Eu segui os passos de Edward pela entrada das portas do Instituto de Los Angeles. A parte de dentro era clara, muito bem ornamentada com grandes esculturas e pinturas que retratavam cenas bíblicas, com grandes lustres e tapetes recobrindo o chão. Uma grande escadaria levava ao segundo andar do edifício, com degraus de mármore. Nós contornamos a escadaria e chegamos a uma porta dupla que Edward abriu sem bater. Ali dentro estava uma grande cozinha com duas mesas com bancos de madeira maciça. Contornando toda a parede estava um conjunto de cozinha de última geração equipados com todas as facilidades dos eletrodomésticos. Ocupando a mesa mais próxima a nós dois, estava uma mulher acompanhada de duas crianças. Os meninos pularam dos bancos e cada um agarrou uma das pernas de Edward pedindo uma espada do Rei Arthur ou de seus cavalheiros já que ele havia ido para Londres. Eu observei a cena incrédula. Ele abraçou os meninos e se virou para a mulher que estava ao seu lado.

— Edward, você não havia avisado que voltaria tão tarde. Imagino que tudo tenha corrido bem, já que recebi uma grande entrega de móveis de Londres. — Ela ergueu as sobrancelhas.

— Ah sim, foi tudo bem. Os Starkweather garantiram investigar o assassinato de Cecilia. Deixe-me apresentar minha filha. Essa é Isabelle Marie Lumminier Goldstark. — ele deu um passo para trás e a mulher se aproximou, e me lançou um olhar avaliador dos pés ao meu último fio de cabelo. Ela era alta, com os cabelos loiros enrolados em uma trança. Seus olhos eram verdes claros, e o rosto se abriu um sorriso para mim.

— Isabelle, essa é... — Edward começou a dizer, mas ela interrompeu.

— Eloise Bellefleur. Je suis enchanté, Isabelle. Tu ressembles à ta mère. — eu apertei a mão dela e sorri levemente. Minha mãe falava em francês comigo em casa, já que essa era sua língua natal. Não tive dificuldade de entender o que ela disse, embora já tenha ouvido muitas vezes: Você se parece com sua mãe.

— Vous la connaissez? — Ela devia conhecer minha mãe de algum lugar, e eu estava ansiosa para falar com qualquer um que pudesse ter sido seu amigo no passado.

— Oui. — Ela acenou com a cabeça, sorrindo. Edward estava conversando com um dos meninos e voltou atenção para nós duas.

— Isabelle, a Eloise será sua tutora e dividirá parte do seu ensino comigo. Ela parece frágil, mas não se engane: é uma das melhores caçadoras de sombras dos Estados Unidos. — Ele afirmou. — Além disso, esses dois rapazes aqui pediram para que eu a apresentasse: Esses são Anthony e George Trueblood. — Os dois meninos se aproximaram de mim, e fizeram uma referência exagerada. Eram gêmeos idênticos, então não pude identificar quem era quem. Mas ambos tinham o cabelo castanho e olhos verdes claros, com o mesmo sorriso que faltava os dentes anteriores. Eles tinham um belo conjunto de covinhas nas bochechas para aumentar a fofura. Eu lancei um sorriso fácil para eles.

Edward decidiu que eu deveria continuar o tour pelo Instituto antes de me arrumar no quarto. Nós saímos por outra porta da cozinha, que levava à sala de jantar. Dali, ele me guiou para o segundo andar onde estava o corredor dos quartos e eu parei de tentar contar quantas pessoas moravam ali. Foi quando ele explicou a função do Instituto: eles abrigavam caçadores de sombras, que podiam vir de todo o mundo para missões nesta parte do país. Antes de me levar ao meu quarto, ele seguiu até uma porta rebuscada no final do corredor, que ele garantiu que seria onde eu passaria boa parte do meu tempo com Eloise.

Ele abriu a porta e seguiu para dentro comigo ao seu encalço. No momento que me virei para observar ao redor, senti o ar cortar ao meu lado esquerdo e um estampido quando a faca parou na madeira que delimitava a parede interna. Edward se virou alarmado na minha direção, e seu olhar faiscou quando viu a faca na parede.

— Aaron e Jordan! Que diabos vocês estão pensando? — A voz saiu forte enquanto ele se virava e descia uma escada até a parte mais baixa da sala. Eu continuei no mesmo lugar, observando o ambiente ao meu redor. A sala era enorme. Deveria caber uns seis quartos aqui dentro. Era ornamentada com cordas, alvos e pilares que vinham do abismo até o teto, e várias madeiras colocadas como corredor entre esses pilares. Conforme eu descia, vi que no abismo havia tantos outros ornamentos de luta quanto uma academia. Então essa era uma sala de treinamento de caçadores de sombras. Edward estava parado no canto ralhando com os dois garotos que ele havia chamado, e atrás deles, estava uma garota rindo. No outro lado da sala, um garoto estava sentado lendo em um dos pilares. Edward me olhou e eu fui à sua direção.

