Equinócio escrita por PakuraHanni


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Tenham uma boa e prazerosa leitura.



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Parecia simplesmente mais um dia de verão.

Para ser mais exato, o último dia daquele verão.

No grande campo aberto, já era perceptível a pequena queda de temperatura que se iniciou nos últimos dias. E, mais importante, era admirável a paisagem que as folhas secas formavam, para deleite de qualquer visão.

Passou os olhos lentamente pelo gramado, observando.

O sol estava começando a se pôr, dando um toque especial no cenário que, conforme as pessoas iam chegando, pouco á pouco começava a ganhar cor.

Oh, sim, muitas cores.

Ele jamais fora alguém que apreciara algo tão alheio quanto as cores de uma simples paisagem. Mas, naquela noite, deixou sua mente tomar outros rumos.

Na verdade, sua mente obrigou-o a tomar outros rumos, momento em que percebeu que sua atenção havia sido tomada, sem querer, por aquela cor tão extremamente peculiar.

Rosa

Lindos e esvoaçantes fios rosas que movimentavam-se graciosamente com a brisa fresca.

Sequer havia reparado que estava olhando-a. Mas, ora,  ele estava. E, certamente, estava olhando-a até demais. Encarando-a tão profunda e atenciosamente, que ao menos percebeu o instante em que sua ex-companheira de equipe enrubesceu sob seu olhar.

Por alguns segundos, cogitou a possibilidade de dar alguns passos e iniciar uma pequena conversa com ela.

Entretanto, sua pretensão e seu tão frágil orgulho impediam-no de realizar tal feito, afinal alguém tão poderoso e presunçoso quanto ele jamais deveria se dar ao trabalho e a vergonha de ter que incitar alguém a uma conversa, pelo simples e tolo motivo de ter a imensa vontade de ouvir o tilintar da doce voz de uma menina. 

Oh não, seguramente essa hipótese encontrava-se fora de questão pois, em toda sua vida, ele sempre considerou necessário fugir de todo e qualquer diálogo que poderia vir a acontecer. Sem dúvidas, seria fora do comum fazer exatamente o contrário. 

Obviamente não o faria. 

Porém, mesmo que internamente tentasse apelar para a auto negação, indubitavelmente não pôde conter a tamanha frustração que formava-se dentro si, pois jamais poderia contrariar a ideia de que possuía uma vontade descomunal de trocar algumas palavras com aquela mulher, mesmo que nem sequer tivesse noção de quais palavras trocaria. 

Tentava não pensar nisso, mas era inútil, pois seu próprio subconsciente exercia uma dupla pressão sobre si mesmo, em que um lado dizia-lhe que deveria tacar aos ares seu orgulho, enquanto que o outro clamava para que esse sentimento tão desprezível continuasse intocado.

Como era de esperar-se, optou pela segunda opção.

Entretanto, internamente, desejava que por fim fosse ela a aproximar-se.

=====

Conforme a comemoração chegava ao seu final, a noite também, e o local tão bem decorado lentamente ficava vazio. Ele ainda se encontrava no mesmo lugar, meio afastado de todos, tendo apenas se movido para pegar uma bebida, nada mais do que isso.

Á medida que as pessoas se despediam, caia-lhe a ficha de que seu pequeno desejo, tão secretamente guardado naquela noite, não iria se concretizar. Ao cabo sabia disso, afinal não era como se merecesse algum tipo atenção.

Suspirou, conformado. Talvez, de certa forma, tivesse elaborado em sua mente um futuro que não lhe pertencia.

Preparava-se para levantar do gramado e voltar solitariamente a seu distrito, mas uma voz o interrompeu.

— Olá, Sasuke.

Subiu seu olhar em direção àquele doce timbre, e certamente se surpreendeu. Mas claro, jamais deixaria isso transparecer. Ela estava bem á sua frente, linda e delicada como deveria para a ocasião.

— Olá, Sakura – Respondeu-a, indiferente como sempre fora.

Em poucos segundos já estava de pé, imponente e de frente para a moça.

Olhou-a mais atentamente. Ela vestia um bonito e discreto kimono branco, e seus cabelos continuavam espalhados por seu rosto. Seus olhos, verdes intensos decorando aquela face pálida, demonstravam abertamente a tranquilidade e serenidade que carregavam sob a íris.

Sakura desviou de seu olhar, voltando a falar.

— Já esta indo embora? – Perguntou-lhe, casualmente.

