meus braços.

— Que bom… minha garota.

Beijei o topo de sua cabeça e acariciei seus cabelos até que ouvisse sua respiração se suavizar. Com aquele som embalando o lugar, não demorei a cair no sono. Mais uma vez nos braços de Sali. E, mais uma vez, infinitamente satisfeito.

.

— Nós deveríamos acordá-los — escutei o murmúrio de meu pai.

— Mas eles estão tão bonitinhos! — minha mãe exclamou, mantendo a voz baixa.

Tive que segurar o riso. Imaginei ambos parados na sala, vendo todos dormindo abraçados em um sono profundo. Tinha que fingir que estava dormindo para que eles pudessem conversar tranquilamente. Queria descobrir se tinham reatado na noite anterior.

— Isso me lembra da primeira vez que dormimos juntos, abraçadinhos — minha mãe continuou, diminuindo ainda mais o tom de voz. — Foi tão gostoso! E eles não parecem ter feito nada. Parecem inocentes, dormindo como anjos…

— Não se deixe levar pela aparência descansada no rosto deles, Sandra — meu pai a repreendeu, no entanto sua voz estava relaxada e brincalhona. — Quem sabe o que esses jovens podem aprontar…

Ela riu.

— Eles não fariam isso embaixo de nossas fuças, Pedro. E eu já avisei pro Guto sobre camisinha…

Quis acordar e interromper a conversa de ambos. Temi que mais alguém estivesse fingindo que dormia.

— É bom que tenha avisado mesmo — mas o tom da voz do meu pai já tinha se alterado. Senti os pelos de meu braço se eriçarem. Droga. Eles tinham reparado que eu estava acordado.

Respirei fundo e pisquei lentamente, tomando o cuidado de não me espreguiçar para não acordar Sali que dormia ainda segurando minha camiseta com a ponta dos dedos. Sorri amarelo para os meus pais, os quais me observavam atentamente com os braços cruzados.

— Né, Guto, que eu já te avisei sobre camisinha? — minha mãe falou em um tom irônico, mantendo a voz mais baixa somente por respeito aos outros.

— Aham — murmurei. — Inclusive de uma forma bem inconveniente…

Lembrei-me da primeira vez que Sali tinha ido à minha casa, quando minha mãe tinha dado um aviso bem claro para que não acontecesse nada que envolvesse nossas roupas no chão, mas, caso acontecesse, que era para nos cuidarmos. Nunca tinha vivido momento tão constrangedor.

Ela sorriu amplamente e olhou para meu pai.

— Não se preocupe, Pedro. Eu estou fazendo um bom trabalho.

— Tenho certeza que sim — ele assentiu; e o sorriso que coloria seu rosto não significava apenas amizade. Significava orgulho e admiração. Admiração pela mulher que ele amava.

Revirei meus olhos e percebi que Sali começava a piscar. Não queria ver ela surtando quando descobrisse meus pais nos olhando; tentei fazer algum movimento para que eles saíssem da sala rapidamente, mas eles pareceram bem satisfeitos com o meu embaraço. Sorriam abertamente.

— Guto… — Sali suspirou, abrindo seus olhos completamente. Um feto de sorriso surgiu em seus lábios. — Bom dia — sua voz sonolenta era extremamente fofa. Ela piscou mais algumas vezes e olhou ao redor, tentando se localizar. Ainda não tinha visto meus pais. — Tudo bem?

Assenti nervoso.

— Não parece que está tudo bem, o que… — e foi nesse momento que ela viu meus pais. O choque durou alguns segundos, antes dela se sentar de modo brusco e quase acertar Rafa que dormia tranquilamente sob seus pés. — Ah, meu Deus! Me desculpem, nós… dormimos a-abraçados enquanto assistíamos ao filme e…

— Calma, Sali — afaguei seu braço, tentando apaziguar seu surto. — Está tudo bem.

— Mas… mas olhe a cara deles, Guto! — ela murmurou desesperada, olhando-me nos olhos. Em seguida, se levantou e ficou em frente aos meus pais. — Eu juro que não aconteceu nada aqui que não deveria ter acontecido…

— Cacete, Sabrina — Lipe reclamou, cobrindo o rosto com as mãos. Àquela altura todos já tinham acordado com o pequeno escândalo de Sali. — Desencana! Não tá vendo o sorriso divertido na cara deles?

Sali interrompeu o que falava e realmente analisou a expressão de meus pais. Todos na sala a olhavam atentamente. Ela, por fim, respirou fundo e voltou para o sofá em passos lentos.

— Eles não se importaram tanto, não foi? — me perguntou baixinho.

— Não.

— Ai, droga — ela choramingou, escondendo o rosto com as mãos. — Isso foi superdesnecessário e eu paguei um mico.

Todos tiveram que rir com o embaraço de Sali. Inclusive eu, que tive que esconder meu rosto no travesseiro para abafar os risos. Não demorei a sentir seus tapas fracos nas minhas costas.