— Mesmo que a intenção não fosse acertar minha filha, com que facilidade você atira uma faca na direção da porta quando há pessoas passando! Esse não é um comportamento aceitável para um garoto em treinamento, que está em vias de fazer uma cerimônia parabatai!

— Não ia acertar ninguém, Edward. Eu mirei para não acertar. — O garoto respondeu. Eu imaginei que era melhor evitar qualquer tipo de briga ali por minha causa, até porque eu era a novata. Já iria ser muito difícil sem isso.

— Edward, tudo bem. Nós estamos em uma sala de treinamento. — Eu olhei para ele, requisitando sua atenção. No mesmo momento, os dois garotos olharam para mim. O que havia respondido Edward e atirado a faca na minha direção, era alto, loiro e com os olhos acinzentados. Ele ainda segurava duas facas em uma mão, e tinha um porte intimidador. Os lábios cheios se abriram em um sorriso irônico para mim. O garoto ao seu lado era um pouco mais baixo, com os cabelos pretos e olhos castanhos. Parecia igualmente forte, e me olhou levemente surpreso.

— Eu não vou esquecer isso. Garotos, essa é minha filha, Isabelle Goldstark. Isabelle, esses são Aaron e Alice Trueblood e o fiel escudeiro de ambos, Jordan Wayland. — Os dois se mantiveram na mesma posição, e eu senti o olhar deles me analisando. A garota se aproximou. Ela tinha os cabelos loiros presos em um coque no alto da cabeça. Suas feições eram iguais as do irmão, exceto que os lábios eram uma linha fina. Ela me lançou um olhar intimidativo.

— Isabelle Goldstark. Você terá só uma chance de dar essa resposta corretamente. Quais os nomes dos nossos anjos conhecidos? — Ela ergueu as sobrancelhas e cruzou os braços.

— Nunca vi nenhum anjo para conhecer algum. — Anjo? Sábado deve ser o dia dos ensinos bíblicos. Eu lancei um olhar para ela, ignorando as risadinhas dos garotos. Ela abriu um sorriso.

— Seremos boas amigas. — E levantou a mão para um cumprimento. Eu apertei a mão dela, sorrindo e relaxando depois dessa.

Edward sorriu para a cena que se desenrolou na sua frente, e eu vi o garoto que estava com o livro se aproximar. Ele era alto, com os cabelos castanhos enrolando nas pontas e os olhos topázio. Ele cumprimentou Edward com um aceno de cabeça, que se virou para me apresentar.

— Essa é...

— Isabelle. Eu sou Nate Wayland. — Os lábios se curvaram em um sorriso arrasador e eu apenas acenei levemente. Edward não percebeu meu embaraço.

— Fique de olho nesses dois, Nate. Não espero entrar aqui sob uma chuva de facas novamente. Isabelle, nós temos que ir. — Eu confirmei e o segui pela escada. Quando olhei para trás, todos estavam no mesmo lugar observando nossa saída.

*

Nós voltamos pelo corredor, e Edward parou logo na terceira porta a esquerda. Ele mostrou o símbolo na porta. Uma pedra ornamentada na boca de uma figura que lembrava um lobo.

— Esse é o símbolo dos Goldstark. É reconhecida por qualquer outra família de caçadores de sombras no mundo. A pedra representa o ouro que inicia nosso nome: rara, valiosa e brilhante. O lobo representa o final do nosso nome, buscando lembrar os princípios pelos quais seguimos: honra, força, coragem e lealdade. Excelsior honor é o lema da linhagem Goldstark. Você ainda não entende o que é ser um caçador de sombras, mas todos nós seguimos um código de conduta. Todos nós trabalhamos duro nisso.

Eu passei a mão no desenho ornado na madeira. Quando eu pensei em vir para cá e ser uma caçadora de sombras, certamente não pareceu tão difícil. Depois de conhecer o Instituto e seus moradores, eu senti que a estrada pareceu longa demais. Eu nunca havia colocado esse sobrenome junto a minha assinatura ou quando me apresentava. Mas nesse lugar, essa era minha identidade. Isabelle Lumminier não existia aqui. De agora em diante, eu só seria chamada de Isabelle Goldstark.

— Vou sentir falta de ser Lumminier. — a minha voz tremeu, e eu empurrei a imagem da minha mãe para o fundo da minha cabeça.

— Você é Isabelle Marie Lumminier Goldstark. Eu estou explicando a origem dos Goldstark, assim como Cecilia lhe ensinou sobre os Lumminier. Você carrega meu sobrenome e tem os olhos de uma Goldstark. Mas tudo em você, dos fios do seu cabelo até o formato das mãos, denuncia sua iluminada origem francesa. — ele sorriu levemente abrindo a porta do meu quarto.