— Sim, afinal a comemoração já acabou.

— Acabou sim, mas, caso não saiba, Naruto e eu fomos encarregados de organizar o Equinócio de Outono deste ano, então vamos ficar até mais tarde arrumando o local – Comentou. Dando uma pausa, o encarou – Não gostaria de ficar um pouquinho mais e nos ajudar com a limpeza?

Claro, eu adoraria.

— Não – Desviou os olhos – Tenho algumas coisas a fazer.

Absolutamente nada.

A garota suspirou,  afinal já esperava por isso.

Ficaram assim durante um tempo, em silêncio. Um de frente para o outro, mas sem cruzarem suas vistas sequer por um momento. No fundo, eles sabiam que, se por ventura se encarassem, o olhar de cada um denunciara as emoções proibidas que eles mais ansiavam e esforçavam-se para esconder.

Uma brisa fria cruzou entre eles e, automaticamente, Sakura virou o rosto, passando a encarar distraidamente um ponto especifico da paisagem. Curioso e atento, ele seguiu o olhar da garota, deparando-se com uma linda árvore de carvalho ao longe. Não demorou a perceber que o que ela realmente encarava não era a árvore em si, mas sim a linda imagem que o vento criava ao fazer as folhas caducas voarem pelo horizonte. 

Ao voltar disfarçadamente seu olhar para ela, não pôde deixar de ver o singelo sorriso que formava-se em seu rosto.

— Outono é minha estação preferida, pois sinto como se cada folha que voasse fosse uma parte nós indo embora – A menina comentou, aérea – O que você acha disso, Sasuke? 

Virou-se, encarando profundamente o moreno.

— Creio que gostaria que fosse verdade – Falou, simplesmente. Virou o rosto, prestando atenção na grande árvore ao longe deles que chacoalhava com o vento, fazendo suas inúmeras folhas se dissiparem – Sakura. 

A garota escapou brevemente de seus devaneios, passando sua atenção para o homem ao seu lado.

— Que parte de si mesma gostaria que as folhas representassem? 

 A garota vacilou por alguns instante, logo concentrando-se em elaborar uma resposta. 

— Bom... – Começou, surpresa pela pergunta – Certamente, eu desejaria que elas representassem algo que eu não gosto em mim, como por exemplo algum sentimento ou pensamento ruim . Assim, eu poderia me livrar deles - Ela direcionou a ponta do indicador aos lábios, reflexiva, e ele se conteve para para não sorrir diante do gesto delicado – Mas é complicado, nem sempre o que perdemos de nós mesmos é algo que não gostamos, na maioria das vezes, sem querer e nem perceber, nossas melhores partes fogem com vento, e simplesmente não conseguimos agarrá-las novamente. 

Sasuke assentiu, digerindo a resposta.

— E você, o que mais gostaria de perder de si mesmo? – Ela murmurou, cruzando os braços atrás de si e fechando os olhos para sentir a ventania.

— Acredito que seja um sentimento também – Respondeu, apenas. 

— Hm, e será que você pode me dizer qual é? 

O garoto suspirou com pesar, encarando-a.

— Meu orgulho.

Foi como se uma atmosfera pesada de repente se instaurasse entre os dois, e Sakura, pela primeira vez em muito tempo, ficou sem ideias do que responder frente aquilo. Sem sombra de dúvidas, ela sabia que a personalidade do homem a sua frente era forte e cheia de controvérsias. Obviamente, cada um dos detalhes de seu humor fechado eram reflexo de seu tão atormentador passado que, todos suspeitavam, ainda representava um grande fardo na existência do rapaz. 

Quando viu que a garota perante si esboçara uma expressão de surpresa repentina, automaticamente arrependeu-se de ter sido tão franco e sincero em sua resposta. Talvez, tivera se enganado ao pensar que dizer-lhe a verdade era uma boa ideia. Chegou a conclusão de que teria sido melhor ignorar a pergunta, apenas indo embora dali ou, em último caso, mudando de assunto.

O clima constrangedor dali pareceu perdurar por horas, até que, pelo canto do olho, pode ver a feição da menina suavizar, e pelo leve levantar dos cantos de sua boca, constatou que ali se formava um fino sorriso.

Resolveu virar-se novamente para ela, quase não conseguindo evitar a expressão de surpresa que consumiu sua face quando sentiu a pele fria e macia da mão dela em contato com a sua bochecha. 

