Growing back escrita por kelly pimentel


Capítulo 8
Capitulo 8




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Na semana que passa, cumpro a promessa e mantenho distância sempre que necessário, mas devo confessar que me afastar de Peeta, mesmo que pelos curtos períodos de suas crises, me jogam em um limbo emocional. Eu pareço desconectada do mundo sem ele, e embora isso pareça romântico não é, eu me distancio da realidade e começo a ter a sensação de que sou mera telespectadora em coisas que de fato estão acontecendo comigo. Quando alguém começa uma conversa, sobre qualquer coisa, e eu vou aos poucos me afastando, sendo transportada dali para o campo de batalha.

Eu queria falar com Peeta sobre isso, eu sei que posso, sei que ele gostaria disso, e sei ainda que ele percebe que algo está errado comigo, mas com tudo que ele vem passando eu não acho que agora seja o momento de adicionar mais um problema. Sendo assim, quando não estamos juntos, eu adoto o método Haymitch de solução de problemas: álcool.

Minhas tensões aumentam quando minha mãe chega ao 12, fico feliz em vê-la, mas ela se parece tanto com Prim. Peeta parece ter notado, naquela noite ele me convidou para sua casa, disse que sentia bem o suficiente.

— Como foi seu dia? – ele pergunta. Estou deitada com a cabeça em seu peito, ouvindo seu coração bater.

— Um tédio. – respondo. Continuo acompanhando o ritmo de seu coração, acho conforto na certeza de que ele funciona bem. – Minha mãe passou o dia falando do 4 e da chegada de Effie amanhã, Gale e ela possuem tanto assunto que eu sinto como se tivesse acabado de conhece-los, apenas escuto as conversas e aceno com a cabeça.

Peeta sorri. Reconheço a risada, é a que ele usa quando acha que eu estou sendo exagerada. Aperto seu peito e ele reclama. Rimos juntos.

— Sua mãe não disse nada sobre nós? Sobre você vir dormir aqui?

— Não, ainda não. Mas como foi o seu dia? – pergunto evitando o assunto materno.

— Meu dia começou quando você passou pela porta e deitou ao meu lado. – ele respondeu.

Abro um sorriso bobo. Peeta é maravilhoso. Eu tenho sorte de tê-lo, sorte que apesar de tudo que aconteceu eu e ele ainda estamos aqui, ainda podemos seguir em frente, mesmo com as dificuldades.

— Agora vou começar a achar que você só perguntou do meu dia pra usar essa linha. – falo sorrindo.

— Talvez. – Peeta responde levantando o corpo pra me beijar. – Katniss, hoje, pela primeira vez, eu me senti otimista com relação às minhas memórias. Eu acordei e tudo estava no lugar, eu não precisei me fazer perguntas pra lembrar a realidade. Sei que isso não significa que naõ terei mais crises, mas acho que podemos relaxar um pouco agora.

Agora sim estou sorrindo de verdade. Aquela era a melhor coisa que eu podia ouvir.

— Além disso, eu lembrei de uns exercícios que aprendi na Capitol no último ano. Eles me ajudavam a te associar a coisas boas. Você quer me ajudar a te associar a uma noite de sexo maravilhosa essa noite?

Eu balanço a cabeça positivamente enquanto sorrio.

No dia seguinte eu acordo sozinha na cama, quase dez da manhã. Eu não conseguia lembrar de ter dormido tanto, naturalmente, em quase dois anos. Encontro um bilhete de Peeta e café da manhã na cozinha. Ele escreveu apenas “te amo” e desenhou uma flor. Tomo café e finalmente volto pra casa pra um banho.

Passo o resto da manhã no quarto até que batem na porta, levanto e encontro Gale parado.

— Oi. – ele diz meio sem jeito. – Eu estou indo embora amanhã, após a inspeção do posto médico.

— Ok, - respondo. Não sou intencionalmente fria, mas não sei como agir perto de Gale. Ele e eu amigo, e eu ainda o amo, mas ele também é responsável pela morte de Prim.

— Kat.. eu não queria ir embora sem pelo menos tenta reparar nossa amizade. – ele diz. – Que tal se nós fizéssemos algo hoje? Se fossemos caçar? Pelos velhos tempos!

Não é uma má ideia, então concordo. Eu estava feliz agora com Peeta, não seria certo manter Gale infeliz, mesmo que eu nunca conseguisse o perdoar por completo, eu deveria oferecer a ele a oportunidade.

Depois do almoço seguimos pra floresta. Aos poucos vamos entrando até um dos nossos pontos de caça predileto, próximo ao rio que é fonte para os poucos animais que ainda restam por aqui. Estou andando por algumas pedras que ficam um pouco acima do nível do rio quando finalmente acho algo em que valha a pena atirar, estou me preparando quando decido que posso chegar mais perto sem ser percebida, para isso, preciso passar de uma grade pedra pra outra, quando pulo minha bota escorrega e eu caio no rio, é um rio fundo, perigoso, mas eu o conhecia, no impacto da queda me leva até quase a metade da profundidade do rio, estou me preparando pra subir quando ouço Prim, depois Rue,  Finnick, Cinna... e tantos outros. Nado em direção a voz de Prim, ela parece estar no fundo, continuo descendo, de repente estou sem ar, não sei o que fazer, não me movo, penso no silêncio, fico pensando nisso, até que tudo apaga. A próxima coisa que vejo são os olhos de Gale, ele grita desesperadamente me sacudindo.