— Não… tem… graça… nenhuma, Gustavo!

— Pode ter certeza que tem — falou Bia, apoiando-me. Quase pude imaginar um sorriso em seu rosto. — Tem muita graça.

Sali respirou fundo e finalmente se rendeu, começando a rir com todos os outros. Somente Rafa que permaneceu em silêncio enquanto tentava descobrir o que acontecia.

— Por que vocês estão rindo? — sua expressão era confusa.

— Nada não, Rafa — Sali sorriu para ele e afagou seus ombros. — Esqueça isso. O que acha de irmos comer?

Ele suspirou aliviado.

— Vamos lá! Porque eu tô morrendo de fome.

Levantou-se rapidamente, então, e puxou Sali para a cozinha. Ela nos olhou e indicou com a cabeça para que os seguíssemos.

— Não vamos deixá-la esquecer disso — Lipe comentou assim que eles desapareceram, levantando-se e ajudando Bia e se levantar.

— Não mesmo — Bia concordou, rindo conspiratoriamente.

— Vocês são maus — balancei minha cabeça negativamente e estalei minha língua, tomando meu caminho para a cozinha. — A Sali vai sofrer na mão de vocês.

— Vai mesmo. Mas vai continuar nos amando, não se preocupe.

— Por que tem tanta certeza que ela continuará amando vocês?

— Porque nós a amamos — e o sorriso que cobria o rosto de Bia, daquela vez, era sincero. — O sentimento é recíproco. E sempre vai ser.

Naquele momento, desejei ter conhecido Sali anos antes. Desejei que estudasse em nossa escola. Ela fazia parte de nosso grupo e tinha conquistado a todos, finalmente encontrando algum lugar para pertencer. E eu não poderia deixá-la escapar daquele lugar.

.

— Estou com medo — Sali sussurrou, entrelaçando nossos dedos e apoiando a cabeça em meu ombro. — Estou com medo de te perder.

— Não vai me perder — beijei o topo de sua cabeça. — Com isso, não deve se preocupar.

Já estávamos dentro do ônibus a caminho de Irati. Bia e Lipe estavam em um banco próximo do nosso e o Rafa estava voltando de carro com minha mãe. Lipe e Bia somente nos acompanhavam por companheirismo, porque sabiam que precisavam estar no ônibus na volta também para nos ajudar em nossa pequena farsa.

Ela suspirou e apertou nossos dedos.

— Guto… você tem alguma música para escutarmos durante a viagem?

Assenti e peguei meu celular, oferecendo-o a ela.

— Escolha a música que quiser.

Pensei que Sali escolheria alguma música alegre ou carregada, algo que nos ajudasse a esquecer de nossa situação complicada. No entanto, pelo contrário, ela escolheu a música mais triste de minha playlist e ofereceu-me um dos lados do fone com um sorriso tímido e melancólico no rosto.

— Colocar algo animado não nos fará esquecer — ela murmurou. — E eu quero uma música romântica, sabe, para criar um clima.

Não pude evitar um sorriso feliz.

— Você adora que a junção música-clima, não?

— Óbvio! O que seria de um romance se os climas não fossem criados? Imagine só uma cena em um filme sem a música que acentuasse o clima. Não dá, Guto! Tem que ter música e clima. É uma relação mútua. Precisa ter clima, logo precisa ter música.

— Ai, meu Deus! — revirei meus olhos.

— Diga se não faz sentido! — ela agarrou o meu braço e se aproximou mais de mim, discorrendo diversos argumentos a seu favor. E eu? Apenas ria de toda a sua dedicação em me convencer de algo tão tolo.

E, sem realmente querer, ambos nos esquecemos da tristeza e da despedida que se aproximava rapidamente. Era muito fácil ficar perto de Sali sem me deixar abalar; ela era como uma fortaleza.

Somente quando estávamos próximos de Irati que Sali quis trocar de lugar com Lipe. No entanto, antes disso ela segurou o meu rosto entre suas mãos e me deu um longo beijo de despedida — mesmo que prometesse que aquilo não fosse um adeus. Ela não estava mais abalada. Pelo contrário, estava decidida. Tentei me manter firme, assim como ela.

Mas não foi possível.

Porque quando a vi partindo ao lado de sua mãe e notei o olhar mortal e determinado daquela mulher, percebi que eu realmente poderia perder Sali, apesar de todas as promessas e de nossa vontade. E eu sabia Sali também tinha percebido.

Soube disso porque ela me olhou pouco antes de entrar no carro.

E foi o olhar mais triste que já vi na vida.


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Notas finais do capítulo

E agora? O que acham que a mãe da Sali vai fazer pra impedir esse relacionamento? 'o' Algum palpite?
Digam-me suas opiniões, meus amores :3
Espero que tenham gostado. Até sexta que vem ♥



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