— Sabe, Sasuke – Ela começou, fazendo um leve carinho na pele alva do rosto dele – Algumas emoções são mais difíceis de lidar do que outras, mas você apenas deve deixá-las ir. 

Nunca havia reparado no quanto sua voz era doce, até aquele momento.

— Sei que não é fácil, mas você pode aproveitar a noite de hoje – E então apontou para a árvore de carvalho que antes observavam, sinalizando as folhas esvoaçantes – Eu sei que é capaz disso, apenas se despeça delas e as deixe ir embora.

A respiração do Uchiha parou por um momento. E ele percebeu que, talvez, diante daquela garota era mais transparente do que pensava realmente ser.

Ele estava perturbado, sem chão. Um garotinho inofensivo perdido na mente de um grande homem orgulhoso. Mas no fundo o próprio Sasuke sabia: na realidade, ele ainda era aquele garotinho. Como um cavalheiro sem sua armadura de ferro, totalmente vulnerável a tudo que poderia atingí-lo, entretanto, sem demonstrar isso a absolutamente ninguém.

Ele não pôde evitar olhar para ela com certa profundidade, e agradeceu pela garota estar atenta em outra direção e não nele mesmo. Naquele instante, reparou no quanto ela era única e bela, em como sua sua voz era adocicada, assim como seu semblante. O rosto feminino estava de perfil, os fios sedosos de seu cabelo estavam espalhados pelas bochechas como consequência do vento,  os olhos encontravam-se fechados e uma mão delicada pousava suavemente sobre o peito, agarrando de leve o tecido de seu kimono. 

Era como um retrato vivo em sua frente. 

E foi exatamente esse retrato que o fez refletir: talvez ela estivesse certa, ele apenas precisava deixar aquelas emoções tão odiosas irem embora; precisava deixar seu orgulho ir embora.

Precisava fazer isso por ele, mas, principalmente, por ela. 

— Sakura – Chamou-a, pela segunda vez naquela noite. Entretanto, agora, com mais intensidade. Mesmo que no momento estivesse de perfil para ela, pôde sentir quando o olhar esverdeado direcionou-lhe a atenção – Creio que poderei oferecer um pouco de ajuda a vocês, sabe, para a organização do lugar. – Terminou a frase sem ainda olhar para ela.

 Silêncio se apoderou deles, e ele interpretou aquilo como uma ausência de palavras estranhamente prazerosa, misturada com a pequena ansiedade que sentia ao esperar uma resposta.

Quando finalmente resolveu encará-la, deparou-se com um lindo e verdadeiro sorriso, e não conseguiu evitar a surpresa quando sentiu finos braços envolverem seu pescoço em um abraço caloroso. Ele não retribuiu, entretanto também não se afastou, pois teve que admitir que o toque daquela pele fria e macia sobre a sua era um toque prazeroso calmante. Logo em seguida ela se apartou, apenas descansando as mãos no ombro do rapaz. 

Ao olhá-la novamente, percebeu que ainda esboçava aquele radiante sorriso em seu rosto, sorriso este que era direcionado única exclusivamente para si, assim como toda aquela beleza e felicidade que a menina exalava, toda para ele e apenas para ele.

E aquela foi a imagem mais linda que jamais vira em toda sua existência.

— Vamos! – sem pensar duas vezes e antes que, por ventura, ele tivesse a oportunidade de mudar de ideia, Sakura agarrou graciosamente seu pulso, guiando-o lentamente até a pequena casinha ao fundo do gramado.

Interiormente, não conseguiu conter a pequena alegria que lhe consumia por estar ali, com ela. Com suas peles novamente em contato, mesmo que sutilmente. Aquela pele macia que, apesar de fria, o acalentava e o confortava com toda a delicadeza e graça que possuía.

— Estou orgulhosa de você – Ouvi-a dizer, enquanto a mesma lhe encarava por cima dos ombros, com aqueles olhos que reluziam exatamente o que ela havia acabado de pronunciar: orgulho.

Afinal, nem todo orgulho é unicamente pernicioso.

 E como ele gostara de ouvir aquilo.

E como ele gostava de sentir aquilo.

Por fim, naquele simples momento, tendo aquele singelo olhar esverdeado sobre si, percebeu:

Ele somente carecia de uma companhia para sua alma.

E ela tinha toda a companhia da qual precisava.

O verão ia embora, e sua solidão também!

 

 

Fim


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