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Eu estou genuinamente irritada com a presença de outros na sala. Eu sei que estão todos preocupados com meu bem estar, mas a eu gostaria de estar a sós com Peeta. De repente eu percebo que eu não sei o que dizer, talvez eu deva começar pedindo desculpas. Eu posso ver em seus olhos mesmo agora que estou na segurança de minha casa como a situação o abalou, ele deu voltas ao meu redor e enquanto todos tinham perguntas ou me falavam coisas amáveis ele apenas me olhava, havia algo em seus olhos que eu não podia de fato descrever, talvez fosse alívio, talvez fosse fúria, mas era algo mais complexo, algo que fazia com que o meu estômago se revirasse toda vez que nossos olhares se encontravam.

— Talvez seja melhor você subir agora. – minha mãe sugere acariciando minha mão.

— É. Catnip. – Gale diz. – Você precisa de um bom sono.

— E um bom banho. – Elfie diz se aproximando. Percebo que ainda estou coberta de sujeira.

Gale se oferece para me levar até meu quarto, mas Peeta passa em sua frente com um “eu faço isso”, não acho que ele tenha planejado parecer agressivo, mas foi. E embora eu não seja a maior fã do ciúme, aquilo me fez sentir algo, um sentimento parecido com segurança. Gale me olha como se esperasse algo de mim, mas eu estendo meus braços pra Peeta quando ele se aproxima, a última coisa que eu podia fazer agora era dar a Gale uma pequena vitória sobre Peeta. Nós subimos as escadas calados e com minha mãe e Elfie em nosso encalço. Peeta me coloca sentada na cama e começa a me despir até que ele percebe a presença das duas. Elas sabem, elas devem saber, mas ainda assim ele está paralisado com a minha blusa uma vez branca e agora quase cinza e suas mãos.

— Vocês podem nos dar licença? – eu pergunto. Effie apenas sorri e deixa o quarto, mas minha mãe permanece lá com sua expressão rígida. – Eu chamo você dentro de instantes mãe. – digo tentando amenizar a situação. Ela deixa o quarto relutante. Sei que não é tanto pela minha proximidade com um homem e sim pela proximidade com Peeta. Estar ali, vulnerável, perto dele que na visão dela pode enlouquecer a qualquer segundo.

— Katniss... – ele começa, apertando minha blusa em suas mãos. – Você tem alguma noção do que fez comigo hoje?

— Não foi meu ato mais inteligente. – respondo tentando diminuir a tensão.

— Você poderia ter morrido... e se tivesse, pelo que eu viveria? – ele fala isso inclinando-se para mim, mas não de uma maneira provocativa, é o modo como alguém fala com uma criança, com alguém que não entende bem as coisas. – Eu não posso fazer isso sem você Katniss, mas eu também não posso assistir você tentar se destruir desse jeito.

— Peeta, eu não fiz com essa intenção. Eu nunca te deixaria de propósito.  - Digo encarando seu rosto, procurando nele algum sinal de que eu o estava convencendo. – Eu apenas não estava pensando.

Estou chorando, mas só tomo como consciência disso quando o sal das lágrimas passa nos meus lábios. Me sinto como uma represa com uma pequena vazão e uma força de água enorme. Peeta parece assustado, mesmo com anos de prática me consolando talvez ele nunca tenha me visto daquela forma, eu mesma bem sei que quase não me reconheço nesse momento.

— O que houve? O que você não está me contando? – ele pergunta levantando meu queixo delicadamente. Encaro seus olhos. – Você pode me dizer qualquer coisa, sempre.

— Eu os esqueci. – digo chorando ainda mais. – Esses últimos dias, eu e você, sozinhos aqui. Na sua casa. E eu os esqueci. Gale voltou e eu pouco pensei em algo que não fosse eu e você, eu estive tão envolta com nossas vidas, mas agora mamãe e Elffie estão aqui e não consigo parra de pensar neles. Em Prim, em Finnick, em todos que se foram... então, quando eu estava lá, no lago eu simplesmente esqueci como voltar, eu me deixei ficar e fui ficando, até que Gale apareceu.

Peeta estava de olhos arregalados, me olhando como se eu fosse uma bomba prestes a explodir e ele não soubesse que fio cortar.

— Eu não fiz de propósito. Eu juro. – digo enfiando minha cabeça em seu ombro – Eu só me perdi na minha cabeça.

 - Tudo bem. – ele finalmente falou. – Eu acredito em você. Vai ficar tudo bem, nós vamos ficar bem.

— Eu preciso tomar um banho. – digo.  A lama da margem do rio estava em mim, no meu cabelo. A imagem de Gale, o desespero em seus olhos. Eu precisava tomar um banho.

— Eu vou chamar sua mãe. – ele disse levantando-se.

— Não. – falei pegando na mão de Peeta. – Eu quero ficar sozinha um pouco. Eu prometo que vou ficar bem.


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